sábado, 27 de abril de 2013

Neinho, ocê faz a vida vivê

Ensaio 36
baitasar

—        E o avô não tinha desconfiança?
Ele nunca soube se sabia, não reclamô, e sabe como é, quem se cala é porque deixa o acontecimento virá acontecido, não dá importância, deixa o tempo vivê os dia tudo igual, muitos dia do mesmo jeito, descansando junto, tem vez que enjoava, mais sempre que sentia saudade das coisa que podia sê e não são, convocava a avó e fazia do uso um abuso. Nunca quis fazê do queixume razão da vida, nem da morte. A vida se vai com o que tem que sê ou deixô de sê, e no mais de tudo, gostava do uso que o João me dava, não tinha queixa do jeito. Achava que podia tê mais jeito de uso das sem-vergonhice, mais também era modo bom, a avó ficava com incomodação no pescoço, na nuca, mais um tempinho depois passava. O avô até que tentava se controlá, mais chegava num ponto que perdia o controle, gostava assim; o João ainda descontrolado deitava no lado da avó, um preto com refinamento de formosura que ficava mais saboroso de gosto. A avó se deliciava
—        O avô ficou feliz com a barriga da avó?
Não era homê resmungadô, nem marido com costume da desconfiança, não fazia perdição do tempo com falação dos outro, se não tinha assunto ficava silencioso, não disperdiçava o escutá da avó com os maus espírito da língua solta da cobra. Se a avó tava de barriga a cria era dele, e pronto, não era assunto pra desacordo, nem do interesse de ninguém mais. Acompanhô a Vandinha desde o primeiro anúncio do aparecimento. Num fez cena de desgosto, nem enredo de novelista. O amô era dilúvio no sangue, circulava pelo avô que ficava mais forte, passava a sê outro. De todo jeito, o contista sumiu das redondeza
—        O safado fugiu quando descobriu que a avó tava embuchada!
Não fale desse jeito, é um jeito que não ensinei: nunca falá dos outro sem conhecê as causa das pessoa, e mesmo assim, toma cuidado de não falá maldade, mesmo quando a maldade tá vestida de bondade
—        A avó ainda gosta, faz defensório do safado.
Moleque, acalma a língua. O teu avô não precisa do ajutório da tua língua destravada. A avó levô tempo de muitos ano prá acabá com os excesso da tristeza até conseguí rejuntá a vontade com o corpo, nem o distanciamento dos ano desmanchava as marca do carvão na pele da avó, nenhuma borracha apagava o escrito por dentro. A avó viveu o que precisava vivê. Foi escolha da avó. Mania ocês tem de fazê os home com mais importância que ocês tem.
A avó não quis desgrudá dum enquanto tinha o outro, dê ocê o nome que pudé pra esse jeito que a avó resolveu experimentá. E o neinho se achá de modo espalhá a not[icia, se considere livre de guardá qualqué segredo. Não gosto de nenhuma escravidão, nem da língua, mais o neinho precisa tê compromisso com as palavra da boca, o lugá onde tá acorrentada a serpente enganosa tá cheio com as língua da boa intenção
—        E a barriga da avó?
Os treis de antes e os dois de depois não fizeram nenhuma cena de incomodação na barriga da avó, nem quando foi preciso usá o caminho da saída, chegaram sem maior confusão. Mais a minha neinha do meio não se aquietô na barriga: pulô, virô, acho até que já tava de antemão nos ensaio pros baile. Mais se aquietava com a mão do João, assim, não precisei escolhê o pai, os dois já tinha feito escolha de um pelo outro. Foi o caso de me fazê pensá que tinha errado nas conta dos dia, já não tinha certeza dos dia pra trás, podia sê o João e bem podia sê o neto do neto do Capitão, mais não me faltava confiança com os dia pra frente, a Maria Socorro havia de sabê atendê tanto eu, como a minha criança
—        Quem é essa, avó?
A parteira dos nascimento...
—        Nunca ouvi falá.
Antes dos doutô tomá conta de fazê nascê, o serviço era no feitio das mão da Socorro. Só quando a hora não tava boa, tinha jeito de complicação, o doutô era chamado. Antes, o preparatório e o feito ficava nas mão da parteira. As moça da primeira vez tinha a confiança das mãe e as que procurava os serviço de repetição pra fazê nascê chegava com os olho fechado, sabia que a Socorro também sabia o que fazê. Os meu tão por aí, por causa das mão dessa santa mulhé que tinha iluminação da Santinha
—        E correu tudo bem?
Na hora do transitório, Maria Socorro anunciô, A criança sentô!, começô a choradeira, depois veio a correria. É sempre assim, na chegada da notícia ruim, o primeiro que se pensa é chorá, depois que a cantoria das lágrima espanta o medo, tem alguém que há de escolhê e perguntá, E agora, o que a gente faz?, O que dê pra sê feito ia sê feito pela Socorro, fiz o meu anúncio, Não há de sê nada, ela já vira a cabeça pra saída, foi a resposta da mulhé santa.
Era o tempo de dá tempo ao tempo.
O tempo se passô e a minha pretinha não se ajeitava. O teu avô queria corrê até o doutô, não deixei, não era hora, disse que tinha confiança na Socorro, Mais a situação tinha complicação que não valia corrê nenhum risco, falava o avô já mais nervoso que eu, Quem tá parindo sô eu, então, fico com a Socorro, o doutô não sabe rezá, nem pede ajuda, inté parece que pro doutô o dinheiro tem mais importância que a vida, E se o doutô sabe que não tem ninguém do outro lado escutando, não tem nada, Ele não sabe, respondi pro seu avô, mais tem, tem que sabê falá, tem que aprendê escutá, E se ele sabe que quando terminô... terminô, Ó João, isso lá é hora de desaconselhá, não tenho confiança em gente que não reza, só gosta de juntá dinheiro além do que precisa. Parece assombração de gente, os espírito tem muito pra ensiná, precisa sabê escutá, Ouviu João, precisa sabê escutá, O que eu sei melhó é enxergá
—        O doutor veio?
Não veio. Ninguém foi chamá, fiquei com a última palavra e perguntei, O que a Socorro acha, o tempo se passô e a minha criança não se colocô na saída, Minha filha, deixa com essas mão aqui, ela falava com os olho, parecia que já sabia de alguma coisa que os outro não sabia, Tô na sua mão, minha mãe. Fechei as vista, ela diminuiu as luz do quarto. A única luz que ficô vigiando foi essa daqui, ela ilumiô as nascença de todo fio, herdô o direito de ficá na cabeceira da cama até o fim que acabá com a avó. As coisa tem a vida das lembrança, mais não faz a vida vivê, ocê faz a vida vivê, não perde tempo de não sabê vivê.
A Socorro fez oração.
Mandô que eu precisava tomá muita água e esperá mais um pouco. Fazia o que a Socorro mandava, também rezava, modo de que, uma boa reza alargava as oportunidade da boa feitura. A verdade, é que o tamanho da dô só sabe quem tá sentindo.
A Socorro colocô as mão na redondeza da avó... apalpô, resmungô, até que começô a empurrá o meu bebê pra fora da barriga, com a conversa macia das mão. Um pouco rezava, outro tanto conversava, outro empurrava, o serviço do convencimento das mão da Socorro tinha ajuda da falação, sumariava assim, É preciso convencê o rebento não fazê resistência as mão, modo de fazê recuo e sê colocá na saída, outro tanto, é preciso rezá, pedí aos espírito de poupá a criançada, já hão de tê uma vida vivida de muita dureza, não carece de enxarcá a cabeça com mais sofrimento, peço pra eles deixá nascê, agarrá a vida, que os mais velho ofereça a generosidade, o gosto da nascença, vão conversando com a Socorro, Tô sentindo que a moleca qué ajudá, Eu te pari, ela vai criá, eu vô te tirá, em nome do Deus, do Pai, do Filho e do Espírito que é Santo, Tá doendo, Ela ajudô, tá na saída... agora, é com ocê, minha filha, Então, já tá feito, Toma a cachaça com arruda.
Tem aqueles que prefere à morte, tem medo de sê rejeitado, virá sobra, ficá só com a espera esperada da vida, mais tem aqueles que luta pela vida melhorada, se agarra no amô da família até inaugurá a soltura da imaginação. Os preto é uma só família
—        No fim, tudo acaba bem.
Isso tudo não é o fim, neinho, é só o começo. O umbigo curava com fumo e azeite de mamona, até caí. Tinha o resguardo de quarenta dia pra avó, nada de lavá a cabeça, carregá peso, varré a casa, nem tomá vento, quarenta noite abaixo de sopa, farinha de milho e caldo de galinha. No começo não fazia reclamação, depois enjoava
—        Mas era pro bem da avó...
Nem tudo que é pro bem tem gosto bão.

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Leia também: 
Ensaio 35 - O lugá de respeito dos preto
Ensaio 37 - Amo ocê, avó... A avó sabe


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