quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Quem vê só o qui vê... vê só o qui qué vê

Ensaio 17B
baitasar
O único vivo mais sem alma qui o siô Barros encontrô nos caminho qui pisava foi o preto acendedô Betobento, ele ia nas rua acendendo as lanterna qui iluminava os caminho. Baixava a lanterna do poste com seu varapau de gancho, depois era só examiná os vidro, raspá a cera se tivesse necessidade, colocá vela nova, queimá o pavio, e pronto, alevantava a iluminadura té o poste da iluminação pública, na altura de um homem e meio com o tamanho do Josino, qui teve um corpo qui não cabia medida. Tem homê e mulhé, assim, as vista enxerga mais do qui existe, mais também, existe corpo qui se enxerga menô do qui é; os olho pode enganá a razão, confundí o coração, mais é preciso aprendê olhá e vê o qui não vê, quem vê só o qui vê... vê só o qui qué vê.
O negro qui o chefe da pulícia mandava aprendê com o Betobento escutava a mesma lição, As velas ocê pega com o Joca Lampião, a lição de aprender as lidas com as lanternas é preciso escutar o véio Betobento
—        Cada lanterna tem uma vela que é preciso acendê e controlá, nas ida e volta, enquanto durá a escuridão da noite. As vela queimada até o fim do pavio precisa sê raspada da lanterna, depois é só colocá a nova e incendiá a mecha. A incumbência é vigiá os postes, à noite toda, e deixá os poste vigiá as ruas. Escutô? — um bão aprendiz de acendedô sempre escutava.
Aquele era um serviço de patrulhamento. Reavivava as vela apagada pela teimosia do vento, mais quando a chuva molhava com jeito de fazê brotá água, ele esperava, resmungando dentro da boca do velho teimoso, Água e fogo não se junta, é melhó esperá secá a chuva.
Gostava da noite apinhada das estrela, tinha o qui fazê à noite inteira nas ruas qui era sua incumbência. Passava à noite, assim, indo e vindo, fiscalizando os poste das vela, descendo e subindo as lanterna, trocando, raspando, atiçando. Iluminava os caminho, por isso, foi batizado com titulativo de gente: Betobento Luz. Um caso raro de preto liberto qui ganhô alcunha, um nome próprio de branco.
Saia da casa dos lampião com a sacola carregada nas vela, o varapau com gancho numa das mão e a tocha incendiando na outra. Atravessava o Largo dos Enforcado com a tocha erguida, não queria nenhum espírito fechando o caminho, nem dá com a cara do preto Joaquim, o primeiro enforcado: se fez pagô; se não fez, pagô pelo qui não fez. Ele qui ficasse pras bandas de lá, qui o jeito não tinha mais jeito. As carne depois de pendurada pelo pescoço, só faz desprendê o mijo té pará de respirá. O Betobento Luz, nas dúvida, se ia ou não encontrá um qui outro dos enforcado, pedia, Salve as banda de lá, salve as banda de cá! Com licença. E rasgava a escuridão do Largo dos Enforcado.
Seguia a rua da Praia, no cumprimento da praia, quase no início, já tinha qui cruzá por outra tranqueira: o pelourinho de pedra. Erguido às pressas, no ano de 1810, tudo pra fazê a freguesia tê a cerimônia da instalação da vila da Nossa Senhora. Ele entendia as necessidade de deixá de sê freguesia, passá a sê vila, depois cidade, mais não entendia as necessidade daquela pedra, nem por que da pedra ficá na frente da igreja santa. Os branco gosta de esfolá o couro dos preto, isso se sabe, mais tanto lugá pra longe da missa, não tinha qui sê de frente, no alcance do olhá do padre, da voz piedosa de oração, Será que os ouvido que escuta oração não escuta os gemidos no pelourinho, e se escuta, faz que não escuta
O Betobento Luz conhecia o sinal da cruz, rezava sua oração pros espírito dos couro rasgado qui rondava ali, os preto deixado esquecido na cruz da pedra. E seguia seu caminho, poste por poste da iluminação té a Bragança. Depois fazia um trecho da Bragança té a rua da Ponte, virava na Ponte e voltava perto da esquina das água, na casa dos lampião. Nesses dois caminho, cruzava o Beco do Fanha, o Beco do Leite, o Beco do Trem, mais na rua do Ouvidô, não podia só cruzá sem desviá, tinha qui tê cuidado com as lanterna do Ouvidô. De volta na Ponte, seguia sua vigilância cruzando a rua Clara, a rua do Arroio, muito conhecida como a rua dos Pecado Mortal, tinha as cabana das putaria, as moça tavam longe e perto, no alcance dos pé e do fogo das virilha. O trecho com as cabana sempre tava com visita, mais ninguém reclamava a falta das lanterna e dos poste da iluminação.
A cada tempo, aparecia mais rua e o Betobento já não dava conta. Depois de fazê a rua da Ponte reabastecia as vela da sacola na casa dos lampião, só precisava fazê a sua marca no papel em branco qui o Joca Lampião deixava no balcão. O homem se incomodava de saí do calô das coberta com o escravo Varão, não queria se estorvado, então, deixava os pacote com as vela na disposição do negro iluminadô. O Betobento, por sua vez, tava cada vez mais desgostoso de colocá sua marca num quitamento em branco. Até qui criô coragem de dizê qui não achava certo
—        O quê o criolo não acha certo?
—        Vosmecê me perdoe, mais não é bão colocá a marca no papel sem nada escrito...
A resposta do Joca Lampião foi na hora do acontecido
—        O criolo está achando que no papel do recibo não têm as velas que o criolo leva na sacola?
—        Não to dizendo nada.
—        Pois se não tem, é porque o criolo tá escondendo as vela.
—        Não to dizendo nada.
—        Então, não me incomoda com preocupação de criolo.
Betobento baixô os olho, colocô a marca no recido branco e saiu. Nunca mais fez assunto do causo. Mal tinha tempo de fazê a vigilância na Quitanda e recomeçá a trilha. O chefe da iluminação pública qui se entendesse com ele.
O Largo da Quitanda não parecia dormí, as pessoa continuava o comércio qui se juntava como as formiga. O trapiche rio adentro cortava as água, como a cicatriz marca o couro, e avisava: é o lugá de embarcá e desembracá os iate e as sumarca, antes da saída das água doce nas água salgada.
O siô Barros passô pelo acendedô sem fazê menção de reconhecimento. O negro qui tinha obrigação de cumprimento. O iluminadô não parô de ajeitá o qui tinha qui fazê: iluminá com capricho era sua ocupação, e aquela noite recém tinha começo, Mais um negro metido a gente, esse parece que não conhece o seu lugar, o siô Barros não queria assunto de falação com o acendedô, muito menos autorizava intimidade, mais aquele negro sujo lhe devia cortesia e reconhecimento. Parô a rua nos pé, chegô abrí a boca pra chamá atenção do negro, mais viu qui a rua era um deserto de gente, Isso é um desperdício. Voltô pro seu caminho. Avançô um passo, dois passo, e não se dominô, foi libertado das corrente da compreensão, isso é um desaforo, quem esse criolo pensa que é
—        Você, negro!
Nenhuma resposta, nenhum sinal da atenção, Assim, já é demais, voltô mais um passo qui não devia voltá, não devia tê voltado
—        Você, criolo atrevido!
O Betobento Luz, qui tinha um nome e uma alma, se ocê acredita qui as alma só existe depois de batizado, continuava a raspá a cera da laterna. O siô Barros levantô do chão uma pedra, jogô sem precisão na mira. Não acertô nem por pouco, resmungô, Não queria acertá, mesmo. O negro não se mexeu, não parecia qui tudo aquilo era com ele. A paciência do siô Barros tinha limite, a desatenção daquele negro ia custá caro, e fez o serviço do jovem Capitão: sacô o chicote curto, desenrolô o cipó qui levava preso na cintura pra impressioná os branco, assustá os negro, sujô as mão quando acertô o véio Betobento Luz.
O homem solto um grito qui o siô nunca teve qui ouví, saltô como um felino e ficô na frente do branco, o olhá de odiá.
O preto Betobento Luz era um liberto dos branco besta. Exercia serviço de segurança pra pulícia, nunca ia tê licença pra prendê branco, mais queria entrá no qui fazê da pulícia: corrê atrás dos badernista, brigadô, valentão, deixá de sê corrido, corrê atrás. Pará de cuidá da iluminação pública.
Mais continuava negro.
A escuridão mostrava o branco dos olho arregalado, não parecia susto nem medo, parecia a morte.
No peito carregava uma tabuleta de aviso: Surdo Mudo!
Aquela conversa com o Varão já faz um bom tempo, mais foi logo depois dela qui o Betobento Luz apareceu com a língua cortada e os dois ouvido furado. O rumô era qui o escravo Varão não tinha gostado dos modo do Betobento com o patrão Joca, uns dizia o qui escutava de outro, coisas do iluminadô tá desviando as vela qui o chefe da pulícia autorizava comprá com o fundo da iluminação. Nada ficô provado nem contra nem a favô, mais o Betobento ficô mudo e surdo. Quase ninguém escapa da justiça dos branco, só os branco.
O siô Barros olhô a pequena chibata na sua mão, ela se pareceu com uma pistola qui se usa na cintura sem nunca tê uso, mais qui depois de empunhá precisava fazê o uso sem fraqueza.
Queria saí dali.
É diferente mandá fazê e sê a mão qui faz. Dá pra senti o gosto do sangue na boca, o cheiro do suô do preto, os grito se enfia na cabeça e custa pra saí. É uma marca por toda vida.
Voltô nos passo qui deu pra trás, virô as costa e saiu caminhando, Merda, merda, como podia saber que o negro é surdo, mas surdo ou não, ele tem as vista, se me viu, devia o cumprimento de respeito.
Retomô o seu caminho, desconfiado dele mesmo, Como fui me deixar usar da chibata, não sou homem dessas canalhices, isso é coisa do Capitão, merda, talvez fosse, talvez não fosse, bão com a chibata, mais pra parecê um branco forte, qui sabia colocá as coisa no devido lugá, não podia tê dó nem piedade, Por certo, o Senhor colocou esse negro no meu caminho para me lembrar alguma coisa que devo ter esquecido, deve ser alguma benção.
Soltô um suspiro silencioso dos intestino, junto com o vento mais uma pequena umidade. O descuido lhe brotô no fundilho das calça, mais um pequeno aviso do Siô, o vulcão tava limpando a garganta.

Lembrô do Josino, o negro certo pra tarefa acertada, Esse só me deve uns negrinhos da sua criação com a negra Milagres. A lembrança lhe deu vontade de dobrá na direção da praia, e olhá se o carregamento foi descarregado no barco, mais a cautela era sua maió virtude, não achô por bem se aproximá dos trabalho secreto, Quem não é visto, não é reconhecido.

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Autoajuda: Hoje, não estou com saudades de mim mesmo

Bee Gees



Não estou com saudades de mim mesmo, um tempo em que eu acreditei que médico precisava ser bonito, não podia ter cara de empregada doméstica! Oh, se eu apenas tivesse visto que a piada era sobre mim, as empregadas domésticas é que têm cara de médico... o que fez o mundo inteiro rir. Eu tentei impedir a chuva, ele continua caindo, até que eu, finalmente, morri... o que fez o mundo inteiro viver. Oh, se eu apenas tivesse visto, mas nunca me contaram sobre o sofrimento, apenas sobre como consertar um corpo doente. Eu queria impedir o sol de brilhar e morri e aprendi: se você quer arrancar essa tristeza no seu coração deixe de ser como eles disseram que você deveria ser, Corra pro amô, me disse a empregada doméstica, Ocê precisa sê maduro pra não passá frio e vivê solitário, sem ninguém do seu lado, ninguém pra abraçá. Precisei morrer para aprender a sorrir um sorriso interminável, num mundo sem glórias. Precisei viver para recomeçar uma nova história e entender porque vivemos num mundo de tolos com corações de pedra, precisei escutar a empregada doméstica, Quem vê só o qui vê, só vê o qui qué vê, mais o qui vê pode não sê o amô




I Started A Joke







Run To Me





Words






How Deep is Your Love






Massachusetts





Alone






I've Gotta Get A Message To You





To Love Somebody





How Can You Mend a Broken Heart





You Should Be Dancing





Jive Talkin'






The only love





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Auto-ajuda: Imaginem uma humanidade, uma justiça... está escrito no metrô


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Isso não tem preço

Ensaio 16B
baitasar
O siô Barros olhô no redó e fez cumprimento de despedida pras visita e os cativo da casa do Gaspar.
Saiu.
Quando pisô no chão da rua deu um grande suspiro, logo atrás, veio um gemido de vento silencioso, um murmúrio de aclamação do intestino lhe fez esfregá as mão de contentamento, enxergava qui a vila podia crescê com toda aquela data de chão e o erguimento das casa de moradia,  via tudo com as vista da gula, a terra não demorava pra  tê dono, É preciso correr atrás desse dinheiro. O siô misturava nos pensamento os assunto do comércio e o gosto de sê reconhecido, aprovava sê bajulado pelo dinheiro qui carregava no bolso, Isso não tem preço. Lembrô qui tem coisa na vida qui não se compra, por falta de preço. Prometeu, pra ele mesmo, Ainda paro com tudo e faço uma lista com as coisas que não têm preço, mas, antes, preciso...
Parô no meio do nada, queria lembrá onde andava, aonde ia, num breve instante, dormiu em pé, ali na rua, Não vou conseguir acordar desse sonho sem sono, tava com os olho aberto e não via as calçada, os calçamento, Será que eu me perdi, ninguém por perto, até qui se atinou, A rua da Praia.
Lembrô qui aquela rua havia de levá os pé té outro destino. Recomeçô o caminho. Andô pelo pelourinho, a marca da força dos branco, muito do sangue dos preto e preta se derramô ali, os choro das dô, as súplica silenciosa. O siô passô a mão pelo pelourinho como se tivesse acarinhando o couro fatiado pelo cipó. Outros preto já tava marcado pra conhecê a coluna de pedra. Depois veio a ponte do embarque e desembarque, desviô do beco do Pedro Mandinga. Olhô na frente, nos lado, quase se desvia e entra na rua dos Pecados Mortais, uma visitinha pra sua amiga Maria Cobra lhe passô pela vontade, mais as moça havia de esperá, Na volta, na volta. As menina não dorme cedo, nem é de duvidá qui passam as noite sem pregá os olho, fazendo graça qui acorda o mais desencantado.
Não podia, sem motivo de muita importância, deixá de aparecê na reunião da Irmandade. Não era homem de desculpa esfarrapada. Armô as perna com coragem de enfrentá subida té a Crista da Colina. Cuidava de não destorreá as bosta no caminho pisado, pras rua da beirada da praia não existia o fundo para calçamento. Esses recurso era destinado aos caminho dos esnobe, povoados por família requintada, gente qui chegô antes e se adonô do qui pode, Vou subir pelo beco do Fanha.
Nos passo qui dava não encontrava alma viva perambulando. A botica do Juca Curadô ficava no caminho. Passava por lá, lhe deixava o aviso da visita do Josino e a necessidade do unguento. Diziam qui ele cuidava de tudo, não tinha enfermidade sem algum remédio de cura ou diminuição da dô, o Juca cumpria sua missão de curá. O cura-tudo
—        Boa noite! — junto com o palavrório fez mesura da educação, no modo qui aprendeu de olhá os cumprimento pra siá Casta: inclinô a cabeça, segurando o chapéu, levemente
—        Boa noite, sinhô Barros Colombo! — o homem fez a mesma referência da cortesia, não tinha chapéu pra segurá, mais levo a mão té a testa. Os pensamento do boticário tava escancarado no jeito de olhá, Fidaputa, tá comendo bem, pensa que mudô muito porque saiu daqui, fodê a sinhá lhe abriu algumas portas, mas têm outras que nunca vão abrir.
Siô Barros gostava da vida na cidade, gente qui lhe tinha medo sem precisão de uso do relho. O respeito plantado com muito trabalho dos preto. Ele mesmo não agarrô uma enxada, nem a chibata, só precisô agarrá as carne da mocinha Casta
—        Amanhã, lhe mando o escravo Josino com um bilhete. Vai precisar unguento para as costas.
—        Pode deixá, sinhô Colombo, vou tratar do escravo como se fosse um dos negros da casa. Como é mesmo o nome desse seu negro?
—        Josino.
—        Isso, Josino. Não esqueço mais, pois, esse tal Josino, devia agradecê de tê um dono como o sinhô Colombo, preocupado com os ferimentos do couro. Aqui, na botica, se escuta muitas histórias que acontecem no mato.
—        São apenas histórias, Juca.
O boticário não pareceu disposto em perdê um ouvinte tão ilustre, com tanta fidalguia e cheiro de bosta
—        Pois, ontem mesmo, um padre noviço veio na botica, o rapaz cheirava boa-fé, mais corria atrás do donativo pra obra santa. Quando falô me desencantei, queria mais ajuda. Disse que a vila precisa das benção da Senhora, toda proteção contra os negro do quilombo é bem-vinda.
—        Não perca o sono por tão pouco, Juca. —    a voz entumecida do siô não fez o efeito de acalmá o boticário, tem vez qui o pesadelo é mais influente qui a vida, é quando rezá ou pegá nas arma é a mesma coisa, parece sê a única esperança, no entanto, esse engano custa mais qui a esperança, faz nascê o desapontamento, o desencanto, a desilusão e a desesperança desencoraja o sonho
—        Os negros do quilombo atacam os tropeiros, matam todos. — e caveira sem sonho credita em qualquer mentira, esquece de corrê atrás da vida, precisa a confiança da riqueza pra vivê, corre cheia de esperança atrás da fortuna e morre antes de morrê
—        São muitas léguas de distância.
O Juca Curadô enfiô os dedo da mão nos fio do cavanhaque, olhô na escuridão, té qui deixô escapá um queixume
—        O sinhô deve sabê que a légua grande ou a pequena não assusta escravo foragido. Esses fidaputa roubam as mulheres brancas pra escravizá. Imagine o apavoramento das moças, deitá com a negraria, fazendo nascê um mestiço depois do outro. Rezo pra Senhora não deixá essa imundícia acontecê com uma das minhas filhas, mato as menina...
—        Vosmecê mata sua filha?
—        Mato a filha e o mestiço na barriga... e vendo o negro, esses malditos... por que vieram pra essas terras... — parô de comentá, o siô Barros parecia distante dali, o entusiasmo não tava naquela prosa, caminhava na sua frente — ... a minha botica tá às suas ordens.
—        Amanhã, Juca... amanhã. — deu dois passo na frente, parô e virô, parecia tê esquecido algo — Boas noites, Juca Curadô!
O boticário lhe abriu um sorriso qui ficava tapado pelo vasto bigode amarelado acima do cavanhaque. A fumarada amarelenta do palheiro continuava entre os dedo
—        Boas noites, pra todos! Em especial, pra vosmecê, sinhô Barros Colombo.
O sinhô devolveu a cortesia com um leve cumprimento com a cabeça. Desvirô e recomeçô o caminho da reunião.
O Juca Curadô, no interesse de mostrá cuidado, fez o último comentário das despedida
—        Cuidado com os negros que ficam disfarçados na escuridão. Esses fidaputa são feitos com carne e osso, mas não têm piedade.
—        Deixa estar, Juca.
O nariz voltô pra frente, queria senti o faro pro seu destino: as conversa de atraso na obra santa. Não tinha na vontade nenhum apetite naquele abocamento de donativo, Se essa ajuda me fosse de alguma ajuda, não conversava mais com a siá Casta sobre esse desperdício do Josino e dos donativo. Tentô uma ou duas vez, mais a siá Casta lhe afirmô qui a família ajudô construí quase tudo na vila, não podia deixá de ofertá préstimo de favô pra sua Senhora. Era melhó não mexê nisso, Merda de perda de tempo, se não for preciso alongar as conversas da reunião que ninguém se meta a besta, essa noite ainda pode render com a passada no covil das putas.
O siô tinha muita estima pela casa da Maria Cobra, um lugá de tá sem preocupá qui tá. Ela mesma, já tinha lhe servido da sua taça, sabia, como nenhuma das moça, usá com dedicação as própria carne, conquistava pela perfeição como atinava com as vontade do correntista, Se a dona Casta pega umas aulas com a Maria...
Mais o tempo, nesse negócio da putaria, é rápido, o gosto pode ficá enjoativo. É só desapegá um pouquinho, e pronto, a vontade desgruda, Se a dona Casta parasse com a cisma de tê um filho...
Caminhava nas rua vazia, desencantada de gente, por certo, a siá Casta haveria de desaprová o esposo caminhando naquelas horas. Gente de bem não tinha razão nem motivo de colocá o olho na rua, tão tarde do anoitecê, menos ainda, levá os pé té a calçada. Era na noite qui a ralé brilhava com suas cantoria, fazia conversa de algazarra, Marido, foi essa gente que inventou o falatório e a feitiçaria. O siô sonhava com os falatório, a desordem do sossego, as feitiçaria, a bebida destilada, as puta, Não se preocupe, dona Casta, sei onde piso. Ou deveria ter dito, sei onde me enfio com os cravo e a ferradura.
Era preciso corrê mais qui o tempo, do contrário não ia tê o tempo qui queria com as moça da Maria Cobra.

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Ensaio 15B - Com a graça de Deus

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Mayakovsky


A voz do poeta

Sou poeta e ansiava o futuro... ressuscita-me!








MAïAKOVSKI, ELSA, ARAGON. Ils se sont rencontrés à Paris









A ESPERANÇA

Injeta sangue
                no meu coração,
                enche-me até o bordo as veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até o fim o meu bocado terrestre,
sobre a terra
                               não vivi o meu bocado de amor.
Eu era gigante de porte,
                                               Mas para que este tamanho?
Para tal trabalho bastava uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel,
num canto do quarto, encolhido,
como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu o farei de graça:
esfregar,
                lavar,
                               escovar,
                                               flanar,
                                                               montar guarda.
Posso, se vos agradar,
                                               servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastantes porteiros?
Eu era um tipo alegre,
                                               mas que fazer da alegria,           
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias,
                               se os dentes vos mostrarem
não é senão para vos morder
                                                               ou dilacerar.
O que quer que aconteça,
                                               nas aflições,
                                                               pesares...
Chamai-me!
                Um sujeito engraçado pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles
                                                               e alegorias,
malabares dar-vos-ei
                                               em versos.
Eu amei...
                               mas é melhor não mexer nisso.
Te sentes mal?
                               Tanto pior...
                                               Gosta-se, afinal, da própria dor.
Vejamos...         Amo também os bichos —
                                                               vós os criais,
                                                                              em vossos parques?
Pois, tomai-me para guarda dos bichos.
Gosto deles.
                               Basta-me ver um desses cães vadios,
como aquele de junto à padaria,
                               um verdadeiro vira-latas!
e no entanto,
                               por ele,
                                               arrancaria meu próprio fígado:

“Toma, querido, sem cerimônia, come!”




quarta-feira, 21 de agosto de 2013

24 anos

MALUCO BELEZA



Metamorfose Ambulante





Gita



Eu Nasci Mil Anos Atrás




Eu que já andei pelos 4 cantos do mundo procurando
ahhheee... sacanagem
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Eu vou desdizer tudo que lhe disse antes
Fazer tudo igual aprendendo a loucura real do maluco total
E a maluqueiz



terça-feira, 20 de agosto de 2013

Xadrez é jogo de branco, preto só conhece o xadrez da delegacia!

O Xadrez das Cores




Curta metragem "O Xadrez das Cores " (2004, 21 minutos), dirigido por Marco Schiavon.
o Vídeo narra a história de uma senhora branca que fica sob a guarda de uma empregada doméstica negra. A idosa não faz questão nenhuma de disfarçar seu racismo é utiliza o jogo de xadrez humilhar a empregada, mas é justamente o jogo de xadrez que fará com que as personagens produzam reflexões que mudarão as suas vidas.

domingo, 18 de agosto de 2013

Festival de Salzburg

Orquesta Sinfonica Infantil Nacional de Venezuela Festival de Salzburg






Concierto de la Orquesta Sinfonica Infantil Nacional de Venezuela desde el Felsenreitschule en el Salzburger Festspiele de la ciudad austriaca de Salzburgo, bajo la batuta del Maestro Sir Simon Rattle, Director de la Orquesta Filarmonica de Berlin.

El concierto iniciaba, el director de la Orquesta Filármonica de Berlin salió al escenario y los primeros acordes de la Obertura Cubana de George Gershwin comenzaron a sonar y se fundían con las exclamaciones y los sollozos de público.

Luego de una excelente interpretación de Gershwin, los chicos interpretaron las Danzas de Estancia, Op. 8a de Alberto Ginastera, la cual fue conducida magistralmente por el joven director venezolano Jesús Parra, un niño prodigio que camina entre sus compañeros como uno más, de origen humilde, pero en el momento en el que comienza a mover sus manos frente a esta gran orquesta, la historia cambia y es que viene de un gran linaje de directores, el mismo maestro José Antonio Abreu y Gustavo Dudamel.

Era la hora, había llegado el momento mas esperado por todos los asistentes, el Maestro Rattle entra de nuevo al escenario, todos expectantes, ansiosos, el silencio reinaba en la majestuosidad del Felsenreitschule, cuando de repente se escucha un sonido magico, que a todos ecantaba, era el armonico La que daba inicio a La Sinfonía nº. 1 en Re mayor "Titán" del compositor Gustav Mahler. Cada asistente a este concierto se dejo llevar por ese sonido magico cual nube en el cielo flota, estaban hechizados por el sublime Primer Movimiento "Langsam, schleppend (Como un ruido de la naturaleza)", tras la cual aparecía un movimiento rápido dominado por un tema alegre en la cuerda, que luego pasaba a toda la orquesta. Tras una repetición de la introducción, aparecía un tema nuevo en las trompas, que conducía a un gigantesco clímax tras el que el movimiento concluye con una alegría desenfrenada. Luego de este ensueño que profesaban los chicos de la OSINV llegaba el Segundo Movimiento "Scherzo: Kräftig bewegt, doch nicht zu schnell (Scherzo: Poderosamente agitato, pero no demasiado rápido)" la parte central, más tranquila, ofrecía un momento de descanso poético, y que curiosamente parecía una de las danzas de Strauss. Seguidamente de esta música danzante, cuyo final dejaba al publico con una alegría inmensa, llegaba la marcha fúnebre del Tercer Movimiento "Trauermarsch: Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen (Marcha fúnebre: solemne y mesurado, sin rezagarse)" que al inicio parecía algo oscuro y lúgubre, pero de improviso el oboe nos presentaba una melodía jocosa, graciosa y un tanto desconcertante que nos transportan a la música que solían interpretar las bandas callejeras y en las que queda de manifiesto los orígenes judíos del compositor. Después de un tercer movimiento lúgubre y gracioso, nos llega el sonido de un golpe al Platillo Suspendido y de otro golpe al Bombo y una explosión de los Metales y las Maderas indicando que el Cuarto Movimiento "Stürmisch bewegt (Agitato)" había llegado. Este movimiento, con ese inicio tempestuoso y de gran longitud, simbolizaba el transito de las tinieblas hasta la luz, al que le seguía un segundo tema lírico interpretado por las cuerdas. En el desarrollo aparecía un nuevo tema triunfante en los instrumentos de metal, pero le fue necesario luchar y ser derrotado tres veces para alcanzar el brillante Re Mayor final. Después de un último pasaje reflexivo, se encuentra el triunfo definitivo del optimismo que a mi juicio me transmitía a una victoria del bien contra el mal.

Una vez superada la prueba de la música clásica (pues Salzburgo es la ciudad pionera en este género), llegó la hora de la diversión, de jugar en terreno propio. Simon Rattle realizó la seña para comenzar a interpretar el "Mambo". Entre fuertes acordes, bailes de los chicos e interacción con el público, el teatro se vino abajo, los expectadores gritaban, daban golpes al suelo con los pies, bailaban, reían y lloraban no había forma de canalizar el sentimiento. El aplauso fue tan apoteósico que generó un bis (repetición de la pieza), el cual fue recibido con tanta o más energía.

Una vez más, Venezuela se hizo presente con fuerza, ímpetu y juventud y le demostró al mundo entero, que el país es más que mujeres y paisajes hermosos, es también talento y es música pura hecha sentimiento.

Obertura Cubana de George Gershwin: 0:00:44
Danzas de Estancia, Op. 8a de Alberto Ginastera: 0:13:40
Sinfonía nº. 1 en Re Mayor "Titán" de Gustav Mahler
I Movimiento: 0:30:40
II Movimiento: 0:45:50
III Movimiento: 0:53:54
IV Movimiento: 1:05:20
Mambo de Leonard Bernstein: 1:32:01

Tocar y Luchar




sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Com a graça de Deus

Ensaio 15B
baitasar
Os três continuavam parados na praia. Josino jazia com a água na cintura, os dedo enrugando, a carne ardendo da lambida do chicote, fazia tempo qui não sentia a dô do relho na própria pele. A dô se misturava com o pasmo de espanto do causo. O siô Barros Colombo pareceu desaprová o destempero do fiô Capitão, mais nada disse, fez apenas um comentário de consolo
—        Josino, amanhã, passa na botica do Juca dos Remédios. Vou te dar um bilhete com o pedido de unguento para ardidura do relho.
O Capitão mantinha esticado seu cipó de boi em cima da areia, pronto pra escová o couro do Josino. Na sua vontade de disciplinadô, o castigo de aviso podia sê inteiro, batê mais um pouco, té  animô de dizê
—        Se o Josino apanhá, os negros da fazenda vão sabê das notícias, nenhum outro negro vai querê se rebelá contra o sinhô.
O sinhô Barros Colombo, qui tem as duas vista verde, olhô o Capitão do olho verde sozinho, ele pintava outros assunto na cabeça e não queria usá de mais tempo qui o preciso, fez vista grossa pro atrevimento do moço qui quase lhe estraga a mercadoria
—        Não é o caso do Josino, meu rapaz.
A vontade de castigá o negro não lhe deixô escutá a caridade na voz do siô Barros Colombo, quando lhe disse: ‘meu rapaz’; foi o mais perto do qui sempre quis escutá: ‘meu fiô’. Tem gente qui sabe onde nasce, mais não sabe onde morre, tem outros qui não sabe onde nasce, mais já sabe onde morre
—        Negro como o Josino lhe custa 3$500 pra capturá...
—        Por isso, tenho ocê por perto... para economizar os três mil e quinhentos réis, e assim, não me obrigando gastar na compra de outro negro, já tenho o escravo que eu quero.
Aquela única vista verde do Capitão parecia querê saí do olho, as palavra pra retrucá ficaram na boca, querendo saí, mais sabia quanto podia e não podia, o mais bão era deixa a língua guardada pra não desperdiçá a saliva
—        Ouço e obedeço o meu sinhô.
—        Josino, saia daí...
Saiu sem dizê nem olhá, sabia o qui acontecia com preto qui reclamava. Ficô olhando pras mão. Os dedo tinha enrugado. Aprendeu com o preto José, qui fez as muita medida no começo da obra santa, Rapaz, água é bão, mais no qui marrota os dedo é bão saí. Seguiu os conselho do véio José e as vontade dolorida do corpo. Era hora de dormí, sonhá outra vida, numa terra só com preto, pra isso é preciso continuá vivendo. Não olhô o olho preto do Capitão, não ia adiantá, o outro olho, o olho verde, não amansava o relho, dos dois olho era o qui mandava. Esperô parado o ataque com a armadura da pele retesada mais o escudo da vontade de resistí o açoite
—        Se apanhá, sai logo...
O siô olhô no Capitão antes de respondê, pareceu qui solto um suspiro de impaciência, o rapaz era bão com o cipó de boi, mais com o pensamento dos negócio não tinha cacoete. Não sabia fingí preço bão pra mercadoria com defeito. O máximo qui o siô alcançô lhe ensiná foi dominá a força e o uso das tira no couro dos preto
—        Não é o caso do Josino, recolhe o relho.
Precisô empurrá a vista verde pro seu lugá de mestiço qui não tem querê. Repetiu qui ouvia e obedecia. Abaixô a vista preta, depois a verde. Assim qui ele acalmô as vista no chão, o siô repetiu o chamado, mais sem grito, como tivesse se ajustando com o cachorro da sua maió estima
—        Josino, saia daí. — só faltô oferecê um pedaço de osso.
Josino escutô o murmúrio da Milagre qui lhe chegava pelo vento, assoprado da boca de Oia, Não é tempo de fazê besteira, tem o dia de enfrentá, mais tem o dia de se recolhê, espreitá melhó, saia daí, meu preto
—        E ocê, Capitão... volte à fazenda, amanhã, bem cedo, que o trabalho lhe espera. Mas antes, leva o Josino para aquele serviço de reparação no cais.
O Capitão lhe olhô, mudo de reclamá, apenas tratô de esperá o siô falá tudo qui precisava
—        Depois da reparação feita, vão os dois acomodar o descanso no porão dos lampiões. Tenho reunião com os próceres da cidade, parece que a obra do céu não está na ligeireza recomendada do santo padre, que além das obras de Deus, dá ares de que é entendido das obras dos homens.
O casarão dos lampião era a casa do comércio forte da cidade, tirando da conta a igreja, o casarão da administração e a casa do conselho da municipalidade. O seu Joca Lampião não tinha terras do paraíso à venda, nem as força militá do governo central, com esses era preciso entregá os imposto e a doação sem atrasá, aparecê pra um dedo de prosa e deixá os assunto em dia. Assim, gozava dos serviço das postura da pulícia, no andá do céu e no andá da terra, mais não subia nas graça dos siô da fidalguia, ficava na média, entre a nobreza e a esculmalha.
Na casa dos lampião, um casarão de boa altura, qui recebia os carregamento do rio, tinha lampião pra todo gosto e dinheiro: de sebo, de óleo ou de vela. Os tamanho variava com as necessidade do compradô. Tudo guardado no porão. O galpão dos fundo não podia sê pra uso de guardá as mercadoria, construído com paredes de barro da grossura de um palmo, sem pedra ou tijolo, cobertura de telha-vã, o madeiramento do telhado suspenso em paus a pique, tinha muita umidade se arrastando pelo chão e nas parede, vazadas das água da Arsenal. O Joca fazia uso do galpão pra hospedá os preto da obra santa, era seu donativo de poupança, queria reservá um pedacinho das terra do depois, Uma senzala de luxo, siô padre. Tinha certeza de uma boa bem-aventurança e glória no paraíso, Deus lhe abençoe, meu filho.
O siô Barros Colombo visitava aqueles caminho e tinha gosto de se misturá, queria o melhó dos dois mundo. Achô qui tinha conseguido o lugá das graça com a elite da nobreza casando com a siá Casta, filha das fidalguia das nossas terra, gente qui chegô nos primeiro carregamento de barco. Não funcionô, o siô só era chamado nas coisa do dia-a-dia, a alta-roda não lhe chamava quando a trama era apenas ornamental, coisas de aparecimento e bajulação.
Do mesmo jeito, o dono da casa dos molhado, o Gaspar Espanhol, o espanolito, mais parecido com algum castelhano fugido das bandas do Uruguai, mantinha sua casa vendendo o gênero alimentício líquido, não vendia xarope, não queria confusão com o Juca dos Remédios, nem colocava à venda cana da pura, pra não arrumá confusão com a taberna do Lagarto, qui cuidava de vendê vinho e as destilada. As bebida espirituosa era com o Fanho, mais tudo qui é gente, daqueles dias, conhecia o galpão dos fundos da casa dos molhado. Pra entrá, precisava convite do espanolito. A desatenção de cuidado com os escrúpulo, os imprudente com a honestidade, a ignorância, a seriedade de não alegrar-se, ficava com os fingimento das manhã no domingo ou as conversa no casarão da administração ou as tramoias no conselho da municipalidade. Ali, na era lugar de traição. Ser convidado para os folguedos do galpão do espanolito não tinha preço, mostrava o respeito qui o homem tinha entre os medianos. Os convite era disputado palmo a palmo, dependendo da noite e do atrativo, tinha cidadão dos mais respeitado qui saia no tapa pra conseguí a sua convocação pros serviço de putaria e jogatina. As noite mais procurada era a quarta noite, depois do domingo, o atrativo era o jogo do osso; na quinta noite, os convidado se reunia na mesa do carteado; na sexta noite, o galpão brilhava com o desfilá dos encanto amoroso. As donzela preta era disputada com seu peso em ouro, a vitória no arremate dava direito ao refúgio da alcova. Nas noite do sétimo dia, o Gaspar Espanhol organizava o bailado, as menina não podia aceitá intimidade qui não fosse das mão. O galpão dos fundo era o clube do espanolito: dos destilado, da mesa do carteado, do jogo do osso e das muita muié. Ele jurava qui casa de alcouce era com a Maria da Cobra, aquela congregação do divertimento não era nenhuma coisa nem outra, tava no meio, um novo subalterno da fidalguia qui se estabelecia na cidade. Foi a primeira confraria qui se soube a permití mistura das cô, as menina tinha qui tê boniteza, na cô qui fosse, a pele lisinha como massa de porcelana, e sabê serví  com vontade os membro convidado. Não fazê comentário sobre qualqué membro fora do galpão.
O espanolito diz qui conheceu outras casa qui oferecia as mesma utilidade, mais sem o atendimento e o divertimento qui o seu telheiro oferecia. Tinha té fogão de chão pra esquentá o mate. As moça era escolhida a dedo, rigorosamente, não queria nenhuma virgem
—        Sinhô Barros, essas donzela são muito metida com o choro, pouco compromisso com os serviço da alegria. Leva tempo pra educar.
O siô lhe retrucô
—        O amigo diz isso porque nunca tratou de se enfiar numa neguinha, toda assustada, que só se vê o branco dos olhos arregalados e a boca muda, o vivente fica numa fúria de usar o cravo na ferradura. Ela sabe que se gritar vai receber o castigo do rabo do relho. Essas apertadinhas são as melhores.
—        E o que o sinhô Barros acha do uso que faço desse dedo?
Enfiô o dedo no copo da destilada e levô na boca o varapau do meio da mão, o maió de todos tava sempre com a unha crescida, Uso como navalha
—        Quando chegar carregamento novo vou fazer avaliação das peça, fico com as menina pra educar, é de novinha que se ensina. Depois de bem acostumada com as instrução da educação, faço à venda ou o arrendamento.
Os dois soltaram as gargalhadas, ainda com os copos na mão, ofereceram um brinde as menina da cô e do amo, desceram num só gole a destilada
—        Vô indo.
—        Mais o sinhô Barros recém chegou.
O siô do Josino fez um gesto casual de enfarado
—        Tenho compromisso com os próceres da municipalidade, querem mais ligeireza na obra de Deus.
O Gaspar Espanhol ergueu os ombros e guardô os copo
—        Fica pra próxima.
—        Isso.
—        Vô lhe apresentar uma liberta, uma escurinha mui graciosa... acabei de comprar.
—        Fica pra próxima.
—        O sinhô manda por aqui.
—        Boas noites.
—        Com a graça de Deus.
—        Água e lenha todo dia venham.

—        Amém.

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Leia também:

Ensaio 14B - Largo da Forca

Ensaio 16B - Isso não tem preço

SÓ NÓS DOIS

NELSON GONÇALVES




Composição: Joaquim Pimentel

Só nós dois é que sabemos
O quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém
Só nós doi avaliamos
Este amor forte e profundo
Quando o amor acontece
Não pede licença ao mundo
Anda, abraça-me, beija-me
Encosta teu peito ao meu
Esquece o que vai na rua
Vem ser minha e serei teu
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Cá dentro da nossa porta
Só nós dois compreendemos
O calor dos nossos beijos
Só nós dois é que sofremos
A tortura dos desejos
Vamos viver o presente
Tal qual a vida nos dá
O que reserva o futuro
Só Deus sabe o que será
Anda, abraça-me, beija-me
Encosta teu peito ao meu
Esquece o que vai na rua
Vem ser minha e serei teu
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Cá dentro da nossa porta.


Luiza



Composição: Antônio Carlos Jobim

Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza


Ligia





A Casa do Tom




CHAPADÃO (Tom Jobim)

“Vou fazer a minha casa
No alto do chapadão
Vou levar o meu piano
Que ficou no Canecão

Vou fazer a minha casa
No alto do Chapadão
Vou levar Don’Aninha
Pra me dar inspiração

Vou fazer a minha casa
No alto de uma quimera
Vou criar um mundo novo
Vou criar nova megera

Vou fazer a minha casa
Com largura e comprimento
E peço ao Paulo uma sala
Pra botar Aninha dentro

Vou botar minha biruta
No taquaruçu de espinho
Vou fazer cama macia
Pra te amar devarinho

Seremos dois belezudos
Neste mundo de feiosos
As noites serão tranquilas
E os dias tão radiosos

Quero a minha casa feita
Com régua prumo e esmero
Quero tudo bem traçado
Quero tudo como eu quero

Quero tudo bem medido
De largura e comprimento
Não quero que minha casa
Me traga aborrecimento

Vou fazer a minha casa
Do alto de uma canção
E agradecer a Deus Pai
A sobrante inspiração

Sob a axila do Cristo
Neste sovaco cristão
Vou fazer a minha casa
No alto do Chapadão

E vou dar festa bonita
Com bebida e com garçom
E ao Lufa que foi amigo
Dou champagne com bombom

Vou fazer a minha casa
No centro do ribeirão
Quero muita água limpa
Pra lavar meu coração

Minha casa não terá
Nem sábado e nem domingo
Todo dia é dia santo
Todo dia é dia lindo

E dentro da minha casa
Nunca vai juntar poeira
Pelo meio dela passa
Uma enorme cachoeira

Quero água com fartura
Quero todo o riachão
Quero que no meu banheiro
Passe inteiro o ribeirão

Quero a casa em lugar alto
Ventilado e soalheiro
Quero da minha varanda
Contemplar o mundo inteiro”


Pela luz dos olhos teus



quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Largo da Forca

Ensaio 14B
baitasar
Josino chegô cansado, já ia tarde o fim do dia. Foi direto ao porão da casa dos lampião, precisava dá jeito no descanso da juntura dos ossos. Não achô na sua vontade, e, por certo, nem no capricho do padre, nenhuma necessidade de dizê da sua chegada. Dava os cumprimento do siô, se o vigário das alma querê, no dia depois. Baixô as vista até os pé, tinha os dois cansado de levá e guiá de volta sua corpulência, sentô pra arrancá os ferrão do mato, o embaraço tava cravado no solado. Alguns tirô, um qui outro deixô, coisa sem importância, a carne havia de comê os estorvo qui ficô.
Sentiu vontade de retrucá o couro. Saiu do porão como entrô: mudo. Ninguém lhe viu entrá ou saí. Preto caminha camuflado na escuridão, invisível, até pode existí, mais é como dormí e não sonhá, não vivê no sono. Josino não sonhava, mais na noite qui teve a Milagre na pedra do amô, sonhô, pela primeira vez, em muito tempo, qui a sua preta tinha se feito com cera, disfarçada numa vela queria iluminá o caminho dele. A cada vez, o Josino punha fogo na vela, ele via com claridade a viagem, mais a Milagre se desfazia a cada pouco da vela derretida. Não podia tê as duas. Passô a viagem pra cidade chateado com o sonho.
Chegô no rio e mergulhô, gostava de entrá nas água mais afastada da Arsenal, não tinha simpatia pelo Largo da Forca. Ficava enfiado, longe dali, na escuridão molhada, entranhado com a sola dos pé no lodo, a linha d’água na cintura. Podia não sê, não era, mais parecia livre. Gostava da noite, era quando se juntava com a Milagre.
A saudade incomodava, lhe agitava o dormí, assanhava o sono, mais era o lugá de passá as noite sem o uso das corrente. O siô sabia qui não fugia sem a Milagre. As canela agradecia aquela liberdade. Mergulhô e subiu, passô as mão na cara marcada, olhô a barriga da lua pendurada, como a rede de Oia boiando nas estrela, tava cismado com o feitiço da saudade, Essa nêga me tira o amansá, fingi qui não sabe qui me tirá o sossego, fingindo inocente. Ah, se esse homem pudesse, dava a terra, também o céu, esse rio, levava a Milagre pras terra dos preto livre, qui deve existí em algum lugá, Minha Milagre, ocê tá no meu coração dum jeito qui não quero mais ninguém, só tu muié. Não sabia se as água nos olho era do rio ou se as água do rio nascia das vista, uma abarrotava com a outra
—        Sai do rio, negro safado!
Não houve tempo de obedecê nem desobedecê, o chicote do jovem Capitão andô sobre as águas e alcançô o Josino, não escolheu lugá pra acertá. O inesperado da dô lhe fez grita dum jeito qui assustô o siô
—        Cuidado, Capitão! Não quero a mercadoria desarranjada para o uso!
O Capitão, fio do siô com a negra Rita, tinha o distintivo do pai num olho e a marca da mãe no outro olho, recolheu a contragosto o cipó de boi, no seu jeito de vê, o negro Josino precisava de mais corretivo
—        Sinhô, assim a negrada fica manhosa...
Perto dali, depois do pelourinho, entre a Arsenal e o Largo da Forca, no tempo do Josino menino, outro negro recebia nas carne o açoite qui lhe fazia cortá em tiras as costa, mais ninguém lhe arrancava um grito. O capitão-do-mato Maria da Cruz parô cansado de batê, queria ouví o gemido do negro. Mandô cortá uma tira de cada lado do saúva. Enquanto o ajudante das suas ordens lhe obedecia, recomendava cuidado, É preciso prudência de desinfetá com salmora e pimenta, depois é preciso cuidá da sangria com pólvora e brasa.
O alívio da desinfetação veio quando o negro desmaiado
—        Acorda, negro fujão!
O corpo do negro não lhe obedeceu.
Deu nova ordem
—        Aguadeiro!
O negro qui cuidava de levá água e matá a sede dos escravo se apresentô rápido. Parado, em pé, mudo. Esperando com a tina da água em uma das mãos
—        Joga fora essa água da tina!
Lançô a água da tina no chão da terra
—        Hoje, ocê e os fujão vão dormir com sede.
O aguadeiro ali, imóvel, desanimado, sem expressão
—        Recolhe no lugar da água o mijo dos macaco... é prá já! Quero a tina cheia!
O aguadeiro correu na direção dos negro acorrentado no pescoço, as mão atada nas costa, perfilado, um ao lado do outro, tratados com mais crueldade qui a selvageria dada aos castelhanos aprisionados, os negro precisava desaguá na tina
—        O macaco que se negar vai apanhar!
O aguadeiro ajoelhado pegava o varapau das virilha de cada negro e enfiava na tina, ordenhava até escutá o desmame e anunciava
—        Esse tá mijando!
Depois do último foi a sua vez
—        Aguadeiro!
Ele voltô com a tina cheia
—        Deixa ver... hum, se mijo valer alguma coisa, esses negro tão feito comigo! Espere! Vou misturar o mijo do branco com os negro! Joga!
O aguadeiro não entendeu, na dúvida, sempre ficava parado, aguardando o reforço da ordem
—        Joga no fujão, quero esse macaco acordado!
Jogô. Precisava jogá.
O capitão Maria da Cruz aproximô do negro acordado, não ouvia nenhum gemido, então, lhe deu um pontapé violento
—        Isso é pra ocê gemer com mais vontade, macaco fedido!
O negro não lamento da dô, ficô estendido no chão das terra perto da Arsenal, as mão amarrada nas costa. Dois bicho da tropa do capitão Maria da Cruz levaram os negro acorrentado até mais chegado da Arsenal, quando ainda não era Arsenal
—        Capitão Maria!
—        O que foi Exposto?
—        To achando que essa noite nenhum negro vai dormí depois do corretivo...
O sargento das suas ordens era o Exposto, mais um dos mestiço abandonado quando em criança, não sentia pena nem dó. Deu uns passo e olhô no redô. Os homem qui não cuidava os negro carregava uma tocha na mão.
O menino Josino escondia as vista e a pele no meio do mato na beirada do rio. Queria saí, mais não conseguia. Não ia abandoná de vê aquela maldade, havia de contá e contá de novo, té alguém escutá, havia de existí um branco sem maldade. Olhô pra trás e viu o padre apegado na cruz, parado, rezando. Assistia, como o menino Josino, a peversão da crueldade e da fúria, voltô as vista nas luz das tocha.
O Exposto voltô té o capitão Maria da Cruz
—        Capitão!
—        Tudo pronto?
—        Tudo pronto, capitão! Os negros tão lhe esperando...
Como um comandante imperial passô revista na tropa, num qui outro bateu com o cabo da enxada no varapau das virilha
—        Quando voltá pra dormir, cada negro vai tê o que lembrar.
Ninguém mexia as vista, cada preto respirava bem pouquinho
—        Me trás o fujão!
O menino olhô para o padre, parecia qui o homem de preto rezava, um Pai Nosso, um Ave Maria, não importô prô outro maritirizado, tem vez qui rezá é mais disperdício qui dizê uma blasfêmia. Viu o homem torturado, pensô no padre, na virgi, no céu, achô qui iam colocá o preto na cruz pra salvá os outro preto bão dos branco ruim. O vulto do preto fez o sinal da benção, rezava pelo espírito dos preto, o menino amaldiçoava a alma dos branco, vai custá pra se perdoá, o padre entrô na casa, homem bão, credospadre
—        Levanta o negro!
Dois soldado da tropa civil do capitão-do-mato Maria da Cruz ergueram o homem negro açoitado
—        Coloca de joelho!
Ficô ajoelhado, mudo das dô do açoite e das tira qui faltava nas nádegas. Ganhô um só golpe nos dente branco. A pancada saiu da mão qui empunhava o seu soco mais duro e violento. A força da batida pareceu tê quebrado um dente do coitado, fez brotá sangue, mais não fartô a vontade de batê qui atormentava o capitão da Cruz
—        Não lhe adiantô os aviso, de nada lhe serviu a queimadura do F na testa, nem a orelha cortada...
O menino Josino vomitô pela segunda vez, não entendia porque o sofrimento de alguém não aplacava a fúria daquele homem. Não tinha o fervô do padre na oração, nem a força da blasfêmia, nem a coragem daquele homem preto. Nenhum exército de preto ia vim pra salvá o homem preto daquele martírio. Pareceu ao menino qui escutava o padre escondido na casa gritando, Morrê não importa!
O menino Josino olhô o homem preto, firmô as vista até se aproximá, viu qui ele não tinha medo, nem esperança
—        Agarrá o macaco!
Um soldado agarrô um braço, outro soldado firmô o outro braço, o ajudante das ordens Exposto agarrô com muita firmeza a cabeça do homem preto . O polegá de cada mão apertava a testa e puxava a cabeça pra trás, até abrí a boca. O capitão Maria Cruz colocô na boca do preto um galho do mato. Depois com uma estaca de madeira quebrava os dente do homem preto, usava o martelo da outra mão
—        Vamos ver ocê fugir, agora! Corre negro! Corre negro! Corre!
O menino Josino suplicô
—        Solta as mão dele... — murmurava com as água das vista
—        Corre desgraçado!
O homem preto não tendo mais o qui fazê tentô fugí.  Correu um pouco e caiu. Os negros gritava pra levantá e fugí
—        Solta os cachorro!
Dois dos três cachorro logo lhe alcançaram. Tentô batê com os pé, gritô, assustô, mais as mordida carregava muita dô, levantô e caiu, perdia os pedaço. Fez corrida na água da Arsenal, as mordida rasgava a água barrenta. O capitão Maria da Cruz latia, latia, latia, esganiçava ordens à cachorrada.
O fugitivo daquela infâmia, desprotegido em nome da alma e da dô, entrô nas água mais e mais, a cachorrada não lhe deixava, perseguia os garrão, as perna, as costa, onde pudesse alcançá. Tentô afundá, mais os dente continuava arrancando pedaço. Quis agarrá um cachorro com os dente qui não tinha mais, tentô uma, duas vez, té qui afundô, se livrô das dentadura.
A cachorrada voltô pra mão do capitão Maria da Cruz, não paravam de mastigá. O capitão ajoelhô pra abraçá  os seus verdadeiros campeão, os homens por quem arriscaria a própria vida. Lambiam suas bota, a cara cabeluda e a boca amarelada com os dentes podres. Enfiô a mão num saco e retiro as duas tira das nádega do homem preto e jogo pra cima
—        Agora, vão dormir... já têm com o que sonhar.
O Exposto se aproximô
—        O capitão tem três cachorros danado de bão.
—        Mas já teve tempo que perdia um ou outro. Esses negro morde igual a cachorro, por isso, quebro os dente do macaco antes de soltar os cachorro.
—        Vivendo e aprendendo, capitão.
—        É isso, enquanto se vive estamos aprendendo.

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