sábado, 4 de junho de 2016

12. Pedro Páramo: Fue muy fácil encampanarse a la Dolores - Juan Rulfo

Juan Rulfo




12. Pedro Páramo: Fue muy fácil encampanarse a la Dolores





Fue muy fácil encampanarse a la Dolores. Si hasta le relumbraron los ojos y se le descompuso la cara. 

-Perdóneme que me ponga colorada, don Fulgor. No creí que don Pedro se fijara en mí. 

-No duerme, pensando en usted. 

-Pero si él tiene de dónde escoger. Abundan tantas muchachas bonitas en Comala. ¿Qué dirán ellas cuando lo sepan? 

-Él sólo piensa en usted, Dolores. De ahí en más, en nadie. 

-Me hace usted que me den escalofríos, don Fulgor. Ni siquiera me lo imaginaba. 

-Es que es un hombre tan reservado. Don Lucas Páramo, que en paz descanse, le llegó a decir que usted no era digna de él. Y se calló la boca por pura obediencia. Ahora que él ya no existe, no hay ningún impedimiento. Fue su primera decisión; aunque yo había tardado en cumplirla por mis muchos quehaceres. Pongamos por fecha de la boda pasado mañana. ¿Qué opina usted? 

-¿No es muy pronto? No tengo nada preparado. Necesito encargar los ajuares. Le escribiré a mi hermana. O no, mejor le voy a mandar un propio, pero de cualquier manera no estaré lista antes del 8 de abril. Hoy estamos a 1. Sí, apenas para el 8. Dígale que espere unos diyitas. 

-Él quisiera que fuera ahora mismo. Si es por los ajuares, nosotros se los proporcionaremos. La difunta madre de don Pedro espera que usted vista sus ropas. En la familia existe esa costumbre. 

-Pero además hay algo para estos días. Cosas de mujeres, sabe usted. ¡Oh!, cuánta vergüenza me da decirle esto, don Fulgor. Me hace usted que se me vayan los colores. Me toca la luna. ¡Oh!, qué vergüenza. 

-¿Y qué? El matrimonio no es asunto de si haya o no haya luna. Es cosa de quererse. Y, en habiendo esto, todo lo demás sale sobrando. 

-Pero es que usted no me entiende, don Fulgor. 

-Entiendo. La boda será pasado mañana. 

Y la dejó con los brazos extendidos pidiendo ocho días, nada más ocho días. 

«Que no se me olvide decirle a don Pedro -¡vaya muchacho listo ese Pedro!-, decirle que no se le olvide decirle al juez que los bienes son mancomunados. "Acuérdate, Fulgor, de decírselo mañana mismo."» 

La Dolores, en cambio, corrió a la cocina con un aguamanil para poner agua caliente: «Voy a hacer que esto baje más pronto. Que baje esta misma noche. Pero de todas maneras me durará mis tres días. No tendrá remedio. ¡Qué felicidad! ¡Oh, qué felicidad! Gracias, Dios mío, por darme a don Pedro». Y añadió: «Aunque después me aborrezca». 



-Ya está pedida y muy de acuerdo. El padre cura quiere sesenta pesos por pasar por alto lo de las amonestaciones. Le dije que se le darían a su debido tiempo. Él dice que le hace falta componer el altar y que la mesa de su comedor está toda desconchinflada. Le prometí que le mandaríamos una mesa nueva. Dice que usted nunca va a misa. Le prometí que iría. Y desde que murió su abuela ya no le han dado los diezmos. Le dije que no se preocupara. Está conforme. 

-¿No le pediste algo adelantado a la Dolores? 

-No, patrón. No me atreví. Ésa es la verdad. Estaba tan contenta que no quise estropearle su entusiasmo. 

-Eres un niño. 

«¡Vaya! Yo un niño. Con 55 años encima. Él apenas comenzando a vivir y yo a pocos pasos de la muerte.» 

-No quise quebrarle su contento. 

-A pesar de todo, eres un niño. 

-Está bien, patrón. 

-La semana venidera irás con el Aldrete. Y le dices que recorra el lienzo. Ha invadido tierras de la Media Luna. 

-Él hizo bien sus mediciones. A mí me consta. 

-Pues dile que se equivocó. Que estuvo mal calculado. Derrumba los lienzos si es preciso. 

-¿Y las leyes? 

-¿Cuáles leyes, Fulgor? La ley de ahora en adelante la vamos a hacer nosotros. ¿Tienes trabajando en la Media Luna a algún atravesado? 

-Sí, hay uno que otro. 

-Pues mándalos en comisión con el Aldrete. Le levantas un acta acusándolo de «usufruto» o de lo que a ti se te ocurra. Y recuérdale que Lucas Páramo ya murió. Que conmigo hay que hacer nuevos tratos. 

El cielo era todavía azul. Había pocas nubes. El aire soplaba allá arriba, aunque aquí abajo se convertía en calor.





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El mexicano Juan Rulfo (1918-1986) figura, a pesar de la brevedad de su obra, entre los grandes renovadores de la narrativa hispanoamericana del siglo XX. De formación autodidacta, trabajó como guionista para el cine y la televisión. Con sólo dos obras de ficción publicadas -el libro de relatos El llano en llamas y la novela Pedro Páramo-, ha ejercido una decisiva influencia en la literatura en castellano del último medio siglo. En 1983 recibió el premio Príncipe de Asturias de las Letras.


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12. Pedro Páramo: Foi muito fácil estender a armadilha para Dolores




Foi muito fácil estender a armadilha para Dolores. Até seus olhos reluziram, e sua cara se desmanchou. 

— Perdoe eu ficar corada, dom Fulgor. Não achei que dom Pedro reparasse em mim. 

— Nem dorme, só pensando na senhorita. 

— Mas ele, sim, tem de onde escolher. Sobram moças bonitas em Comala. O que elas dirão quando souberem? 

— Ele só pensa na senhorita, Dolores. A partir daí em diante, em mais ninguém. 

— O senhor faz com que eu sinta calafrios, dom Fulgor. Eu não podia nem imaginar. 

— É que ele é um homem reservado. Dom Lucas Páramo, que em paz descanse, chegou a dizer a ele que a senhorita não era digna dele. E ele calou-se, de pura obediência. Agora que o pai já não existe, não há nenhum impedimento. Foi sua primeira decisão; eu é que tardei em cumpri-la, por causa de minhas muitas ocupações. Vamos pôr como dia das bodas depois de amanhã. O que a senhorita acha? 

— Não está muito perto? Não tenho nada preparado. Preciso encomendar o enxoval. Vou escrever para a minha irmã. Ou não, é melhor mandar um emissário; mas seja como for, não estarei pronta antes do 8 de abril. Hoje é dia primeiro. Sim, mal e mal para o dia 8. Diga a ele para esperar uns diazinhos. 

— Por ele, seria agorinha mesmo. E se for por causa dos enxovais, nós podemos providenciá-los. A finada mãe de dom Pedro espera que a senhorita vista as roupas dela. Na família existe este costume. 

— É que, além do mais, tem uma coisa nestes dias. Coisa de mulher, o senhor sabe. Ah, que vergonha me dá dizer isso ao senhor, dom Fulgor. Faz com que eu perca as cores. Estou naquela fase da lua. Ai, que vergonha. 

— E daí? Casamento não é questão de fase de lua. É questão de gostar. E, havendo gosto, o resto é o resto. 

— Mas é que o senhor não me entende, dom Fulgor. 

— Entendo, sim. O casamento será depois de amanhã. 

E deixou-a com os braços estendidos pedindo mais oito dias, oito dias e nada mais. 

“Que eu não me esqueça de dizer a dom Pedro — eta rapazinho vivo, esse Pedro! — de dizer a dom Pedro que não se esqueça de dizer ao juiz da comunhão de bens. ‘Lembre-se, Fulgor, de dizer isso amanhã sem falta’.” 

Dolores, por sua vez, correu até a cozinha com uma bacia nas mãos, para pôr água quente: “Vou fazer com que isso desça mais depressa. Que desça esta mesma noite. Mas é que seja como for vai durar meus três dias. Não tem remédio. Que felicidade! Ah, que felicidade! Graças, meu Deus, por me dar dom Pedro!” E acrescentou: “Mesmo que depois eu odeie.” 



Já pedi e ela está muito de acordo. O padre quer 60 pesos para passar por cima dos proclamas. Disse a ele que no devido tempo iria ter o que pediu. Ele diz que precisa arrumar o altar e que a mesa do seu refeitório está toda destrambelhada. Prometi que mandaremos para ele uma mesa nova. Disse que o senhor nunca vai à missa. Prometi que o senhor iria. E que desde que sua avó morreu, nunca mais deram os dízimos. Disse a ele que não se preocupasse. Está de acordo. 

— Você não pediu nada adiantado a Dolores? 

— Não, patrão. Não me atrevi. Essa é que é a verdade. Ela estava tão contente que não quis atrapalhar seu entusiasmo. 

— Você é uma criança. 

“Caramba! Eu, uma criança. Com 55 anos bem vividos. Ele mal começando a viver e eu a poucos passos da morte.” 

— Não quis quebrar seu contentamento. 

— Apesar de tudo, você é uma criança. 

— Está bem, patrão. 

— Semana que vem você vai ver Aldrete. E diz a ele que recolha a cerca. Invadiu terras da Media Luna. 

— Ele fez as medições direito. Eu conferi. 

— Pois vá lá e diga a ele que se enganou. Que calculou mal. Se for preciso, derruba as cercas. 

— E as leis? 

— Que leis, Fulgor? A lei, de agora em diante, nós é que fazemos. Você tem algum cabra valentão trabalhando na Media Luna? 

— Sim, um ou outro. 

— Pois mande todos em comitiva até Aldrete. Levanta contra ele uma ata acusando-o de “usufruto” ou do que você quiser. E faça com que ele se lembre de que Lucas Páramo já morreu. Que comigo é preciso negociar tudo de novo. 

O céu ainda era azul. Havia poucas nuvens. O vento soprava lá em cima, embora aqui embaixo se transformasse em calor.





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Rulfo, Juan Pedro Páramo / tradução e prefácio de Eric Nepomuceno. — Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. Tradução de: Pedro Páramo ISBN 978-85-7799-116-7 1. Romance mexicano. I. Nepomuceno, Eric. II. Título

Pedro Páramo – Romance mais aclamado da literatura mexicana, Pedro Páramo é o primeiro de dois livros lançados em toda a vida de Juan Rulfo. O enredo, simples, trata da promessa feita por um filho à mãe moribunda, que lhe pede que saia em busca do pai, Pedro Páramo, um malvado lendário e assassino. Juan Preciado, o filho, não encontra pessoas, mas defuntos repletos de memórias, que lhe falam da crueldade implacável do pai. Vergonha é o que Juan sente. Alegoricamente, é o México ferido que grita suas chagas e suas revoluções, por meio de uma aldeia seca e vazia onde apenas os mortos sobrevivem para narrar os horrores da história. O realismo fantástico como hoje se conhece não teria existido sem Pedro Páramo; é dessa fonte que beberam o colombiano Gabriel Garcia Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, que também narram odisseias latino-americanas.

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