sábado, 3 de março de 2018

histórias de avoinha: vosmecê é um bom homem, merece!

mulheres descalças


vosmecê é um bom homem, merece!
Ensaio 117B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar


os apelido é a máscara qui as pessoa diz da otra duqui ela vê ou acha qui qué vê, uma brincadêra pra chamá diferente a mesma pessoa, mostrá com rôpa mudada o mesmo dono do nome, às veiz, é mimo ou bobice; otras, iguaria ou bode na sala pra maltratá. no meu modo de vê, tem caso qui é disse me disse na cara da pessoa. inté pode sê errado e falta de carinho, mais num vai pará de tê os apelido, basta oiá pra vê qui ninguém é com o mesmo jeito

as pessoa qué sê diferente, mais num aceita as diferença fora delas; qué mandá, mais num qué sê mandada; qué dominá, mais num aceita sê amansada; uqui elas pensa é bão prus otro, mais uqui os otro pensa pode sê doença, pode sê desvio, pode sê maldade, precisa sê proibido, nada se compara com os próprio pensamento

gegê é titulatura da amiga pra amiga quia siá georgina recebeu da siá joana; a mais amiga das amiga, pelo menos, é assim quia siá georgina gosta de sê dizê, e quase num tinha razão pra pensá diferente, tinha um apelido qui só era usado e conhecido na casa da siá joana, a mais amiga das amiga

jojô num é batizado, num é atributo, muntu menos, é documento, mais pode sê a cota-parte quia siá joana recebeu da siá georgina, a mais amiga das amiga, pelo menos, é assim quia siá joana gosta de sê ouví dizê. e quase num tinha razão pra pensá diferente, se num fosse assim, como explicá quias duas nasceu na mesma villa, no mesmo ano, no mesmo dia, só num foi na mesma hora pruqui a partêra num podia tá nos dois lugá de cortá umbigo

uqui juntô as duas tumbém separô

jojô acha gegê exibida e facêra demais, assim, sem marido, sem preocupação de fiu, mais num tem coragem de puruguntá como ela consegue tá com tanta disposição pra sê visita sem tê esse otro tanto da vida. ela num aguenta vê tanta disposição pra conversá sem tê uqui falá, querendo sê uqui num é

gegê acha jojô fitêra, assim, com marido e com fiu, cheia de coisa pra fazê, mais num tem coragem de puruguntá como ele consegue tá com tanta disposição pra sê visitada com tanto desse otro tanto da vida pra dá conta. ela num aguenta vê tanto alento pra conversá querendo sê uqui num é

é uqui elas pensa, mais num diz, e parece qui elas nunca vai desistí de num dizê, é assim qui ficô ajustado entre as duas, sem muntu capricho e doçura, as duas aprendeu sê dura no desgosto

tem veiz qui uma parece sabê mais, otras veiz parece sabê de menos da otra; tudo pruqui elas usa os pensamento mais na otra qui usa nos cuidado com o tino de si mesma. elas parece tê mais do pensamento uma dotra qui aparece nas conversa pela metade qui tem. elas existe na vida, mais parece qui existi mais na vida dotra. elas num sabe qui as duas é do mesmo céu das estrêla; purisso, elas se escondê uma dotra. isso é certo? num devia sê assim? pode sê ou pode num sê qui sabe ou esconde qui sabe. e escondê pode sê pió qui sabê? os pensamento escondido num morre nem vira fumaça, eles vira espasmo de tristeza. é isso, essa coisa do desalento escondido vira desamô. é munta confusão pra explicá das duas qui escôieu vivê vigiando uma a otra, isso parece qui vem lá do tempo de saí da barriga da mãe, mais pode sê só fofoca

a casada parece qui descobriu qui qué sê num casada. a desgarrada de tê hômi parece qui sonha tá garrada pelo casório. caso as duas pudesse vivê a vida dotra, elas aceitava vivê? inté parece qui a vida qui tá notra é mais meió qui a vida qui caduma vive. essa vontade de num tá onde tá amarrô uma notra, o gosto de tá na vida dotra. assim, tá perto, é o jeito mais perto de tá notra vida, tê a metade dotra pra fingí vivê

uma nunca disse pra otra qui num ficava bem da saúde depois de sabê do anúncio da visita da amiga; nem a otra disse qui quase num respirava de tão sufocada quando se preparava pra fazê a visita já anunciada

duas muié abafada e adormecida, duas muié bem comportada, duas em uma qui ajuntada só existe na mesmice dos hábito qui só obedece uqui sempre foi. as duas quando ajuntada consegue ficá menó qui quando tá separada; ficá menos num é bão, mais elas acostumô

a villa tinha munta muié perdida de sê ela mesma como essas duas, tumbém tinha muié entendida de fazê a vida vivê com a meió comida de frio. nada ficava mais saboroso qui o prato mão-de-vaca, assanhado pelas muié preta num grande caldeirão. a sopa das gelatina das pata do boi oferecida nas rua por muntu pôco dinhêro

na villa tinha tumbém muié entendida de fazê nascê a vida, mais nehuma com a famosidade da preta inácia. ela ucupava lugá com destaque entre os pai qui queria tê na primêra rebentação um fiu macho. a cada deiz desembuchamento seis era macho. nehuma partêra tinha tanto acerto, no modo de vê e querê dos pai. isso tudo, sem colocá na balança qui ela nunca perdeu criança qui amparô nos braço

essas conta, num era pra jogá fora na hora de decidí quem era chamada pra fazê o serviço de amparo e desembuchamento. assim, quando as duas quase mãe começô ficá inquieta, foi decidido no palito dos dente quio nascimento da siá gegê precisava esperá

o futuroso pai da siá gegê perdeu no jogo do palito a primazia do nascimento pelas mão da preta inácia, escôieu a mão perdedora: a mão sem palito. depois, teve qui ficá oiando com jeito de perdedô o amigo enfiá o palito nos dente com a otra mão

nunca ficô sabedô pruqui perdeu. ficô finado se culpando. já tinha jogado o mesmo desafio sem perdê uma, duas, trêis, inté deiz veiz sem errá; sabia vê notro onde tava o palito. foi essa sabedoria qui feiz ele escoiê o jogo do palito e num querê o jogo do osso

tinha mais jeito de sabê oiá pru amigo e adivinhá a resposta da mão qui tava o palito qui o traquejo pra lançá o osso pra caí do lado certo, mais daquela veiz, e só naquela veiz, num teve a mesma sabedoria de lê uqui tava vendo

o amigo, depois disso, foi logo embora com a partêra. era verdade, o seu jeito de vê o amigo fugiu dele quando mais precisava. foi inté o quarto avisá do ocorrido

assim, ficô decidido, pelo azâ dum e a sorte dotro, desassossego dum e frieza dotro, quia partêra seguia com o siô inácio josé antônio joão da margem crespa pra fazê o serviço do nascimento na dona nalda

os serviço de rebentação e corte do umbigo na siá felicidade perpétua, esposa do siô filipi felisberto pança e rego, tinha qui esperá, Meu marido, Sim, Perpétua, Chame outra parteira, Vamos esperar. Vosmecê se aguenta, a resposta do siô filipi num deixava dúvida, ela ia tê qui esperá ou fazê as coisa do nascimento sozinha, e na própria conta num deve sê muntu bão

a decisão tava tomada e a ordem dada, num ia tê otra partêra, Meu filho, Mãe, não... sinhá Perpétua vai ter que esperar, é a segunda na fila, Mas meu filho, quando chega a hora do nascimento não adianta querer ou mandar esperar, o siô filipi deu dois passo pra frente e baixô as palavra mais qui deu, tão pôca força deu nas palavra qui sua mãinha quase num escutô, Então, minha mãe, converse com Perpétua e a convença que esperar é o melhor para ela e o meu filho, Mas... meu filho...

o siô filipi ergueu as mão pedindo silêncio, dona felisaberta felisberta num se deu como derrotada, sabia qui aquele mingau quente precisava sê abocanhado nas bêrada, Pois então, meu filho, mande o melhor cavaleiro da Villa e os dois melhores cavalos esperarem na porta dos Margem Crespa, o siô filipi parô os passo qui dava pra saí do quarto, voltô as vista pra mãinha, Já fiz isso, minha mãe. No primeiro choro, o criolo Faustino coloca Inácia no cavalo e se tocam a cá, tava escuro, muntu escuro, mais a mãinha do siô filipi pode vê aflição e medo no fiu, Tudo vai dar certo, Que Deus te ouça, meu filho, Ele está escutando, repetiu qui eles num tava sozinho, caso sinhá Perpétua precise alguma ajuda, é só me chamar. Vou aguardar as notícias na varanda tomando um chimarrão.

saiu do quarto

inté pode sê qui ele credita qui eles num tá sozinho, mais ele tumbém sabia qui o nascimento e a boa saúde da siá felicidade perpétua tava na risca do fio da faca

repetiu com as memória qui a impaciência deixava solta o caminho quase direto pelo chão desalinhado qui os dois cavalêro precisava fazê. a inácia e o faustino precisava saí lá dos lado do largo do paraíso, lugá da pequena chácara dos margem crespa com seu arvoredo de lima, limão, pera, maçã e laranjas diversa. o arvoredo dava fruta com tão boa qualidade qui o siô inácio vendia no pomá mesmo, num precisava mandá pra quitanda. a produção da chácara quase num dava conta da procura

o tempo num caso desse parece menos apressado qui a pressa dos cavalo do pretu faustino, parado em pé, na frente da chácara dos margem crespa, entre os dois cavalo, as vista vidrada e a escutação apurada. uma qui otra veiz, de quando em quando, oiava pra lua qui tava formosa, bem cheia, assim estimava o tempo qui tava emboscado pru cumprimento do detrminado pelo siô filipi, Não me falhe, Faustino. Assim que o choro da criança borbulhar, chame o sinhô Inácio, lembre do serviço inacabado em minha casa e peça a soltura da Inácia das suas obrigações, Pode dêxá, siô Filipi, assim qui o muriquinhu brotá vai tê cavalgada, E faça a sua melhor cavalgada até cá, Deixe qui desta parte Faustino cuida, no dependê dele, assim qui a inácia acabá o serviço, eles voa no tropel pra dá bão termo pru otro nascimento

o siô filipi já se puruguntava se num tava errado esperá mais qui o apropriado, tava tão atarantado com os pensamento qui num chegô repará qui a língua queimô com a fervura da água no chimarrão

quando a mãe chegô na varanda e repetiu o aviso da siá felicidade perpétua, Meu filho, não tem mais o que esperar, ele sabia qui ia tê nascimento com ajuda ou sem ajuda, a ordem pra nascença num sai da boca dele, a hora é da muié e do nascente, de mais ninguém. o siô filipi respondeu qui já tava decidido num esperá mais, pediu instrução, Chame outra parteira, meu filho, Mas quem? Não tenho outro nome para fazer o serviço, Deixe comigo, já chamei outra negra que conhece bem o serviço e vai sabê o melhor jeito de cuidar da situação.

foi a nova partêra chegá e junto veio o aviso qui o nascimento nos margem crespa já tinha desfecho

e a inácia tava a caminho com o faustino

o siô filipi interrogava o seu espiadô secreto, Então vivente, desembucha logo essa garganta... macho ou fêmea, Fêmea, A la pucha! Outra rachada na Villa! Fêmea! Viva!

o peito subia e descia, num podia escondê o sorriso e o remanso qui a notícia lhe deu, Continuem os preparativos, mas esperem a Inácia! Não é possível que a negra me erre a mão duas vezes, no mesmo dia, na mesma noite!

foi pra frente da casa, num podia esperá, ele queria vê chegando. pensava no amigo vagando dum lado pru otro, cima pra baixo, dentro pra fora, ao acaso do arvoredo, inconformado e deformado pela tristeza, fracassado, sem esperança, agarrado na segunda ou otra garrafa de vinho. num pode deixá de abrí otro sorriso, Quem rir por último, ri melhor!

depois de tanta agonia, o siô filipi pensava, Que se danem todos, o destino parece estar dizendo: Vosmecê é um bom homem, vosmecê merece!

na chegada do faustino com a inácia, o siô filipi desatô no choro e se foi pru fundo do pátio, num conseguia pará

quando se acalmô voltô pra sabê dos preparativo





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