sábado, 9 de setembro de 2023

Memórias - 23: en la naturalidad de la vejez

No se puede hacer la revolucion sin las mujeres

Livro Um

baitasar

Memórias

23 – en la naturalidad de la vejez

eu continuava olhando aquelas iluminuras da lua como um mistério de amores e promessas estranhas, sabia e não sabia o que acontecia enquanto olhava ese pequeño hombre mergulhado no arroio de águas agitadas de mi hermana

cresci imaginando por onde andaria o meu zé qualquer um, não importava que fosse outro qualquer josé, sonhava com seu feitio puro e duro de apego, um trovão en la Montaña, amontoado por cima do meu corpo de sonhos e vontades

a vida é o que é, o milho é o que é, a banana é o que é, nós somos o que somos, as coisa não mudam contra a vontade de de la Montaña, a poeira quente continua a queimar e se enfiar em nossas gargantas como um punhal assassino, o ar que se respira é o ar da escravidão e a escravidão é o que é, um monte de terra que afunda nossos corpos, asfixia a imaginação das vontades até à morte

exatamente como nosso viejo papá ficara antes do seu encontro com o próprio amolecimento e descolamento das carnes do osso, o tempo de cada um sempre chega

papá passava os dias deitado, as costas coladas na palha, a barriga para cima, subindo e descendo, enchendo e murchando do ar que entrava e saia pela boca – ele não se contentava mais com o ar que entrava pelas ventañas, rezingava que eram furos mui pequeños –, os olhos fechados, não parecia mais se incomodar com aquela imobilidade

Blanca resmungava que os furos deviam estar menores por sua teimosia com a fumaça de sus cigarrillos de paja, ele respondia sem pressa, Es la edad, hija mía.

depois dava de ombros, como a dizer que o feito não poderia ser desfeito

el viejo bem que tentava sentar, levantar, mas a aldeia, la Montaña, os cachorros, as galinhas, os mestiços, tudo na sua visão girava girava e girava tanto que os sonhos saiam de dentro da cabeça e retornavam pelos olhos, iam da garganta até a boca vomitando as entranhas, sacudindo o corpo, estremecendo o roçado de milho

a tontura e o destino lhe carregaram da vida aos pouquinhos, definhando de fome até não reconhecer na dor a própria fome, os delírios rodavam em sua cabeça e saiam anunciando o dia do juízo final

a traição de todas as traições não fora apenas a domesticação da candura e do corpo que os jesuítas da companhia trouxeram para la Montaña, junto veio a crendice que tudo não se acaba um dia, mesmo contra à vontade do patrão de la Montaña de maíz ele voltaria renovado por la muerte

titubeando, repetia e repetia as mesmas palavras, noite e dia, Un inmenso portero mestizo no deja pasar a los hombres y mujeres de lujo por la puerta prometida a los abandonados y sufrientes, el paraíso de la vida eterna para los pobrecitos.

um mundo verde e colorido, sem preconceitos ou desigualdades, um lugar sem luxos ou ganâncias, um outro mundo sem farturas pedantes e vaidosas, sem a abastança da soberba

assim foi  dia após noite , até que papá se finou em uma noite de estrelas brilhando e dançando, como se o universo estivesse abrindo seus braços para aquele hombre de maíz, um sobrevivente conformado de la Montaña, a sua hora en la naturalidad de la vejez

quis ser levado ao topo de la Montaña enrolado em tecido simples e fino

sem choradeiras

cantorias, se assim o queriam

depois o silêncio de uma cova de milho

pediu que Blanca colocasse grãos de milho em seus bolsos e mãos, para seu espírito florir, libertar-se daquela carne enfraquecida

assim sua reaparição estaria completa

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