No se puede hacer la revolucion sin las mujeres
Livro Um
baitasar
Memórias
a voz de Blanca
pertencia ao seu nariz, ainda que ela saísse em parte pela boca, quando
sussurrava alguma confidência ficava claro que o mandante era el nariz,
me atinei com isso passado tantos outros tiempos que ficaram sem
memórias
lembro de mi hermana
invencionando histórias, acostumbrando mis miedos com aqueles espíritos
na penumbra dos tocos de vela, suas historietas e cantorias siempre tenían mi madre viva, caminhando por nossa cabana, abraçando e cantando para as hijas
del papá
certa vez, Blanca
escondeu tanto sua voz que parecia saída de las ventanas, repetia que à
noite, o brilho branco da lua aparecia nos ojos de mi madre, feixes
lustrosos que envolviam papá hasta que disfrutó del goce de su hombre
foi em um desses encantamentos
que mamá arredondou a barriga de nuevo, as noites passaram a ser
iluminadas por uma lua cheia, redonda y brillante que viajaba en cielo de la
boca del papá
naquela Montaña de
mestiços invisíveis, o lábio leporino era visto como um sinal de bondade dos
deuses com todos os outros, para nossa gente, Blanca foi escolhida para
lembrar aos demais da própria perfeição
assim, a memória do
cotidiano de abandonos e desistências seria derrotada pelas belezas e alegrias
daquela mulher marcada entre las mujeres y los hombres de maíz, sorrir
apesar das aparências, amar apesar da dor, cantar apesar dos silêncios, dançar
apesar da fome, acreditar apesar das mentiras, lembrar as promessas nunca
prometidas
Blanca, una mujer
sagrada, e ali, entre los mestizos de la Montaña, o
sagrado era o lindo e o homem que a tocou afeiçoado ficou, ele não viu feiura
ou tristeza, apenas apego, apetite, cobiça, cuidado, zelo, respeito, a aventura
do encantamento
as mãos passaram a
guardar nas memórias do próprio corpo as umidades, o buço retinha o gosto bom
de estar vivo ali enquanto ela vive, gemia de contentamento ao entrar pelo
convite dos olhos até o gozo derramado entre tremores, súplicas, beijos e
carícias, feito a neve que se desmancha ao sol
é isso, os beijos e as
línguas que sabem dizer suas vontades acalmam até o desfalecimento os
caprichos, descasos e desinteresses, a busca do contentamento sem
constrangimentos, Blanca, mi bella mujer, teus beijos desadormecem minha
língua perdida em lambidas, carícias, silêncios, entre tuas rachaduras úmidas e
descomplicadas.
os sussurros del hombre acendiam aquela meia-luz de tocos de velas
meu rosto queimava de
curiosidade, medo e vergonha, naquela penumbra e sua chama
amarelada, cheiros de suor e cera, zumbidos e gemidos, creio que Blanca
também olhava papá y su madre o papá y mi madre
para mim restava a
solidão esperando o sono chegar, olhando para o teto, pensando, pensando,
queria sonhar bons sonhos, gosto de ficar imaginando coisas que poderia ter
feito, talvez a possibilidade de tentar salvar o mundo, construir felicidade
para os mestiços de la Montaña de maíz, excluídos de qualquer
possibilidade, excluídos até da possibilidade do sonho, mostrar que o sonho é
possível e que um mundo diferente é possível
juro que são as bobagens
mais sérias, mais verdadeiras, mais profundas que passam e ficam em mim
Memórias - 01 a lua cheia
Memórias - 02 a servidão natural
Memórias - 03 um negócio inesgotável
Memórias - 04 la sina de papá
Memórias - 09 ¡vaya hombre, no me dejes!Memórias - 11 a caverna dos espíritos amorososMemórias - 13 a Virgem do Rosário
Memórias - 14 palpitesMemórias - 18 ¡Estamos haciendo historia!
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