quarta-feira, 9 de março de 2016

4. Pedro Páramo: Me había quedado - Juan Rulfo

Juan Rulfo



4. Pedro Páramo: Me había quedado



Me había quedado en Comala. El arriero, que se siguió de filo, me informó todavía antes de despedirse: 

-Yo voy más allá, donde se ve la trabazón de los cerros. Allá tengo mi casa. Si usted quiere venir, será bienvenido. Ahora que si quiere quedarse aquí, ahí se lo haiga; aunque no estaría por demás que le echara una ojeada al pueblo, tal vez encuentre algún vecino viviente. 

Y me quedé. A eso venía. 

-¿Dónde podré encontrar alojamiento? -le pregunté ya casi a gritos. 

-Busque a doña Eduviges, si es que todavía vive. Dígale que va de mi parte. 

-¿Y cómo se llama usted? 

-Abundio -me contestó. Pero ya no alcancé a oír el apellido.


-Soy Eduviges Dyada. Pase usted. 

Parecía que me hubiera estado esperando. Tenía todo dispuesto, según me dijo, haciendo que la siguiera por una larga serie de cuartos oscuros, al parecer desolados. Pero no; porque, en cuanto me acostumbré a la oscuridad y al delgado hilo de luz que nos seguía, vi crecer sombras a ambos lados y sentí que íbamos caminando a través de un angosto pasillo abierto entre bultos. 

-¿Qué es lo que hay aquí? -pregunté. 

-Tiliches -me dijo ella-.Tengo la casa toda entilichada. La escogieron para guardar sus muebles los que se fueron, y nadie ha regresado por ellos. Pero el cuarto que le he reservado está al fondo. Lo tengo siempre descombrado por si alguien viene. ¿De modo que usted es hijo de ella? 

-¿De quién? -respondí. 

-De Doloritas. 

-Sí, pero ¿cómo lo sabe? 

-Ella me avisó que usted vendría. Y hoy precisamente. Que llegaría hoy. 

-¿Quién? ¿Mi madre? 

-Sí. Ella. 

Yo no supe qué pensar. Ni ella me dejó en qué pensar: 

-Éste es su cuarto -me dijo. 

No tenía puertas, solamente aquella por donde habíamos entrado. Encendió la vela y lo vi vacío. 

-Aquí no hay dónde acostarse -le dije. 

-No se preocupe por eso. Usted ha de venir cansado y el sueño es muy buen colchón para el cansancio. Ya mañana le arreglaré su cama. Como usted sabe, no es fácil ajuarear las cosas en un dos por tres. Para eso hay que estar prevenido, y la madre de usted no me avisó sino hasta ahora. 

-Mi madre -dije-, mi madre ya murió. 

-Entonces ésa fue la causa de que su voz se oyera tan débil, como si hubiera tenido que atravesar una distancia muy larga para llegar hasta aquí. Ahora lo entiendo. ¿Y cuánto hace que murió? 

-Hace ya siete días. 

-Pobre de ella. Se ha de haber sentido abandonada. Nos hicimos la promesa de morir juntas. De irnos las dos para darnos ánimo una a la otra en el otro viaje, por si se necesitara, por si acaso encontrábamos alguna dificultad. Éramos muy amigas. ¿Nunca le habló de mí? 

-No, nunca. 

-Me parece raro. Claro que entonces éramos unas chiquillas. Y ella estaba apenas recién casada. Pero nos queríamos mucho. Tu madre era tan bonita, tan, digamos, tan tierna, que daba gusto quererla. Daban ganas de quererla. ¿De modo que me lleva ventaja, no? Pero ten la seguridad de que la alcanzaré. Sólo yo entiendo lo lejos que está el cielo de nosotros; pero conozco cómo acortar las veredas. Todo consiste en morir, Dios mediante, cuando uno quiera y no cuando Él lo disponga. O, si tú quieres, forzarlo a disponer antes de tiempo. Perdóname que te hable de tú; lo hago porque te considero como mi hijo. Sí, muchas veces dije: «El hijo de Dolores debió haber sido mío». Después te diré por qué. Lo único que quiero decirte ahora es que alcanzaré a tu madre en alguno de los caminos de la eternidad. 

Yo creía que aquella mujer estaba loca. Luego ya no creí nada. Me sentí en un mundo lejano y me dejé arrastrar. Mi cuerpo, que parecía aflojarse, se doblaba ante todo, había soltado sus amarras y cualquiera podía jugar con él como si fuera de trapo. 

-Estoy cansado -le dije. 

-Ven a tomar antes algún bocado. Algo de algo. Cualquier cosa. 

-Iré. Iré después.



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El mexicano Juan Rulfo (1918-1986) figura, a pesar de la brevedad de su obra, entre los grandes renovadores de la narrativa hispanoamericana del siglo XX. De formación autodidacta, trabajó como guionista para el cine y la televisión. Con sólo dos obras de ficción publicadas -el libro de relatos El llano en llamas y la novela Pedro Páramo-, ha ejercido una decisiva influencia en la literatura en castellano del último medio siglo. En 1983 recibió el premio Príncipe de Asturias de las Letras.


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4. Pedro Páramo: Eu tinha ficado




EU TINHA FICADO em Comala. O tropeiro, que seguiu em frente, ainda antes de se despedir, me informou: 

— Eu vou adiante, lá onde se vê o encontro dos montes. Lá fica a minha casa. Se o senhor quiser vir, será bem-vindo. Agora, se quiser ficar aqui, que assim seja; mas até que não seria demais dar uma olhada no povoado, vai ver o senhor encontra algum ser vivente. 

E fiquei. Vim para isso. 

— Onde poderei encontrar alojamento? — perguntei quase que aos gritos. 

— Procure a dona Eduviges, se é que ela ainda está viva. Diga a ela que eu recomendei. 

— E como é que o senhor se chama? 

— Abundio — respondeu. Mas não consegui ouvir o sobrenome. 



— SOU EDUVIGES Dyada. Entre, senhor. 

Era como se estivesse à minha espera. Tinha tudo pronto, pelo que me disse, fazendo que eu a seguisse por uma longa série de quartos escuros, que pareciam desolados. Mas não; porque assim que me acostumei ao escuro e ao delgado fio de luz que nos seguia, vi crescerem sombras em ambos os lados e senti que íamos caminhando através de um corredor estreito aberto entre vultos. 

— O que é que tem aqui? — perguntei. 

— Trastes velhos — me disse ela. — Estou com a casa toda entrastada. Fui escolhida para guardar os móveis dos que foram embora, e ninguém regressou atrás deles. Mas o quarto que reservei para o senhor fica nos fundos. Deixo esse quarto sempre vazio, para o caso de chegar alguém. E quer dizer então que o senhor é filho dela? 

— Ela quem? 

— Doloritas. 

— Sou, mas como é que a senhora sabe? 

— Ela me avisou que o senhor viria. E justamente hoje. Que chegaria hoje. 

— Quem avisou? Minha mãe? 

— Sim. Ela. 

E eu não soube o que pensar. Nem ela me deixou pensar: 

— Este aqui é o seu quarto. Não tinha portas, somente aquela pela qual havíamos entrado. Ela acendeu a vela e eu vi o vazio. 

— Aqui não tem onde deitar. 

— Não se preocupe com isso. O senhor deve estar cansado e o sono é um colchão muito bom para o cansaço. Amanhã eu arrumo a sua cama. Como o senhor sabe, não é fácil ajeitar tudo num dois-por-três. Para isso é preciso andar prevenido, e sua mãe só me avisou agora. 

— Minha mãe — eu disse –, minha mãe já morreu. 

— Com razão a voz dela estava tão fraca, como se tivesse precisado atravessar uma distância muito grande até chegar aqui. Agora eu entendo. E morreu faz quanto tempo? 

— Já faz sete dias. 

— Coitada dela. Deve ter-se sentido abandonada. Fizemos a promessa de morrer juntas. De irmos embora nós duas, para dar ânimo uma à outra durante a viagem, se fosse preciso, se por acaso encontrássemos alguma dificuldade. Éramos muito amigas. Ela nunca falou de mim para o senhor? 

— Não, nunca. 

— Acho estranho. Claro que naquela época éramos menininhas. E ela era recém-casada. Mas nós duas gostávamos muito uma da outra. Sua mãe era tão bonita, tão, digamos, tão doce, que dava gosto gostar dela. Dava vontade de gostar dela. Quer dizer então que ela foi-se embora na frente, não é mesmo? Mas tenha certeza de que vou alcançá-la. Só eu entendo como o céu está longe de nós; mas sei como encurtar as veredas. Tudo consiste em morrer, graças a Deus, quando a gente quiser e não quando Ele dispuser. Ou, se você preferir, forçá-lo a querer antes da hora. Perdoe chamar o senhor de você; se faço isso é porque o considero como filho. Sim, muitas vezes eu disse; “O filho de Dolores deveria ter sido meu.” Depois eu conto por quê. A única coisa que quero dizer agora é que alcançarei sua mãe em algum dos caminhos da eternidade. 

Eu achava que aquela mulher estava louca. Depois não achei mais nada. Eu me senti num mundo distante e deixei-me arrastar. Meu corpo, que parecia afrouxar-se, dobrava-se diante de tudo, havia soltado suas amarras e qualquer um podia brincar com ele como se fosse de trapo. 

— Estou cansado — disse a ela. 

— Antes venha comer alguma coisa. Uma coisinha. Qualquer coisa. 

— Vou. Depois vou.





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Rulfo, Juan Pedro Páramo / tradução e prefácio de Eric Nepomuceno. — Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. Tradução de: Pedro Páramo ISBN 978-85-7799-116-7 1. Romance mexicano. I. Nepomuceno, Eric. II. Título

Pedro Páramo – Romance mais aclamado da literatura mexicana, Pedro Páramo é o primeiro de dois livros lançados em toda a vida de Juan Rulfo. O enredo, simples, trata da promessa feita por um filho à mãe moribunda, que lhe pede que saia em busca do pai, Pedro Páramo, um malvado lendário e assassino. Juan Preciado, o filho, não encontra pessoas, mas defuntos repletos de memórias, que lhe falam da crueldade implacável do pai. Vergonha é o que Juan sente. Alegoricamente, é o México ferido que grita suas chagas e suas revoluções, por meio de uma aldeia seca e vazia onde apenas os mortos sobrevivem para narrar os horrores da história. O realismo fantástico como hoje se conhece não teria existido sem Pedro Páramo; é dessa fonte que beberam o colombiano Gabriel Garcia Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, que também narram odisseias latino-americanas.

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