XVI (2ª) - No se puede hacer la revolución sin las mujeres
baitasar
(¡Cierre la puerta!) — gritou a mulher do patrão — No me gusta tu olor de la mañana – nem
eu, pensei deitada em minha esteira. E perguntava-me como ela podia dormir con el
patrón y su sudor de vaca con olor y mierda. Talvez, os
segredos de las mujeres desenganadas por romance são os laços de sangue, ou talvez,
elas façam o que precisam para garantir seus filhos e a si mesmas na folha de
pagamento. Pronto. As medidas de uma hija nem sempre são as medidas de la tierra,
quase nunca são as medidas dos avós, são as medidas da ilusão com outros jeitos
de mentir, uma cilada sem freios ou desfechos, incansável, disimulada. Para
dona Lara nunca houve outra realidade possível de mulher. Uma fidelidade
religiosa de esperança e desesperança, um jogo de silêncios e insinuações,
aparências e mortes, um tempo sem tempo. Assim ela é mostrada como exemplo, um
bilhete premiado da loteria.
O galo tornava a convidar de maneira obscena para a vida fora da cama;
espalhava a vitória diária do sol contra as forças da noite. As claridades da
manhã devoravam as estrelas resmungonas: todo
tiene su tiempo para elegir ser. Assim como Dona Lara, na escuridão do
quarto, na maioria das vezes, não escolheu ser devorada pelo patrón, em outras escuridões quis
devorar como las perras adultas
(Obrigado, por me deixar comer.) (Faça como quiser.) (Gosto assim...)
(Assim como?) (Assim...)
Escolher ser e não parecer, em outras vezes, parecer e não ser, mas
bastava o galo retornar o seu anúncio do dia e Dona Lara mostrava sua irritação
com as tarefas da dona-de-casa
(Alguém poderia fazer esse bicho calar o bico?) (Não posso, mi mamá!)
– isso foi mais um descuido de Dom Juan, com os pêlos arrepiados como espinhos
de cactos, entre lamentos suspiros estalos. Eu cerrava com força meus olhos,
apertava para ter certeza que estavam fechados
(Não pode ou não quer?) - resmungava Dona Lara
Ela virava para o lado e se enfiava abaixo do travesseiro. Agarrava a
almofada de penas com todas as suas forças, jurava pra si mesma que não estava
escutando coisa nenhuma de nada. E toda manhã anunciava
(Não me acordem o guri.)
Aquelas suas ordens siempre
chegavam com atraso. O choro do menino, o canto do galo, os estalos do marido,
uma só voz, um único grito, meio trágico, meio divertido, destrambelhado, como
lhe cuspissem as mãos para disolver o
sono da cara de vinagre, desunir lo que
estaba unido de cualquier modo toda
la mañana. Resmungava que não era justo, havia parido os efetivos de trabajo no reparte do leite, mas não lhe
davam o justo merecimento.
Por sorte da senhora e meu destino de estar pronta para servir, o meu sono
dormia siempre con un ojo abierto, meu
corpo quase adormecido ficava estendido sobre a esteira aos pés da cama do
casal: la cama del niño pequeño y la indígena
de la Montaña vigiavam o sono do menino Leopoldino, nascido com o lábio
fendido como o da lebre, por susto da mãe com La Leporina.
Quando a Senhora me deu missão de vigilância do menino leporino, por toda
vivienda, fiquei preocupada com as
extravagâncias e os instintos vis del
patrón. Afinal, o quarto do casal é
um território de constrangimentos e mistérios. Dona Lara pareceu adivinhar
minha apreensão com o comportamento del
patrón, disse que Dom Juan deveria se
contentar en acostarse, agarrarse un buen
pedo y adormecerse, durante quarenta dias e quarenta noites. Explicou que
esse era seu tiempo de recolhimento
das fomes libidinosas do patrón, tiempo em que não lhe era permitido
enfiar as mãos de macho, e outras coisas mais, debaixo das saias.
Como se el patrón fosse
impedido das suas vontades: cuando el
quería, no era tema a tratar, el quería y listo.
Na primeira noite de fazer vigilância, o leporino acordou e nada fez o
choro do guri se acalmar. Apresentei-me rápida para arraigar en mis manos el niño.
O patrãozinho chorava com desespero, não tinha temores ou remorsos, sentia a
fome pelo calor do colo, o aconchego da quietude protetora do regaço. Embalei el niño
para acalmar suas lamentações e a senhora dormir un poco más
(¡Dios mio! Carajo…) – el patrón
pedia que alguém fizesse alguma coisa com o guri marcado.
Deitei o menino na minha esteira de vigilância e ofereci ao leporino mis pechos pequeños para acalmá-lo; el niño se aquietou e não desatou da
boca meus bicos quase sacados de sí.
Foi a primeira vez que meus peitos pequenos foram agarrados pela boca e
mamados. Algo de vital aconteceu quando o patrãozinho dormiu pelos meus bicos,
decidi que não queria filhos, queria acalmar a fome do Juanito. Essa foi a
única das minhas vontades de oferecer-me que não realizei, incompleta para siempre. Sepultada embaixo de la
Montaña del maíz. Não tive filhos
e aquele niño das minhas lembranças
nunca colocou sua boca em mis pechos. Os planos nem siempre se cumprem, nem siempre se bastam, quase sempre
permanecem como planos. Fiquei enfeitiçada e resolvida quando atendi meu
primeiro cliente: el leporino. Dizem
que o primeiro não se esquece, pois para mim o Juanito poderia ser o primeiro
para quem quis me dar. Ele não quis ou não sabia dizer que me queria, o
resultado foi o mesmo: no me he olvidado.
Depois da bruxaria que me fez uma perra, atendi tantos clientes que nem
mesmo lembro se os repeti, nem lembro as mentiras e as invencionices com os
homens em minha cama. Houveram clientes que precisavam da luz, outros da
escuridão, cada um com suas manias: aprendi de tudo, esquecer e manter o fogo
acesso, selvagem, um animal das proezas da escuridão. É quando minha alma
dorme.
Ainda sou um negócio ilegítimo, por isso uma afronta imoral, mas são os
homens que nos trazem as doenças e a culpa também é nossa. Existem muitas
lendas ou verdades sobre as minhas histórias de lascívia. Fui rainha no bordel,
me oferecia em cenas obcenas, mas com brutalidade só em duas vezes: fui violada — ¿Ir a la policía? — eu sou a prostituta... queria ser cortejada e
conquistada, talvez não quisessem perder tempo conquistando uma mulher
As manhãs começavam pela rotina de oferecer meus peitos aos pequeno
leporino, depois de acalmado el niño lloroso
estaba en mi esteira, chupava conformado seu dedo pulgar, viajava no mundo dos espíritos influenciando o humor do
dia com seu temperamento.
Dona Lara detestava sair do sono tão cedo ou abandonar a cama antes de
estar preparada, acostumada. No seu gosto o dia poderia começar depois das dez
horas da manhã e terminar às nove horas da noite, não era uma mulher noturna.
Até as brincadeiras de bagaço com Dom Juan preferia fazer el la siesta.
Ser la sierva da tarde era bem mais chique, melhor que se apresentar
cansada como a piranha da noite, aquela senhora que encena aos berros enquanto
o homem se distrae em troca de
migalhas. Na tarde, os barulhos do ar se disfarçavam e misturavam com os
desmoronamentos da devassidão
(E o amor é quase o mesmo) – si
quejó a mi entre dientes. Murmurei para o menino grudado en mis pechos que a mãe dele retrucava de
barriga cheia, satisfeita con el patrón de la casa, aconselhei el niño — Sigue siendo pequeño, lejos de los dolores y molétias adultos.
Uma das filhas da senhora entrou pelo quarto adentro procurando uma
escova de cabelos, já seguida de outra querendo uso do cuarto de baño
(Usem o banheiro de vocês!) (Está embruxado.) (¿El cuarto de baño?) (Iso
miesmo.) (É verdade, mamá... é um
nojo!) – não tem importância a idade, niños y hombres son puercos, sucios y groseros
(Mamá, a minha escova.) (Não
acho meus rabicós.) (Não estão aqui, Angélyca.) (Achei!) (O quê, minha filha?)
(A escova.) (E os meus rabicós?) (¡Dios mío! Não se tem sossego nesta casa!) – a Senhora enfiava su cabeza
dentro do travesseiro, junto com as plumas.
Uma das jovens saiu escovando os cabelos, enquanto outra enrolava os fios
negros e longos em voltas e nós.
Dom Juan deu uma escovadela nos dentes e fez gargarejos de limpeza da
garganta. Aumentava o barulho do gargarejo e ventava o seu mau cheiro,
novamente. Fingia com a garganta o que saia pelas pernas
(O sapo quer parar de se espremer?) (Mi
mamá, preciso de cuecas limpas.)
(Mãe! O meu tênis...) (Já vou... já vou...) (Mãe, o Chiado não acorda.) (Dom
Juan, esse é pra você.) – rolou para o lado até cair da cama, não tinha outro
jeito para sair da cama de matrimonio,
siempre caia de quatro.
Levantava já enrolada num roupão todo felpudo caminhava pela vivienda. Tinha um pequeno
estremecimento de friúra. Saia pelos quartos resmungando
(¡Dios mio!
No hay nobleza, entre el cielo y la
tierra.) - resmungava enquanto percorria os cantos e frestas, catava os
perdidos e não achados pela preguiça de procurar de uns e desatenção de outras.
Ela até conseguia entender que os meninos não achavam nada, homem é assim
mesmo, descuidado de atenção, mas sus
niñas estavam sempre desencontradas dos lugares das suas coisas. Isso não
era normal. Las niñas têm por natureza cuidar dos quefazeres do lar. Lembra que lhe
bastava o olhar de su madre para desempenhar as suas tarefas
de niña dona-de-casa. Desde pequeña ensaiou ser a dona-de-casa de su propio hogar, de su propia casa
(Serão péssimas esposas.) – apenas repetia o que aprendeu desde muito pequeña — El mínimo que un marido espera que su esposa está en casa organizada,
a mesa recheada com temperos e cheiros, as crianças de banho tomado e a cama
arrumada com o linho branco da pureza.
Meus ensinamentos foram outros. Gostava de pensar que minha irmã estava
amando seu homem, em algum lugar, com a mesma vontade que ele a tomava em seus
braços, con codicia, desesperación y
promesas
(Onde está o saco das meias?) (Não sei, Dom Juan.) — o homem desaparece resmungando
assovios no cuarto de baño para ressurgir com espuma branca na
boca, no queixo e nos pêlos espetados do peito. A escova se mantinha firme nos
dentes em movimentos de vai e vem, parecia mascar borrachas. Não tinha mais
jeito, essa bondade natural e ingênua me trazia desconforto. Olhava o marido da
Dona Lara, ele era o seu quebra-galho, apenas isso. Não sentia pena de mi
patrona, acreditava ter sido feita para garantir uma boa família, a carne que originava
tudo e tinha entalhada na testa: hogareña.
Ela virava sua cabeça na direção dos quartos. Os filhos brotavam nas
portas do corredor comunitário
(Pai... estamos atrasados.)
Aliás, no andar de cima da vivienda,
tinham dois espaços de uso geral da família: a casa de banho do casal e o
corredor, uma passagem longa e estreita que comunicava os quartos, pequenas fortalezas
de camuflagem dos filhos
(Dom Juan, não esquece de levar o acolchoado da Angélyca até a
lavanderia.) (Aquela lavanderia da Boa Saúde?) (Acho que se mudou para a Boa
Esperança.) (Até logo, mãe.) (Até a vista, queridos.) (Esperem por mim!) (Até
logo, Aryani.) (Beijinho, mãe...) (Até logo, queridos.)
Dom Juan e as crianças saiam. Entravam na perua.
Uma furgoneta estranha, sem
janelas, apenas o vidro do pára-brisa e das laterais do motorista permitiam uma
visão embaçada do que acontecia lá dentro. Pensei que seria apropriada para
transporte de pequenas cargas ou bagagens. Uma porta dupla do mesmo lado do
carona era a saída e a entrada dos passageiros. Depois que a família entrava e
as portas se fechavam não se ouvia nada. Nem mesmo se percebia que a carga não
era o reparte de leite, mas os filhos de Dom Juan.
O homem levava um saco com as cobertas da filha. Partiam para seus
destinos.
Anadyr e Calçado já estavam no tambo espremendo tetas e repartindo o
leite.
Dona Lara olhava na sua volta para reconhecer que o seu destino já a
havia encontrado, desde antes, lá na barriga da sua mãe. O sonho de ir morar na
terra dos gringos morreu quando se deixou convencer de abrir as pernas para o homem
gorila. Repetia que os formigamentos na virilha lhe eram impossíveis de
resistir
(Menina, se permitir as mãos com dedos atrevidos entre as pernas... estás
perdida.) (Entendi, mamá.) – não,
essas meninas nunca entenderam.
Deixou cair o roupão e um pequeno arrepio lhe percorreu o corpo.
Eu ficava ali, parada. Olhando sem nada ver.
Ouviu os resmungos do menino, choramingo de fome. A senhora veio até o
quarto e o agarrou no colo para oferecer a teta. Ficou ali, pelo tempo da fome
do filho, ela sabia que a alegria vinha das tripas e a loucura das virilhas.
Todo a su tiempo.
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