volume I
No Caminho de Swann
Tradução Mário Quintana
Prefácio
EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO vai começar. Abrimos as primeiras páginas do primeiro volume e somos convidados a entrar pelo Caminho de Swann.
Neste primeiro volume da obra, vamos conhecer a cidadezinha fictícia chamada “Combray”, lugar em que o herói do livro vem passar as férias de Páscoa com os pais, quando criança. Ali, eles recebem a visita de Swann, homem muito fino, colecionador de obras de arte, leitor cultivado, frequentador dos principais salões de Paris.
A Combray de Proust é a pequenina cidade de passado medieval que ainda mantém contato com os campos e sítios ao seu redor. Para chegar até eles, há dois caminhos possíveis: saindo pela porta da frente da casa, toma-se o de Méséglise, caminho mais curto, que passa pela propriedade de Swann; saindo pelo portão dos fundos, alcança-se o longo caminho de Guermantes, trilha fluvial que vai dar no castelo dessa família. Entrar pelo caminho de Swann é simplesmente tomar uma dessas opções de percurso que se oferecem ao caminhante. O caminho de Swann é, nesse primeiro sentido, apenas uma referência espacial com a qual se designa o itinerário a ser feito.
Já o outro significado desse título envolve a própria história da criança que vem com os pais em visita à cidade de Combray e que, muito mais tarde, vai se tornar o narrador do livro que estamos lendo. Para ele, percorrer o caminho de Swann é percorrer o mesmo trajeto da personagem Swann, experimentar as mesmas dores no amor, o ciúme, o contato com a arte e compreender como Swann pôde lidar com tudo isso. Em busca do tempo perdido começa, assim, como o início de uma caminhada, de uma longa caminhada de leitura do sentido da vida.
O primeiro volume também tem início com uma poderosa imagem de renascimento: a cidade de Combray e o tempo perdido são reencontrados na degustação de um simples bolinho mergulhado em uma xícara de chá, os mesmos que se tomava nas manhãs de domingo, antes da missa, quando criança.
A singeleza da imagem levou um dos maiores leitores de Proust, o crítico alemão Walter Benjamin (1897-1940), a se perguntar: “Seria lícito dizer que todas as vidas, obras e ações importantes nada mais são que o desdobramento imperturbável da hora mais banal, mais sentimental e mais frágil, da vida do seu autor?”.[1] É o que parece sugerir esse que é um dos episódios principais do livro de Proust, narrado logo nas primeiras páginas do livro.
Num monótono final de tarde de inverno, voltando para casa sozinho, o herói, já adulto, aceita tomar, contra seus hábitos, uma xícara de chá com um pequeno bolinho. Dessa pequena xícara sairá toda uma parte de sua infância que estava aparentemente sepultada.
E nós, leitores, podemos imaginar o crepúsculo de nossa existência, uma espécie de fim de tarde de nossas vidas em que, voltando para casa um pouco desanimados com mais um dia que se passou e com a triste perspectiva do dia que ainda virá, aceitamos das mãos de um amigo um livro que ele insiste em nos indicar com inexplicável veemência: Em busca do tempo perdido. Como o herói ao receber a xícara de chá das mãos de sua mãe, tomamos por educação o volume nas mãos e olhamos relativamente indiferentes para o título um tanto longo desse livro de quase três mil páginas, Em busca do tempo perdido. Mal suspeitamos que ele abrirá para nós as portas do jardim das delícias.
Não seria esse um sonho comum a todos nós? Sonho de, no momento de maior fragilidade e desesperança de nossa existência, no instante em que o tênue fio que nos prende à vida está prestes a romper-se ou, quando não, já há algum tempo se esvaiu, sem que o notássemos e, de repente, pudéssemos recuperar, sem qualquer esforço, uma vibração que nada mais é do que o sentido profundo de tudo aquilo que até então vivemos?
Qual não seria a alegria de poder atribuir sentido a uma existência sôfrega, a uma vida que parecia até então mero acúmulo inconsequente de encontros, alegrias e decepções? E, além de entrar em contato com a melhor parte de nós mesmos, poder identificar claramente traços luminosos de nosso próprio destino na vida de uma outra pessoa, de percorrer e decifrar o traçado delicado do caminho percorrido por alguém como Swann?
“Quando Proust descreve, numa passagem célebre, essa hora supremamente significativa, em sua própria vida, ele o faz de tal maneira que cada um de nós reencontra essa hora em sua própria existência.”[2]
A escrita de Proust produz identificação. Ela é um convite a entrar em contato com a força incomum das palavras e um desejo cego de felicidade. Por mais que se tenha lido e se conheça a história da literatura, nosso silêncio e concentração são percorridos por uma espécie de frêmito que, se pudesse ser formulado, seria a certeza de que nunca ninguém escreveu algo tão belo e grandioso.
O escritor André Gide (1869-1951), amigo de Proust, soube definir muito bem a experiência de leitura dos livros que compõem o Em busca do tempo perdido:
Tradução Mário Quintana
Prefácio
EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO vai começar. Abrimos as primeiras páginas do primeiro volume e somos convidados a entrar pelo Caminho de Swann.
Neste primeiro volume da obra, vamos conhecer a cidadezinha fictícia chamada “Combray”, lugar em que o herói do livro vem passar as férias de Páscoa com os pais, quando criança. Ali, eles recebem a visita de Swann, homem muito fino, colecionador de obras de arte, leitor cultivado, frequentador dos principais salões de Paris.
A Combray de Proust é a pequenina cidade de passado medieval que ainda mantém contato com os campos e sítios ao seu redor. Para chegar até eles, há dois caminhos possíveis: saindo pela porta da frente da casa, toma-se o de Méséglise, caminho mais curto, que passa pela propriedade de Swann; saindo pelo portão dos fundos, alcança-se o longo caminho de Guermantes, trilha fluvial que vai dar no castelo dessa família. Entrar pelo caminho de Swann é simplesmente tomar uma dessas opções de percurso que se oferecem ao caminhante. O caminho de Swann é, nesse primeiro sentido, apenas uma referência espacial com a qual se designa o itinerário a ser feito.
Já o outro significado desse título envolve a própria história da criança que vem com os pais em visita à cidade de Combray e que, muito mais tarde, vai se tornar o narrador do livro que estamos lendo. Para ele, percorrer o caminho de Swann é percorrer o mesmo trajeto da personagem Swann, experimentar as mesmas dores no amor, o ciúme, o contato com a arte e compreender como Swann pôde lidar com tudo isso. Em busca do tempo perdido começa, assim, como o início de uma caminhada, de uma longa caminhada de leitura do sentido da vida.
O primeiro volume também tem início com uma poderosa imagem de renascimento: a cidade de Combray e o tempo perdido são reencontrados na degustação de um simples bolinho mergulhado em uma xícara de chá, os mesmos que se tomava nas manhãs de domingo, antes da missa, quando criança.
A singeleza da imagem levou um dos maiores leitores de Proust, o crítico alemão Walter Benjamin (1897-1940), a se perguntar: “Seria lícito dizer que todas as vidas, obras e ações importantes nada mais são que o desdobramento imperturbável da hora mais banal, mais sentimental e mais frágil, da vida do seu autor?”.[1] É o que parece sugerir esse que é um dos episódios principais do livro de Proust, narrado logo nas primeiras páginas do livro.
Num monótono final de tarde de inverno, voltando para casa sozinho, o herói, já adulto, aceita tomar, contra seus hábitos, uma xícara de chá com um pequeno bolinho. Dessa pequena xícara sairá toda uma parte de sua infância que estava aparentemente sepultada.
E nós, leitores, podemos imaginar o crepúsculo de nossa existência, uma espécie de fim de tarde de nossas vidas em que, voltando para casa um pouco desanimados com mais um dia que se passou e com a triste perspectiva do dia que ainda virá, aceitamos das mãos de um amigo um livro que ele insiste em nos indicar com inexplicável veemência: Em busca do tempo perdido. Como o herói ao receber a xícara de chá das mãos de sua mãe, tomamos por educação o volume nas mãos e olhamos relativamente indiferentes para o título um tanto longo desse livro de quase três mil páginas, Em busca do tempo perdido. Mal suspeitamos que ele abrirá para nós as portas do jardim das delícias.
Não seria esse um sonho comum a todos nós? Sonho de, no momento de maior fragilidade e desesperança de nossa existência, no instante em que o tênue fio que nos prende à vida está prestes a romper-se ou, quando não, já há algum tempo se esvaiu, sem que o notássemos e, de repente, pudéssemos recuperar, sem qualquer esforço, uma vibração que nada mais é do que o sentido profundo de tudo aquilo que até então vivemos?
Qual não seria a alegria de poder atribuir sentido a uma existência sôfrega, a uma vida que parecia até então mero acúmulo inconsequente de encontros, alegrias e decepções? E, além de entrar em contato com a melhor parte de nós mesmos, poder identificar claramente traços luminosos de nosso próprio destino na vida de uma outra pessoa, de percorrer e decifrar o traçado delicado do caminho percorrido por alguém como Swann?
“Quando Proust descreve, numa passagem célebre, essa hora supremamente significativa, em sua própria vida, ele o faz de tal maneira que cada um de nós reencontra essa hora em sua própria existência.”[2]
A escrita de Proust produz identificação. Ela é um convite a entrar em contato com a força incomum das palavras e um desejo cego de felicidade. Por mais que se tenha lido e se conheça a história da literatura, nosso silêncio e concentração são percorridos por uma espécie de frêmito que, se pudesse ser formulado, seria a certeza de que nunca ninguém escreveu algo tão belo e grandioso.
O escritor André Gide (1869-1951), amigo de Proust, soube definir muito bem a experiência de leitura dos livros que compõem o Em busca do tempo perdido:
Que livros curiosos! Penetramos neles como em uma floresta encantada; desde as primeiras páginas nos perdemos, e ficamos felizes de nos perder; logo não sabemos mais por onde entramos nem a que distância nos encontramos da margem; em alguns momentos, parece que caminhamos sem avançar, e, em outros, que avançamos sem caminhar; vamos olhando tudo de passagem; não sabemos mais onde estamos, para onde vamos […][3]
É hora de penetrar nessa “floresta encantada” da memória, abrem-se aqui as primeiras trilhas do Caminho de Swann.
Guilherme Ignácio da Silva
continua na página 16...
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Leia também:
Volume 1
No Caminho de Swann (Prefácio)
No Caminho de Swann (Durante muito tempo)
Volume 2
Volume 3
Volume 4
Volume 5
Volume 6
Volume 7
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[2] Walter Benjamin, “A imagem de Proust”. In: Magia e técnica, arte e política. São Paulo, Brasiliense, 1994, p. 38.
[3] André Gide, “A propos de Marcel Proust”. In: Incidences. Paris, Gallimard, 1948, p. 46.
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Cronologia
1871 (10 de julho): Nascimento no número 96 da rua La Fontaine, em Auteuil, de Marcel Proust, filho do médico Adrien Proust (1834-1903) e de Jeanne Weil (1849-1905), filha de um rico agente de câmbio judeu.
1873 (24 de maio): Nascimento de Robert, irmão de Marcel, em Paris. Ele se tornará cirurgião e, como o pai, professor na Faculdade de Medicina.
1880 Primeira crise de asma de Marcel. Ele sofrerá a vida toda da doença.
1882 (até 1889): Estudos secundários no Lycée Condorcet, em Paris.
1888 Leituras de Barrès, Renan, Leconte de Lisle, Loti. Proust e seus colegas de escola redigem a Revue Verte, depois a Revue Lilas. Torna-se aluno de Alphonse Darlu, professor de filosofia enormemente admirado por ele.
1889 (até 1890): Alista-se como voluntário durante um ano no 76º Regimento de Infantaria, em Orléans, o que o dispensa dos três anos de serviço militar obrigatório. Um metro e 68 centímetros é a altura que consta de seu alistamento.
1890 Inscrição na Faculdade de Direito de Paris e na Escola de Ciências Políticas, sem muita convicção. Intensa vida mundana.
1891 Encontra-se com o pintor Jacques-Émile Blanche e com o escritor Oscar Wilde.
1892 A prima de Proust, Louise Neuburger, casa-se com Henri Bergson. Colaboração na revista Le Banquet. Seu amigo, o pintor Jacques-Émile Blanche, faz seu retrato a óleo.
1893 Colaboração na Revue Blanche. Conhece Robert de Montesquiou, que inspira a criação da personagem do barão de Charlus. Formado em Direito, ele se prepara para terminar o curso de Letras.
1895 Obtém seu diploma em Letras. Entra como assistente não remunerado na Biblioteca Mazarine, emprego que ele jamais exercerá. Começa a escrever na praia de Beg-Meil um projeto de romance que o ocupará até 1899 e que permanecerá inacabado (os esboços serão publicados mais tarde sob o nome Jean Santeuil). Amizade intensa com Lucien, filho do escritor Alphonse Daudet.
1896 Publicação do livro Plaisirs et les jours, com prefácio do escritor Anatole France, ilustrações de Madeleine Lemaire e “comentários musicais” do amigo Reynaldo Hahn. Trata-se de uma coletânea de textos na sua maioria já publicados na revista Le Banquet e na Revue Blanche.
1897 (6 de julho): Marcel enfrenta o jornalista Jean Lorrain em duelo por este ter insinuado que ele mantinha relações “particulares” com Lucien Daudet. Descoberta da obra de John Ruskin.
1898 Com a eclosão do “Caso Dreyfus”, de acusação do coronel judeu Albert Dreyfus de traição à França, Marcel, mais do que convicto de sua inocência, revela-se ardente “dreyfusard”, assinando o documento que pedia a revisão do caso.
1899 A paixão pela obra do crítico inglês John Ruskin o leva a traduzir e comentar duas de suas obras, com a ajuda de sua mãe e de Marie Nordlinger, prima inglesa de seu amigo Reynaldo Hahn.
1902 Em visita à Holanda, Marcel contempla aquele que considerará “o mais lindo quadro da história da pintura”, Vista de Delft, do pintor Vermeer.
1903 Morre seu pai, o médico sanitarista e professor na Faculdade de Medicina, Adrien Proust.
1904 Publicação da sua primeira tradução da obra de Ruskin, La bible d’Amiens.
1905 Morte de sua mãe, Jeanne Proust.
1906 Publicação de sua segunda tradução da obra de Ruskin, Sésame et les lys, com prefácio extremamente importante sobre a leitura, que, de certa forma, antecipa Contre Sainte-Beuve e No caminho de Swann [Du côté de chez Swann].
1908 Publicação de uma série de pastiches literários no jornal Le Figaro. No verão do mesmo ano, Marcel começa a trabalhar em um projeto misto de narrativa e crítica literária, em que, de um diálogo fictício com sua mãe, ele conseguiria formular suas objeções àquele que era considerado o maior crítico literário do século xix, Sainte-Beuve.
1909 (até 1910): As paredes de seu quarto recebem cobertura de cortiça. A obra se amplia consideravelmente e torna-se um projeto de romance. Ele passa a pensar em dois volumes de setecentas páginas cada; o primeiro, O tempo perdido, e o segundo, O tempo reencontrado, com o título geral Intermitências do coração [Intermittences du coeur].
1913 A obra recebe o título geral de Em busca do tempo perdido [À la recherche du temps perdu]. O primeiro volume, No caminho de Swann, é publicado no dia 13 de novembro, à custa do autor, na Editora Grasset. Céleste Albaret, mulher de seu chofer Odilon, começa a trabalhar para ele e só o deixará em 1922, com sua morte. Seu antigo chofer, Agostinelli, passa a ser seu secretário e datilógrafo, até que foge em dezembro para Mônaco.
1914 Agostinelli, por quem ele se afeiçoara muito, e que aprendia a pilotar utilizando o nome de “Swann”, morre em um acidente de avião. Proust prepara a edição do segundo volume, que, na época, devia ter como título O caminho de Guermantes [Le côté de Guermantes], a obra comportando ainda apenas três volumes. Com a declaração da guerra no dia 1º de agosto, seu editor, Grasset, é mobilizado e fica suspensa a edição. Odilon Albaret, seu chofer, também parte para a guerra, e sua mulher, Céleste, instala-se definitivamente na casa de Proust.
1914 (até 1918): Proust, muito doente e liberado do serviço militar, continua trabalhando em seu romance, que dobra de extensão.
1919 Proust publica na Nouvelle Revue Française um volume intitulado Pastiches et mélanges, que contém, entre outros, os pastiches outrora publicados no Le Figaro. Em junho é lançado enfim o segundo volume da obra, intitulado agora À sombra das raparigas em flor [À l’ombre des jeunes filles en fleurs], pelo qual Proust recebe o Prix Goncourt, maior prêmio literário francês.
1920 Publicação do terceiro volume, O caminho de Guermantes i.
1921 Publicação da segunda parte d’O caminho de Guermantes e da primeira parte do quarto volume, Sodoma e Gomorra. Mal-estar intenso após ter ido rever o Vista de Delft, de Vermeer, em uma exposição de pintura holandesa no museu do Jeu de Paume.
1922 Sodoma e Gomorra ii é publicado. Proust trabalha intensamente na preparação do quinto volume, A prisioneira [La prisonnière]; mas não tem tempo de corrigir a primeira datilografia do livro e morre no dia 18 de novembro, de pneumonia.
1923 A prisioneira é publicado por seu irmão, Robert Proust, e por Jacques Rivière, da Nouvelle Revue Française.
1925 Sai o sexto volume, Albertine desaparecida [Albertine Disparue] ou A fugitiva [La fugitive].
1927 Após cinco anos de sua morte, Robert Proust e Jacques Rivière conseguem dar forma aos manuscritos que contêm o último volume da obra, intitulado O tempo reencontrado [Le temps retrouvé].
1952 Publicação, sob direção de Bernard de Fallois, de Jean Santeuil, projeto de romance no qual Proust trabalhara entre os anos de 1895 e 1899.
1954 Publicação também por Fallois de fragmentos anteriores à Recherche, com o nome Contre Sainte-Beuve.
1962 Aquisição, pela Biblioteca Nacional, dos manuscritos de Proust
Cronologia
1871 (10 de julho): Nascimento no número 96 da rua La Fontaine, em Auteuil, de Marcel Proust, filho do médico Adrien Proust (1834-1903) e de Jeanne Weil (1849-1905), filha de um rico agente de câmbio judeu.
1873 (24 de maio): Nascimento de Robert, irmão de Marcel, em Paris. Ele se tornará cirurgião e, como o pai, professor na Faculdade de Medicina.
1880 Primeira crise de asma de Marcel. Ele sofrerá a vida toda da doença.
1882 (até 1889): Estudos secundários no Lycée Condorcet, em Paris.
1888 Leituras de Barrès, Renan, Leconte de Lisle, Loti. Proust e seus colegas de escola redigem a Revue Verte, depois a Revue Lilas. Torna-se aluno de Alphonse Darlu, professor de filosofia enormemente admirado por ele.
1889 (até 1890): Alista-se como voluntário durante um ano no 76º Regimento de Infantaria, em Orléans, o que o dispensa dos três anos de serviço militar obrigatório. Um metro e 68 centímetros é a altura que consta de seu alistamento.
1890 Inscrição na Faculdade de Direito de Paris e na Escola de Ciências Políticas, sem muita convicção. Intensa vida mundana.
1891 Encontra-se com o pintor Jacques-Émile Blanche e com o escritor Oscar Wilde.
1892 A prima de Proust, Louise Neuburger, casa-se com Henri Bergson. Colaboração na revista Le Banquet. Seu amigo, o pintor Jacques-Émile Blanche, faz seu retrato a óleo.
1893 Colaboração na Revue Blanche. Conhece Robert de Montesquiou, que inspira a criação da personagem do barão de Charlus. Formado em Direito, ele se prepara para terminar o curso de Letras.
1895 Obtém seu diploma em Letras. Entra como assistente não remunerado na Biblioteca Mazarine, emprego que ele jamais exercerá. Começa a escrever na praia de Beg-Meil um projeto de romance que o ocupará até 1899 e que permanecerá inacabado (os esboços serão publicados mais tarde sob o nome Jean Santeuil). Amizade intensa com Lucien, filho do escritor Alphonse Daudet.
1896 Publicação do livro Plaisirs et les jours, com prefácio do escritor Anatole France, ilustrações de Madeleine Lemaire e “comentários musicais” do amigo Reynaldo Hahn. Trata-se de uma coletânea de textos na sua maioria já publicados na revista Le Banquet e na Revue Blanche.
1897 (6 de julho): Marcel enfrenta o jornalista Jean Lorrain em duelo por este ter insinuado que ele mantinha relações “particulares” com Lucien Daudet. Descoberta da obra de John Ruskin.
1898 Com a eclosão do “Caso Dreyfus”, de acusação do coronel judeu Albert Dreyfus de traição à França, Marcel, mais do que convicto de sua inocência, revela-se ardente “dreyfusard”, assinando o documento que pedia a revisão do caso.
1899 A paixão pela obra do crítico inglês John Ruskin o leva a traduzir e comentar duas de suas obras, com a ajuda de sua mãe e de Marie Nordlinger, prima inglesa de seu amigo Reynaldo Hahn.
1902 Em visita à Holanda, Marcel contempla aquele que considerará “o mais lindo quadro da história da pintura”, Vista de Delft, do pintor Vermeer.
1903 Morre seu pai, o médico sanitarista e professor na Faculdade de Medicina, Adrien Proust.
1904 Publicação da sua primeira tradução da obra de Ruskin, La bible d’Amiens.
1905 Morte de sua mãe, Jeanne Proust.
1906 Publicação de sua segunda tradução da obra de Ruskin, Sésame et les lys, com prefácio extremamente importante sobre a leitura, que, de certa forma, antecipa Contre Sainte-Beuve e No caminho de Swann [Du côté de chez Swann].
1908 Publicação de uma série de pastiches literários no jornal Le Figaro. No verão do mesmo ano, Marcel começa a trabalhar em um projeto misto de narrativa e crítica literária, em que, de um diálogo fictício com sua mãe, ele conseguiria formular suas objeções àquele que era considerado o maior crítico literário do século xix, Sainte-Beuve.
1909 (até 1910): As paredes de seu quarto recebem cobertura de cortiça. A obra se amplia consideravelmente e torna-se um projeto de romance. Ele passa a pensar em dois volumes de setecentas páginas cada; o primeiro, O tempo perdido, e o segundo, O tempo reencontrado, com o título geral Intermitências do coração [Intermittences du coeur].
1913 A obra recebe o título geral de Em busca do tempo perdido [À la recherche du temps perdu]. O primeiro volume, No caminho de Swann, é publicado no dia 13 de novembro, à custa do autor, na Editora Grasset. Céleste Albaret, mulher de seu chofer Odilon, começa a trabalhar para ele e só o deixará em 1922, com sua morte. Seu antigo chofer, Agostinelli, passa a ser seu secretário e datilógrafo, até que foge em dezembro para Mônaco.
1914 Agostinelli, por quem ele se afeiçoara muito, e que aprendia a pilotar utilizando o nome de “Swann”, morre em um acidente de avião. Proust prepara a edição do segundo volume, que, na época, devia ter como título O caminho de Guermantes [Le côté de Guermantes], a obra comportando ainda apenas três volumes. Com a declaração da guerra no dia 1º de agosto, seu editor, Grasset, é mobilizado e fica suspensa a edição. Odilon Albaret, seu chofer, também parte para a guerra, e sua mulher, Céleste, instala-se definitivamente na casa de Proust.
1914 (até 1918): Proust, muito doente e liberado do serviço militar, continua trabalhando em seu romance, que dobra de extensão.
1919 Proust publica na Nouvelle Revue Française um volume intitulado Pastiches et mélanges, que contém, entre outros, os pastiches outrora publicados no Le Figaro. Em junho é lançado enfim o segundo volume da obra, intitulado agora À sombra das raparigas em flor [À l’ombre des jeunes filles en fleurs], pelo qual Proust recebe o Prix Goncourt, maior prêmio literário francês.
1920 Publicação do terceiro volume, O caminho de Guermantes i.
1921 Publicação da segunda parte d’O caminho de Guermantes e da primeira parte do quarto volume, Sodoma e Gomorra. Mal-estar intenso após ter ido rever o Vista de Delft, de Vermeer, em uma exposição de pintura holandesa no museu do Jeu de Paume.
1922 Sodoma e Gomorra ii é publicado. Proust trabalha intensamente na preparação do quinto volume, A prisioneira [La prisonnière]; mas não tem tempo de corrigir a primeira datilografia do livro e morre no dia 18 de novembro, de pneumonia.
1923 A prisioneira é publicado por seu irmão, Robert Proust, e por Jacques Rivière, da Nouvelle Revue Française.
1925 Sai o sexto volume, Albertine desaparecida [Albertine Disparue] ou A fugitiva [La fugitive].
1927 Após cinco anos de sua morte, Robert Proust e Jacques Rivière conseguem dar forma aos manuscritos que contêm o último volume da obra, intitulado O tempo reencontrado [Le temps retrouvé].
1952 Publicação, sob direção de Bernard de Fallois, de Jean Santeuil, projeto de romance no qual Proust trabalhara entre os anos de 1895 e 1899.
1954 Publicação também por Fallois de fragmentos anteriores à Recherche, com o nome Contre Sainte-Beuve.
1962 Aquisição, pela Biblioteca Nacional, dos manuscritos de Proust
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