quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

V – Mitologia dos Orixás: Erinlê [60]


Erinlê — Inlé — Ibualama
Reginaldo Prandi

Erinlé transforma-se em rio e encontra Oxum
Erinlé, o orixá caçador e guerreiro, um dia conheceu Orunmilá e tornaram-se amigos.

Erinlé necessitava de dinheiro e seu amigo Orunmilá emprestou-lhe o necessário.
O tempo passou e Orunmilá teve que voltar a Ifé.

Como Erinlé não tinha como saldar a dívida, foi procurar a orientação do babalaô.

O oráculo mandou que fizesse oferendas, pois assim conseguiria todo o dinheiro que devia e muito mais.

Mas as oferendas eram demasiadamente dispendiosas e Erinlé não pôde fazer o sacrifício.
Erinlé sem saída estava completamente envergonhado.

Foi até o ermo local onde costumava caçar, depositou seus instrumentos de caçador no chão e desapareceu solo adentro.
Junto ao seu ofá restou apenas uma quartinha d’água.
Seus filhos desesperados, procuraram Orunmilá para orientá-los na busca do pai.

Orunmilá disse-lhes que talvez não o vissem nunca mais, mas que fizessem oferendas e teriam ao menos um sinal do caçador.

Os filhos de Erinlé o procuraram por tudo quanto era canto.
Um dia, chegando ao local misterioso onde Erinlé desaparecera, depararam com as armas do pai junto à quartinha d’água.

Ali então ofereceram muitos galos por Erinlé, chamando insistentemente pelo pai.
Logo a quartinha transbordou e a água passou a jorrar em abundância, escorrendo para o chão.

O jorro d’água tomou um curso mata adentro, avolumou-se e formou um novo rio.

É Oxum, o rio Oxum, que parte de Ijumu e corre ao encontro de Erinlé.

Em Edê os dois se juntam num único e caudaloso e calmo rio, são as águas tranquilas que correm juntas para a lagoa.
Da união de Oxum com Enrilé nasceu Logum Edé.
Tempos depois, junto ao rio Erinlé, num lugar chamado Ibualama, profundeza das águas, os devotos instituíram um templo para Erinlé.
Por causa do nome do lugar, o Caçador, que também se chama Inlé, passou a ser conhecido como Ibualama.
[60]
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.

Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.


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