Machado de Assis
CAPÍTULO LXXV / Comigo
Podendo acontecer que algum dos meus leitores tenha pulado o capítulo anterior, observo que é preciso lê-lo para entender o que eu disse comigo, logo depois que Dona Plácida saiu da sala. O que eu disse foi isto:
— Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou-lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjunção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. E de crer que Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: — Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe responderiam: — Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia.
___________________________
Leia também:
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXII / O travesseiro
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXIII / Fujamos!
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo: LXIV / A transação
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXV / Olheiros e Escutas
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXVI / As pernas
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXVII / A casinha
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXVIII / O vergalho
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXIX / Um grão de sandice
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXX / Dona Plácida
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXI / O senão do livro
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXII / O bibliômano
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXIII / O luncheon
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXIV / História de Dona Plácida
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXVI / O estrume
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Prólogo e AO LEITOR
___________________________
Leia também:
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXII / O travesseiro
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXIII / Fujamos!
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo: LXIV / A transação
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXV / Olheiros e Escutas
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXVI / As pernas
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXVII / A casinha
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXVIII / O vergalho
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXIX / Um grão de sandice
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXX / Dona Plácida
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXI / O senão do livro
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXII / O bibliômano
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXIII / O luncheon
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXIV / História de Dona Plácida
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Capítulo LXXVI / O estrume
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Prólogo e AO LEITOR
Nenhum comentário:
Postar um comentário