sexta-feira, 17 de abril de 2015

Histórias de avoinha: O mundo não é um só... nem as leis


Ensaio 47B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar



Josino sentia muitas saudade de durmí com Milagres no feitio qui dava gosto durmí. O banzo das carne da muié ficô amargo em abundância, maió qui a paciência. Precisô das mão pra semeá a terra sem umbigo da senzala. Num tinha alegria aquela semeadura calada e esfomeada. Depois tratô de acalmá as mão. Elas tremia e apertava. Choromingô em silêncio dentro da escravidão
o aborrecimento
o cansaço
o mal-está
o tédio
o incompleto
o desgosto
a incerteza
num podê saí nem entrá
o vazio do mundo qui tinha pra num vivê
a frustração de sabê qui num havia de mudá
a alma sem semente
a desilusão qui num tinha ilusão
acorrentado na maldade
era muita tristeza aquela lonjura da muié com asa nos pé.

Os óio moiado num durmia, espreitava as coisa qui podia e num podia fazê. Só tinha um jeito: fugí pra longe, inté encontrá o lugá de liberdade qui os preto passante anunciava teimoso qui existia. Fugí com sua muié pra durmí as noite com gosto de vida e tê os fiô qui queria tê. Vê crescê as semente de baobá na sua velhice. Esperô inté os óio cansá de espreitá as treva e ficá esquecido

Sua benção, sinhô Padre, o siô da Hora acabô de chegá na reunião da Irmandade, entrô com o siô padre no coração
no estômago
no intestino
na veia da Villa
ele tava com a missão de garantí a porta da frente pro siô da Hora, graça recebida com as doação

Deus lhe abençoe, Conde Afonso da Hora, ele virô conde depois de casá com siá Casta, fia do verdadêro conde qui comprô o documento da sua reputação em negócio direto com a corte portuguesa. O siô da Hora fez negócio direto com o conde. Assim, ele pode num virá santo, mais tem a chance de virá mais otro irmão, isso com as graça das doação pra obra santa. A fidalguia num perdoa intrometido nem metido na porta dos fundo, mais cuida dos dedo qui carrega as jóia. Num corta a propria carne se num tem motivo

Sinhô Padre, me perdoe a tardança, mas foi preciso enfrentar um ou dois negros degenerados, antes do toque do sino da Câmara. De qualquer modo, com sino ou não esses infelizes vivem às nossas custas, esmolando ou fazendo serviços sem importância. Primeiro, querem comprar a carta da própria alforria. Depois, ficam jogados na Villa. Sem uso. Sem trabalho. Fazem filhos, isso sabem fazer esses infelizes. Chega ser nojento esses negrinhos mal cuidados, perambulando nas ruas. A Villa fica feia, suja e mal vista. Desde pequenos não gostam do trabalho, o siô padre lhe ofereceu a mão qui o conde beijô

Não se preocupe com a hora marcada, sinhô Conde. Estamos aguardando o sinhô Governador. Ainda não iniciamos a reunião, a casta dum círculo qui tinha reunião pra fortalecê os laço do negócio de cada um e a convivência com os interesses de todos da Irmandade. As pessoa mais bem-apessoada, gentil, honrada e fina da Villa. Pessoas de bem com laço de parentesco ou negócio.

Sinhô Padre, vou lhe fazer uma confissão e que ninguém nos ouça...

O sinhô Conde não acha melhor esperar o uso do confessionário?

É melhor ser agora, sinhô Padre. Depois... não vou lembrar. 

E que confissão é essa?

Se um dia, espero que nunca aconteça, com a graça de Deus, em nome do Pai Filho e Espírito Santo, que fique bem claro, esses negros ganharem a liberdade de viverem onde quiserem, como quiserem... vou continuar pensando neles como escravos, sem qualidade de uso. Isso não vai ter como mudar.

Não se torture, meu filho... só o Sinhô Deus sabe do futuro.

Eu sei, eu me conheço. Nunca vai passar essa vontade de usar o chicote.

Isso vai passar, meu filho... reze bastante.

Os dois tava conversando bem na entrada do salão. Um a um, conforme o siná do siô padre, os presente na reunião foi oferecê seus cumprimento. O tempo dos cumprimento e das palavra com educação nem foi tanto, mais deu pra ficá sem as mão
as palavra
e o chapéu,
mais num entregô o cipó.

Num era um deles, era deles... o hôme do cipó de boi.

Viu com os próprio óio os aviso qui escutô da boca da siá Casta, é bom ir, vosmecê deve ir, mas cuidado! Tem muito ganancioso no mesmo lugar, ele retrucô qui num tinha medo, sabia qui oferecimento e desfavô tão sempre junto, mais era preciso sabê o meió jeito pra deixá tudo controlado com os dono de tudo.

Uma riqueza qui num vinha das plantação adocicada da cana. Os doce da cana fez a construção dos engenho nas terra de tanta lonjura qui num dá pra medí a distância a passo. Aqui, era terra do boi e do cavalo, num tinha campo pra cana. A planta num vingô nas terra do gado. Os muito rico carrega o costume de muito tempo qui nasceu junto com a Villa: colocá o gado nas terra

Boa noite, sinhô Padre.

Boa noite, Coronel Sião. Quero lhe apresentar o Conde Afonso da Hora.

Seja bem-vindo, Conde.

Obrigado, Coronel Sião, os dois hôme tomava medida um do otro

Sinhô Conde, a confraria cultiva entre si uma amizade afetuosoa e silenciosa, mas estabelece regras rígidas.

Entendi, Coronel, o chefe das pulícia tinha suas dúvidas desse entendimento do conde, num queria deixá dúvida

Regras não podem ser quebradas.

Eu sei, eu sei... unidos pela conquista do chão sem necessidade do grão!

Muito bem, sinhô Conde. A confiança está no começo de tudo, eles num tinha regulação escrita nem achava necessidade tê, os muito rico raramente aparecia nas reunião, deixava com os rico a tarefa de ensiná os menos rico sobre fé, firmeza e respeito com os hábito antigo da Villa, fazemos o necessário para manter a tradição e os nossos costumes.

E se algum costume antigo não for bom?

É simples, mandamos reformar o costume. O jeito de tudo é o nosso. Escrever, falar, contar as histórias, as manias, as memórias são as nossas, num havia a arrogância da bravata, tava ali a profunda crença qui eles pode e sabe tudo. O conde precisava ficá mais atento, com sua licença, sinhô Conde, preciso trocar uma ou duas palavras com o sinhô Visconde Madeiro.

Esteja no seu gosto, Coronel.

O chefe das pulícia deu dois passo de afastamento e parô, voltô os passo, pediu a atenção do conde, mais uma coisinha, Conde...

Pois diga, meu amigo.

Quando se anda com a ralé o cheiro da bosta acompanha. Não sai, mesmo com limpeza refinada.

Otro leve cumprimento com a cabeça e o coroné se soltô na direção do juiz Madêro. O conde recordava os aconselhamento da siá Casta, não esqueça, meu esposo... faça os gestos da boa educação, os fingimentos de sempre, mas não aperte a mão de cada um, a menos que lhe ofereçam a mão para os cumprimentos, e não chame nenhum deles de amigo. Agora, serão seus irmãos.

Já na chegada o conde reparô qui a fidalguia tava toda ali. Num entrô na primeira chegada, o siô padre lhe  recomendô uma meió limpeza nas bota. Saiu e se raspô, bateu as bosta, cherô embaixo dos braço, resmungô, a melhor limpeza é com água, mas onde?, voltô inté o siô padre, tava pensativo, sorria, minha esposa, ainda bem que vosmecê obrigou esse seu marido comparecer nesta concentração das riquezas da Villa, um homem de negócios não pode perder uma oportunidade como essa.

A lembrança da esposa chamô otra inquietação, coisa boba, pensô, mas o que Dona Casta estaria fazendo, naquelas horas, por certo, apressô as resposta qui achava qui sabia ou tinha firmeza de julgamento, se preparando para dormir, sorriu da aparição qui teve, um sorriso de atrevimento, ah, se Dona Casta tivesse uma pequena conversa com Maria Cobra, desmanchô o riso, ficô sério, não, melhor não, esposa é esposa, precisa se preparar para os filhos, é melhor não conhecer Maria Cobra.

O desassossego do conde se misturava com o serviço secreto nas água da praia. Sorriu, tava impaciente com a própria nervura. Num tava rezando, mais inté pensô no feito, queria muito sê atendido, mais num era o causo, queria estar lá, vendo tudo ser feito.

Ele sabia qui num podia vê o desenrolá da própria tramóia nem podia se elogiá, num podia falá da sua esperteza. Isso num podia sê, mais queria notícia do local, queria sabê dos encaminhamento. Aproximô da janela. Num viu nada na esquina das água, isso é bom, o que não é visto não pode ser denunciado nem precisa ser perdoado. Rezô, sorria do costume de rezá, coisa qui aprendeu fazê sem pensá qui tava fazendo, não sei quem é mais casto, quem reza ou quem escuta a reza?

Virô as costa pra janela, oiô o salão com as vista do pirata, desajuizado o bastante pra desembracá a sua gula. Os pensamento do perigo num aplacava o riso, são uns idiotas, fingem que não existo, eu disfarço que não me importo. Eles aparentam, eu me escondo. Parecem tão felizes enquanto estão sendo enganados.

Colocô as vista no juiz das lei, visconde Madêro, destacava a brancura dos próprios cabelo e costeleta imensa enfiado na sua roupa preta. A conversa com o chefe das pulícia, coroné Sião, parecia sê muito desanimada, mais dava pra vê qui eles era da maió importância na Villa.

O prendedô e o julgadô.

Os aviso da siá Casta avivô, tudo de novo, parecia sê a luz dum farol pra lembrá onde ele tava, cuidado, meu esposo. Vosmecê precisa entrar no mundo que está acima do mundo, o mundo das fidalguia, sair debaixo deste mundo. Sei que o sinhô não precisa dos meus conselhos, mas não esqueça que o mundo não é um só, nem as leis. Elas existem para os naturais das classes debaixo, os outros homens da classe de cima têm as leis da Irmandade. As leis aparentam serem iguais, mas é disfarce. Elas têm muito uso para muitos, para outros nem tanto, e alguns, nem sabem que elas existem. Afinal, antes de impor sua vontade, a Irmandade olha a quem quando faz e aplica as leis. Não esqueça quando for escolher seus inimigos.

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