contos e poesia no butekudu baitasar.
a humanidade solidária e amorosa construída com todos incluídos num outro mundo possível, por la vida... siempre!
li nas redes sociais: "se tua religião te faz odiar pessoas por qualquer razão, procura frequentar um buteku e paga os mesmos 10% ao garçom!"
Están en algún sitio / concertados desconcertados / sordos buscándose / buscándonos bloqueados por los signos y las dudas contemplando las verjas de las plazas los timbres de las puertas / las viejas azoteas ordenando sus sueños sus olvidos quizá convalecientes de su muerte privada nadie les ha explicado con certeza si ya se fueron o si no si son pancartas o temblores sobrevivientes o responsos ven pasar árboles y pájaros e ignoran a qué sombra pertenecen cuando empezaron a desaparecer hace tres cinco siete ceremonias a desaparecer como sin sangre como sin rostro y sin motivo vieron por la ventana de su ausencia lo que quedaba atrás / ese andamiaje de abrazos cielo y humo cuando empezaron a desaparecer como el oasis en los espejismos a desaparecer sin últimas palabras tenían en sus manos los trocitos de cosas que querían están en algún sitio / nube o tumba están en algún sitio / estoy seguro allá en el sur del alma es posible que hayan extraviado la brújula y hoy vaguen preguntando preguntando dónde carajo queda el buen amor porque vienen del odio
Poema No.1 Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos, te pareces al mundo en tu actitud de entrega. Mi cuerpo de labriego salvaje te socava y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.
Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros y en mí la noche entraba su invasión poderosa. Para sobrevivirme te forjé como un arma, como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.
Pero cae la hora de la venganza, y te amo. Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme. Ah los vasos del pecho! Ah los ojos de ausencia! Ah las rosas del pubis! Ah tu voz lenta y triste!
Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia. Mi sed, mi ansia sin límite, mi camino indeciso! Oscuros cauces donde la sed eterna sigue, y la fatiga sigue, y el dolor infinito.
Poema No.5
Para que tú me oigas mis palabras se adelgazan a veces como las huellas de las gaviotas en las playas.
Collar, cascabel ebrio para tus manos suaves como las uvas.
Y las miro lejanas mis palabras. Más que mías son tuyas. Van trepando en mi viejo dolor como las yedras.
Ellas trepan así por las paredes húmedas. Eres tú la culpable de este juego sangriento.
Ellas están huyendo de mi guarida oscura. Todo lo llenas tú, todo lo llenas.
Antes que tú poblaron la soledad que ocupas, y están acostumbradas más que tú a mi tristeza.
Ahora quiero que digan lo que quiero decirte para que tú las oigas como quiero que me oigas.
El viento de la angustia aún las suele arrastrar. Huracanes de sueños aún a veces las tumban.
Escuchas otras voces en mi voz dolorida. Llanto de viejas bocas, sangre de viejas súplicas. Ámame, compañera. No me abandones. Sígueme. Sígueme, compañera, en esa ola de angustia.
Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras. Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas.
Voy haciendo de todas un collar infinito para tus blancas manos, suaves como las uvas.
Poema No.12
Para mi corazón basta tu pecho, para tu libertad bastan mis alas. Desde mi boca llegará hasta el cielo lo que estaba dormido sobre tu alma.
Es en ti la ilusión de cada día. Llegas como el rocío a las corolas. Socavas el horizonte con tu ausencia. Eternamente en fuga como la ola.
He dicho que cantabas en el viento como los pinos y como los mástiles. Como ellos eres alta y taciturna. Y entristeces de pronto, como un viaje.
Acogedora como un viejo camino. Te pueblan ecos y voces nostálgicas. Yo desperté y a veces emigran y huyen pájaros que dormían en tu alma.
Poema No.2
En su llama mortal la luz te envuelve. Absorta, pálida doliente, así situada contra las viejas hélices del crepúsculo que en torno a ti da vueltas.
Muda, mi amiga, sola en lo solitario de esta hora de muertes y llena de las vidas del fuego, pura heredera del día destruido.
Del sol cae un racimo en tu vestido oscuro. De la noche las grandes raíces crecen de súbito desde tu alma, y a lo exterior regresan las cosas en ti ocultas, de modo que un pueblo pálido y azul de ti recién nacido se alimenta.
Oh grandiosa y fecunda y magnética esclava del círculo que en negro y dorado sucede: erguida, trata y logra una creación tan viva que sucumben sus flores, y llena es de tristeza.
Poema No.7
Inclinado en las tardes tiro mis tristes redes a tus ojos oceánicos.
Allí se estira y arde en la más alta hoguera mi soledad que da vueltas los brazos como un náufrago.
Hago rojas señales sobre tus ojos ausentes que olean como el mar a la orilla de un faro.
Sólo guardas tinieblas, hembra distante y mía, de tu mirada emerge a veces la costa del espanto.
Inclinado en las tardes echo mis tristes redes a ese mar que sacude tus ojos oceánicos.
Los pájaros nocturnos picotean las primeras estrellas que centellean como mi alma cuando te amo.
Galopa la noche en su yegua sombría desparramando espigas azules sobre el campo.
(Cantado) Eu um dia cansado que tava da fome que eu tinha Eu não tinha nada que fome que eu tinha Que seca danada no meu Ceará Eu peguei e juntei um restinho De coisas que eu tinha Duas calça velha e uma violinha E num pau-de-arara toquei para cá E de noite eu ficava na praia de Copacabana Zanzando na praia de Copacabana Cantando o xaxado pras moças olhar Virgem Santa! Que a fome era tanta Que nem voz eu tinha Meu Deus quanta moça, que fome que eu tinha... Zanzando na praia pra lá e pra cá
(Recitado) Foi aí então que eu arresolvi a comer gilete...Tinha um cumpadre meu lá de Quixeramubim que ganhou um dinheirão comendo gilete na praia de Copacabana. Eu não sei não, mas eu acho que ele comeu tanta, mas tanta, que quando eu cheguei lá aquela gente toda já estava até com indigestão de tanto ver o cabra comer gilete. Uma vez eu disse assim prum moço que vinha passando: Ô decente, vosmecê não deixa eu comer uma giletezinha pra vosmecê ver? "Tu não te manca não, ô Pau-de-Arara?" "Só uma, que eu ainda não comi nadinha hoje." "Você enche, ein?" Aquilo me deixou tão aperreado que se não fosse o amor que eu tinha na minha violinha, eu tinha rebentado ela na cabeça daquele...filho de uma égua!
(Cantado) Puxa vida, não tinha uma vida pior do que a minha Que vida danada que fome que eu tinha Mais fome que eu tinha no meu Ceará Quando eu via toda aquela gente num come-que-come Eu juro que tinha saudade da fome Da fome que eu tinha no meu Ceará E aí eu pegava e cantava e dançava o xaxado E só conseguia porque no xaxado A gente só pode mesmo se arrastar Virgem Santa! A fome era tanta que mais parecia Que mesmo xaxando meu corpo subia Igual se tivesse querendo voar
(Recitado) Às vezes a fome era tanta que volta e meia a gente arrumava uma briguinha pra ver se pegava a bóia lá do xadrez. Êta quentinho bom no estômago! Com perdão da palavra, a gente devolvia tudo depois, que a bóia já vinha estragada. Mas enquanto ela ficava quietinha lá dentro, que felicidade! Não, mas agora as coisas tão melhorando. Tem uma dona lá no Lebron que gosta muito de ver é eu comer caco de "vrídrio". Com isso eu já juntei uns quinhentos merréis. Quando juntar um pouco mais, vou-me embora, volto pro meu Ceará!
(Cantando) Vou voltar para o meu Ceará Porque lá tenho nome Aqui não sou nada, sou só Zé-com-fome Sou só Pau-de-Arara, nem sei mais cantar Vou picar minha mula Vou antes que tudo rebente Porque tô achando que o tempo tá quente Pior do que anda não pode ficar!
Eu quero uma mulher que seja diferente
de todas que eu já tive, de todas tão iguais.
Que seja minha amiga, amante, confidente;
A cúmplice de tudo que eu fizer a mais.
No corpo tenha o Sol, no coração a Lua,
A pele cor de sonho, as formas de maçãs,
A fina transparência, uma elegância nua,
O mágico fascínio, o cheiro das manhãs.
Eu quero uma mulher de coloridos modos,
Que morda os lábios sempre que for me abraçar.
No seu falar provoque o silenciar de todos
E seu silêncio obrigue a me fazer sonhar.
Que saiba receber, que saiba ser bem-vinda,
Que possa dar jeitinho a tudo que fizer,
Que ao sorrir provoque uma covinha linda;
De dia, uma menina; a noite, uma mulher.
Os
donos do dinheiro que tentava o tiuzin nunca apareceram, parece que não têm
cara, são secretos, quanto mais se procura por eles menos se acha, ficam
escondidos dentro de algum terno cinza, gravata borboleta, longo de baile,
colar de diamantes brilhantes, eles são brilhantes: controlados, jamais se
lançam da janela com cortina e tudo, cérebros desanuviados, possuem o
desesperado desejo de nunca morrer, orgulhosos, dementes, um deserto de
futilidades e o sermão de mandarins horas a fio e a televisão: apesar de tudo, o
seu melhor amigo está sentado à sua frente
— Esses o fio sobrinho não acha, eles não
se mostra, usa máscara, todo mundo qué conhecê, mais só pode desconfiá que tem
cara, são fantasma.
Eu
sei tia, esses são os políticos corruptos, a professora da geografia dizia que
são uns safados, sempre vota em branco
— Ocê é burro, meu fio sobrinho. Essa máscara
de político é apenas uma qui eles usa. Olhá melhó na sua volta. Os político
coloca a bunda na janela, pra isso eles é pago. Mais tem muito mais
mascarado... amigo disfarçado de bão, comprando o passado e o futuro. Os
estafeta da mentira é mais perigoso qui bandido armado, mata muito mais gente,
até quem credita neles. Tira tudo, não deixa nada.
— Ninguém vai tirá o qui é meu! — o tiuzin
parecia derreter a montanha com a vontade da avó
— João, ninguém da família qué lhe tirá o
qui é seu, mais aqui nada é só seu. Não deixa a gula fazê esquecê a vontade da
mãe. Ela deixô a metade do Canela Preta pro moleque, ali.
O
dedo da tia Vanda apontava pra mim. Isso era uma novidade que eu não sabia se
fazia gosto: dono da metade do casarão Canela Preta, pensei, Vou pedir para
desistir dessa vontade da avó
— Eu?
A
família estava reunida para discutir o vende não vende do tiuzin João, todos ficamos
espantados, uma pergunta ficou entre o silêncio e os olhares, Por que a avó
tinha feito isso?
Eu
não queria assim, nem pedi que assim, dito de outro jeito, não pedi nada, Meu
fio neto, logo, logo, ocê vai descobrí qui tê alguma coisa, qualqué coisinha à
toa, é mais difícil qui não tê, depois qui ocê tem não qué perdê o qui tem. Se
não tem não faz falta, mais se tem...
A
tia sabia da confusão que me metia, mas tinha sido decisão da avó, ninguém
sabia da razão daquela vontade, ninguém sabia explicar, a tia não parecia saber
os motivos da avó, nem se importava, Moleque, no mundo dos espírito não existe
novidade, tudo que acontece já aconteceu antes. Não tinha que dá explicação.
A
família que continuava reunida estava em silêncio. Não tinha como não saber o
que pensavam, nem precisava adivinhar, simples e ao mesmo tempo nada fácil
— Metade?
— isso mesmo, João: a metade.
Os
dois olhares agora se enfrentavam
— Isso qué dizê o quê?
— Isso qué dizê, João, qui o moleque fica
com a metade do dinheiro qui ocês ganhá pra vendê o casarão da mãe.
Qual
a qualidade tinha feito a avó querer assim? Não sei. Preferia que gritassem
comigo, o silêncio dos tiuzin e dos primos me deixava mudo. Aquilo não era uma
brincadeira, não tinha como sair, foi quando o tiuzin Manoel chegou
— E o qui ocê qué fazê, Manoel?
O
tiuzin chegou atrasado para o encontro da família, ele sempre chega com atraso,
mas bem vestido, barbeado, perfumado, um preto bem cuidado, esclarecido dos
direitos de cada um, cumpridor dos próprios deveres. Pediu que lhe explicassem as
ideias para solucionar o problema
— Por mim, vendia, pela mãezinha... fica
tudo como tá, então, não sô de vendê.
A
tia olhou na minha direção, me pareceu que tinha um misterioso sorriso
combinado com um olhar secreto de lápide. Sentia um crescente círculo de pouca
vontade.
O
tio Manoel continuava seu discursivo
— Quero aproveitá esse encontro da nossa
família e anunciá qui to de mudança marcada, vou morá com a Maria do Prato.
Mais
uma das mulheres do tiuzin que ninguém conhece, nem vamos conhecer, mas é bom
guardar na memória o nome: Maria do Prato; pareceu que a voz do tiuzin
desfaleceu, foi quase nada na hora de dizer o nome da estranha. Vá que o
inusitado aconteça e o tiuzin que não tem conserto encontra o que tem procurado,
alguma capaz de lhe servir de salvação e sustento
— Quem é essa? — a tia Ana levantou do seu
torpor, tinha a voz espichada
— Uma jovem senhora de posses que conheci
no baile, na tarde. — esse tiuzin não prega prego sem estopa, nem malha ferro
frio. Fala a verdade vestida com uma ou outra mentira. Aposto que essa moça do
Prato é uma velha senhora com dinheiro, que o tiuzin quer comer com seus
encantamentos de riqueza até descobrir que não pode mastigar dinheiro — Minha irmã,
essas velhinhas só querem fugir da solidão.
— Nem sempre, Manoel, tem vez que não é pura
diversão de malandro.
A
tia Vanda deu de ombros, voltou as costas para o tiuzin Manoel, aquele não era
assunto que precisava de solução, olhou à outra tia — E ocê, Ana?
Essa
outra tia chegou com o mais novinho dos filhos bebendo no peito, já tinha
passado da avó na quantidade de ter filhos, gostava de fazer os filhos
— Por eu, pode vendê. É um jeito pra
arrumá melhor o barraco do Mitão.
A
tia Vanda agachou na frente da outra tia, era o seu modo de ficar com o olho
nas vista uma da outra — Ocê vendi pra arrumá o barraco do Mitão. E depois?
A
tia Ana não entendia da política e dos homens e do depois da tia Vanda
— Depois... o quê?
— E se o Mitão arrumá outra, ocê vai morá
aonde? — o nenê fez muxoxo de choro, ela tratou de aquietar dando outra têta. Isso
deve ser extenuante, às vezes cômico e também patético, ter aquele carrapato
grudado no peito, resmungando
— Voltamô pro Canela Preta. — o Mitão
levantou, aquela conversa parecia um grande perigo, passou a mão no penúltimo,
ou foi no antepenúltimo, isso não importa, e saiu daquele círculo de união
familiar
— Ana, ocê disse que é pra vendê o
casarão... não vai tê aonde voltá!
— Arrumo outro...
A
tia Vanda desaprisionou do peito outro suspiro, o seu corpo cansado enrijeceu,
ela olhou a sua volta, a doença de ter alguma coisa envolve todos e nos
rodeiam, pouco ou nada se resolve — E você, Jorge?
— Se o preço for muito bom... voto pra vendê.
Votação
empatada, um assunto controverso, isso ainda acaba com todos me interrogando
— E o Batata? — o tiuzin Jorge queria
declaratório da situação do tiuzin Batata, o único dos filhos, além da
mãezinha, que não tinha feito comparecimento — Ele começô emprego de cobradô.
— Ocê ta desinformativo, Manoel. Parece
que o moleque ficô peixe do patrão e virô motora de caminhão. — a tia Vanda
juntou as mãos e agradeceu alguma graça — Já dou graças à Deus que o moleque
saiu daquelas correria no caminhão do lixo, largou a Daslu, que outros tratem
de organizar a associação. Não sei a linha que ele ta puxando, mas o moleque
começa às 4 e 15 da manhã e toca até às 11, tem um intervalo até o meio da
tarde, depois pega até às 10 da noite.
— E quem não é peixe do patrão? — a tia
Ana levantou da cadeira, o bico da têta enfiado no gurizin, deu uma volta na
mesa da cozinha, parecida com uma ilha cercada de gente por todos os lados,
balançava o piá pra lá e cá
— Ana, isso não sei, mas aposto qui se não
é peixe não sai de cobradô.
— E faz o quê das 11 até voltá de tarde? —
ela falava de jeito nervoso que não aquietava o gurizin da têta
— Não sei, Ana, mas se fosse eu... dormia
na garage, dentro do ônibus. — ela voltou os olhos para o tiuzin Manoel. Empurrou
a têta com mais força, parecia que custava muito mais esforço entender porque
não se queria botar a mão no dinheiro vivo do comprador desconhecido — Então, a
decisão é não vendê... quero sabê quem paga o quê pra arrumá o casarão, todo
dia tem coisinha pra se fazê...
— Dividimô tudo entre nóis...
— Quê? Eu nem moro mais aqui!
O
tiuzin Jorge parecia começar a não controlar os nervos — Não aceito. O moleque
é dono da metade, a metade das arrumação é dele, a metade que sobra dividimô.
— Jorge, o moleque não tem daonde tirá.
— É só largá essa frescura dos livro e
arrumá trabalho, o problema é o tamanho...
— Jorge! A mãe deixô dito que o moleque
estuda até terminá os estudo da escola. Não é assunto da discussão. E ocê, Ana,
se não mora aqui é por querê seu, se quisé voltá... o lugar tá desocupado.
Um
frio me passou na barriga. A tia Ana, o Mitão, e a coleção de neinhos da tia,
tudo junto no caldeirão do casarão. Isso não era bom para ninguém, nem para o
casarão nem para o espírito da avó
— Mais a metade do Canela Preta é do
moleque, ele não vai entrá na divisão?
— Manoel, ele vai tirá pagamento daonde? A
mãezinha tem querê do guri nos estudo, até onde dé. O moleque não tem mais
querê que a mãezinha, ela queria e ele vai continuá na escola. Isso já foi
resolvido, lá no tempo da mãe viva. Tem alguma parte que eu não entendi? — a
tia Vanda foi feita com o jeito da avó: pronta para o amor e a guerra. Com ela
a conversa já começava pela metade, tinha o querê dela e o outro jeito que não
lhe mudava o querê.
Os
tiuzin Jorge e Manoel tinham aquietado com o rabo entre as pernas, as vistas
entre as orelhas. A tia Ana achou melhor ficar com o Mitão do feitio que já
tava. O tio João saiu no meio das conversas, não disse mais nada do que já
havia dito. Já sabia que o tio Batata não deixava vender o casarão.
Depois
da reunião desfeita nenhum dos tiuzin voltou no assunto.
Eu
ficava sozinho no casarão, na maior parte dos dias. Descia na senzala, sempre
que precisava cumprir o compromisso de lembrança com a professora da matemática,
bem mais nova que as lembranças da geografia. Minha desilusão passou logo que
achei outro atrativo, conforme explicou o tiuzin Manoel, Amor é vento que vai um, vem cento.
A
história dos preto massacrados já não me incomodava tanto, as coisas boas e
ruins ficaram perdidas pela estrada das memórias. O esquecimento no tempo e a
vontade das lembranças novas são mais fortes, mas fiz promessa de jamais usar
calça longa, apertada nas canelas, como as correntes apertando os cabritos
preto, só uso jeans.
There's a lady who's sure all that glitters is gold And she's buying the stairway to heaven When she gets there she knows if the stores are all closed With a word she can get what she came for
And she's buying a stairway to heaven
There's a sign on the wall, but she wants to be sure 'Cause you know sometimes words have two meanings In a tree by the brook there's a songbird who sings Sometimes all of our thoughts are misgiven
Oh, it makes me wonder Oh, it makes me wonder
There's a feeling I get when I look to the west And my spirit is crying for leaving In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees And the voices of those who stand looking
Oh, it makes me wonder Oh, it makes me wonder
And it's whispered that soon, if we all call the tune Then the piper will lead us to reason And a new day will dawn for those who stand long And the forests will echo with laughter
If there's a bustle in your hedgerow, don't be alarmed now It's just a spring clean for the may queen Yes, there are two paths you can go by, but in the long run There's still time to change the road you're on
And it makes me wonder
Your head is humming and it won't go In case you don't know, the piper's calling you to join him Dear lady, can you hear the wind blow And did you know your stairway lies on the whispering wind
And as we wind on down the road Our shadows taller than our soul, there walks a lady we all know Who shines white light and wants to show How everything still turns to gold and if you listen very hard
The tune will come to you at last When all are one and one is all, yeah To be a rock and not to roll And she's buying a stairway to heaven
Escadaria Para O Paraíso
Há uma moça certa de que tudo que brilha é ouro E ela vai comprar a escadaria para o paraíso Ao chegar lá ela saberá que se todas as lojas estiverem fechadas Com uma palavra ela consegue o que veio buscar
E ela está comprando a escadaria para o paraíso
Há um aviso na parede, mas ela quer ter certeza Porque você sabe, às vezes as palavras têm duplo sentido Em uma árvore a beira do riacho há um rouxinol que canta Às vezes todos os nossos pensamentos estão vazios
Oh, isso me faz pensar Oh, isso me faz pensar
Há algo que sinto quando olho para o oeste E meu espírito chora por liberdade Em meus pensamentos eu vejo anéis de fumaça atravessando as árvores E as vozes daqueles que observam
Oh, isso me faz pensar Oh, isso me faz pensar
E é sussurrado que logo, se todos entoarmos a canção Então o flautista nos levará à razão E um novo dia nascerá para aqueles que chegaram lá E a floresta irá ecoar com gargalhadas
Se ouvir barulho em seus arbustos, não se assuste É só uma limpeza do inverno para a chegada da primavera Sim, há dois caminhos que você pode seguir, mas na longa caminhada Ainda há tempo de mudar o caminho que você segue
Oh,e isso me faz pensar
Sua cabeça lateja e não para nunca Caso você não saiba, o flautista está te chamando para se juntar a ele Querida moça, você ouve o vento que sopra? E você sabia que sua escadaria repousa no vento sussurrante?
E conforme seguimos por essa estrada Com nossas sombras mais altas que nossas almas, lá caminha uma moça que todos conhecemos Que tem um brilho branco e quer mostrar Como tudo ainda vira ouro, e se você ouvir com muita atenção
A canção finalmente chegará até você Quando todos são um e um é o todo,yeah Pra ser agitado e não rolar E ela esta comprando a escadaria para o paraíso
"All My Love" é uma cancão da banda britânica de rock Led Zeppelin. Lançada em 15 de agosto de 1979, contida em seu oitavo álbum de estúdio In Through the Out Door. Creditado por Robert Plant e John Paul Jones, é uma música de ritmo lento, que possui um solo sintetizado de Jones e vocais realizados em um take por plant. Ela foi escrita em homenagem ao filho de Plant, Karac, que morreu enquanto Led Zeppelin estavam em sua turnê norte-americana 1977.
All My Love
Should I fall out of love, my fire in the light?
To chase a feather in the wind
Within the glow that weaves a cloak of delight
There moves a thread that has no end
For many hours and days that passes ever soon
The tides have caused the flame to dim
At last the arm is straight, the hand to the loom
Is this to end or just begin?
All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
The cup is raised, the toast is made yet again
One voice is clear above the din
Proud Aryan one word, my will to sustain
For me, the cloth once more to spin
All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
All of my love, all of my love
Yeah all of my love to you child
Yours is the cloth, mine is the hand that sews time
His is the force that lies within
Ours is the fire, all the warmth we can find
He is a feather in the wind
All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
All of my love, oh love yes
All of my love to you now
All of my love, all of my love
All of my love, love
Sometimes, sometimes
Sometimes, sometimes
Hey, hey, hey, hey
Hey, hey, hey, hey
Oh yeah, it's all, all, all of my love
All of my love, all of my love to you now
All of my love, all of my love
All of my love, to, to you and you, and you and yeah
I get a bit lonely, just standing up
Just standing up
Just standing up lonely
Just I get a bit lonely
Todo Meu Amor
Deveria eu me perder do amor, meu fogo na luz?
Para perseguir uma pena ao vento
Pela intensidade que costura um manto de delicias
Deixando um fio que não tem fim
Por tantas horas e dias que passam tão rápido
As marés fizeram a chama diminuir
Por fim o braço está estendido, a mão no tear
Será isso o fim ou apenas o começo?
De todo o meu amor, de todo meu amor
Oh, de todo o meu amor
De todo meu amor, todo meu amor
Oh, de todo meu amor para você, agora
A taça está erguida, o brinde está feito mais uma vez
Uma voz é clara acima do barulho
Orgulhoso ariano, uma palavra, minha vontade de apoiar
Para mim, o tecido mais uma vez a girar
De todo meu amor, todo meu amor
Oh de todo meu amor para você, agora
De todo meu amor, de todo meu amor
Sim, de todo meu amor para você, criança
Seu é o tecido, minha é a mão que costura o tempo
Dele é a força que repousa por dentro
Nosso é o fogo, todo o calor que podemos encontrar
Ele é uma pena no vento
De todo meu amor, de todo meu amor
Oh, de todo meu amor para você, agora
De todo meu amor, de todo meu amor, sim
De todo meu amor para você, agora
De todo meu amor, de todo meu amor
De todo meu amor, amor, amor
Às vezes, às vezes
Às vezes, às vezes
Hey, hey, hey, hey
Hey, hey, hey, hey
Oh sim, é de todo todo todo o meu amor
Todo meu amor, todo meu amor para você, agora.
Todo meu amor, todo meu amor
Todo meu amor para você, para para você e você e você e sim!
E fico um tanto solitário, apenas permaneço de pé
Apenas permaneço de pé
Apenas permaneço em pé sozinho
Só fico um pouco solitário
Depois dos serviços e as despedidas da avó, a cantoria silenciou, foi o tempo de cada um escolher as lembranças que não queria desaprender. Os tiuzin ficaram sem a última vez de ver a avó antes do sumiço com o Capitão, não escutaram a última palavra. Eu estava junto, dei meus ouvidos para os fios do seu suspiro, vi fechar os olhos para não mais abrir, a avó se foi me espiando. Isso fez de mim um fio neto especial. A avó não escolheu a hora da partida, nem escolheu quem lhe segurava a mão no desembarque, eu escolhi estar junto da avó, ser o seu acompanhamento. Um lugar que não queria tá, o único lugar em que tinha que tá. Sei que nunca vou me arrepender da escolha que fiz. Não senti medo, só senti amor.
Por muitos anos, a avó foi a decisão que governava nos assuntos do casarão Canela Preta. Aprendi que para essa posição de destaque não tem muito jeito de chegar, nem é para quem quer. A avó tinha autoridade e sabedoria no tempo, falava o que aprendeu morrendo cada dia um pouquinho.
A avó não foi na escola, mas, também, não aconselhava desfeita com os livros. Tinha os livros na cabeça, Isso não chega, fio neto, não chega ficá com as história na cabeça, é preciso tá escrito, se não tá escrito não existiu, a memória da língua esquece, inventa as parte qui não lembra, e o qui existiu muda, é como se não tivesse vivido, cada um conta do seu jeito e quem ouve, também, tem seu jeito de escutá
— Mas a avó sabe como contar as histórias... e têm aqueles que não sabem escrever as histórias como a avó sabe contar.
— A avó, sabe? Podê sê, mais a avó qué dizê qui a vida qui não tá escrita as criança desaprende, as lembrança foge como as areia da praia na mão, do punhado agarrado sobra uns grãozinho, e a serpente enganosa diz o qui qué sobre o qui existiu ou não existiu. O ruim passa sê bão, o fingimento vira virtude.
— Tem livro ruim que finge respeito, dá aconselhamento de desamor que parece amor... tem livro que mente... tem livro que esconde... tem livro...
— Chega, neinho... se tem livro quié ruidade, escreve ocê a história.
— Falar é fácil...
— A avó não entende do livro, mais sabe qui existe história na cabeça, e nos livro, pra gente ruim e pros bão, cada um escolhe o qui serve melhó. Ocê precisa escolhê vivê aborrecido, fazendo desfavô, desamando o amô, ou vivê a vida da vida. O fio neto não pode esquecê qui os fingido finge tanto qui credita nos fingimento da vida qui finge. Ocê aprenda escolhê os livro bão, tem vez, qui precisa sorte, mais tem outra vez qui só precisa tê atenção na viseira qui vê.
A avó chegou à posição de importância pelo jeito do amor que amou nos filhos. Não tinha enganamento, se achava que precisavam um puxão nas orelhas, dava o puxão e a explicação zangada, mas o colo da avó era o melhor lugar do mundo para ficar. Os filhos e os fios netos sabiam o que tinham perdido.
Foi quando se espalhou o boato: o casarão tava desgovernado e o tiuzin João estava disposto de ter conversa para vender o Canela Preta.
A notícia caiu como um arrebentamento.
Depois do sumiço da avó, pensei que o casarão ficava no uso dos tiuzin, das tiazinhas e dos mais novo. A avó dizia que desde o Capitão, quem construiu a mansão dos preto com as mãos dos preto fujão, o casarão nunca saiu do uso dos Canela Preta.
Vender não pareceu um bom plano, mas a vontade de ter dinheiro na quantia que não cabia na mão, despertou o embaraço da cobiça. A vida da avó que juntava os parentes estava fora das vistas, pareceu que cada um seguiria uma estrada, mas andava, pé ante pé, com o medo do puxão nas orelhas e o xingamento zangado. O tiuzin Jorge pediu reunião dos irmãos, queria esclarecer o zunzun que tinha virado mexerico
— Tem gente com gosto de pagá um dinheirão pelo lugá dos Canela Preta! Acho que temô que vendê.
Tudo ficou no silêncio, o madeirame do assoalho parou de gemer, as dobradiças pararam com o zumbido das portas e janelas, abrindo ou fechando, por ali, só os suspiros esvaziavam os respiros aprisionados, ninguém se olhava. Rezei para que alguém fosse avisar os mais velhos, trazer os espíritos para começar a resistência. A luta é desigual quando o olho da cobiça se atiça, todos falam horrores de tudo e de todos que se atrevem contra o egoísmo do dinheiro, ficamos desligados da nossa caridade, a vida é perdida, esfria, fica esquecida. O ódio fica difuso, embutido no sopro da respiração
— Jorge, o João tá adormecido do juízo, perdido pelo interesse do dinheiro.
Isso de conversar dizendo o nome, sem usar a lembrança do que cada um é na família: tio, tia, sobrinha, sobrinho; não era um bom começo de assunto
— Bobagem, Vanda. Cansei de puxá carroça feito cavalo, cansei das vista assustada das madame, nunca sei quando sô o cu ou as calça. Tem vez, qui sô o cu, tem outras vez, qui sô as calça. Quero tê a minha montaria. Não sento como ocê em cima duma mina de ouro...
— O quê?
— Ocê senta em cima da sua mina de ouro... é só sabê usá!
A Vanda não se impressionou com o entusiasmo vendedor do João, nem com o jeito de lhe chamar de puta. E até onde a avó contou, ou deixou de contar, ela podia ser a única que tinha correndo nas veias do corpo o sangue do Capitão e da nêga Laetitia
— E o pangaré de madame...
— Qui tem eu?
— ... credita que muda essa vida de arreio se vendê o casarão da mãe?
— E a nêga Vanda vai até quando esfregando o chão dos branco, quieta com a vida de capacho?
Queria tanto que a avó estivesse aqui, acalmava os dois, primeiro, com as vistas; depois, com as mãos, fazendo sinal para que o bate a boca de um e o trinca os dentes da outra parassem aquela guerra, Desfeita na família não é bão, um caminho sem dono, não vai dá boa colheita.
A avó é o respeito dos humanos na família e tem o espírito respeitado pelos mais antigos
— Não gosto de acordá com o corpo amassado, dolorida, desanimada de sê diarista da madame, mais não vendo uma pedra do Canela Preta pra modo de saí dessa vida de vai ou não vai.
Foi quando me animei
— A avó virou encantamento dizendo que o casarão é da família, todos podem escolher viver e morrer nela, depois os outros mais novos, e todos do sangue da família Canela Preta que vierem na sucessão da descendência
— Quem pediu a opinativa do rabanete preto?
— Cuidado com a língua João, não mexe além da conta com o moleque.
Resolvi aquieta a língua, não tinha estatura de brigá com o tiuzin, nem quis a tia Vanda como meu escudo de proteção com o tiuzin
— Ninguém vai tirá o qui é meu. Nêgo é o seguinte na fila qui não caminha, nunca sai do lugá, um depois do outro esperando... depois qui morré se terminô, os vivo tem qui dá conta de vivê. Sô do lado de vendê, pegá o dinheiro... cuidá de vivê.
Os outros da família não pareciam se meter, era melhor esperar, ver com que lado a avó ficava. Acho que foi assim, no tempo de acorrentar os canelas preta, lá na terra mãe. Não acreditavam que aquilo ia continuar... e continuou, até a mãe minguar com falta de mão para enraizar a terra. As coisas se repetem grandes ou miúdas, aprendemos com as histórias e desaprendemos com o silêncio. O preço do esquecimento e a evaporação das lembranças é a repetição sem miolo, sem serventia ao bem de todos, o dono nunca está satisfeito com os escravos que tem, É assim mesmo, meu fio neto, o desaparecimento das lembrança é disfarce qui dono de gente usa pra continuá escravidão da miséria.
de mandar a Vivo à merda, principalmente, quando querem me vender o tal smartfone, Não quero! Não uso internet
- Velho rabugento... e não estou reclamando quando a ligação apaga/desliga/desconecta/vira fumaça no meio da palav mas daí, lembro do Eduardo e da Mônica... ahah e ah! E sei que tudo vai dar certo. Acho até que vou deixar de ser rabunojento...
Mas se vc ñ ta de mau com a Vivo aproveita e curte o Legião Urbana. Afinal, vc ainda tem como fazê... a gurizada neim sabi queim eh não sei, não acho que tem alguns que sabe desse faroeste de branco
Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu
Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão
Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.
Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.
E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar
Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"
E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal
"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga
Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô
Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar
E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar
Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.
Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.
Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.
Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"
Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general
Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu
Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"
O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João
"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão
E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão"
"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão"
Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar
Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina
Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar
Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar
Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar
E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"
Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez
Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou
E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor
E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão
No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir
Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali
E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"
E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu
"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"
E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor
E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV
E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...
O mundo está a desfazer-se para seis trabalhadores desempregados, da indústria de aço de Sheffield. Mas um deles já aguentou o suficiente. Determinado a vencer o sistema, Gaz (Robert Carlyle) elabora um plano que fará de si e dos seus amigos, ricos - e rapidamente! Ele convence-os que um número de strip os salvará da sua miséria, especialmente quando esse número revela - ou tudo ou nada!
À medida que os nossos heróis locais se preparam para a grande noite, vai-se espalhando a notícia de que um número muito especial, vai abalar a cidade do aço.
O realizador Peter Cattaneo combina comédia negra, cenas hilariantes e todo o absurdo de seis homens que tentam mantem o seu corpo, a sua alma e a sua dignidade juntas. Bem, mais ou menos!
O filme inglês com mais sucesso de todos os tempos, Ou Tudo Ou Nada, incorpora também uma fantástica banda sonora, com sucessos dos Hot Chocolate e de Tom Jones.
Isto é o drama britânico no seu modo mais cômico possível!
A
avó descansou os olhos e abriu um vazio no coração de cada um dos seus amores:
desocupou a vida. Mais um aviso aos inquilinos que não tem nada para sempre, mais
dia menos dia chega a vez de sentar para conversar sobre a denúncia vazia, a
quebra do contrato sem justificativa alguma. Não tem outro jeito de ser, há de
chegar à vez de virar lembrança. A avó ensinou que as pessoas podem escolher as
lembranças do desprezo ou bajulação que querem deixar, ela escolheu as
lembranças do amor, mas não pode mudar os comentários da memória sobre os
olhares da fábula. Até que tudo se perde em uma imensa poeira. Tudo vira pó ou
barro.
Uma
doce loucura de avó.
É
assim, tudo que é sangue bom da avó carrega os seus conselhos de aviso, a sua
boniteza de ser a vida que se precisa viver. Uma vida com os mistérios e a
poesia do encantamento, com segredos e xingamentos, silêncios, e muitos gritos.
Ela
estava ali, deitada, quieta, na cama dos seus amores, parecia que poderia abrir
os olhos para comentar os lamentos, falar mal das cerimônias preparadas, As
vista não carece de se enchê com tanta lamentação de desgosto, é preciso dizê
da vida vivida e do contentamento, assim, com tanto soluço de choro, a avó vai
parecê mais triste qui alegre, isso não é bão, pra modo de fazê a separação do
espírito dessa carcaça velha... tô fazendo gosto de encontrá os mais velho.
As
tiazinhas já tinham providenciado a lavação da avó, usaram panos e óleos, os
cabelos brancos tomaram a forma de muitas tranças, embelezadas por contas
coloridas. A cabeça da avó estava livre e os cabelos trançados. Cuidaram de não
desmanchar o sorriso de amor e paciência na moldura da pele sem rugas. A avó
estava fazendo a passagem do seu jeito, as filhas e as netas arrumavam um corpo
desabitado, o jeito doce e harmonioso, por certo, rezava conversas de
alegria com os mais velhos. Não tinha como saber, não tinha como duvidar.
Quando
vestiram a avó com roupa sem a cor da alegria, um pano grosso e sem graça, fiz
reclamação e disse que a avó tinha que ter vestidura fúnebre com mais boniteza.
Ela é muito vaidosa.
A
tia Vanda respondeu com voz de alicerce
— É as ordens da nêga Laetitia, avó da avó
da mãezinha. Esse jeito simples de vesti é pra modo do Capitão não se perdê de
encontrá a avó. Ela qué sê vestida pra sê achada.
Depois,
sentou na cadeira de balanço, me pegou no colo, sorriu com a latência dos
lábios carnudos e chorou a lamentação com as vistas. Subi meu olhar até a tia,
depois me balancei no seu pescoço, até pertinho da sua lamentação, então,
consegui beijar as águas dos olhos, Tia, os espíritos não podem ver o modo de
vestir da avó, ela desocupou da vida e desse corpo, são os olhos de quem fica
que veem a avó vestida com tristeza, queria mais contentamentos na apresentação
de despedida da avó
— Ah, fio sobrinho, a minha vista só
enxerga tempo muito atrás, as minha lembrança tem cantoria, aroma da feijoada,
cheiro da boca, gosto do beijo, as vista doce, as mão carinhosa, os cabelo
arrumado, perfumada, o tempo que só volta nas minha vista. A mãezinha agora não
é mais nossa, ela já fez despedida antes de perdê o último suspiro.
Queria
contentar a tia, mas não conseguia manter a secura da vista desarmada. Queria a
quentura daquele abraço que só as mães sabem exagerar. Coloquei minha cabeça em
seu peito. Fechei os olhos, precisava descansar as vistas de vê a avó morta.
Sentia os dedos da Vanda enfiados no meu lugar de orgulho: no meu cabelo duro. Escutava
a voz sossegada da tia Vanda
— Neinho, ocê lembra da vez que tu mais o
Tigão, que o Espírito dos Mais Velhos tenham o moleque junto e protegido, deram
fumo de corda que não era o fumo de fumá da mãe?
Sorri
com as vistas, mas a lembrança do Tigão me fez mais quêdo, as duas tristezas se
juntaram. Era muita saudade junta, muita pergunta sem resposta. O avô não
sabia, nem nunca confirmou que sabia, mas tinha desconfiança que quando
terminô... terminou. A avó tinha cogitativo de mais confiança, Os espírito se
junta depois da separação das carcaça, senta no chão, na volta da fogueira, uns
esfrega na mão, outros toma um licor da cachaça, tem os qui caminha e faz reboo
com os pé, outros só arrasta daqui pra lá, e de volta, sem zunideira, os em pé
tá esperando a vez de sentá pra conversá. Num tem pressa nem lamentação, chegô o
tempo das providência.
Eu
não sabia, mas gosto de pensar que o Tigão está no colo da avó, levando
xingamento por causa do pouco causo que deu aos aconselhamentos da preta velha,
e nos pés da avó tá guardado o meu lugar de ouvir
— Lembra de ouvi a avó, no
outro dia, muito pasmada, chamá os dois moleque?
Concordei
com a cabeça, eu e o Tigão parecíamos dois guris cagados de medo.
A
tia sabe como a avó sabia tudo e muito mais, Meu fio neto, senta aqui nos pé da
avó e escuta com atenção: sabê escutá é de muita sabedoria e dá mais mão de
autoridade qui sabê falá, queria conseguir lembrar tudo que a avó disse, mas as
lembranças vão ficando embaraçadas com a tristeza, até parece que uma atrapalha
a outra. A avó gostava de tá sentada nessa cadeira, fazendo balanço, eu gostava
de saber que a avó ficava sentada se balançando
— Quando me contô essa história do fumo de
corda, se ria de tê tosse até engasgá, só de lembrá chorava de tanto ri, Minha
Vandinha, tudo qui é gente tinha qui fumá o baseado desse fumo, uma vez, uma
outra vez, e rí da própria alucinação, da imbecilidade. Minha fia, pode
creditá, esse mundo ia sê outro.
Tia,
eu e o Tigão passamos um tempo danado caminhando levinho, ficando escondidos
nas frestas, se a gente soubesse da aprovação da avó, não tinha tanta confusão,
até arrumava mais daquela corda
— Isso prova que ocês não tinha
conhecimento da avó de ocês, tê medo não é conhecê.
Passei
a noite no aconchego do colo de tia. A luz amarelada sobre a cabeceira da cama
era a única luz que iluminava, testemunha da vida da avó que sempre lhe foi
agradecida, Essa luz do tipo fusquifusqui, só mostra o qui é preciso mostrá.
Nos
primeiros lamentos do dia, abri os olhos devagarinho, esticado num incontrolável
bocejo, uma das mãos à boca, a outra esfregava os olhos, deslembrei que a avó
tinha desocupado a vida, até que o cheiro da morte me entrou e revelou o homem
que eu era, o meu pertencimento, Bom dia, minha tia, o calor do colo me enrolou
na preguiça
— Bom dia, meu fio.
A
penumbra no quarto da avó parecia mais assombreada que iluminação disfarçada em
velório, a luz amarelada se mostrava mais cansada com a missão de vigiar
defunto, eu estava exausto, cheguei a querer que aquelas despedidas acabassem
logo. No instante seguinte, precisei pedir perdão à avó, ela havia de entender,
E a avó? perguntei como se estivesse recém chegado pra visita da cortesia
— Já se foi...
Pra
onde? desculpe tia, eu sei que a pergunta é chata e boba, como a tia havia de
saber
— Se foi pro lugá de morá com sua gente, o
seu Capitão.
A
tia não se explica de uma vez só, parece que espera a pergunta pra responder
quase nada, não é justo deixar a solução escondida, logo a tia, que nunca foi
de obedecer a avó
— Não diz bobagem, moleque. Sua tia
esquecia de obedecê, mas nem sempre, vez que outra, isso é bem diferente de sê
rebelão. O meu atrevimento nunca foi com sua avó, sempre foi com minha mãe.
Então,
por que não diz o que aconteceu? Onde tá a avó? A cama da avó esvaziou
— Ganhô encantamento quando nouteceu, ou foi
alimentá a vida na outra vida, ou não quis tropeçá no amanhecê, ou foi embora
com o Capitão. Ocê escolhe...
O
neinho prefere acreditar que o amor daqueles dois conseguiu se combinar e
ressuscitou. Onde já se viu, levantar depois de morta? A avó não devia tá no
seu ajuizamento das ideias. O neinho devia ter ficado vigiando a noite.
— Ocê não creditô no acreditá da sua avó,
nem lembra o que sonhô, vive mais triste que a própria dô. Gosto de sonhá que o
amô chego de vez pra avó.
Como
a gente faz um enterro sem a avó presente? Os tiuzin tão esperando pra vê a avó
de corpo pra visitação, não sei explicar o acontecido
— Não precisa enterrá o que não morreu, os
irmão sabia que a mãezinha não ia ficá. O que ela queria deixá, ela deixô: as
lembrança das palavra. Pediu pra ocê não esquecê que a vida vai vivê, não vai
fazê ocê sonhá, o sonho é d’ocê, não é da vida.
Pareceu
que levei uma surra, queria voltá pra dormí e sonhá da vida.