quinta-feira, 20 de março de 2014

O mate está esfriando

Ensaio 34B
baitasar

O preto em pé com o cabungo nas mão, os óio sem piscá. Os pé descalçado. Parecia qui um pé tinha vontade de seguí num rumo, o otro pé com a decisão de caminhá otro destino; cada dedo apontava um caminho pra fazê longe dali. Dez dedo, dez lugá diferente pra vivê longe das obrigação de escravo, afastado daquela miséria de branco adormecido de sê gente; distante do chicote da infâmia. De tanto andá descalçado não sentia gosto de usá qualqué coisa nos pé. De tanto tempo sem dente não lembrava mais de mastigá. De não tê língua ou só metade dela, qui era quase a mesma coisa qui não tê, perdeu o gosto de falá. Ficava parado com a boca fechada pra não deixá entrá as mosca. Tinha vez qui sentia saudade de escutá a voz qui foi dono, té isso lhe tirô o dono bondoso da chibata. Deixô de sê dono do qui queria falá. Nem o nome conseguia repetí. Logo o nome qui foi ensinado dizê qui era seu, um nome qui aprendeu junto com as primeira cantoria de nascê. Respirava com cuidado. Nenhum suspiro enquanto esperava a cusparada verde do magistrado juiz

—         Esse é o meu bom Salvador. Dos negros que disponho como minha propriedade, os negros do Tribunal são adequação do serviço público, esse é o negro da mais segura segurança, se os dois amigos me permitem a redundância do circunlóquio.

Colocô as vista no preto qui se aproximô com o cabungo. Otra cusparada verde. A bebida do chimarrão é um costume mui apreciado, sobretudo, no frio. Na Vila, quem tinha tratamento de gente havia de tê o costume de mateá proseando. As duas coisa acontecia junto. Mais de primeiro, era uso da boa maneira e finura oferecê o mate com a erva-mate já no ponto da quentura. Então, o primeiro mate amargo e frio era do convidadô. Ele puxava o mate na bomba, depois cuspia o amargo frio pra não tê desgosto de gosto na barriga.

O magistrado juiz era filho da terra, mais um das fidalguia qui muito novinho foi mandado fazê seus estudo de doutô advogado e juiz, bem longe, precisô atravessá a estrada das água feita pros branco. A estrada das água feita pros preto carregado nos navio negreiro alimentava os navio qui levava e trazia os fio da fidalguia. A estrada das água dos branco. Eles ia ignorante e voltava interesseiro. Não é de estranhá qui voltava interesseiro, todos qui vinha de lá chegava pronto pra usá as carne dos índio e dos preto pra fazê riqueza. E usô té cansá de usá.

Toda sabedoria dele sobre o povo da terra, qui deixô bem novinho, era as história qui lembrava das conversa do velho pai tomando chimarrão com as visita. Hábito qui juntô rapidinho nos seus dia-a-dia. Durante o mate gostava de enaltecê as basbaquice qui reparava desde qui chegô da estrada das água. Tratava logo de avisá qui pensava em francês, não conseguia pensá na língua da Vila

—         O povo mestiço da Vila é inapto para o progresso, a preguiça está entranhada, jamais saberão beneficiar-se das riquezas naturais da terra, que se diga para o seu próprio bem, e os homens de valor da Vila, não deveriam ter a posse. Só assim, talvez, conseguissem evitar a exuberância da lascívia.

Miofioneto, entendeu por causo do quê ocê precisa tá na escola? Pra não tê qui segurá o cabungo pros branco cuspí. Eles vai fazê tudo pra ocê não ficá, mais o mifioneto precisa teimá. O homem branco matô quem quis, na hora qui quis, carregô com ele a praga das doença e do jeito branco de vivê. Acabô com os otro jeito de vivê pela força das arma e as riqueza qui roubô. Criô o dito qui avisava, quem não tinha uma boa arma ou um bão exército, mais dia ou menos dia, ia sê conquistado. Mais quando era do seu interesse se apoderô das utilidade dos índio e dos preto. O mate, por exemplo, era costume dos índio qui ele fez uso e domesticô, pra modo de dizê qui as coisa boa ele não destruía, fazia uso. E fez ficá branca, pra modo de conseguí rezá, a rainha Iemanjá. Nunca vi gente mais interesseira e menos trabalhadeira.

O magistrado juiz ia proseando e esvaziando a cuia. Otra puxada, otra cusparada. Té qui roncô a bomba. Siná qui acabô o mate. O magistrado juiz oiô pro Salvadô, o preto se aligerô de largá o cabungo no piso madeirado. Pegô na chaleira pra serví otro mate. Esse ficô fumegando na cuia. É bonito de vê a espuma esverdeada ladeando o topete do mate

—         Agora, tomo o segundo. E já podemos começar a prosa do assunto original.

O chefe das pulícia ainda tentô voltá na trama anteriô, mais o magistrado juiz ergueu a mão qui não segurava o mate e interrompeu a chefia da sua pulícia. Deu otra puxada. O mate nas mão do bão proseadô servia pra criá adiamento, as delonga com as palavra qui explicava os pensamento, uma prosa sem palavrório. Quando parecia qui ia começá a argumentação, deu otra puxada e a bomba estremeceu roncando. Ele oiô pro preto e perguntô

—         Salvador, parece que ocê fez o mate mais curto que o costume e o meu gosto.

O Salvadô não mexeu nenhum cantinho da cara pra confirmá ou negá. O magistrado juiz esticô o braço pra trás com a cuia, o preto serviu a água quente no mate

—         Amanhã... amanhã. Por agora, o Chefe devia aproveitar o mate e escutar os pensamentos do Governador que nos chegam através das palavras do seu Ouvidor. — estendeu a mão esquerda com a cuia e o mate renovado pro chefe das pulícia — Lhe ofereço com a mão do coração, sinal da minha estima e confiança.

Pra essa sua avó, mifioneto, sempre interessô vê as coisa pequena despercebida, mais qui tem serventia pra muitas coisa, precisa sabê vê

—         Do mesmo modo aceito.

O chefe das pulícia estendeu a mão esquerda do coração, ainda carregava no colarinho do punho o sangue preto do João Amaro, pegô a cuia ricamente lavrada e ornada em ouro, com o feitio dum seio pardo, opulento e farto. A bomba, um canudo em prata lavrada, tava ornada com muitas pedra preciosa. O bocal era feito em ouro.

O magistrado juiz fez um pequeno siná com os óio pro Salvadô. O preto largô a chaleira no chão, juntô o cabungo com as cusparada verde do seu dono e sumiu pelo piso madeirado. Parecia sabê onde pisá pra modo de não fazê o chão gemê. Não conseguia escutá lamúria de qualqué gemeção qui fosse, sem sentí o coração amargurado de tanta tristeza qui té não se importava de virá um cão sem dono. Livre das ordenação de qualqué laia. Imaginava qui à noite virava um homem qui encantava as preta encorpada das cadeira. As cadeiruda. Contava as suas história de cão sem dono. Agarrava as anca graúda da preta e dormia enlaçado. A encantação era só magia qui tinha das história dos antigo; ele sabia qui a libertação podia tomá o tempo do crescimento do baobá, mais ia vim

—         Acredito que assim todos se sentem mais à vontade.

O chefe das pulícia já tinha participado dos encontro naquele esconderijo de conversa secreta e acordos camuflado, mais foi a primeira vez qui ficô incomodado com as janela fechada. O abafado tava lhe impedindo de enxergá nos óio dos conversista. Pensô qui vinha cansado das estripulia com as tentativa de consertá o preto cortado da língua. Tinha nas venta da cara o suô fedido e forte do preto, misturado com sangue, xixi e coco, qui o avariado deixô escorrê das corpulência da carne. Anotô nas memória qui precisava esclarecê pro recém empossado capitão do mato, qui a Vila não tinha o hábito de aplicá corretivo de sangramento descontrolado, É ruim pros negócios.

Deixô as vista pensativa no piso madeirado e puxô o mate. A boca se encheu com o amargo verde e quente. Engoliu tudo de uma só vez, Ainda bem, pensô durante o tempo qui o mate levô pra descê amargo, que a incomodação com os donos do negro preso é serviço da alçada do magistrado. E apesar do descontrole do novo contratado pela Comarca da Vila, esse descomedimento se educa, os serviços da polícia ficaram mais parados. É bom ter descanso vez que outra.

Otro puxão no mate e a bomba roncô

—         Senhores, vamos às conversas que nos trouxeram aqui? — os dois voltô as vista pro ouvidô. A cuia do chimarrão foi té o magistrado juiz qui encheu com a água da chaleira e ofereceu pro aconselhadô do governadô. Ele pegô com a mesma mão do coração — Obrigado.

O magistrado juiz subiu a mão e fez gesto de desacordo

—         Não agradeça, divida com seus amigos as preocupações que lhe fizeram convocar essa reunião.

O mate precisa sê sorvido sem pressa pra modo qui a prosa fique sem a afobação da impaciência, té qui ela acostuma com a preguiça da bebida. O aconselhadô era mateadô experimentado, usava como ninguém o tempo de tomá o mate pro seu gosto de proseá, ora apressando, ora acalmando as palavra fervendo nos pensamento. Na primeira puxada, tinha preocupação com o oferecimento do magistrado juiz, Coisa que não se tem na política, muito menos, quando se chega ao topo da carreira, são amigos. Aqueles que um dia lhe juram amizade, no dia seguinte, podem ser capazes de lhe puxar o tapete dos pés. Se quiser ter amigos precisa ficar longe da política, em nome dela o filho luta contra o pai.

—         A sua Excelência sabe que não podemos enfraquecer a voz do sinhô Padre, não é interesse do Governador, nem da Vila, afinal, ele fala em nome da Santa dos nossos favores. — parô pra tragá de novo o mate, fez com mais calma qui o seu costume, queria alongá o silêncio pra não corrê o risco de acusá a Santa ou a pulícia, Ela não consegue impedir de ser roubada, se fosse ele a santidade, resolvia tudo com uma ou duas palavrinhas com o Sinhô de Tudo.

Como a narração da trama tava parada o chefe das pulícia aproveitô pra interrompê o silêncio

—         Como é isso? A Santa está sendo roubada?

Nas barba do chefe das pulícia e do manto da Santa, teve vontade, mais não disse. O magistrado se contentô em afroxá a voz

—         O assunto teve começo antes da sua chegada na reunião.

O chefe ergueu os ombro e abriu os braço.

O aconselhadô achô meió não se metê na conversa dos homi das lei, na Vila. Fez movimento de tomá otro gole, mais tratô de acalmá ainda mais o seu jeito de tragá o mate. Inventô té um entupimento da bomba, qui podia acontecê, mais, no caso pensado, era invencionice pra se desviá com atenção das explicação dum lado e otro

—         Se entendi as razões do Ouvidor, devidamente explicadas antes da sua chegada, os associados da Irmandade, nossos amigos, estão roubando as doações que fazem à obra Santa. Eles dão o donativo, depois pegam de volta um pouco do que foi dado.

O chefe das pulícia lavô as mão

—         Não vejo nenhum crime, sua Excelência. Eles estão pegando o que já é deles.

—         Depois que foi dado à Santa é da Santa.

O chefe deu de ombro com sua caramunha de desdém

—         Não podemos deixar com a Santa a feitura da justiça?

O aconselhadô fez roncá o mate e, antes de devolvê pro magistrado juiz, interferiu na prosa

—         O sinhô governador me fez a mesma pergunta.

O magistrado juiz estendeu a mão do coração pra recebê de volta a cuia do mate. Enquanto despejava a água na cuia e preparava a sua vez de mateá, não oiava os outro. O chefe achô meió desencadeá uma resposta de mais precisão

—         E qual foi a sua resposta para o Governador?

O perguntado apertô as vista, como se pudesse oiá meió os propósito do otro. Juntô as mão como se pudesse rezá o qui nunca rezô na vida, mais só queria parecê mais sério que parecia

—         Disse que é um jeito de não fazer o que precisa ser feito, mas o problema é o porta-voz da Santa, o sinhô Padre. Ele tem o balcão das domingueiras. É arriscado fechar os olhos.

O magistrado juiz tava puxando o mate, isso lhe autorizava fazê silêncio pra pensá, O povo não vai entender porque quem dá, e pode dar, pega de volta o que foi dado. Mas as leis não podem ficar acuadas pelo sacerdócio.

O chefe das pulícia lembrô do óbvio qui os otro dois já tinha pensado

—         E os associados da Irmandade?

—         Não podemos expor nossos amigos, gente valerosa, credores do Governador junto ao Imperador.

Foi quando o magistrado juiz, qui só pensa em francês, explodiu da raiva e perdeu a formosura

—         Filhos da puta! Não sabem que com um punhado de escravos e um chicote se pode enriquecer? Medíocres! Roubar as obras da Santa! Por acaso, eles não são brancos, cristãos e civilizados? Não roubamos nós mesmos!

Os otros dois não se oiava, nem arriscava concordá ou discordá, tem hora qui é mais bão guardá as palavra e fazê silêncio. Eles esperava qui o magistrado juiz pudesse pará de gritá pra tomá o mate qui esfriava. Ele parecia atolado na raiva qui sentia dos preto e na vergonha dos branco, não conseguia pará. Tava esquecido do mate nas mão, tinha perdido a visão da sua volta

—         O que se pode esperar do conluio de selvagens inferiores, colonizadores oriundos de gente vil, assassinos, e negros boçais e degenerados? Essa mistura é nossa desgraça!

—         Excelência...

—         O que foi? — a voz tava feito gelo, nenhuma paixão

—         O mate está esfriando.

O magistrado juiz pareceu saí do seu transe de ódio, mais os óio ainda piscava, levô o mate té a boca e tomô tudo em duas puxada.
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