sábado, 16 de setembro de 2023

Memórias - 24: los perros insatisfeitos

No se puede hacer la revolucion sin las mujeres

Livro Um

baitasar

Memórias

24 – los perros insatisfeitos

las mujeres aguardam cozinhando ao redor das fogueiras que se desmancham junto com as primeiras claridades, esgravatam por alento, as caras redondas e vermelhas assam como fogo

los hombres sobem la Montaña

los perros insatisfeitos ficam perto das cabañas

las gallinas bebericando la tierra

isso se desmancha do passado no presente, o paraíso e o destino não mudam para quem dorme em cama de pedra: as covas de maíz

foi tudo muito rápido, o arrebatamento temporário do touro para a cobertura das vaquinhas leiteiras, a invasão dos milicianos do coronel, la muerte de las vacas, la tristeza de papá

as chamas ainda ardiam quando José Qualquer disse que estava decidido a ficar en la Montaña, Não vou voltar!

¿Qué es esto?

Não quero voltar.

¡No seas loco, te van arrastrar a fuerza!

Subo la Montaña e não me acham.

¿Y vamo vivir a escondidas?

Se for preciso...

¿Y por qué esso ahora?

Blanca sabia que não bastava ele se esconder, ela precisava ser escondida. A fúria do confisco provisório do touro recaia sobre todos no povoado de Piedras Altas, nunca mais sairiam de la Montaña de choros e lamentos, cachorros e galinhas, ratos e baratas, o começo do fim do mundo

queriam esse tal de José Qualquer preso por trazer o touro para cobrir as vacas interditadas, el hombre que prometeu tirá-la daquele chão de latidos e cacarejos estava embaraçado en la Montaña

O que foi, Blanca?

¿No vas a volver a tu puesto?

A vontade me falta.

¿Qué esperas de esta montaña?

as coxas se afrouxaram, as carnes esfriaram, escapava por entre os dedos a estrada de saída para outro mundo

um mundo de vestidos novos e cheirosos, água abundante e perfumes, conversas alegres, comida farta à mesa, escola para os filhos, sem cachorros ou galinhas, uma casa com pisos de madeira e telhados de barro cozido, sem palhas, sem piolhos, banheiros de louça branca, sem buracos no chão, longe das mordidas de peçonhas, calçados para caminhar no ir e vir do mercado de alimentos

tanta coisas novas para ir ao encontro e o outro não lhe quer deixar escapar, sonha em ficar escondido

o sonho dele era o pesadelo de Blanca, o seu luto, quem nunca ficou acorrentado por conta da vontade do seu dono não dá o devido tamanho e importância à liberdade, brinca de faz-de-conta porque sempre tem uma opção que não seja à morte

quem nasceu na liberdade não lhe sabe o cheiro

Espero aqui o respeito que nunca tive ou terei no mundo dessa liberdade.

la joven deja escapar un gemido, Tonto tonto tonto...

La Montaña no respecta a nadie, sólo toma lo que necessita.

É uma vida mais natural...

¿Lo que hay de natural en abonar la tierra con el proprio cuerpo?

Todos vamos adubar, mais cedo ou mais tarde, esse tempo chega para todos.

Por acá, siempre es muy pronto cuando uno sierve de abono.

Aqui é o paraíso!

Un paraíso que manca, juega fuera la vida.

aquilo não era justo, Blanca sabia que la Montaña não queria lhe retirar daquele mundo de covas, adubos, tiranias e mortes injustas, su hombre estava enfraquecido confiando em paraísos

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