quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O baobá embriagado pelo gosto da fertilidade

Ensaio 19B
baitasar
Depois da carga desembarcada da carroça, os dois negro foram deixado na senzala da obra santa, qui não era na obra santa, a obra santa não sujava as mão com o sofrimento dos negro, mais qui oferecia salvação oferecia, té praqueles qui beijava a cruz marcado com ferro e brasa e sangue e dô as corrente e a chibata, era o tempo da menos valia um negro liberto qui dois acorrentado, de qualquer jeito e maneira, a senzala da obra santa ficava no galpão do Joca Lampião, pros lado da Arsenal, a mesma praia qui viu os preto despedaçado nas boca da cachorrada. O Joca não tinha nada de santo, muito pelo contrário, dormia com o negro Varão, qui o padre fingia qui não sabia já qui não via, é bem assim, o qui o seu coração não sente é porque as vista ainda não viu ou não quis vê, as vista procura o interesse de vê, ocê vê o qui qué vê, o coração sente o qui ocê qué vê, pode té dizê qui isso é pouco de quase nada, nem lhe interessa essa conversa, mais presta atenção nas coisa qui ocê não qué vê e fingi qui não tem importância e pergunte por que tem medo de abrí as vista, pará de se escondê dos pensamento dentro dos pensamento.
Antes de sê deixado na solidão do galpão, foi muito instruído pelo Capitão bastardo sobre a importância de não fazê nenhum comentário sobre o embarque das prancha no barco do siô, como se fosse interesse dos preto o qui um branco roubava do outro, fingia qui dava, mais não dava ou dava e depois tirava
—        Capitão...
—        Fala, negro.
—        Esse deus do branco deve sê cego ou surdo...
—        Cala a boca, criolo... o siô Barros diz qui ele escreve o certo pelas linha torta.
—        O siô escreve torto?
—        Não é esse siô, é o outro Siô... chega dessa conversa, criolo, agora é hora de dormí, recuperá no sono as força, é tempo de guardá a língua. — o tombo na rede de dormí foi o mesmo nos dois escravo: com fome, com sede, ardido como as lambida do cipó de boi. O bastardo falava como se nada tivesse acontecido, como se fosse natural sê assim, uns bate, outros apanha, se fez crime ocê tem castigo, se ocê mentiu também tem repreensão, se ocê é negro ganha corretivo, como se o castigo pudesse mudá a cô do preto, talvez não fosse pra mudá a cô, mais humilhá o preto e fazê ele respondê, Sim, siô, sim, siô, sim siô sim siô simsiô
—        Amanhã, ocês recuperam a fome e a sede. — o bastardo se ocupô dos dois té qui se acomodaram nos pano balançante, as rede pendurada com argola boiando por cima da terra qui eles molha com o suô e aduba com o sangue.
O cansaço faz o sono tomá conta do corpo, vem como o animal qui cai no fojo espalhado no mato, com suas estaca pontiaguda, uma ponta fincada no chão, a outra olhando pra cima, a boca aberta esperando a sua hora, té qui o animal pisa nos galho esparramado, escondendo os dente e a garganta da armadilha, o buraco se abre, o Josino desce na emboscada do sono, um lugá de vivê do seu jeito as vontade de sê liberto, um preto alforriado de importância pra sua Milagres, as estaca vira estrela, um rio de estrela interminável qui devolve os dois pra terra dos avoengo, de volta ao começo de tudo.
A muié vem voante na brisa das árvore té chegá do seu lado, anunciando o seu amô ao rei negro, pronta pra cantá as história do homem e da muié dos começo antes de tudo, as dô e as saudade carregada no sangue e nas lembrança das cicatriz, os mapa dos caminho qui andô té chegá aqui, longe da casa, a terra do umbigo. Os fiô é o sonho qui plantô pra tê razão de lutá, uma luta solitária pra não branqueá, não beijá a cruz pra tem alma de branco, queria sonhá com os seus orixá, com as cantoria, as dança, as história, queria continuá a negra dos espírito nas feitiçaria.
A muié voante tem nas mão o milho, a batata, a mandioca, o gado fica escondido no olho, tá molhada do suô da noite, perfumada com as suas água de muié. A voz doce e as mão assanhada tirava o Josino do sono enquanto dormia e encontrava a fartura dos alimento da terra. O espírito erguido olhava ele qui dormia: grande, forte, um preto brilhoso, os cabelos raspado, a respiração alta, áspera, calorosa, indecente, as marca ardida no rosto, os rabisco do cipó de boi no peito e nas costa, as perna imensa, os pé gigante, um preto todo grande, um baobá.
Agarrado na mão da sua preta voltava voante té a pedra do amô, o lugá da sua alforria, do seu casamento, de fazê revivê as lembrança qui carrega no sangue, na cô, nas memória qui vê com as vista fechada. Era quando ela não lhe deixava dizê nada, usava uma das mão no peito do baobá, ele cabia inteiro na pedra qui ela chamava terra dos antepassado, com a outra mão ajudava derramá o milho, a batata, a mandioca, té a boca ficá cheia, depois engolia o alimento, ela é a terra, o lugá qui faz tudo continuá.
A sua planície é o berço do Josino, ela não queria deixá o rei negro se aliviá té o fim do sonho, apertava a mão e empurrava o alimento na embocadura da alma, té o fundo da carne, nem o homem nem o lugá qui faz tudo continuá conseguia respirá, desacendê aquela fome de amô.  Rolavam na pedra, té qui o baobá deitava por cima, descia té as raiz do lugá de continuá a vida, beijava e atiçava, depois a sua boca mordia e caçoava, fazia brincadeira com a casca dos pé da Milagres. A lua crescente assistia desavergonhada, delirando. As estrela sumia e aparecia, parecia qui brincava e piscava. O fogo lambia, subia as labareda té os joelho qui tremeluzia o baobá embriagado, as mão cismada com a cintura da preta não parava de agarrá e soltá. Não tava mais desconfiado com a vida, escalava as perna, as mão subia sem pressa apressada, dava o tempo de se apaixoná de novo e de novo, firmava nas duas cuia preta, a boca queria e não queria subí, as mão não esperava, ficava roçando com o polegá num e noutro ponto moreno, arrebitado em cima do coração. O zunzunzum continuava nas virilha, a pelagem preta encaracolada, encrespada, lhe entrava na boca e sai nos intestino, a saliva engravidava misturada com as água da muié qui erguia a garupa da pedra, se oferecia e pedia, Me entra, me entra, a língua lhe entrava, a labareda consumia o baobá enraizando no lugá qui faz tudo continuá.
O rei negro continuava o caminho da boca pelo corpo da Milagres encantada, Ah, meu preto encantado, me carrega na tua boca encantada, me faz encantada, té qui a boca chegava no seio espetado, uma ponta fincada na carne, a outra olhando pra cima, ousada, esperando a sua hora, té qui a lámbida lhe passa toda molhada e o buraco se abriu, o Josino queria a armadilha dos dois bico rijo, teso, humano, selvagem, qui se oferecia pra amamentá, Me toma, me toma, a boca sugava as água, té sê o rio da vida qui se despeja no lago, o milho, a batata, a mandioca, a carne comida. E a terra servia o sustento da vida.
Quando a boca do homem encontrô a boca da muié, as vista dos dois se fechô, as perna da terra se abriu, té qui o baobá lhe entrô a raiz té o fim, não tinham afobação, um queria sentí no outro o amô do tempo antigo, quando a criação veio como uma mágica, o tempo qui o homem era árvore, a árvore-mundo, o rei negro achava qui dominava a terra, té qui ela fazia o baobá sentí o amô dos milagres, o gosto da fertilidade. Os dois vira encantamento num novelo de perna pra dormí, os galho brotando , as chuva dos olho do baobá molhando a planície da terra arreganhada, a vida se renova. O baobá não qué esquecê, faz tudo de novo: desce té as raiz e molha a casca dos pé da muié encantada, rola a terra qui fica acomodada, virada com as costa pras vista do baobá. A árvore-mundo se dobra sobre a terra e engravida mais uma e outra vez.
O Josino baobá agarrô o sono na pedra do amô dum jeito qui Milagres arredondô, Minha preta, ocê tá linda com esse jeito crescente, Mentira, to feia, Bobice, sua planície parece a lua crescendo, Num sonho ocê não sabe o que é verdadeiro, Nem a vida sabe, ela só sabe qui é vida.
Os dois não sabe como o siô e o bastardo encontraram o lugá dentro do sono, nem deu tempo de entendê o pai qui ordenô ao filho, Abre, eu quero ver a cor, o filho bastardo desenrolô a chibata e estalô no ventre das Milagres. Josino não suportô e abriu as vista. Não podia vê, não podia deixá o filho nascê com as marca do cipó de boi.
Naqueles dias, não ia dormí mais, nem vê Milagres

—        Esse maldito devê do Capitão bastardo não é com a vida.

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