domingo, 28 de março de 2021

mulheres descalças: usdois contra cadum

 mulheres descalças



usdois contra cadum
Ensaio 127Bzu – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar

as ferida da crueza endurece as vontade do curação qui num tá agradado nele mesmo, vira uso conformado o fingimento disê feliz, disfarçá só faz desparecê com desembaraço as vontade ditá junto com afeição e estima

usóio fica mais fora qui dentro, as mão fica mais guardada qui perto – inté quius dois tá em tudo quié lugá, menos onde devia tá junto, falta vontade, carece gosto tá perto um dotro –, usdois contra cadum e cadum é embaraço dusdois, as agrura da vida sem vontade ditá junto

o casco da bengala bate no chão, parece querê avisá quia cicatriz do tombo ainda num sarô, vai tê demora pra sê apagada, Vosmecê aqui... como uma qualquer da Villa, fofocando a desgraça alheia?

as palavra dusiô augusto num é estranheza pra dona rosinha – ele num tem nenhum afligimento com a desgraça dusotro, muntu menó é o interesse pelo negrinho –, ela sabe quiele separa com gosto as palavra ruim e injusta qui solta, udois sofre do curação preso no fingimento, Continuo escrava... a escrava enfeitada que tem um negra escrava. Durmo sozinha – e bendigo isso – em linho adamascado que podia estar estendido à mesa com talheres em prata banhados e louça azul com pombinhos. Temos frango com linguiça, farofa, paca assada, arroz de forno, tutú de feijão, vinho português, sangria, limonada, laranjada. E sempre uma doçura depois da almoçarada. Vassouras de alecrim, panos de linho branco e sabão para as limpezas da antônia. Uma casa limpinha e bem arrumada.

cadum qui vive precisa lembrá qui vivê é uma fortuna e num devia sê usada pra depreciá nem dominá otras vida, nem pra esbravejá quia sua vida é meió e mais valiosa quias otras vida, tudo dito sem vergonha e alegria, a falta de tristeza pra dô dusotro mostra qui uma vida infame afoga os pensamento em rios de bosta, Faz tempo que venho lhe treinando para enxergar como são as mulheres casadas, lembra? A casa e a esposa é o lugar do sossego do homem, as águas tranquilas da Villa. Mulher casada não olha para outro homem, nem sai sem estar acompanhada. Espera em casa o touro cobrir a vaca, dona rosinha precisô força das vontade pra continuá presa nas gritaria da praça, continuá vencida e conformada na janela, Não esqueça, dona Rosinha: Deus não é mulher, ele mija em pé! Uma boa esposa precisa ser paciente, forte, trabalhadora, zelar pelos filhos, agradar o marido, saber lidar com a escrava, casar virgem – lembra? também elogiei a virgindade da menina Rosinha, vosmecê respirou assustada, e lhe avisei que não precisava ficar preocupada –, autocontrole nas mulheres é tudo. É preciso lutar contra a vontade ruim de fazer o que não deve. Uma esposa decente tem cuidado com as pernas, os olhares que faz e as coisas que pensa. Uma mulher puríssima nos pensamentos é uma joia calada e caseira, sem inveja, rancor e amargura ressentida. Assim, nunca vai ter do que se arrepender. É melhor fingir que falar bobagens!

dona rosinha continuava grudada na praça, num queria achá defeito nela mesma, já tinha virtude demais prusóio dusiô augusto, e cada virtude nusóio dele era um desmerecimento nusóio dela, sabia quia continuá na vida qui tinha, num iatê otra, A Mãezinha está escutando? Os detalhes são muito importantes, mesmo depois de tantos anos e avisos...

O quê, Paizinho... Ah, sim... sim...


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é bão lê, tumbém... sequisé:


histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio
mulheres descalças: a pulícia pública
mulheres descalças: a vida num é simples
mulheres descalças: na solidão sozinha
mulheres descalças: usdois contra cadum
mulheres descalças: fofocando comigo mesma

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