segunda-feira, 25 de maio de 2015

Histórias de avoinha: Uma negra que já tenha tido desfrute

Ensaio 51B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



Mifioneto, escuta essa verdade da sua avoinha, num tem uma verdade! E num tem uma mentira... 
tudo o qui ocê fala é mentira se ocê num credita nas coisa qui ocê fala. Nem os mais mau da cara dura credita no qui diz, mais eles tenta fazê ocê creditá. Ocê tem qui tê cuidado pra num creditá em mentira e num saí falando as mentira qui ocê credita sê verdade. Isso pode sê difícil se ocê num aprendê se importá com as coisa qui fala e cuidá meió das coisa qui escuta. O destino de Josino já tava traçado antes de tudo qui já tava acontecendo naqueles dia. Ele num foi escutado de verdade. E num tinha força qui fosse mudá isso... nem a verdade. A mentira, o ódio e a injustiça tem entusiasmo pra sempre e quando isso tem acendimento em boca arrogante com escutação descuidada consegue fazê caminhá pra trás as coisa boa já feita. Num havia arrebatamento pra ouví a verdade do preto Josino.

O entusiasmo com a encantação em homenagem aos noviço obedecia as lei da tribo, muito bem, muito bem, o sinhô Conde precisa passar pela iniciação, os uivo dos hôme no salão desabava sobre o mirante do governadô. Ele girô sua atenção na decoração daquela penumbra, está tudo perfeito, e foi se cravá no candidato a noviço, vosmecê está preparado, o conde da Hora confirmô com um pequeno aceno da cabeça, seja lá o qui fosse esse preparamento, eles num era mais esperto qui o siô conde, o qui mudava entre eles era a fome pelas riqueza e as coisa feita pra tê mais da felicidade do luxo com a dominação dos ignorante.

O siô conde da Hora num conhecia esse começo dos noviço qui tava sendo falado, mais num devia sê muito diferente da sua inauguração de hôme com as preta. Nunca esqueceu esses dia de touro na bacia das água, num comentava muito, mais tinha muita gabolice das descoberta feita. Lembrava sempre qui podia lembrá. Foi tempo de deixá vontade de voltá. Tem ocupação do tempo qui é assim, tem ocupação do tempo qui num é assim, bendito de ocê quando sabe qui tá num tempo assim de um dia querê voltá, num pra consertá, mais pra vivê tudo de novo. E ocê num deixa ele passá só passando, ocê aproveita pra mergulhá da cabeça inté os pé. Vivê tudo desassustado das doçura ou loucura, mais já vô avisando ocê qui esse é um tempo qui precisa o sangue do atrevimento.

Gostava de dizê, nas rara veiz qui disse, o dia seguinte de uso da negrinha era melhor, num sabia a causa de sentí assim, mais era bão sabê senti assim, eu tinha tanta força e dureza escondida de mim mesmo. O guri tava orgulhoso. Acordava com mais gosto da pretinha no otro dia, no otro, e no otro... tinha provado a delícia de ficá enfiado inté desmaiá. Cada veiz qui tinha a preta Biscoito ficava enfiado mais tempo. Tremendo. Suando inté encharcá os dois mais o chão, sem medo, embarcado de cabeça na bacia da muié. Desmaiando. Acordando. Gemendo. Um desmaio por ele mesmo. O pai repetia com os riso de alegria, meu filho ficou homem. Duro. Forte. Sem piedade. Conveniente pra num escutá o silêncio da muié-menina. Um desmaio rápido das batida curta e apressada. Gastava mais tempo oiando ela passá com gingação preta e com os desmaio do qui entregando os rancho.

Ela ia e voltava dentro da casa dançando alguma tristeza. A siá mãe da Hora ordenava uma obrigação atrás da otra. Uma luta entre as carne nova e as carne com as cicatriz do tempo. Quanto mais tristeza mais balançava os passo pra frente e atrás. Quanto mais dançava sua tristeza mais ocupação recebia, num parecia cansá nem tê vontade de falá. Só cansa quem tá vivo, só fala quem tem vontade de tá vivo. O caminhá de flutuá dela dava no menino-hôme uma muita vontade de escavocá as carne desanimada da pequena muié. Um tempo das coisa de hôme com muié fácil pro menino da Hora. O véio da Hora precisô dá mandamento de arrumação nos encontro com a pretinha e nos atendimento das encomenda, meu filho, tudo tem sua hora.

As lembrança do guri qui num se atormentava em tê vontade de dureza fazia do siô conde da Hora, nos dia de hôme, um embuste muito demorado. Pegava muita veiz no tranco. Aquelas vontade de maió rapidez deixô muita saudade e lambança. Foi o tempo dos vento da alegria dançante. Aconteceu nos dia qui o armazém da Hora já tava com tamanho bão. E se aconteceu era pra acontecê. O guri entregadô qui tinha as vista verde e muita boniteza parecia vê o mundo pela cô das vista qui tinha. Um mundo verde qui recebia as encomenda em casa, uma a uma, das mão do menino com boniteza verde. Tudo nos arredó da rua das praia.

O véio da Hora escutava os elogio do ensolarado menino e se alarmava. Aquele num era um mundo com boniteza, mais um lugá de esperteza. Teve um rompante de fazê o qui já tava pensando sê preciso fazê, e numa veiz só, é hoje, gritô de supetão, esse é um bom momento, não passa de hoje. Preciso de um trago.

Quando chamô a esposa já tinha tomado o seu talagaço de cachaça, vosmecê deixe para depois o seu zelo de capricho com a casa, fique nos cuidados do balcão. Já volto. E deu de mão no fiô, num disse nenhuma palavra com explicação, nunca dava. Nunca precisô. Arrastô o guri inté a praça de compra, venda ou troca dos preto qui já chegava na Villa acorrentado, é agora ou nunca. Escolhe uma...

A quentura da cachaça se jogô nos óio verde, firme e paterna, prometeu qui fosse o qui fosse a escolha dava sua aprovação, vosmecê escolhe e o seu pai compra a mercadoria, fez silêncio, deu tempo pro guri corrê os óio, aponte uma negra!

Elas tava numa posição de lado uma com a otra, todas mal-cuidada, fedô de sujêra forte, mulambenta, chorando, resmungando as palavra pra pouco entendimento na Villa. Presa uma na otra com uma corrente travada em colá de ferro no pescoço. Uma segurava a otra, uma levava a otra

Escolher o quê, sinhô meu pai?

O véio da Hora pareceu perdê a paciência com o fiô, será que vai ser preciso explicar os detalhes de uso, a la pucha, esse guri precisa de uma negra que já tenha tido desfrute, fácil de meter a minhoca, toda aquela preocupação tinha causa no esbanjamento da boniteza verde nos óio do guri e a falta de apetite do piazote com as carne de muié, uma negra que conheça os benefícios e o jeito de ajudar com as tarefas das mãos

Não sei, meu pai... escolhe o sinhô.

Mas que merda é essa? Levanta essa mão e aponte o dedo! Escolhe uma negrinha, e pronto!

Ele escolheu.

A pretinha escolhida tava com o oiá tão longe qui num dava pra vê o visto qui tava na frente dela. Mais num foi o oiá perdido da mocinha qui importô nem a mudez da língua, tampouco foi as vista seca e com tristeza, um choro sem choro, um luto qui durava tempo e dava jeito de sê pra vida toda qui ela tinha de vida. Parecia qui já tinha decidido defuntá o resto da vida oiando pra lá, sentindo o gosto qui num tava ali.

Ele escolheu.

Num foi o tamanho de muié qui ela já tinha, as curva pouco passava das medida do guri, nem foi a pouca vestimenta sem forro qui tapava cintura abaixo, uns pano sujo e rasgado. Manchado de terra com dô. Os dente podia tá branco ou podia num tá, ela num ria, nada dizia, ele apostava neles branco. A cabeça tava raspada inté onde alguma navalha pode alcançá. Parecia qui num respirava nem escutava. Suja, em pé, uma estátua entristecida, saburrenta, mais decidida ficá minguada em lamento. Balançava as perna como a mãe carrega o fiô chorando. O guri da Hora oiava pra ela, só pra ela. Num podia vê o qui acontecia dentro daquela sombra de muié. Eles num tinha assunto. Nem ia tê.

Ele escolheu.

Ela tinha um mistério qui o guri da Hora num percebeu, mais viu as duas cuia preta derramando a água leitosa qui só as mãe carrega. Ela era uma árvore com fruto, aquela boniteza se escorrendo deixô o guri da Hora agitado. Ele escolheu. Apontô com o braço firme e decidido o peito se derramando, o dedo duro e robusto tremendo... essa...

Essa?

Sim, respondeu sem tirá o oiá curioso dos peito mamudo. Num sabia qui podia sê assim, vazando como se tivesse furado. A vontade qui tava no guri era prová o gosto se derramando. Lembrô um dos dois aconselhamento do painho, meu filho, nem queira entender. Ocê não vai conseguir... elas sangram na greta das perna e derramam leite pelo peito. É uma nojice. Nem tente colocá algum juízo nisso. Aprenda fazer bom uso, nada mais.

O guri continuô em silêncio, quase nada escutava, num achô urgente colocá importância nas palavra do véio da Hora. Sua urgência era encontrá um jeito pra prová as água derramando da pretinha

Que assim seja, o da Hora pai virô-se pra conversá do preço com o contratante, onde está esse sujeito, levava e trazia os passo entre os preto acorrentado, uns em pé, otros escorado, maltratado, exaustos da travessia qui vinha da capital do império. A conversa num demorô pra tê acerto. Quando as duas parte qué negociá num tem preço ruim nem mercadoria com preço demais. A mocinha dos dente branco, qui num tinha gosto de tá ali se derramando sem uso de mãe, foi vendida pra família da Hora. Teve sorte, foi o qui disse o da Hora pai, somos uma família de gente das mais respeitadas e caridosas nas redondeza do comércio da rua das praias.

Afonsinho, vamos... ela é sua. Já tenho recibo da compra. Tudo assinado no bom cumprimento das leis. Segure a corrente, o piazote pegô a corda de ferro, uma corda pesada pra tá amarrada no pescoço da preta recém comprada, ele num andava. Ficô ali, parado. A corrente na mão, o que foi, agora?

Meu pai, solta ela da corrente e da coleira.

Ocê está louco? Nem pensar! E se ela foge?

Para onde, meu pai?

O pai oiô o fiô com as vista qui nunca tinha usado, acho que vou me arrepender antes do fim que nem teve começo, abriu o garrote do pescoço, soltô o passarinho dentro da gaiola, e ocê já pensou um nome?

Não.

Posso oferecer sugestão?

É claro que pode...

Biscoito Queimado.

Por que isso?

O véio da Hora soltô o riso de aprovação e entendimento da brincadêra qui fez, gostava de caçoá dos preto, se eles não fazem antes é certo que farão depois. Mas o que ocê acha do nome? Biscoito Queimado, igual aos biscoitos queimados da tua mãe, soltô otra gargalhada cheia de satisfação consigo mesmo, gostava da sua inteligência e bão humô

Acho melhor usar o nome que ela já tem.

Essa daí, não diz o nome que já tem e finge não saber que precisa obedecer ocê.

Nada de correntes...

O véio da Hora se perguntava como foi qui o guri cresceu tanto, está bem, amarre esta corda nos braços e puxe. Só para mostrar o caminho. Depois do costume não vai ter mais uso, mas antes é preciso fazer o costume.

Foi dito e feito, lá tava os três caminhando na rua das praia inté o armazém da Hora, um ou dois puxões, só isso foi preciso, se vangloriô o véio da Hora, não tivemos demora para voltar. A muié colocô as vista pra fora do balcão, tava enfiada em arrumação dentro do altar de compra e venda

Veja, minha esposa... compramos essa negrinha para ajudar nas lidas da casa e outros serviços que vosmecê achar conveniente, a dona da casa ergueu os óio do balcão pra oiá com mais cuidado a mercadoria

E o filho, foi a primeira pergunta qui fez. O marido deu de ombro, siná da sua indiferença

Não sei, já veio sem o bichinho nos braços. Mas se não foi vendido, foi comido com os peixes durante a travessia.

Tenho minhas dúvidas se foi uma boa compra. Essa negrinha está numa tristeza sem fim, não acho que vai melhorar, tinha oiá tão longo qui num dava pra vê o visto, o desgosto do luto qui parecia sê pra vida toda qui ela tinha de vida, e a troco do quê essa extravagância, foi a segunda pergunta. A muié dona da casa oiava pra otra muié amarrada. As duas amarrada. A mais nova enfiada naquele saco de pano amarelado e manchado e fedido, coberta só da cintura pra baixo

Não é nenhum esbanjamento, vosmecê e o guri precisam dos serviços da negrinha. E por agora, trate de acomodar a menina. A deixe limpar os maus bocados, mais o qui a siá mãe da Hora num podia acalmá era o desconforto do ciúme. O menino da Hora assistiu tudo junto da sua primeira escrava. Segurando a corda. Os dois tava calado, ela amarrada nos punho. Ele num tirava as vista do desmame. Ela tinha dô, mais tava desistida, só importava as lágrima qui corria pra dentro inté derramá nos peito. Ela num derramava o choro nas vista. Fazia o despejo nos peito e num parecia qui queria pará.

O véio da Hora ergueu as mão pro céu, vosmecê devia agradecer a minha preocupação com o seu conforto. O presente já está pago, fez volta e meia, colocô-se atrás do balcão e ordenô qui os três entrassem na casa. A loja precisava de sossego. Foi a primêra veix qui o guri sentiu precisão clara e manifesta de usá as mão. Sentiu vontade de se derramá, mais num sabia como fazê

Cubra essa negrinha, num foi grito nem destempero, mais mando de muié desconfiada do serviço e do uso da escrava comprada. Num queria perdê o fiô pros modo indecente do pai nem da preta ajudante. Correu inté o quarto de dormí do casal, num queria mostrá o seu medo. Entrô no lugá das visita do marido e parô no espelho e empurrô com as mão o qui tava boiando caído.

O peito secô. Chegô pra ela era o tempo das vista se derramando.



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