XXII (2ª) - No se puede hacer la revolución sin las mujeres
rezas de
equilibração
baitasar
Depois que la Vieja derramou rezamento sobre mim, pediu
que o filho a levasse até la Piedra de
los Caraca — ¿Por qué hacer esto ahora,
mi madre? — Preciso alinhavar umas rezas de equilibração... la niña
Preta viaja comigo.
Pronto, estava instalada a crise. Dona Lara não tinha tanta fé nas
feitiçarias de benzedura de la Vieja, essa tal viagem não fazia parte
da cura dos filhos — Levar la Vieja na Pedra — não sabia como e em se
isso ajudaria aos adoentados — Não! — e ela não ficaria em casa com sete
crianças doentes, sozinha de qualquer ajuda — Não! — a decisão estava tomada: todos o ninguno.
O marido olhou para a mãe, la Vieja
avisou com um leve alevanta e abaixa os ombros — Tanto faz desse jeito ou de
outro — depois da decisão tomada, bastava colocar a carga preciosa no
transporte — Gente louca, carregar tantos doentes juntos — o seu Floratil
aconselhava que o melhor seria ficar e procurar o doutor — Meu velho, la Vieja
Caraca sabe o que faz e, por muito
certo, tem a ajuda da Mãe de todas as mães — retrucou a mulher benzedeira do
seu Floratil, o velho boticário ajeitou os dentes na boca, não queria ser mal
compreendido — Las brujas se llevan bien.
Uma por uma, as crianças foram colocadas na transportadora do leite. Os
maiores foram carregados por Dom Juan, os menores por dona Lara; o leporino y la Vieja,
por mim. Depois de todos embarcados saímos em direção ao sítio de repouso da
família Caraca, nas beiras da água salgada. Eu pedia aos espíritos que la Vieja
soubesse o que fazia.
Chegamos ao final do entardecer, foi o tempo de acomodar nossos feridos,
em seus alojamentos, para o dia ferrar no sono da escuridão. Todos dormiam, sai
da casa, ali, cubierta por el tejado que
sale fuera, escuchando el mar, las estrellas ocultas por el tejado, descobria,
um pouquinho por vez, as trevas que não são trevas chamam os medos que são as
nossas trevas — ¿Cómo no tener miedo?
La Vieja me chama, tantos anos e sinto o seu chamado, seu hálito, seu
cheiro de benzeduras — Niña Preta,
preciso de ajuda — desapareci de súbito de
lo cobertizo e surgi mais repentino no quarto de la Vieja, respondi que
faria o que me fosse possível — Tem um
tempo para fazer o improvável — não sabia o que responder, descobria que era o
tempo do meu silêncio.
Pediu ao filho que fosse aos matos atrás da casa buscar seu material de
reza: sete galhos de arruda, agulha com linha preta, tesoura, faca — Niña Preta, esse ofício quer muito da
gente — fiz jeito de perguntar se feitiçaria era trabalho como qualquer outro,
mas vi que la Vieja não estava com tempo nem disposição de conversas, ela estava
no feitio de fazer — Niña Preta,
remédio de doutor cura doença do corpo, doença do espírito precisa de muita
reza e conversa com o espírito — Vieja,
como se conversa com o espírito — Pedindo ajuda dos espíritos conhecidos.
La Vieja repetia que quando a reza era boa eles nunca se negavam em
ajuda, mas alguns precisavam ser convencidos da necessidade de intromissão — O
espírito que cerca as crianças precisa conversar — não sabia como ela faria
essa conversação de convencimento e tinha covardia de perguntar — ¿Cómo no tener miedo? — la Vieja
puxou minha orelha para perto da sua boca, colocou a sua mão em concha, escondendo
sua voz, parecia querer dizer segredo de confissão — Esperteza não é
suficiente, é preciso fundar com os espíritos atenção de simpatia e gentilezas,
sem enganação — me pareceu que la Vieja estava desaprendendo suas últimas
lições de benzeduras, as mais importantes, as mais sérias, desaprendia para
mim, senti meu coração apertando: las mujeres
siempre parecen estar diciendo adiós
— Niña Preta, não fique triste nem
chore, estou indo por minha vontade, não tenho lamentos, faço o que é preciso.
Meu papel nesta vida já foi cumprido, já vivi a vida que tinha por viver — não
sabia o que lhe dizer às crianças e a Dom Juan — Digamos que fui a tomar el lugar de los niños.
Não tinha tristeza nem medo em sua voz, era mais um propósito em sua vida
que ela precisava cumprir. Eu pensava na vida daquela mulher que chegava ao seu
fim, sem rancores ou temores, terminava porque o corpo se terminava, não conseguia
mais servir naquele espírito interminável. O corpo de la Vieja precisava partir, mas ela sabia
que poderia dar uma intenção para aquela partida — Niña Preta, me coloque no barco. — Vieja, é perigoso. — Tudo tem perigo, niña. — O seu filho... — ele sabe que precisamos soprar ese viento. — Já é noite... — ¿Y desde cuando una bruja le tiene miedo a
la noche?
Quando chegamos no barco as águas estavam deitadas sobre as areias,
esperavam, uma pescadora ajudou la Vieja embarcar, mas quando fui deixar-me
levar — Niña Preta fica, essa é a
minha viagem. — Mi madre, quero ir
junto. — Quando chegar o tempo da sua viagem, esse é o meu tempo, a minha hora,
me dê um beijo — pensei em beijar sua testa antes que ficasse fria e
irreconhecível. Não queria estar ali, e não queria estar em outro lugar. Olhava
em seus olhos, em sua boca que se fechava para mim, agarrava sua mão, queria
seus olhos me olhando, mais um gesto, mais um carinho, mas tudo da carne se
termina, já vem com o tempo de terminar. Outra mãe que eu perdia, mas agora
podia fazer minhas despedidas. É tão ruim e tão bom poder dizer adeus.
Confortar o amor dentro da gente mesma, tentando guardar na memória dos olhos
os detalhes, os suspiros, as queixas. Na verdade, essa vontade toda da memória
vai sumindo devagarinho, suave, vai ficando um calor aconchegante, imaginário e
doce da nostalgia — Eu ti amo, Vieja...
— Eu sei, niña Preta.
Num impulso de descontrole da valentia: salté a la barca.
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