volume III
O Caminho de Guermantes
Tradução Fernando Py
Prefácio
Tradução Fernando Py
Prefácio
O Caminho de Guermantes, terceiro romance do ciclo Em Busca do Tempo Perdido, pode parecer um tanto árido à primeira vista. De fato, após No Caminho de Swann e do lirismo de À Sombra das Moças em Flor, deparamo-nos com a atmosfera confinada dos salões, de pouca ação e muita conversa, onde a narrativa é pontuada de gracejos por vezes ridículos e tagarelices inconsequentes. Mas devemos estar atentos para perceber o conjunto e não nos perdermos na ilusão dos detalhes.
Este é o mais longo romance do ciclo. Nele cabem episódios díspares, embora perfeitamente ajustados ao fim visado pelo autor. Chegou a ser apontado como "romance de transição". E, apesar de essa designação ter sido aplicada ao livro em caráter, digamos, "restritivo", talvez seja apropriado mantê-la para explicar sua natureza e os propósitos de Proust ao escrevê-lo. O livro desenvolve temas já anteriormente explorados. Um deles, o da fascinação dos nomes sobre o Narrador, provém de "Nomes de lugares: o nome" (última parte de No Caminho de Swann). O Narrador se deixa seduzir pelos nomes de nobres e casas nobiliárquicas, a tal ponto que se julga apaixonado pela duquesa de Guermantes. Depois, crê-se apaixonado por outra mulher nova decepção. Tudo lhe parece transitório, e a morte de sua avó apenas contribui para reforçar essa ideia. Essa morte, colocada no meio do livro, tem uma função de marco divisório, o que melhor se verá nos romances subsequentes.
Mas o romance pode ser considerado "de transição" sob outros aspectos: transição entre a adolescência e a idade adulta do Narrador, entre a sensibilidade juvenil e a inteligência madura, entre a vida e a morte, esta igualmente prefigurada na doença terminal de Swann. E, acima de tudo, a transição entre o transcorrer do tempo e a apreensão da realidade: o Narrador se recorda e compara as ilusões do passado às certezas do presente. E o livro se encerra com sugestões várias que alimentam as expectativas pelos romances seguintes.
Fernando Py
continua na página 02...
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Leia também:
Volume 1
Volume 2
Volume 3
O Caminho de Guermantes (Prefácio)
O Caminho de Guermantes (1a.Parte - O chilreio matinal)
Volume 4
O Caminho de Guermantes (1a.Parte - O chilreio matinal)
Volume 4
Volume 5
Volume 6
Volume 7
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Cronologia
1871 (10 de julho): Nascimento no número 96 da rua La Fontaine, em Auteuil, de Marcel Proust, filho do médico Adrien Proust (1834-1903) e de Jeanne Weil (1849-1905), filha de um rico agente de câmbio judeu.
1873 (24 de maio): Nascimento de Robert, irmão de Marcel, em Paris. Ele se tornará cirurgião e, como o pai, professor na Faculdade de Medicina.
1880 Primeira crise de asma de Marcel. Ele sofrerá a vida toda da doença.
1882 (até 1889): Estudos secundários no Lycée Condorcet, em Paris.
1888 Leituras de Barrès, Renan, Leconte de Lisle, Loti. Proust e seus colegas de escola redigem a Revue Verte, depois a Revue Lilas. Torna-se aluno de Alphonse Darlu, professor de filosofia enormemente admirado por ele.
1889 (até 1890): Alista-se como voluntário durante um ano no 76º Regimento de Infantaria, em Orléans, o que o dispensa dos três anos de serviço militar obrigatório. Um metro e 68 centímetros é a altura que consta de seu alistamento.
1890 Inscrição na Faculdade de Direito de Paris e na Escola de Ciências Políticas, sem muita convicção. Intensa vida mundana.
1891 Encontra-se com o pintor Jacques-Émile Blanche e com o escritor Oscar Wilde.
1892 A prima de Proust, Louise Neuburger, casa-se com Henri Bergson. Colaboração na revista Le Banquet. Seu amigo, o pintor Jacques-Émile Blanche, faz seu retrato a óleo.
1893 Colaboração na Revue Blanche. Conhece Robert de Montesquiou, que inspira a criação da personagem do barão de Charlus. Formado em Direito, ele se prepara para terminar o curso de Letras.
1895 Obtém seu diploma em Letras. Entra como assistente não remunerado na Biblioteca Mazarine, emprego que ele jamais exercerá. Começa a escrever na praia de Beg-Meil um projeto de romance que o ocupará até 1899 e que permanecerá inacabado (os esboços serão publicados mais tarde sob o nome Jean Santeuil). Amizade intensa com Lucien, filho do escritor Alphonse Daudet.
1896 Publicação do livro Plaisirs et les jours, com prefácio do escritor Anatole France, ilustrações de Madeleine Lemaire e “comentários musicais” do amigo Reynaldo Hahn. Trata-se de uma coletânea de textos na sua maioria já publicados na revista Le Banquet e na Revue Blanche.
1897 (6 de julho): Marcel enfrenta o jornalista Jean Lorrain em duelo por este ter insinuado que ele mantinha relações “particulares” com Lucien Daudet. Descoberta da obra de John Ruskin.
1898 Com a eclosão do “Caso Dreyfus”, de acusação do coronel judeu Albert Dreyfus de traição à França, Marcel, mais do que convicto de sua inocência, revela-se ardente “dreyfusard”, assinando o documento que pedia a revisão do caso.
1899 A paixão pela obra do crítico inglês John Ruskin o leva a traduzir e comentar duas de suas obras, com a ajuda de sua mãe e de Marie Nordlinger, prima inglesa de seu amigo Reynaldo Hahn.
1902 Em visita à Holanda, Marcel contempla aquele que considerará “o mais lindo quadro da história da pintura”, Vista de Delft, do pintor Vermeer.
1903 Morre seu pai, o médico sanitarista e professor na Faculdade de Medicina, Adrien Proust.
1904 Publicação da sua primeira tradução da obra de Ruskin, La bible d’Amiens.
1905 Morte de sua mãe, Jeanne Proust.
1906 Publicação de sua segunda tradução da obra de Ruskin, Sésame et les lys, com prefácio extremamente importante sobre a leitura, que, de certa forma, antecipa Contre Sainte-Beuve e No caminho de Swann [Du côté de chez Swann].
1908 Publicação de uma série de pastiches literários no jornal Le Figaro. No verão do mesmo ano, Marcel começa a trabalhar em um projeto misto de narrativa e crítica literária, em que, de um diálogo fictício com sua mãe, ele conseguiria formular suas objeções àquele que era considerado o maior crítico literário do século xix, Sainte-Beuve.
1909 (até 1910): As paredes de seu quarto recebem cobertura de cortiça. A obra se amplia consideravelmente e torna-se um projeto de romance. Ele passa a pensar em dois volumes de setecentas páginas cada; o primeiro, O tempo perdido, e o segundo, O tempo reencontrado, com o título geral Intermitências do coração [Intermittences du coeur].
1913 A obra recebe o título geral de Em busca do tempo perdido [À la recherche du temps perdu]. O primeiro volume, No caminho de Swann, é publicado no dia 13 de novembro, à custa do autor, na Editora Grasset. Céleste Albaret, mulher de seu chofer Odilon, começa a trabalhar para ele e só o deixará em 1922, com sua morte. Seu antigo chofer, Agostinelli, passa a ser seu secretário e datilógrafo, até que foge em dezembro para Mônaco.
1914 Agostinelli, por quem ele se afeiçoara muito, e que aprendia a pilotar utilizando o nome de “Swann”, morre em um acidente de avião. Proust prepara a edição do segundo volume, que, na época, devia ter como título O caminho de Guermantes [Le côté de Guermantes], a obra comportando ainda apenas três volumes. Com a declaração da guerra no dia 1º de agosto, seu editor, Grasset, é mobilizado e fica suspensa a edição. Odilon Albaret, seu chofer, também parte para a guerra, e sua mulher, Céleste, instala-se definitivamente na casa de Proust.
1914 (até 1918): Proust, muito doente e liberado do serviço militar, continua trabalhando em seu romance, que dobra de extensão.
1919 Proust publica na Nouvelle Revue Française um volume intitulado Pastiches et mélanges, que contém, entre outros, os pastiches outrora publicados no Le Figaro. Em junho é lançado enfim o segundo volume da obra, intitulado agora À sombra das raparigas em flor [À l’ombre des jeunes filles en fleurs], pelo qual Proust recebe o Prix Goncourt, maior prêmio literário francês.
1920 Publicação do terceiro volume, O caminho de Guermantes i.
1921 Publicação da segunda parte d’O caminho de Guermantes e da primeira parte do quarto volume, Sodoma e Gomorra. Mal-estar intenso após ter ido rever o Vista de Delft, de Vermeer, em uma exposição de pintura holandesa no museu do Jeu de Paume.
1922 Sodoma e Gomorra ii é publicado. Proust trabalha intensamente na preparação do quinto volume, A prisioneira [La prisonnière]; mas não tem tempo de corrigir a primeira datilografia do livro e morre no dia 18 de novembro, de pneumonia.
1923 A prisioneira é publicado por seu irmão, Robert Proust, e por Jacques Rivière, da Nouvelle Revue Française.
1925 Sai o sexto volume, Albertine desaparecida [Albertine Disparue] ou A fugitiva [La fugitive].
1927 Após cinco anos de sua morte, Robert Proust e Jacques Rivière conseguem dar forma aos manuscritos que contêm o último volume da obra, intitulado O tempo reencontrado [Le temps retrouvé].
1952 Publicação, sob direção de Bernard de Fallois, de Jean Santeuil, projeto de romance no qual Proust trabalhara entre os anos de 1895 e 1899.
1954 Publicação também por Fallois de fragmentos anteriores à Recherche, com o nome Contre Sainte-Beuve.
1962 Aquisição, pela Biblioteca Nacional, dos manuscritos de Proust
1871 (10 de julho): Nascimento no número 96 da rua La Fontaine, em Auteuil, de Marcel Proust, filho do médico Adrien Proust (1834-1903) e de Jeanne Weil (1849-1905), filha de um rico agente de câmbio judeu.
1873 (24 de maio): Nascimento de Robert, irmão de Marcel, em Paris. Ele se tornará cirurgião e, como o pai, professor na Faculdade de Medicina.
1880 Primeira crise de asma de Marcel. Ele sofrerá a vida toda da doença.
1882 (até 1889): Estudos secundários no Lycée Condorcet, em Paris.
1888 Leituras de Barrès, Renan, Leconte de Lisle, Loti. Proust e seus colegas de escola redigem a Revue Verte, depois a Revue Lilas. Torna-se aluno de Alphonse Darlu, professor de filosofia enormemente admirado por ele.
1889 (até 1890): Alista-se como voluntário durante um ano no 76º Regimento de Infantaria, em Orléans, o que o dispensa dos três anos de serviço militar obrigatório. Um metro e 68 centímetros é a altura que consta de seu alistamento.
1890 Inscrição na Faculdade de Direito de Paris e na Escola de Ciências Políticas, sem muita convicção. Intensa vida mundana.
1891 Encontra-se com o pintor Jacques-Émile Blanche e com o escritor Oscar Wilde.
1892 A prima de Proust, Louise Neuburger, casa-se com Henri Bergson. Colaboração na revista Le Banquet. Seu amigo, o pintor Jacques-Émile Blanche, faz seu retrato a óleo.
1893 Colaboração na Revue Blanche. Conhece Robert de Montesquiou, que inspira a criação da personagem do barão de Charlus. Formado em Direito, ele se prepara para terminar o curso de Letras.
1895 Obtém seu diploma em Letras. Entra como assistente não remunerado na Biblioteca Mazarine, emprego que ele jamais exercerá. Começa a escrever na praia de Beg-Meil um projeto de romance que o ocupará até 1899 e que permanecerá inacabado (os esboços serão publicados mais tarde sob o nome Jean Santeuil). Amizade intensa com Lucien, filho do escritor Alphonse Daudet.
1896 Publicação do livro Plaisirs et les jours, com prefácio do escritor Anatole France, ilustrações de Madeleine Lemaire e “comentários musicais” do amigo Reynaldo Hahn. Trata-se de uma coletânea de textos na sua maioria já publicados na revista Le Banquet e na Revue Blanche.
1897 (6 de julho): Marcel enfrenta o jornalista Jean Lorrain em duelo por este ter insinuado que ele mantinha relações “particulares” com Lucien Daudet. Descoberta da obra de John Ruskin.
1898 Com a eclosão do “Caso Dreyfus”, de acusação do coronel judeu Albert Dreyfus de traição à França, Marcel, mais do que convicto de sua inocência, revela-se ardente “dreyfusard”, assinando o documento que pedia a revisão do caso.
1899 A paixão pela obra do crítico inglês John Ruskin o leva a traduzir e comentar duas de suas obras, com a ajuda de sua mãe e de Marie Nordlinger, prima inglesa de seu amigo Reynaldo Hahn.
1902 Em visita à Holanda, Marcel contempla aquele que considerará “o mais lindo quadro da história da pintura”, Vista de Delft, do pintor Vermeer.
1903 Morre seu pai, o médico sanitarista e professor na Faculdade de Medicina, Adrien Proust.
1904 Publicação da sua primeira tradução da obra de Ruskin, La bible d’Amiens.
1905 Morte de sua mãe, Jeanne Proust.
1906 Publicação de sua segunda tradução da obra de Ruskin, Sésame et les lys, com prefácio extremamente importante sobre a leitura, que, de certa forma, antecipa Contre Sainte-Beuve e No caminho de Swann [Du côté de chez Swann].
1908 Publicação de uma série de pastiches literários no jornal Le Figaro. No verão do mesmo ano, Marcel começa a trabalhar em um projeto misto de narrativa e crítica literária, em que, de um diálogo fictício com sua mãe, ele conseguiria formular suas objeções àquele que era considerado o maior crítico literário do século xix, Sainte-Beuve.
1909 (até 1910): As paredes de seu quarto recebem cobertura de cortiça. A obra se amplia consideravelmente e torna-se um projeto de romance. Ele passa a pensar em dois volumes de setecentas páginas cada; o primeiro, O tempo perdido, e o segundo, O tempo reencontrado, com o título geral Intermitências do coração [Intermittences du coeur].
1913 A obra recebe o título geral de Em busca do tempo perdido [À la recherche du temps perdu]. O primeiro volume, No caminho de Swann, é publicado no dia 13 de novembro, à custa do autor, na Editora Grasset. Céleste Albaret, mulher de seu chofer Odilon, começa a trabalhar para ele e só o deixará em 1922, com sua morte. Seu antigo chofer, Agostinelli, passa a ser seu secretário e datilógrafo, até que foge em dezembro para Mônaco.
1914 Agostinelli, por quem ele se afeiçoara muito, e que aprendia a pilotar utilizando o nome de “Swann”, morre em um acidente de avião. Proust prepara a edição do segundo volume, que, na época, devia ter como título O caminho de Guermantes [Le côté de Guermantes], a obra comportando ainda apenas três volumes. Com a declaração da guerra no dia 1º de agosto, seu editor, Grasset, é mobilizado e fica suspensa a edição. Odilon Albaret, seu chofer, também parte para a guerra, e sua mulher, Céleste, instala-se definitivamente na casa de Proust.
1914 (até 1918): Proust, muito doente e liberado do serviço militar, continua trabalhando em seu romance, que dobra de extensão.
1919 Proust publica na Nouvelle Revue Française um volume intitulado Pastiches et mélanges, que contém, entre outros, os pastiches outrora publicados no Le Figaro. Em junho é lançado enfim o segundo volume da obra, intitulado agora À sombra das raparigas em flor [À l’ombre des jeunes filles en fleurs], pelo qual Proust recebe o Prix Goncourt, maior prêmio literário francês.
1920 Publicação do terceiro volume, O caminho de Guermantes i.
1921 Publicação da segunda parte d’O caminho de Guermantes e da primeira parte do quarto volume, Sodoma e Gomorra. Mal-estar intenso após ter ido rever o Vista de Delft, de Vermeer, em uma exposição de pintura holandesa no museu do Jeu de Paume.
1922 Sodoma e Gomorra ii é publicado. Proust trabalha intensamente na preparação do quinto volume, A prisioneira [La prisonnière]; mas não tem tempo de corrigir a primeira datilografia do livro e morre no dia 18 de novembro, de pneumonia.
1923 A prisioneira é publicado por seu irmão, Robert Proust, e por Jacques Rivière, da Nouvelle Revue Française.
1925 Sai o sexto volume, Albertine desaparecida [Albertine Disparue] ou A fugitiva [La fugitive].
1927 Após cinco anos de sua morte, Robert Proust e Jacques Rivière conseguem dar forma aos manuscritos que contêm o último volume da obra, intitulado O tempo reencontrado [Le temps retrouvé].
1952 Publicação, sob direção de Bernard de Fallois, de Jean Santeuil, projeto de romance no qual Proust trabalhara entre os anos de 1895 e 1899.
1954 Publicação também por Fallois de fragmentos anteriores à Recherche, com o nome Contre Sainte-Beuve.
1962 Aquisição, pela Biblioteca Nacional, dos manuscritos de Proust
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