domingo, 25 de outubro de 2015

Histórias de avoinha: a lenta eternidade de num sê mais

Ensaio 64B – 2ª edição 1ª reimpressão 


a lenta eternidade de num sê mais 


baitasar



o medo da morte num parece sê coisa pouca. E num é. O desjuntamento da vida é prosa qui arroto nenhum desdenha. Nem antes. Nem agora. Nem depois. Uns inté finge qui num morre e fica pra semente. Pode inté sê qui alguma semente seja quase a mesma coisa, mais quase tumbém num é coisa. Num adianta fingí esquecimento da vida com medo da morte e querê sabê antes da morte mais qui ela qué mostrá. Desocupá a vida e virá desaparecimento num precisa aprendê. Vai acontecê. Num tem birra nem choro qui muda o qui já tá escrito qui vai terminá. Mais num tem necessidade estudá a lição da morte mais qui estudá a lição da vida. Estudo descabido. Tudo vira desaparecimento e cabe no lugá qui é um não-lugar. Num tem assunto qui muda isso. Nem beicinho adoçado. Num carece precisá tê nome. Pode inté sê qui avoinha num tá com sabedoria pra ensiná, mais avoinha tumbém acabô. Ficô desaproveitada na vida. Os vivo carece aprendê e se ensiná da vida, num precisa sabê da morte mais qui da vida

a villa num tava preparada pra avoinha nem pra ameaça do siô padre acabá com a dominguêra. Era o mesmo qui fechá as porta do paraíso. Os vilêro num aceitava essa decisão de deixá os sacramento do pai fiô e espritu santu dentro do casarão fechado e as gentes boa do lado qui num tá dentro. A fome do pão e a sede da uva. O corpo e o sangue do sacramento. A confirmação da graça. A doçura das reza adoça a grosseria e o descuido

Isso, não!

num tem vivo qui sabe escutá os ensinamento dos espritu, é assim, num tem otro jeito, é dois mundo diferente. Num dá pra ficá nos dois. E ocê, mifioneto, tem certeza qui é o espritu de avoinha palavreando ou é as lembrança da avoinha em ocê? O auditório de bode-irmão qui parecia desanimado subiu nos pé. O ameaço papal formô um desagradável e áspero encontro. As mão dos bode se fechô, as do siô padre gesticulava e pedia quietude. Mais paciência. Ninguém parecia dá atenção nas palavra dita da boca do siô padre inté ela sê dita e saí da boca zanzando de ouvido em ouvido

Ameaço só é dado aos inimigos!

gritô um bode anônimo, que sem nome é todos os bode. Mais ruim qui sê bode sem nome é num sê bode, sê os bicho qui cuida da comodidade dos bode. O teatro na plateia precisava sê do mesmo tamanho do ameaço, mais o siô padre num parecia sê do tipo fácil qui pode sê intimado, inté purqui o seu chefe mandava em tudo, Meus filhos! A dor ensina o pecador que rezar é bom e dá alívio, e parô, sabia qui a gritaria podia ficá maió qui o ferimento podia doê, sabia quando num tava no agrado dos bode

As domingueiras e os enforcamentos são bons atrativos para aliviar a raiva. E adoçar a vida comendo caramelo e rapadura. E não é só isso, sinhô Padre. Todos sabemos que rezar ensina e matar educa. Não podemos ficar só com a educação!

uma terra de hôme bondoso e muié piedosa qui num suportava os domingo na villa sem as dominguêra ou enforcamento. A luz das manhã no dia do descanso era meió rezando ou babando. Triste. Mais as pessoa doce da bondade fazia parecê alegre. Uns torcia pra tudo acabá logo, otros preferia qui num fosse tão logo. Depois da chegada do marcado, o siô padre subia no palanque da forca e aproveitava pra anunciá os recado do seu deus. Falava doce pro candidato da forca, mais deixava claro, no palavrório dito, qui era meió tê o amedrontamento da valentia, pedí arrependimento e fugí do inferno. Valentia só ao lado de deus. Só o arrependimento em vida salvava da morte eterna

erguia a mão e a voz pra anunciá, Em nome do Pai Filho e Espírito Santo, o sinhô Deus o perdoa, mas a lei dos homens não pode lhe perdoar. Seja feita a justiça dos homens para a honra e a glória do Sinhô.

enquanto o siô padre descia do palco, o algoz ajustava a corda no meió lugá do pescoço. Depois dos ajuste feito esperava o siná do magistrado-juiz da villa. A dô pode inté ensiná, mais num educa. Mifioneto, oiá a dô alheia desembaraçado da própria dô é a derrota da vida. A vitória alimentosa da morte é quando o medo vence

as família ficava reunida na praça das árvore dos enforcado. As criança solta. Correndo. Chorando. Comendo rapadura. As moça, caramelo. Otras fazendo birra. As mais mocinha namorando de longe. Oiando sem oiá. As beata esfregando as coxa. Retorcendo as mão. Úmida. Incendiava a praça. A corda impaciente. A corda esticada. Uma qui otra boca rezando. Rogando alguma graça. Esperando a porta da morte se abrí e algum perdão pudesse escapá. Um ruído. Um vento. Tocá a dô e a doença. A salvação. A verdade. A praça dos enforcado era o último refúgio do perdão. A morte pública. O teatro. Esperando alguma desgraça. A corda num podia arrebentá. Os marido e as esposa encontrava a intenção de num medí as palavara, E se a corda desatar, marido?

Isso não vai acontecer, mulher. Mas caso aconteça, não muda nada. É só melhorar o nó. Nada mais. E continuar a cerimônia.

É certo enforcar duas vezes o mesmo homem?

Ordem de juiz é para ser cumprida.

E vosmecê acredita nisso?

Bandido bom é bandido morto. Se uma, duas, três vezes... não importa.

enforcamento marcado era pescoço quebrado, num tinha mudança do castigo. E domingo sem dominguêra era risco exagerado. O silêncio da futura morte era rompido pelos avisos do ambulante vendendo as rapadura mais dura e os caramelo mais açucarado da villa, Quebra-queixo! Doce! Melado! Caramelo! Venha adoçar mais sua vida!

as mãe gritando os nome dos fiô perdido naquele alvoroço murmurativo. Os encantadô das mocinha desprevenida cochichando. Segredinho amoroso. As reza das beata. A benção do padre. E o estalo do pescoço. O gemido murcho do inútil. O mijo escorrendo da perna inté o chão. Menos um bandido ruim mais um bandido bão. O silêncio da ponta da corda esticada balançando tranquilo. O caminho inté o otro mundo sendo feito. As rapadura quebra-queixo colocando mais doce na vida, Que seja infinito o que nos faz bem, mulher! Um domingo abençoado para nós, meu marido!

Essa decisão do Padre não é concebível!

o legisladô bicão levantô a voz mais qui a maioria daquela assembleia. Reforçô o assunto da feitura do imposto provisório e o erguimento da obra santa, Nada muito pesado que faça doer nem tão leve que não fosse valer o esforço para tamanha incomodação.

Não é para tanto, voltô a dizê o magistrado juiz

as lei foi tramada pra corrigí os nosso defeito. Depois foi inventado o magistrado juiz qui lê as lei e pune os nosso defeito conforme as lei feita. Mais pensando meió, a vida é cheia das armadilha dos egoísmo e vaidade, num tem nada inventado pra lê a cabeça do magistrado juiz. Nem corrigí os defeito dele. Ou foi ele qui inventô deus? Se foi, ele é mais qui deus

os bode dobrô os joêio e já tava no seu lugá de sentá. A teatração exigia mais calma, meió comedimento e maió perícia com os palavreado. Os aviso foi dum lado e otro, mais num ia diminuí o tamanho dos ânimo exaltado. Podia parecê, mais num era queda de braço entre o bem e o mal, o céu e o inferno. Era preciso tê cuidado de cismá com as força metida naquela confusão. O magistrado juiz recomeçô o qui num tinha terminado de dizê, Não é para tanto esse assunto da lista dos doadores ou a lei do imposto da Santa. Não podemos transformar isso tudo em penalidade aos nossos cidadãos do bem. Ajudou, sobe; não ajudou, desce!

o siô padre num se ergueu nas perna, mais subiu a voz pra cima do palavreado do magistrado juiz

É bem assim, mas é claro, também, quem ajuda fica mais acima nas considerações e agradecimentos finais da missa. Acho justo. Quem ajuda menos, sobe, é claro, mas não tanto. E quem não ajuda não vai descer, mas o tamanho da ajuda marca a medida da altura para cima nas redondezas do céu. Ou o tempo de permanência no mesmo lugar, uma espécie de reformatório.

o chefe das pulícia pediu o uso do palavrório e anunciô o qui já se sabia, ele gostava de buscá o meliante descumpridô das lei. Queria sabê se era pra fazê cumprí as lei da doação. Mais cabia ao magistrado juiz enxergá as medida qui cada pilantra e malfeitô merecia tê. Acreditava qui pilantra só aprende com a dô. Era sua obrigação fazê o pilantra apanhá. Num gostava, pelo menos, era o dito pelo chefe das pulícia, mais depois de colocá as mão no fugitivo das lei ele esperava o palavreado do magistrado juiz, O incomodo é que na maioria das vezes não é possível esperar pelo sinhô Magistrado Juiz, nem pelo inferno. Tem negro que pede pelo corretivo, gostava de repetí esse seu lema favorito quando perdia um qui otro preto pelo falecimento

Isso tudo é balela!

Conversa mole!

Se tudo que já foi doado fosse usado com economia, sem abuso das mãos dos pretos, já teríamos erguido duas igrejas! Em vez de uma casa santa, teríamos duas igrejas!

o qui foi feito daquelas pessoa hospitalêra, cantada nos verso da poesia? Num sei num sei se existiu ou é uma lembrança inventada. No meu feitio de lembrá, sempre foi gente qui pisava em quem num jurava lhe sê de uso. É gente dona de gente inté hoje. Veja o exemplo do visconde bomfim. Ele num plantava nem criava nada nas terra qui sua família tomô posse purqui quis tomá. Lá nos arredó do caminho do meio. Deixava os mato ruim crescê, mais avisava qui o plano precisava esperá passá o tempo qui havia de passá. Depois, dia pra mais ou menos, sem pressa de tá desabastecido do pão ou leite, sem dô, sem vento gelado, prudente, sem ficá misturado no amontoado da fome, vendia um qui otro pedacinho das terra no justo preço qui pagô. Pelo mêno, essa era a discursêria dada, toda veiz qui aparecia compradô interessado. Mais tudo qui era do conhecimento sobre o visconde, num acreditava. Num teve preço qui ele pagô, munto mêno, a sua família. Um fiô de grilêro como o visconde num compra terra, quando munto, ele compra o escrituradô pra fazê a papelada duma compra qui nunca existiu. Na continuação, gostava de afirmá qui a lei era boa, mais um pouco dura com gente como ele qui produzia a riqueza da villa. Num se amoldava com os imposto cobrado, A vereança da Câmara não pode ceder nem pode aprovar outro imposto!

sabia qui na causa contra os imposto num tava sozinho, os fala mansa e adocicada tava do seu lado, o lado de num querê imposto. Tinha os calado: gente nebulosa, secreta e duvidosa. Ele num sabia munto o qui eles pensava, mais apostava qui tumbém num pagava. Ninguém paga. Só paga obrigado, Os fazedores das leis enlouqueceram!

a reunião da irmandade virô panela no fogo. E se os tamanho das labareda num diminuí a fartura dos alimento vai queimá

Aumentar os impostos, onde?

No charque e no couro!

A la puta!

o grito de horrô foi dado e saiu do meio pro fundo do casarão. Os bode levantô dos assento. As palavra ia e vinha, dum lado e otro. Tudo borbuiando. O siô padre mexeu nas brasa do fogo com coié de pau, corre o perigo de ficá sem a coié e o pau

Meus filhos, vamos conversar sobre as doações...

Essas doações não chegam?

Nem pensar em aumentos sobre o imposto do charque!

Gran putas!

otro grito de guerra, esse foi mais curto e grosso, um gatilho disparado do meio pra frente. O salão remexido borbuiava embaixo da tapadura da panela. Os cozido secava. A tampa pulava. As janela estremecia, embruiava a barriga dos mais desacostumado

Logo agora, os filhos-das-putas platinas estão de bobagem, querendo compensação para o nosso gado pastar do lado deles. São chantagistas! Desavergonhados!

Mas é a Lei!

Só é Lei o que nos serve! Nós fazemos a Lei!

E se for uma vergonha a Lei?

Padre, a Vergonha deixa de ser uma Vergonha quando se torna Lei!

Está bem. Uma peste assim e precisamos ficar amigos dos fazedores da Lei.

Padre, só permitimos aos amigos redigirem a Lei. Limpamos cuidadosamente os obstáculos que nos atrapalham.

Beba mais um pouco do vinho, Padre.

E o Imperador?

a purugunta do siô padre fez caí o silêncio. Parecido com o silêncio aborrecido do esposo qui chega em casa contrariado, num sopra um ruído, inté qui solta um suspiro qui a esposa agradece, agora ela já pode pensá qui sabe o qui é, Ah, se eu pudesse partir, e ela, a esposa, tumbém solta o seu zumbido de reclamação, Tudo vai melhorar, meu esposo. Vamos comer, otro gemido do esposo, a mesma lamentação, Partir só depois de morrer, uma mancomunação qui se eleva e afasta o corpo da muié e do hôme, mais segura o lugá da boa família nas dominguêra. A luta das aparência parece sê mais ensurdecedora qui a longa e entediante eternidade qui se aproxima

Esse Imperador? Que nenhum monarquista bajulador nos ouça, baixô a voz e a irmandade acompanhô o sigilo, fez mutismo pra ouví a resposta sobre o imperadô, esse tal imperador portugues porque brasileiro ele não é, está mais preocupado com os lençois e as rameiras. É o flagelo da família e dos costumes certos da igreja. Não vai durar muito.

o qui agitava os estancêros era o medo da diminuição dos lucro, num era nenhum sentimento de humanidade ou uma luta por esperança. A luta era pra tê mais qui os otro, parecê sê uma ventania de destruição qui num tem moldura. O cio da longa e entediante eternidade se aproxima com fome de corpo... novo ou véio, tanto faz. Sempre tem fome. A vida num dá conta da fome da morte e inventa as guerra

Já começaram a derrama?

Ainda não, mas é uma questão que o tempo não resolve. Essa confusão vem, mais dia menos dia.

Meus filhos... meus filhos... o charque não é assunto para ser resolvido aqui.

o siô padre num queria um assunto tão amotinadô misturado com as suas doação. Era um tempo de munta desconfiança e revolta dos estancêros com o governo imperiá

Não sinhô Padre! Aqui é um bom lugar para o começo de alguma coisa.

Uma revolta!

Isso mesmo!

Ninguém aguenta mais! Os impostos do comércio do couro e do charque é assunto de muita importância!

o siô padre sabe qui o meió jeito de perdê as amizade é ficá devendo o dinhêro emprestado. E imposto é tomá emprestado pra fazê bão uso pra tudo qui é gente, mais quem decide o qui é gente e o qui gente num é

Os fios-da-puta platinos estão colocando o couro e o charque mais barato direto em São Paulo e no Rio de Janeiro!

os estancêro tava tudo em pé, aos grito disso e daquilo. É gente boa de grito. O padre sentô. A hora de levantá ia voltá. Precisava tê aturamento e confiança. Num podia prevê tudo. Os grito continuava

Se o Governo Imperial não quer baixar os tributos do nosso charque e do nosso couro, então que faça tributação em cima dos platinos!

o siô padre sentado. Ele sabia tê confiança, coisa aprendida com a agonia e a poesia da cruz, mais precisava cuidá de vigiá as blasfêmia e as rachadura das confiança. Ele mesmo já foi o pedaço pervertido de algum imbecil caridoso, em um tempo antes da igreja em sua vida. Sabia qui num podia se descuidá, mais num sabia a hora de fazê silêncio, Meu filho, vosmecê está desatinado, eu sei que aumentar os impostos...

Desculpe, Padre! Mas não sou seu filho. Sou o que o Governo Imperial conhece por sucre. Estancieiro-soldado. E do jeito que os platino são tratados, chega a dar na vontade ficar do lado deles. Riscar no chão outras fronteiras!

o siô padre perdeu o momento de guardá as palavra, mais num perdeu o tino de tudo. Continuô sentado. Num era bão manté aquela discussão toda com o fio do pavio erguido em cima da perna. Inté qui o legisladô bicão pediu otro uso da palavra, já devidamente alevantado

Mas quem foi que anunciou o aumento nos tributos do charque?

o chefe das pulícia da villa num deu tempo pra resposta alguma, ainda com as mão manchada do bode, levantô a voz pra se anunciá na controvérsia

Assim, com esse modo de falar cheio de intrigas e mentiras, vosmecês acabam criando uma guerra civil!


otra veiz o mesmo aviso, ninguém parece escutá



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