segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 3


Ensaio 28B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




Josino não procurô as vista do Capitão, não quis oiá direto o desafeto. Não viu utilidade em provocá o armamento do otro. Um desafio com as vista só ia dá crescimento naquela confusão de castigá e gritá, fazendo do chicote a força do entendimento e da servidão. Decidiu deixá as duas vista disfarçada com feitio de amansada enquanto ficava amarrotado. Precisava oiá sem o coração. Fez acordo com Milagres qui as coisa sentida nas carne não ia cruzá com os pensamento da cabeça. Carecia sobrevivê.

Não era fácil pro trabaiadô escravizado vivê muito mais qui o tempo da criançada branca de seis e sete anos; desembarcá vivo do tumbeiro qui chegava carregado de carne preta pra Villa era o primeiro passo, depois carecia se acertá com a rudeza dos dia e noite de frio e entendê as lista de gostá do siô Afonso da Hora, os cavalo, as família, as terra, o gado e a Villa. O preto Josino nunca descobriu qual era a ordem de preferência, mais sabia qui os preto não tava nela nem nunca ia tá.

Chegá com a boca fechada, as perna firme e os braço forte não era esperteza, era sorte. Muitos adoecia e ficava na estrada das água. Otros chegava tão enfermiço qui nem valia o esforço de desembarcá. Pió mesmo, ficava nas fazenda enfiada pra bem longe, sem ninguém pra falá. O cipó do boi cantava a torto e direito. O jeito era ganhá ajutório com as lembrança dos avoengo mais as reza dos orixá, eles têm o conhecimento pra desvendá os mistérios do mundo, da natureza e a luta costumeira dos caminho de cada um contra a desgraceira.

Oiá, mãe nove vezes, banhava com sua magia as água e as areia da Arsenal. Usava uma luz prata azulada pra aclará os três: Josino, Capitão e o siô Afonso da Hora. Os barulho das água continuava indo e vindo, as areia aguada afundava lentamente com os pé do Josino. As vista do Capitão não podia escondê o seu embaraço com as coisa qui se passava nele: a vista preta só obedecia, ela oiava os pé; a otra é qui mandava, a verde. Essa não amansava o cipó do boi, pelo contrário, ela atiçava, colocava lenha na fornalha qui respingava covardia e medo. Ele tinha os dois mundo na cô das vista. Dois mundo separado e grudado pelo ódio. A vista preta mais se parecia com um bichinho da estima e agrado do siô, a verde reinava sem dó e sem compaixão. E o qui podia serví pra honrá a vida era usado pra encorajá a infâmia.

Josino caminhô devagá inté saí das água e afundá os pé nas areia sem alagamento. No caminho do moiado pro seco ele mudô a decisão de só sobrevivê. Esperô parado o ataque com a armadura da carne retesada mais o escudo das vontade de vivê nas belezura da Milagres, tinha decidido qui ia resistí, não queria mais tê só a vida qui não tinha

Se esse negro apanhá ele sai logo, mas precisa receber o corretivo certo, ele sai logo... lhe garanto, o siô da Hora oiô no Capitão antes de respondê, pareceu qui soltô o respiro da impaciência com o aluno qui não qué aprendê e acha qui sabe. O guri tinha o seu valô: era bão com o cipó do boi; mais não tinha o cacoete dos negócio nos pensamento. As preocupação na cabeça do faz-de-tudo só tinha o castigo. O siô não ensinô e o guri não aprendeu por conta própria fazê negócio. E os cuidado qui não tinha com os preto podia arruiná as mercadoria. O máximo qui o siô lhe alcançô ensiná foi dominá a força com o uso das tira nos couro preto

Não é o caso do Josino... recolha o cipó, o Capitão escutô em silêncio o mandamento do siô Afonso da Hora, as mão apertava com força a empunhadura, a perna do otro lado se dobrô coisa de nada, a mão armada com o cipó parecia querê desacatá as ordem do patrão, inté qui empurrô a vista verde pro seu lugá mestiço sem tê querê. Ela não tinha mais querê qui o gado. Abriu com muito custo a boca pra repetí qui ouvia e obedecia. Abaixô o oiá verde inté quase na altura do oio preto. Fincô as duas vista no chão, parecia tê adormecido, mais a verde não conseguia adormentá. Ela continuava atinada com os movimento do preto

Josino, saia desta praia maldita, o siô da Hora repetiu o chamado, mais sem grito. Ele parecia se ajuntando, como sempre fez, com algum dos seus cachorro. Todos da sua maió estima. A voz parecia doce e cordata, mais quem apreciava os jeito de mandá do siô da Hora, sabia qui ele tava frio e indiferente. Não levava inté no limite o absurdo de sentí dó do preto, essa ligação gostava de mostrá qui devotava nos cachorro. Chegô pensá em oferecê um pedaço de osso com carne pro preto se abeirá com festa nos seus pé de dono. Sorriu do pensamento qui teve, não o Josino, um rei sem reino.

O preto continuô parado no lugá qui escolheu fincá os pé e tirá tudo aquilo à limpo. Viu o cipó se mexê com feitio de peçonhenta, deslizava pelas areias inté fica todo enrolado. Recolhido nas mão do Capitão. O cipó do boi tava quieto e encolhido num jeito qui podia ficá estendido e golpeá o sofrente, tudo num pisca de ôio. Dava pra sentí qui aquele foi um recolhimento a contragosto, feito pelo desejo de mostrá qui sabia obedecê, merecia confiança.

O murmúrio da Milagres chegô inté o Josino, veio nas costa do preto, ele podia jurá qui foi carregado pelas água, nos braço de Oiá. Sentiu os cabelo da nuca ficá arrepiado. Fechô as vista e ficô calado, pronto pra escutá. Os assopro da voz da sua mulhé feito esposa chegô no tempo certo, veio pra acalmá sua vontade de lutá

Não é tempo de fazê besteira, meu preto. Tem o dia de enfrentá e tem o dia de sê recolhê, tem vez qui é melhó escolhê vivê. Espreitá melhó não é aceitá nem se dá, é esperá as coisa boa da vida, elas vai chegá. Nunca é melhó se matá.

Ele obedeceu.

O siô abriu a bondade do seu sorriso, sempre fez assim quando a sua vontade de dono de tudo era reconhecida, desinventava o homem carrancudo, mais se enganava quem pensava qui o aborrecimento não voltava como um espasmo de prazê. O siô da Hora agia com mais sabedoria e capricho quando suas norma recebia o respeito da obediência, mudava ligeiro e largava o uso da bondade se a obediência era esquecida: exigia a fome, a sede, o castigo do açoite e a humilhação no desobediente, se o negro não aprendia por bem havia de aprendê por mal, era quando gostava de aproximá o sofrimento e a dô

Muito bem, Josino. Vá dormir para esquecer a dor, o siô falava como se um homem não tivesse fome de liberdade das corrente qui o Capitão ora apertava ora afrouxava, como uma assombração qui vive pra fazê do sofrimento dos preto o seu prazê. Cresceu e se fortaleceu na banalidade daquele cotidiano de corrente, açoite, salmoura, pimenta e lágrima. Só conseguia arrancá a carranca da cara quando a empunhadura do cipó do boi tava livre pra agí. O seu único prazê era usá o cipó com a maestria e precisão do professô. Usava um chicote com um feitio qui inté parecia qui ele não existia, só existia o cipó do boi. Um mestre disfarçado de fio bastardo

E ocê, Capitão, chamô a atenção do fio bastardo e esperô ele lhe oiá, volte amanhã à fazenda, o rapaz lhe oiava espantado, bem cedinho. Mas antes de dormirem, leve o Josino até aquele serviço de reparação no cais, o cipó do boi escutô sem reclamá, mudo da sua raiva. Ficô pendurado no Josino e nas tarefa qui o preto precisava desempenhá. Continuô o seu silêncio, tratô de esperá o siô falá tudo qui precisava

Depois da reparação feita, acomodem o descanso no porão da Casa dos Lampiões. Tenho reunião com os próceres da Villa, parece que a obra do céu não está tendo a ligeireza recomendada e esperada pelo sinhô padre. Além das obras de Deus, o padre dá ares de que é entendido nas obras dos homens.

O casarão dos lampião era mais uma das casa de comércio forte na Villa, junto nesta conta de comércio forte era preciso botá a Casa das Governança do Céu; não tinha jeito de esquecê a Casa do Conselho da Municipalidade; muito menos, a Casa do Governadô e a Casa da Magistradura com as suas conveniência. Mais era na casa de trabalho do chefe das pulícia qui era decidida as medida de punição, a guarda das conversa do comércio de interesse e os acerto de troca-troca.

Tudo tinha acerto antes de tê decisão. O siô gostava de repetí as palavra do finado sogro quando tinha qui fazê reunião com os mercado forte da Villa, não gostava de entrá na reunião antes de tá tudo adequado

Espero que tudo tenha ficado acertado entre os dois, oiô pra vista verde do Capitão, que cada um cumpra sua missão da melhor maneira, tirô o relógio do bolso e espiô o dia anoitecendo, preciso ir que o meu atraso não recomenda bem aos negócios, colocô as vista mais uma vez em cada um, não pronunciô mais nada e saiu uns passo, inté qui parô. Fez meia volta, parecia preocupado

Não se deixem confundir com esses negros vagabundos ou fugidos do poder dos seus senhores. Não quero ter que me envolver com as Posturas Policiais da Villa, ergueu o dedo na direção do fio bastardo, mais falô pros dois preto, não esqueçam que cada um de ocês vale dois mil réis se forem pegos depois do anoitecer, andando na Villa. Carreguem o salvo-conduto, desvirô e foi saindo, os negros à noite são todos iguais, cuidado para não serem confundidos com esses vagabundos preguiçosos, vadios acostumados a roubar e matar, a silhueta do siô Afonso da Hora se perdeu no escurecimento da noite, mais o eco da voz ficô na Arsenal.

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