sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Com a graça de Deus

Ensaio 15B
baitasar
Os três continuavam parados na praia. Josino jazia com a água na cintura, os dedo enrugando, a carne ardendo da lambida do chicote, fazia tempo qui não sentia a dô do relho na própria pele. A dô se misturava com o pasmo de espanto do causo. O siô Barros Colombo pareceu desaprová o destempero do fiô Capitão, mais nada disse, fez apenas um comentário de consolo
—        Josino, amanhã, passa na botica do Juca dos Remédios. Vou te dar um bilhete com o pedido de unguento para ardidura do relho.
O Capitão mantinha esticado seu cipó de boi em cima da areia, pronto pra escová o couro do Josino. Na sua vontade de disciplinadô, o castigo de aviso podia sê inteiro, batê mais um pouco, té  animô de dizê
—        Se o Josino apanhá, os negros da fazenda vão sabê das notícias, nenhum outro negro vai querê se rebelá contra o sinhô.
O sinhô Barros Colombo, qui tem as duas vista verde, olhô o Capitão do olho verde sozinho, ele pintava outros assunto na cabeça e não queria usá de mais tempo qui o preciso, fez vista grossa pro atrevimento do moço qui quase lhe estraga a mercadoria
—        Não é o caso do Josino, meu rapaz.
A vontade de castigá o negro não lhe deixô escutá a caridade na voz do siô Barros Colombo, quando lhe disse: ‘meu rapaz’; foi o mais perto do qui sempre quis escutá: ‘meu fiô’. Tem gente qui sabe onde nasce, mais não sabe onde morre, tem outros qui não sabe onde nasce, mais já sabe onde morre
—        Negro como o Josino lhe custa 3$500 pra capturá...
—        Por isso, tenho ocê por perto... para economizar os três mil e quinhentos réis, e assim, não me obrigando gastar na compra de outro negro, já tenho o escravo que eu quero.
Aquela única vista verde do Capitão parecia querê saí do olho, as palavra pra retrucá ficaram na boca, querendo saí, mais sabia quanto podia e não podia, o mais bão era deixa a língua guardada pra não desperdiçá a saliva
—        Ouço e obedeço o meu sinhô.
—        Josino, saia daí...
Saiu sem dizê nem olhá, sabia o qui acontecia com preto qui reclamava. Ficô olhando pras mão. Os dedo tinha enrugado. Aprendeu com o preto José, qui fez as muita medida no começo da obra santa, Rapaz, água é bão, mais no qui marrota os dedo é bão saí. Seguiu os conselho do véio José e as vontade dolorida do corpo. Era hora de dormí, sonhá outra vida, numa terra só com preto, pra isso é preciso continuá vivendo. Não olhô o olho preto do Capitão, não ia adiantá, o outro olho, o olho verde, não amansava o relho, dos dois olho era o qui mandava. Esperô parado o ataque com a armadura da pele retesada mais o escudo da vontade de resistí o açoite
—        Se apanhá, sai logo...
O siô olhô no Capitão antes de respondê, pareceu qui solto um suspiro de impaciência, o rapaz era bão com o cipó de boi, mais com o pensamento dos negócio não tinha cacoete. Não sabia fingí preço bão pra mercadoria com defeito. O máximo qui o siô alcançô lhe ensiná foi dominá a força e o uso das tira no couro dos preto
—        Não é o caso do Josino, recolhe o relho.
Precisô empurrá a vista verde pro seu lugá de mestiço qui não tem querê. Repetiu qui ouvia e obedecia. Abaixô a vista preta, depois a verde. Assim qui ele acalmô as vista no chão, o siô repetiu o chamado, mais sem grito, como tivesse se ajustando com o cachorro da sua maió estima
—        Josino, saia daí. — só faltô oferecê um pedaço de osso.
Josino escutô o murmúrio da Milagre qui lhe chegava pelo vento, assoprado da boca de Oia, Não é tempo de fazê besteira, tem o dia de enfrentá, mais tem o dia de se recolhê, espreitá melhó, saia daí, meu preto
—        E ocê, Capitão... volte à fazenda, amanhã, bem cedo, que o trabalho lhe espera. Mas antes, leva o Josino para aquele serviço de reparação no cais.
O Capitão lhe olhô, mudo de reclamá, apenas tratô de esperá o siô falá tudo qui precisava
—        Depois da reparação feita, vão os dois acomodar o descanso no porão dos lampiões. Tenho reunião com os próceres da cidade, parece que a obra do céu não está na ligeireza recomendada do santo padre, que além das obras de Deus, dá ares de que é entendido das obras dos homens.
O casarão dos lampião era a casa do comércio forte da cidade, tirando da conta a igreja, o casarão da administração e a casa do conselho da municipalidade. O seu Joca Lampião não tinha terras do paraíso à venda, nem as força militá do governo central, com esses era preciso entregá os imposto e a doação sem atrasá, aparecê pra um dedo de prosa e deixá os assunto em dia. Assim, gozava dos serviço das postura da pulícia, no andá do céu e no andá da terra, mais não subia nas graça dos siô da fidalguia, ficava na média, entre a nobreza e a esculmalha.
Na casa dos lampião, um casarão de boa altura, qui recebia os carregamento do rio, tinha lampião pra todo gosto e dinheiro: de sebo, de óleo ou de vela. Os tamanho variava com as necessidade do compradô. Tudo guardado no porão. O galpão dos fundo não podia sê pra uso de guardá as mercadoria, construído com paredes de barro da grossura de um palmo, sem pedra ou tijolo, cobertura de telha-vã, o madeiramento do telhado suspenso em paus a pique, tinha muita umidade se arrastando pelo chão e nas parede, vazadas das água da Arsenal. O Joca fazia uso do galpão pra hospedá os preto da obra santa, era seu donativo de poupança, queria reservá um pedacinho das terra do depois, Uma senzala de luxo, siô padre. Tinha certeza de uma boa bem-aventurança e glória no paraíso, Deus lhe abençoe, meu filho.
O siô Barros Colombo visitava aqueles caminho e tinha gosto de se misturá, queria o melhó dos dois mundo. Achô qui tinha conseguido o lugá das graça com a elite da nobreza casando com a siá Casta, filha das fidalguia das nossas terra, gente qui chegô nos primeiro carregamento de barco. Não funcionô, o siô só era chamado nas coisa do dia-a-dia, a alta-roda não lhe chamava quando a trama era apenas ornamental, coisas de aparecimento e bajulação.
Do mesmo jeito, o dono da casa dos molhado, o Gaspar Espanhol, o espanolito, mais parecido com algum castelhano fugido das bandas do Uruguai, mantinha sua casa vendendo o gênero alimentício líquido, não vendia xarope, não queria confusão com o Juca dos Remédios, nem colocava à venda cana da pura, pra não arrumá confusão com a taberna do Lagarto, qui cuidava de vendê vinho e as destilada. As bebida espirituosa era com o Fanho, mais tudo qui é gente, daqueles dias, conhecia o galpão dos fundos da casa dos molhado. Pra entrá, precisava convite do espanolito. A desatenção de cuidado com os escrúpulo, os imprudente com a honestidade, a ignorância, a seriedade de não alegrar-se, ficava com os fingimento das manhã no domingo ou as conversa no casarão da administração ou as tramoias no conselho da municipalidade. Ali, na era lugar de traição. Ser convidado para os folguedos do galpão do espanolito não tinha preço, mostrava o respeito qui o homem tinha entre os medianos. Os convite era disputado palmo a palmo, dependendo da noite e do atrativo, tinha cidadão dos mais respeitado qui saia no tapa pra conseguí a sua convocação pros serviço de putaria e jogatina. As noite mais procurada era a quarta noite, depois do domingo, o atrativo era o jogo do osso; na quinta noite, os convidado se reunia na mesa do carteado; na sexta noite, o galpão brilhava com o desfilá dos encanto amoroso. As donzela preta era disputada com seu peso em ouro, a vitória no arremate dava direito ao refúgio da alcova. Nas noite do sétimo dia, o Gaspar Espanhol organizava o bailado, as menina não podia aceitá intimidade qui não fosse das mão. O galpão dos fundo era o clube do espanolito: dos destilado, da mesa do carteado, do jogo do osso e das muita muié. Ele jurava qui casa de alcouce era com a Maria da Cobra, aquela congregação do divertimento não era nenhuma coisa nem outra, tava no meio, um novo subalterno da fidalguia qui se estabelecia na cidade. Foi a primeira confraria qui se soube a permití mistura das cô, as menina tinha qui tê boniteza, na cô qui fosse, a pele lisinha como massa de porcelana, e sabê serví  com vontade os membro convidado. Não fazê comentário sobre qualqué membro fora do galpão.
O espanolito diz qui conheceu outras casa qui oferecia as mesma utilidade, mais sem o atendimento e o divertimento qui o seu telheiro oferecia. Tinha té fogão de chão pra esquentá o mate. As moça era escolhida a dedo, rigorosamente, não queria nenhuma virgem
—        Sinhô Barros, essas donzela são muito metida com o choro, pouco compromisso com os serviço da alegria. Leva tempo pra educar.
O siô lhe retrucô
—        O amigo diz isso porque nunca tratou de se enfiar numa neguinha, toda assustada, que só se vê o branco dos olhos arregalados e a boca muda, o vivente fica numa fúria de usar o cravo na ferradura. Ela sabe que se gritar vai receber o castigo do rabo do relho. Essas apertadinhas são as melhores.
—        E o que o sinhô Barros acha do uso que faço desse dedo?
Enfiô o dedo no copo da destilada e levô na boca o varapau do meio da mão, o maió de todos tava sempre com a unha crescida, Uso como navalha
—        Quando chegar carregamento novo vou fazer avaliação das peça, fico com as menina pra educar, é de novinha que se ensina. Depois de bem acostumada com as instrução da educação, faço à venda ou o arrendamento.
Os dois soltaram as gargalhadas, ainda com os copos na mão, ofereceram um brinde as menina da cô e do amo, desceram num só gole a destilada
—        Vô indo.
—        Mais o sinhô Barros recém chegou.
O siô do Josino fez um gesto casual de enfarado
—        Tenho compromisso com os próceres da municipalidade, querem mais ligeireza na obra de Deus.
O Gaspar Espanhol ergueu os ombros e guardô os copo
—        Fica pra próxima.
—        Isso.
—        Vô lhe apresentar uma liberta, uma escurinha mui graciosa... acabei de comprar.
—        Fica pra próxima.
—        O sinhô manda por aqui.
—        Boas noites.
—        Com a graça de Deus.
—        Água e lenha todo dia venham.

—        Amém.

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