sábado, 20 de maio de 2017

O Segundo Sexo - 9. Fatos e Mitos: um dos traços mais notáveis

Simone de Beauvoir



9. Fatos e Mitos


Primeira Parte
Destino

CAPITULO I
OS DADOS DA BIOLOGIA




 : um dos traços mais notáveis




UM DOS TRAÇOS MAIS NOTÁVEIS, quando percorremos os diversos graus da escala animal, é o fato de que de baixo para cima a vida se individualiza; embaixo, ela emprega-se unicamente na manutenção da espécie, em cima ela gasta-se através de indivíduos singulares. Nas espécies rudimentares, o organismo como que se deixa reduzir ao aparelho reprodutor; nesse caso, há primazia do óvulo, e portanto da fêmea, posto que o óvulo está principalmente votado à pura repetição da vida; mas ela não passa de um abdome e sua existência é por inteira devorada pelo trabalho de uma monstruosa ovulação. Atinge, em relação ao macho, dimensões gigantescas; muitas vezes seus membros são apenas cotos, seu corpo um saco informe, todos os órgãos degeneram em proveito dos ovos. Em verdade, embora constituindo dois organismos distintos, machos e fêmeas mal podem então ser encarados como indivíduos, formam um só todo com elementos indissoluvelmente ligados: são casos intermediários entre o hermafroditismo e o gonocorismo. Assim, entre os entoniscíneos que vivem como parasitas no caranguejo, a fêmea é uma espécie de chouriço esbranquiçado, envolvido em lâminas incubadoras que encerram milhares de ovos; no meio destes encontram-se minúsculos machos e larvas destinadas a fornecer machos de substituição. A escravização do macho não é ainda mais total entre os edriolidíneos: acha-se ele fixado sob o opérculo da fêmea, não possui tubo digestivo pessoal e seu papel é unicamente reprodutor. Mas em todos esses casos não é a fêmea menos escravizada do que ele; ela está escravizada à espécie. Se o macho encontra-se preso à fêmea, esta também se encontra presa ou a um organismo vivo de que se nutre como parasita ou a um substrato mineral; consome-se na produção dos ovos que o minúsculo macho fecunda. Quando a vida assume formas mais complexas, esboça-se uma autonomia individual e o laço que une sexos se afrouxa. Mas entre os insetos os dois sexos permanecem estreitamente subordinados aos ovos. Amiúde, como entre os efemerópteros, macho e fêmea morrem imediatamente depois do coito e da postura; por vezes, como entre os rotíferos e os mosquitos, o macho, desprovido de aparelho digestivo, sucumbe após a fecundação, enquanto a fêmea, que pode alimentar-se, sobrevive; é que a formação dos ovos e a postura exigem algum tempo. A mãe expira logo que o destino da geração seguinte acha-se assegurado. O privilégio da fêmea, entre grande número de insetos, provém de ser a fecundação um processo geralmente muito rápido, ao passo que a ovulação e a incubação dos ovos exigem um trabalho demorado. Entre as térmitas, a enorme rainha — empanturrada de papa, que põe um ovo por segundo até que, afinal estéril, é exterminada impiedosamente — não é menos escrava do que o macho anão, grudado ao abdome dela e que fecunda os ovos à proporção que vão sendo expelidos. Nos matriarcados dos formigueiros e das colmeias, os machos são uns importunos exterminados em cada estação: no momento do voo nupcial, todos os machos saem do formigueiro e alçam voo em busca das fêmeas; se as atingem e fecundam, morrem logo após, esgotados; se retornam, as operárias impedem-nos de entrar, matam-nos ou deixam-nos morrer de fome. Mas a fêmea fecundada tem um triste destino: afunda solitariamente no solo e não raro perece de esgotamento, pondo os primeiros ovos. Se consegue reconstituir um formigueiro aí passa doze anos fechada, desovando incessantemente; as operárias, fêmeas cuja sexualidade foi atrofiada, vivem quatro anos, mas uma vida inteiramente consagrada ao cuidado das larvas. O mesmo ocorre entre as abelhas: o zângão que se une à rainha no voo nupcial cai ao chão mutilado; os outros zângãos são recolhidos à colmeia onde levam uma existência ociosa e embaraçante. No início do inverno, executam-nos. Mas as fêmeas abortadas, as operárias, pagam seu direito à vida com um trabalho incessante; a rainha é, de fato, a escrava da colmeia: desova incessantemente. E, quando da morte da velha rainha, várias larvas são alimentadas de maneira a poderem disputar a sucessão; a que nasce primeiro assassina imediatamente as outras. A fêmea da aranha gigante carrega os ovos numa bolsa até a maturidade; é bem maior e mais robusta que o macho, e devora-o após o coito. Observam-se os mesmos costumes na fêmea do louva-a-deus, em torno da qual se cristalizou o mito da feminilidade devorante. O óvulo castra o espermatozoide, a fêmea do louva-a-deus assassina o parceiro: tais fatos prefigurariam um sonho feminino de castração. Mas na realidade, é principalmente em cativeiro que a fêmea do louva-a-deus manifesta tanta crueldade; em liberdade, com alimentação suficiente, é muito raro que devore o macho. Se o faz, é como a formiga solitária que não raro come alguns de seus ovos, a fim de ter forças para desovar e perpetuar a espécie. Ver nesses fatos uma prefiguração "da luta dos sexos" que opõe os indivíduos como tais, é divagar. Nem entre as formigas, as abelhas e as térmitas, nem no caso da aranha ou do louva-a-deus, pode-se dizer que a fêmea escraviza e devora o macho: é a espécie que, por vias diferentes, devora a ambos. A fêmea vive mais tempo e parece mais importante, mas não tem qualquer autonomia; a desova, a incubação, o cuidado com as larvas constituem o seu destino, sendo suas demais funções total ou parcialmente atrofiadas. No macho, ao contrário, esboça-se uma existência individual. Muitas vezes, manifesta na fecundação mais iniciativa do que a fêmea; ele é que vai à procura dela, ataca-a, apalpa-a, segura-a e impõe-lhe o coito. Por vezes tem que disputá-la com outros machos. Correlativamente, os órgãos da locomoção, do tato, da preensão, são nele mais evoluídos; muitas borboletas fêmeas são ápteras enquanto os machos possuem asas; estes têm cores, élitros, patas, pinças mais desenvolvidos, e não raro essa riqueza é acompanhada de um verdadeiro luxo de cores brilhantes. Fora do coito fugaz, a vida do macho é inútil, gratuita. Ao lado da diligência das operárias, a ociosidade dos zângãos é um privilégio notável. Mas esse privilégio é um escândalo; amiúde o macho paga com a vida uma futilidade em que se esboça a independência. A espécie que mantém as fêmeas escravizadas pune o macho que pretende escapar à escravidão: suprime-o brutalmente.

Nas formas mais elaboradas da vida, a reprodução torna-se produção de organismos diferençados: assume dupla face. Mantendo a espécie, cria também novos indivíduos. .Esse aspecto inovador afirma-se à proporção que a singularidade dos indivíduos se confirma. O que impressiona então é que os dois momentos da perpetuação e da criação se dividem; essa cisão já indicada no momento da fecundação do ovo reencontra-se no conjunto do fenômeno gerador. Não é a própria estrutura do óvulo que exige essa divisão; a fêmea possui, como o macho, certa autonomia e sua ligação com o óvulo afrouxa-se; o peixe, o batráquio e o pássaro fêmeos não são apenas um abdome; quanto menos estreita é a ligação da mãe com o ovo, menos o trabalho do parto é absorvente, maior é a indeterminação na relação dos pais com a prole. Pode acontecer que o pai se encarregue de alimentar as vidas recém-formadas; isso é coisa frequente entre os peixes. A água é um elemento suscetível de levar os óvulos e o esperma a assegurarem sua união; a fecundação no meio aquático é quase sempre externa. Os peixes não se juntam, quando muito alguns se esfregam um contra o outro, para se estimular. A mãe expulsa os óvulos; o pai expele o sêmen; idêntico é o papel de ambos. Não há razão para que a mãe, mais do que o pai, reconheça os ovos como seus. Em certas espécies, estes são abandonados pelos pais e desenvolvem-se sem ajuda; por vezes, a mãe lhes prepara um ninho; por vezes, ainda, ela vela sobre eles após a fecundação; mas, amiúde, é o pai que os toma a seu cargo: logo depois de os ter fecundado, expulsa a fêmea que os tenta devorar, e os defende ferozmente contra qualquer presença. Citam-se alguns que constituem uma espécie de ninho protetor emitindo bolhas de ar envolvidas numa substância isolante: outros incubam os ovos na boca ou, como o hipocampo, nas pregas do ventre. Observam-se fenômenos análogos entre os batráquios: não conhecem um verdadeiro coito. O macho abraça a fêmea e assim estimula a desova, deixando escapar o sêmen na medida em que os ovos saem da cloaca. Amiúde — particularmente no sapo conhecido pelo nome de sapo-parteiro — é o pai que, enrolando rosários de ovos em volta das patas, os carrega consigo e assegura-lhes o desabrochar. Entre os pássaros, a formação do ovo dentro da fêmea opera-se assaz lentamente, sendo o ovo, relativamente grande, expelido com dificuldade; esse ovo tem com a mãe relações muito mais estreitas do que com o pai que o fecundou durante um coito rápido. É, em geral, a fêmea que o choca e vela pelos filhotes. Mas, muito frequentemente, o pai participa da construção do ninho, da proteção e da alimentação da prole. Há casos, muito raros — como entre os pardais — em que o pai é quem choca e cria. Os pombos, machos e fêmeas, secretam no papo uma espécie de leite com que alimentam os borrachos. O que é notável, em todos esses casos em que o pai desempenha um papel nutriente, é que, durante o período em que se consagra à prole, a espermatogênese interrompe-se: ocupado em manter a vida, não sente mais o impulso de suscitar novas formas de vida.


É entre os mamíferos que a vida assume as formas mais complexas e individualiza-se mais concretamente. Então a cisão dos dois momentos vitais, manter e criar, realiza-se de maneira definitiva na separação dos sexos. É nessa divisão — considerando unicamente os vertebrados — que a mãe estabelece com sua progênie as relações mais estreitas e que o pai mais se desinteressa dela. Todo o organismo da fêmea adapta-se à servidão da maternidade e por esta é comandado, ao passo que a iniciativa sexual é apanágio do macho. A fêmea é a presa da espécie; durante uma ou duas estações, segundo os casos, toda sua vida é regulada por um ciclo sexual, o ciclo do estro, cuja duração e ritmo de sucessão variam de uma espécie a outra. Esse ciclo decompõe-se em duas fases: durante a primeira, há maturação dos óvulos (em número variável segundo as espécies) e um processo de nidificação no útero; durante a segunda fase, produz-se uma necrose graxosa que conduz à eliminação do edifício assim elaborado sob a forma de um corrimento esbranquiçado. O estro corresponde ao período do cio; mas o cio tem na fêmea caráter passivo; ela está preparada para receber o macho: aguarda-o. Acontece mesmo, entre os mamíferos — como também entre certos pássaros — que ela o solicite, mas restringe-se a dirigir-lhe um apelo por meio de gritos, atitudes, exibições; não lhe poderia impor o coito. No fim, a ele é que cabe decidir.


Viu-se que, mesmo entre os insetos, entre os quais, pelo sacrifício total que consente em prol da espécie, a fêmea assegura-se a si mesma tão grandes privilégios, é o macho geralmente que provoca a fecundação; muitas vezes, entre os peixes, ele incita a fêmea à desova com sua presença ou com seus contatos; entre os batráquios age como estimulador. Mas é principalmente entre os pássaros e os mamíferos que o macho se impõe à fêmea; frequentemente ela o aceita com indiferença e mesmo lhe resiste. Por provocante ou tolerante que seja, é o macho, de qualquer modo, quem possui: ela é possuída; ele pega, ela é pegada e a palavra tem, por vezes, um sentido muito preciso: ou porque tem órgãos adaptados, ou porque é o mais forte, o macho segura-a, imobiliza-a; efetua ativamente os movimentos do coito. Entre muitos insetos, entre os pássaros e os mamíferos, ele a penetra. Em virtude disso, a fêmea apresenta-se com uma interioridade violentada. Não é a espécie que o macho violenta, porquanto esta só se perpetua renovando-se; pereceria se os óvulos e os espermatozoides não se encontrassem; só que a fêmea, encarregada de proteger o ovo, encerra-o dentro de si própria e seu corpo, que constitui para o óvulo um abrigo, subtrai-o também à ação fecundante do macho. Trata-se, portanto, de uma resistência que cumpre quebrar e, em o penetrando, o macho realiza-se como atividade. Seu domínio exprime-se pela posição do coito: entre quase todos os animais o macho coloca-se sobre a fêmea. Sem dúvida, o órgão de que ele se serve é também material, mas êle mostra-se sob seu aspecto animado: é um instrumento; ao passo que, nessa operação, o órgão feminino não passa de um receptáculo inerte. O macho nele deposita o sêmen; a fêmea recebe-o. Assim, embora desempenhando na procriação um papel fundamentalmente ativo, ela sofre o coito que a aliena de si mesma pela penetração e pela fecundação interna; embora ela sinta a necessidade sexual como uma necessidade individual, posto que no cio acontece-lhe procurar o macho, a aventura sexual é entretanto vivida por ela, no imediato, como uma história interior e não como uma relação com o mundo e com outrem.

Mas a diferença fundamental entre o macho e a fêmea dos mamíferos está em que, no mesmo rápido instante, o espermatozoide, pelo qual a vida do macho transcende-se em um outro, desgarra-se de seu corpo e se torna estranho a ele; assim o macho, no momento em que supera sua individualidade, nela se encerra novamente. Ao contrário, o óvulo começa a separar-se da fêmea quando, maduro, desprende-se do folículo para cair no oviduto; mas, penetrado por um gameta estranho, instala-se no útero. Inicialmente violentada, é a fêmea alienada em seguida; ela carrega o feto em seu ventre até um estado de maturação variável segundo as espécies: a cobaia nasce quase adulta, o cão muito perto do estado fetal. Habitada por um outro que se nutre de sua substância, a fêmea é, durante todo o tempo da gestação, concomitantemente ela mesma e outra; após o parto, ela alimenta o recém-nascido com o leite de suas tetas. A tal ponto que não se sabe quando ele. pode considerar-se autônomo: no momento da fecundação, do nascimento ou da desmama? Ê digno de nota o fato de que, quanto mais a fêmea se afigura um indivíduo separado, mais imperiosamente a continuidade viva afirma-se para além da separação. O peixe, o pássaro que expulsam o óvulo virgem ou o ovo fecundado são menos presos à progenitura do que a fêmea do mamífero. Esta encontra uma autonomia após o nascimento dos filhos: estabelece-se então entre ela e eles uma distância e é a partir de uma separação que ela se devota a eles; ocupa-se deles com iniciativa e invenção, luta para defendê-los contra os outros animais e torna-se até agressiva. Mas normalmente ela não procura afirmar sua individualidade; não se opõe aos machos nem às outras fêmeas; quase não tem espírito combativo(1), A despeito das asserções de Darwin, hoje refutadas, ela aceita sem maior escolha o macho que se apresenta. Não que ela não possua qualidades individuais; ao contrário, nos períodos em que escapa à servidão da maternidade, pode, por vezes, igualar-se ao macho: a égua é tão rápida quanto o garanhão, a cadela de caça tem tanto faro quanto o cão, as macacas demonstram, quando submetidas a testes, tanta inteligência quanto os macacos. Só que essa individualidade não é reivindicada: a fêmea abdica em prol da espécie que reclama essa abdicação.

O destino do macho é muito diferente; acabamos de ver que na sua própria superação ele se separa e se confirma em si mesmo. É um traço constante, do inseto aos animais superiores. Mesmo os peixes



(1) Certas galinhas disputam entre si os melhores lugares do galinheiro e estabelecem uma hierarquia a bicadas. Na ausência dos machos há também vacas que assumem pela força, o comando do rebanho.

e os cetáceos que vivem em cardumes, molemente confundidos no seio da coletividade, dela se afastam no momento do cio. Isolam-se e tornam-se agressivos em relação aos outros machos. Imediata na fêmea, a sexualidade é mediatizada no macho; há uma distância que êle preenche ativamente entre o desejo e sua satisfação; mexe-se, procura, apalpa a fêmea, acaricia-a, imobiliza-a antes de penetrá-la; os órgãos que servem às funções de relação, locomoção e preensão são, muitas vezes, mais desenvolvidos nele. E digno de nota o fato de que o impulso vivo que produz nele a multiplicação dos espermatozoides traduza-se também pelo aparecimento de uma plumagem brilhante, de escamas, cornos, juba, cantos e exuberâncias. Não se imagina mais que o "traje de núpcias" que veste no momento do cio, nem que suas atitudes sedutoras tenham uma finalidade seletiva; exprimem a força da vida que com um luxo gratuito e magnífico então nele desabrocha. Essa generosidade vital, a atividade ostentada em vista do coito, e no próprio coito, a afirmação dominadora de seu poder sobre a fêmea, tudo contribui para afirmar o indivíduo como tal no momento de sua superação viva. É nisso que Hegel tem razão em ver no macho o elemento subjetivo, ao passo que a fêmea permanece envolvida na espécie. Subjetividade e separação significam, desde logo, conflito. A agressividade é uma das características do macho no cio; ela não se explica pela competição, porquanto o número de machos é mais ou menos o mesmo que o de fêmeas; é antes a competição que se explica por essa vontade combativa. Dir-se-ia que, antes de procriar, o macho reivindicando, como propriamente seu, o ato que perpetua a espécie, confirma na sua luta contra seus congêneres a verdade de sua individualidade. A espécie habita a fêmea e consome boa parte de sua vida individual; o macho ao contrário integra as forças vivas específicas em sua vida individual. Sem duvida, ele sujeita-se também a leis que o superam, há nele espermatogênese, e um cio periódico, mas esses processos interessam, muito menos do que o ciclo do estro, o conjunto do organismo; a produção dos espermatozoides não constitui uma fadiga, como não a constitui a orogênese em si: o desenvolvimento do ovo em animal é que é para a fêmea, um trabalho absorvente. O coito é uma operação rápida e que não diminui a vitalidade do macho. Ele não manifesta quase nenhum instinto paternal. Amiúde abandona a fêmea depois do coito. Quando permanece ao lado dela como chefe de um grupo familiar (família monogâmica, harém ou rebanho) é em relação ao conjunto da comunidade que desempenha um papel de protetor e de alimentador; é raro que se interesse diretamente pelos filhos.





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O SEGUND O SEXO
SIMONE DE BEAUVOIR

Entendendo o eterno feminino como um homólogo da alma negra, epítetos que representam o desejo da casta dominadora de manter em "seu lugar", isto é, no lugar de vassalagem que escolheu para eles, mulher e negro, Simone de Beauvoir, despojada de qualquer preconceito, elaborou um dos mais lúcidos e interessantes estudos sobre a condição feminina. Para ela a opressão se expressa nos elogios às virtudes do bom negro, de alma inconsciente, infantil e alegre, do negro resignado, como na louvação da mulher realmente mulher, isto é, frívola, pueril, irresponsável, submetida ao homem.

Todavia, não esquece Simone de Beauvoir que a mulher é escrava de sua própria situação: não tem passado, não tem história, nem religião própria. Um negro fanático pode desejar uma humanidade inteiramente negra, destruindo o resto com uma explosão atômica. Mas a mulher mesmo em sonho não pode exterminar os homens. O laço que a une a seus opressores não é comparável a nenhum outro. A divisão dos sexos é, com efeito, um dado biológico e não um momento da história humana.

Assim, à luz da moral existencialista, da luta pela liberdade individual, Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, agora em 4.a edição no Brasil, considera os meios de um ser humano se realizar dentro da condição feminina. Revela os caminhos que lhe são abertos, a independência, a superação das circunstâncias que restringem a sua liberdade.


4.a EDIÇÃO - 1970
Tradução
SÉRGIO MILLIET
Capa
FERNANDO LEMOS
DIFUSÃO EUROPÉIA DO LIVRO
Título do original:
LE DEUXIÊME SEXE
LES FAITS ET LES MYTHES
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Segundo Sexo é um livro escrito por Simone de Beauvoir, publicado em 1949 e uma das obras mais celebradas e importantes para o movimento feminista. O pensamento de Beauvoir analisa a situação da mulher na sociedade.

No Brasil, foi publicado em dois volumes. “Fatos e mitos” é o volume 1, e faz uma reflexão sobre mitos e fatos que condicionam a situação da mulher na sociedade. “A experiência vivida” é o volume 2, e analisa a condição feminina nas esferas sexual, psicológica, social e política.


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Leia também:

O Segundo Sexo - 8. Fatos e Mitos: na grande maioria das espécies


O Segundo Sexo - 1 Fatos e Mitos: que é uma mulher?


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