James Joyce
Parte 1
Parte 1
1
continuando...
Gritos jovens de vozes endinheiradas nos aposentos de Clive Kempthorpe. Caraspálidas: eles estouram de rir, um apertando a mão do outro. Ó, eu vou expirar! Dê a notícia gentilmente a ela, Aubrey! Eu vou morrer! Com tiras rasgadas da camisa dele açoitando o ar ele salta e cambaleia em volta da mesa, com as calças arriadas até os calcanhares, perseguido por Ades do Magdalen College com a tesoura de alfaiate. Uma cara de bezerro assustado enfeitada de marmelada. Eu não quero que tirem minhas calças! Não se faça de tolo comigo!
Gritos escapando da janela aberta assustando o pátio à noite. Um jardineiro surdo, vestindo um avental, com a máscara de Matthew Arnold, empurra sua ceifadeira no gramado sombrio observando atentamente as partículas saltitantes da relva.
Para nós... novo paganismo... omphalos.
– Deixe ele ficar – disse Stephen. – Não há nada de errado com ele a não ser à noite.
– Então o que é? – perguntou Buck Mulligan impacientemente. – Bote pra fora. Eu sou muito franco com você. O que é que você tem contra mim agora?
Eles pararam, olhando em direção ao promontório abrupto de Bray Head que jazia na água como o focinho de uma baleia adormecida. Stephen retirou seu braço tranquilamente.
– Você quer que eu lhe diga? – perguntou ele.
– Quero, o que é? – respondeu Buck Mulligan. – Eu não me lembro de nada.
Ele olhou para o rosto de Stephen enquanto falava. Uma brisa ligeira passou pela sua testa, abanando suavemente seu cabelo louro despenteado e revolvendo os pontos prateados de ansiedade em seus olhos.
Deprimido por sua própria voz, Stephen disse:
– Você se lembra do primeiro dia em que eu fui à sua casa depois da morte de minha mãe?
Buck Mulligan franziu a testa rapidamente e disse:
– O quê? Onde? Eu não consigo me lembrar de nada. Eu me lembro apenas de ideias e sensações. Por quê? Em nome de Deus o que aconteceu?
– Você estava preparando o chá – disse Stephen – e eu cruzei o patamar para pegar mais água quente. Sua mãe e algum visitante saíram da sala de estar. Ela perguntou a você quem estava em seu quarto.
– E daí? – disse Buck Mulligan. – O que é que eu disse? Eu esqueci.
– Você disse – respondeu Stephen –, Ó, é apenas Dedalus cuja mãe morreu como um animal.
Um rubor que o tornou mais jovem e mais atraente subiu às faces de Buck Mulligan.
– Eu disse isso? – perguntou. – Muito bem. Que mal há nisso?
Ele sacudiu nervosamente seu constrangimento para fora de si.
– E o que é a morte – perguntou –, a de sua mãe ou a sua ou a minha mesmo? Você só viu sua mãe morrer. Eu os vejo estourar todo dia no Mater Misericordiae e no Richmond e serem retalhados até as tripas na sala de dissecção. É uma coisa brutal e nada mais. Simplesmente não importa. Você não quis se ajoelhar para rezar por sua mãe em seu leito de morte quando ela lhe pediu. Por quê? Porque você tem aquele maldito traço jesuíta em você, só que injetado de forma errada. Para mim é tudo uma zombaria e aliás brutal. Os lóbulos cerebrais dela não estão funcionando. Ela chama o médico sir Peter Teazle e arranca flores douradas da colcha. Faça a vontade dela até que tudo termine. Você contrariou seu último desejo e no entanto fica amuado comigo porque eu não me lamurio como as carpideiras contratadas de Lalouette. Um absurdo! Suponho que eu tenha dito isso. Eu não tive intenção de ofender a memória de sua mãe.
Ele tinha ele próprio falado com atrevimento. Stephen, protegendo as feridas escancaradas que as palavras haviam deixado em seu coração, disse bastante friamente:
– Eu não estou pensando na ofensa à minha mãe.
– Em que então? – perguntou Buck Mulligan.
– Na ofensa a mim – respondeu Stephen.
Buck Mulligan rodou em seus calcanhares.
– Ó, criatura impossível! – exclamou ele.
Ele saiu caminhando rapidamente em volta do parapeito. Stephen ficou de pé em seu posto, olhando por cima do mar calmo em direção ao promontório. Mar e promontório ficaram escuros. Pulsações batiam em seus olhos, velando sua visão, e ele sentiu febre em suas faces.
Uma voz chamava alto de dentro da torre:
– Você está aí em cima, Mulligan?
– Estou indo – respondeu Buck Mulligan.
Ele se voltou para Stephen e disse:
– Olhe para o mar. O que lhe importam as ofensas? Acabe com Loyola, Kinch, e desça. O saxônico quer suas fatias finas de bacon da manhã.
Sua cabeça parou ainda por um momento no topo da escada, ao nível do telhado.
– Não fique desanimado com tudo isso o dia todo – disse ele. – Eu sou inconsequente. Desista de sua meditação ressentida.
Sua cabeça sumiu mas a lengalenga de sua voz ao descer ressoou para fora da escada.
– E basta de virar para o lado e meditar
Sobre o mistério amargo do amor
Pois Fergus comanda as carruagens de bronze.
Sombras-do-bosque flutuavam silenciosamente através da paz da manhã vindas do topo da escada em direção ao mar que ele contemplava. Dentro da praia e ao largo o espelho das águas esbranquiçadas, repelidas por pés apressados com calçados leves. Seio branco do mar sombrio. Os acentos entrelaçados, dois a dois. Dedos dedilhando as cordas da harpa, incorporando seus acordes entrelaçados. Ondabranca ligada às palavras bruxuleando na maré sombria.
Uma nuvem começou a cobrir o sol lentamente, totalmente, toldando a baía de um verde mais profundo. Ela jazia abaixo dele, a tigela de líquido amargo. A canção de Fergus: eu a cantei sozinho na casa, abafando os acordes longos e melancólicos. A porta dela estava aberta: ela queria ouvir a minha música. Silencioso com respeito e piedade eu fui para o lado de sua cama. Ela estava chorando em seu leito miserável. Por essas palavras, Stephen: mistério amargo do amor.
Aonde agora?
Os segredos dela: antigos leques-de-plumas, carnês de baile enfeitados, impregnados de almíscar, um berloque de contas de âmbar em sua gaveta trancada. Uma gaiola pendurada na janela ensolarada da casa dela quando ela era menina. Ela ouviu o velho Royce cantar na pantomima de Turko o Terrível e riu com os outros quando ele cantou:
Eu sou o rapazQue é capazDe invisibilidade.
Alegria fantásmica, embrulhada longe: perfumada-de-almíscar.
E basta de virar para o lado e meditar.
Embrulhada longe na memória da natureza com os brinquedos dela. Lembranças invadem seu cérebro ruminante. O copo da água da torneira da cozinha quando ela se aproximara do sacramento. Uma maçã sem o miolo, cheia de açúcar mascavo, assando para ela na beira da lareira numa noite escura de outono. Suas unhas bem modeladas avermelhadas pelo sangue dos piolhos espremidos das camisas dos filhos.
Num sonho, silenciosamente, ela viera até ele, seu corpo gasto dentro de suas largas roupas tumulares exalando um odor de cera e pau-rosa, seu sopro, curvado sobre ele com mudas palavras secretas, um fraco odor de cinzas molhadas.
Seus olhos vidrados, fitando de dentro da morte, para sacudir e subjugar minha alma. Só em mim. A velafantasma para iluminar sua agonia. Luz espectral sobre o rosto torturado. Seu sopro rouco estrepitando alto com horror, enquanto todos rezavam de joelhos. Os olhos dela sobre mim para me derrubar. Liliata rutilantium te confessorum turma circumdet: iubilantium te virginum chorus excipiat.
Espírito maléfico! Devorador de cadáveres!
Não, mãe! Me deixe em paz me deixe viver.
– Olá, Kinch!
A voz de Buck Mulligan cantou de dentro da torre. Ela se aproximou escada acima, chamando novamente. Stephen, tremendo ainda com o clamor de sua alma, ouviu correr a luz quente do sol e as palavras amigáveis no ar atrás de si.
– Dedalus, desça como um bom molenga. O café-da-manhã está pronto. Haines está se desculpando por nos ter acordado ontem à noite. Está tudo bem.
– Estou indo – disse Stephen, se virando.
– Faça isso, por Jesus – disse Buck Mulligan. – Por mim e por todos nós.
Sua cabeça desapareceu e reapareceu.
– Eu contei para ele o seu símbolo da arte irlandesa. Ele disse que é muito inteligente. Arranque uma libra dele, está bem? Ou melhor, um guinéu.
– Eu recebo esta manhã – disse Stephen.
– A grana da escola? – disse Buck Mulligan. – Quanto? Quatro libras? Empreste-nos uma.
– Se você quiser – disse Stephen.
– Quatro reluzentes soberanos – exclamou Buck Mulligan encantado. – Vamos tomar uma bebedeira gloriosa para espantar até os druidas druídicos. Quatro onipotentes soberanos.
– Quatro reluzentes soberanos – exclamou Buck Mulligan encantado. – Vamos tomar uma bebedeira gloriosa para espantar até os druidas druídicos. Quatro onipotentes soberanos.
– Ó, vamos ter momentos divertidos
Com uísque, cerveja e vinho bebidos!
Na coroação,
No dia da coroação!
Ó, vamos ter momentos divertidos
No dia da coroação!
Num sonho, silenciosamente, ela viera até ele, seu corpo gasto dentro de suas largas roupas tumulares exalando um odor de cera e pau-rosa, seu sopro, curvado sobre ele com mudas palavras secretas, um fraco odor de cinzas molhadas.
Seus olhos vidrados, fitando de dentro da morte, para sacudir e subjugar minha alma. Só em mim. A velafantasma para iluminar sua agonia. Luz espectral sobre o rosto torturado. Seu sopro rouco estrepitando alto com horror, enquanto todos rezavam de joelhos. Os olhos dela sobre mim para me derrubar. Liliata rutilantium te confessorum turma circumdet: iubilantium te virginum chorus excipiat.
Espírito maléfico! Devorador de cadáveres!
Não, mãe! Me deixe em paz me deixe viver.
– Olá, Kinch!
A voz de Buck Mulligan cantou de dentro da torre. Ela se aproximou escada acima, chamando novamente. Stephen, tremendo ainda com o clamor de sua alma, ouviu correr a luz quente do sol e as palavras amigáveis no ar atrás de si.
– Dedalus, desça como um bom molenga. O café-da-manhã está pronto. Haines está se desculpando por nos ter acordado ontem à noite. Está tudo bem.
– Estou indo – disse Stephen, se virando.
– Faça isso, por Jesus – disse Buck Mulligan. – Por mim e por todos nós.
Sua cabeça desapareceu e reapareceu.
– Eu contei para ele o seu símbolo da arte irlandesa. Ele disse que é muito inteligente. Arranque uma libra dele, está bem? Ou melhor, um guinéu.
– Eu recebo esta manhã – disse Stephen.
– A grana da escola? – disse Buck Mulligan. – Quanto? Quatro libras? Empreste-nos uma.
– Se você quiser – disse Stephen.
– Quatro reluzentes soberanos – exclamou Buck Mulligan encantado. – Vamos tomar uma bebedeira gloriosa para espantar até os druidas druídicos. Quatro onipotentes soberanos.
– Quatro reluzentes soberanos – exclamou Buck Mulligan encantado. – Vamos tomar uma bebedeira gloriosa para espantar até os druidas druídicos. Quatro onipotentes soberanos.
– Ó, vamos ter momentos divertidos
Com uísque, cerveja e vinho bebidos!
Na coroação,
No dia da coroação!
Ó, vamos ter momentos divertidos
No dia da coroação!
Luz solar quente se alegrando acima do mar. A tigela de barbear de níquel brilhava, esquecida, sobre o parapeito. Por que eu a levaria para baixo? Ou então a deixaria ali o dia todo, amizade esquecida?
Ele se encaminhou para ela, segurou-a nas mãos por um tempo, sentindo seu frescor, cheirando a baba viscosa da espuma de barba na qual estava enfiado o pincel. Assim também eu carreguei o turíbulo de incenso então em Clongowes. Eu sou um outro agora e no entanto o mesmo. Um servo também. Um servidor de um servo.
Na sala de estar abobadada e sombria da torre a figura vestida de penhoar de Buck Mulligan se movia rapidamente de um lado para o outro em volta da lareira, ocultando e revelando seu brilho amarelo. Dois raios suaves de luz caíram cruzando o chão lajeado vindos das elevadas barbacãs: e no encontro de seus raios uma nuvem de fumaça-de-carvão e exalações de gordura frita flutuavam, dando voltas.
– Nós vamos sufocar – disse Buck Mulligan. – Haines, abra aquela porta, por favor?
Stephen pôs a tigela de barbear no armário. Uma figura alta se ergueu da rede em que estivera sentada, foi até o vão da porta e abriu as portas internas.
– Você tem a chave? – perguntou uma voz.
– Dedalus a tem – disse Buck Mulligan. – Meu Jesusinho, estou sufocado!
Ele uivou, sem levantar os olhos do fogo:
– Kinch!
– Está na fechadura – disse Stephen, avançando.
A chave rangeu estridentemente ao rodar duas vezes e, quando a porta pesada foi escancarada, uma luz bem-vinda e um ar claro entraram. Haines ficou no vão da porta, olhando para fora. Stephen arrastou sua aprumada valise para a mesa e se sentou para esperar. Buck Mulligan atirou a fritura na travessa ao seu lado. Em seguida ele carregou a travessa e o bule grande de chá para a mesa, pousou-os nela pesadamente e suspirou de alívio.
– Eu estou derretendo – disse ele – como a vela observou quando... Mas, psiu! Nem mais uma palavra sobre o assunto! Kinch, acorde! Pão, manteiga, mel. Haines, venha. A boia está pronta. Abençoa-nos, Senhor, e a estas tuas dádivas. Onde está o açúcar? Ó, Cristo, não há leite.
Stephen apanhou o pão e o pote de mel e a manteigueira do armário. Buck Mulligan se sentou com súbito mau humor.
– Que espécie de hospedaria é esta? – disse ele. – Eu disse que ela viesse depois das oito.
– Nós podemos tomá-lo preto – disse Stephen sedento. – Há um limão no armário.
– Ó, dane-se você com suas noções peculiares de Paris! – disse Buck Mulligan. – Eu quero leite de Sandycove.
Haines veio da porta e disse calmamente:
– A mulher está vindo com o leite.
– As bênçãos de Deus recaiam sobre você! – exclamou Buck Mulligan, saltando da cadeira. – Sente-se. Sirva o chá aí. O açúcar está no saco. Olhe, eu não posso continuar me atrapalhando com esses malditos ovos.
Ele cortou os três ovos na travessa e atirou cada um deles nos três pratos, dizendo:
– In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti.
Haines se sentou para servir o chá.
– Eu estou dando dois tabletes de açúcar para cada um de vocês – disse ele. – Mas, nossa, Mulligan, você faz um chá forte, não?
Cortando fatias grossas de pão, Buck Mulligan disse com uma voz engabeladora de velha:
– Quando eu faz chá eu faz chá, como dizia a velha mãe Grogan. E quando eu faz água eu faz água.
– Por Deus, isto é chá – disse Haines.
Buck Mulligan continuou cortando e engabelando:
– Eu também, Sra. Cahill – disse ela. – Por Deus, mulher – disse a Sra. Cahill –, Deus mandou dizer para você não fazer os dois no mesmo bule.
Ele se encaminhou para ela, segurou-a nas mãos por um tempo, sentindo seu frescor, cheirando a baba viscosa da espuma de barba na qual estava enfiado o pincel. Assim também eu carreguei o turíbulo de incenso então em Clongowes. Eu sou um outro agora e no entanto o mesmo. Um servo também. Um servidor de um servo.
Na sala de estar abobadada e sombria da torre a figura vestida de penhoar de Buck Mulligan se movia rapidamente de um lado para o outro em volta da lareira, ocultando e revelando seu brilho amarelo. Dois raios suaves de luz caíram cruzando o chão lajeado vindos das elevadas barbacãs: e no encontro de seus raios uma nuvem de fumaça-de-carvão e exalações de gordura frita flutuavam, dando voltas.
– Nós vamos sufocar – disse Buck Mulligan. – Haines, abra aquela porta, por favor?
Stephen pôs a tigela de barbear no armário. Uma figura alta se ergueu da rede em que estivera sentada, foi até o vão da porta e abriu as portas internas.
– Você tem a chave? – perguntou uma voz.
– Dedalus a tem – disse Buck Mulligan. – Meu Jesusinho, estou sufocado!
Ele uivou, sem levantar os olhos do fogo:
– Kinch!
– Está na fechadura – disse Stephen, avançando.
A chave rangeu estridentemente ao rodar duas vezes e, quando a porta pesada foi escancarada, uma luz bem-vinda e um ar claro entraram. Haines ficou no vão da porta, olhando para fora. Stephen arrastou sua aprumada valise para a mesa e se sentou para esperar. Buck Mulligan atirou a fritura na travessa ao seu lado. Em seguida ele carregou a travessa e o bule grande de chá para a mesa, pousou-os nela pesadamente e suspirou de alívio.
– Eu estou derretendo – disse ele – como a vela observou quando... Mas, psiu! Nem mais uma palavra sobre o assunto! Kinch, acorde! Pão, manteiga, mel. Haines, venha. A boia está pronta. Abençoa-nos, Senhor, e a estas tuas dádivas. Onde está o açúcar? Ó, Cristo, não há leite.
Stephen apanhou o pão e o pote de mel e a manteigueira do armário. Buck Mulligan se sentou com súbito mau humor.
– Que espécie de hospedaria é esta? – disse ele. – Eu disse que ela viesse depois das oito.
– Nós podemos tomá-lo preto – disse Stephen sedento. – Há um limão no armário.
– Ó, dane-se você com suas noções peculiares de Paris! – disse Buck Mulligan. – Eu quero leite de Sandycove.
Haines veio da porta e disse calmamente:
– A mulher está vindo com o leite.
– As bênçãos de Deus recaiam sobre você! – exclamou Buck Mulligan, saltando da cadeira. – Sente-se. Sirva o chá aí. O açúcar está no saco. Olhe, eu não posso continuar me atrapalhando com esses malditos ovos.
Ele cortou os três ovos na travessa e atirou cada um deles nos três pratos, dizendo:
– In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti.
Haines se sentou para servir o chá.
– Eu estou dando dois tabletes de açúcar para cada um de vocês – disse ele. – Mas, nossa, Mulligan, você faz um chá forte, não?
Cortando fatias grossas de pão, Buck Mulligan disse com uma voz engabeladora de velha:
– Quando eu faz chá eu faz chá, como dizia a velha mãe Grogan. E quando eu faz água eu faz água.
– Por Deus, isto é chá – disse Haines.
Buck Mulligan continuou cortando e engabelando:
– Eu também, Sra. Cahill – disse ela. – Por Deus, mulher – disse a Sra. Cahill –, Deus mandou dizer para você não fazer os dois no mesmo bule.
Ele entregou bruscamente de cada vez aos seus companheiros de confusão uma fatia grossa de pão, espetada em sua faca.
– Isso é o povo para o seu livro, Haines – disse ele com muita veemência. – Cinco linhas de texto e dez páginas de notas sobre o povo e os peixesdeuses de Dundrum. Impressos pelas feiticeiras irmãs no ano do vento forte.
Ele se voltou para Stephen e perguntou numa bela voz intrigada, erguendo as sobrancelhas:
– Você se lembra, irmão, se o bule de chá da mãe Grogan é mencionado no Mabinogion ou nos Upanixades?
– Tenho dúvidas – disse Stephen seriamente.
– Tem mesmo? – disse Buck Mulligan no mesmo tom. – Suas razões, por favor?
– Eu imagino – disse Stephen enquanto comia – que isso nunca existiu nem dentro nem fora de Mabinogion. Acredita-se que mãe Grogan era parenta de Mary Ann.
Buck Mulligan sorriu encantado.
– Encantador! – disse ele com uma voz doce afetada, mostrando seus dentes brancos e piscando os olhos com prazer. – Você acha que era? Que encanto!
Então subitamente com todos os traços anuviados, ele resmungou com uma voz enrouquecida e irritante enquanto cortava de novo vigorosamente o pão:
– Pois a velha Mary Ann
Ela não liga a mínima.
Mas, arregaçando seu saiote...
Ele entupiu sua boca com a fritura e mastigou e zuniu.
– Isso é o povo para o seu livro, Haines – disse ele com muita veemência. – Cinco linhas de texto e dez páginas de notas sobre o povo e os peixesdeuses de Dundrum. Impressos pelas feiticeiras irmãs no ano do vento forte.
Ele se voltou para Stephen e perguntou numa bela voz intrigada, erguendo as sobrancelhas:
– Você se lembra, irmão, se o bule de chá da mãe Grogan é mencionado no Mabinogion ou nos Upanixades?
– Tenho dúvidas – disse Stephen seriamente.
– Tem mesmo? – disse Buck Mulligan no mesmo tom. – Suas razões, por favor?
– Eu imagino – disse Stephen enquanto comia – que isso nunca existiu nem dentro nem fora de Mabinogion. Acredita-se que mãe Grogan era parenta de Mary Ann.
Buck Mulligan sorriu encantado.
– Encantador! – disse ele com uma voz doce afetada, mostrando seus dentes brancos e piscando os olhos com prazer. – Você acha que era? Que encanto!
Então subitamente com todos os traços anuviados, ele resmungou com uma voz enrouquecida e irritante enquanto cortava de novo vigorosamente o pão:
– Pois a velha Mary Ann
Ela não liga a mínima.
Mas, arregaçando seu saiote...
Ele entupiu sua boca com a fritura e mastigou e zuniu.
continua na página 25...
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Ulisses - Parte 1 (1b): Gritos jovens de vozes endinheiradas
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Joyce, James
Ulisses [recurso eletrônico] / James Joyce ; tradução Bernardina da Silveira Pinheiro ; [seleção, elaboração e tradução das notas de capítulos Flavia Maria Samuda]. - Rio de Janeiro : Objetiva, 2010. Romance irlandês.
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