sábado, 11 de novembro de 2017

histórias de avoinha: existimos porque resistimos

mulheres descalças


existimos porque resistimos
Ensaio 111B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar




A África é um lugar triste!

os trêis villêro do comércio de vendê a cura mais a bebida e mais carregá a comida do charque das pelotas inté a villa... se oiô. depois, ainda sem dizê nem ai ou ui, fez rodízio pra oiá pru forastêro. nehum sabia dizê pru qui o recém-chegado disse uqui disse, justo no meio daquele alvoroço e corre-corre atrás do pretu fujão, o hôme com cara de viajado parecia sabê mais qui aparentava sabê pela língua afiada

o juca foi o primêro qui destravô a língua, fez a purugunta qui tava na cabeça dos trêis villêro, Vosmecê já visitou a terra dos negros?

a resposta num saiu logo da boca do atentado, ele, no meu feitio de oiá pra contá os ocorrido, tava medindo os trêis ouvinte, escoiendo qual das história dava mais distração e formosura, qual delas era meió pra contá naquele lugá de arrepiá

é assim mesmo, quem conta as história vê antes das palavra saí pelos vento afora balançando, depois de saí elas fica clandestina dos pensamento. ele tava escoiendo qual a meió história pra contá e qui oferece a meió purgação prus ouvinte. esse viajante é bão, num fala só pra dizê qui falô

Sim, meus amigos. Já visitei a África algumas vezes. O sol ardente e muito luminoso que lava todo continente negro causa tristeza, horror, medo e desespero, parô as palavra e mediu o estrago feito, e decretô a sentença qui ele sabia qui os villêro tava esperando escutá, a África tornou o negro involuído pelo espírito.

os trêis amigo do comércio, e mais eu, tava com a boca aberta, eles pelo alívio da confirmação ou desejo de querê sabê qui o lugá dos pretu era pió qui aqui, eu pelo arrependimento de tê entrado nesta história como testemunha e narradô. num tava gostando do rumo qui as coisa tava tomando. o recém-chegado falava dum jeito claro e duro, num tinha nas pronúncia das palavra nehuma pista do lugá das suas origem, podia sê visto em qualqué lugá. é claro, pelo menos pra mim, qui esse forastêro onde seja qui vai ou vem, leva junto a morte qui já o possui aos pedaço, isso é fácil de vê, é só querê vê, mais num parece qui é assim qui os villêro vê ele, Eu não disse, Juca? Eu disse, sim. Aqui, eles vivem melhor que nesta África!

essa bondade num é ingenuidade nem desinteresse, é coisa de gente sem espritu, sem a justiça da cortesia, seguramente é fazê uso da maldade sem dó nem piedade. gente com tanta ruindade num dá nó sem ponto, num dá nada se num tivé troca, num oferece da vida o contentamento. eles vive rastejando como a cobra mais venenosa qui oferece esmola antes do bote, E o que mais o senhor Domingos Jorge viu, nesta terra selvagem de muito sol e secura?

os quatro associado continua atento neles mesmo, o forastêro pra sabê se as palavra tá do agrado, os villêro pra tê uqui dizê depois qui os quatro dispersá. o alvoroço do pretu fujão acordô cada um qui vive acomodado sem espritu e sem bondade, ajuntando as coisa ruim do pensamento sem música, mais qui pode acordá arrojado e cruel quando encontrá otras coisa ruim se soltando. a imaginação da maldade trabáia as coisa mais dura da tristeza, é um jogo de castigo e esmola inté os pretu ficá desanimado, desinteressado, apático, com usóio triste e com medo, aleijado das vontade

Eu diria sem medo de errar, e de coração gostaria de estar errado, que Deus Nosso Senhor, depois da sua grandiosa criação do mundo e da repartição das diferentes raças, algumas destoantes, é bem verdade, ocultou na África a borra que restou no fundo do seu balde divino. Tenho a mais profunda fé que Ele fez o negro no físico e no espírito inferior através dos milênios.

a cólera mansa vestida com as palavra da bondade caritativa num desvestia a mania mórbida de desdenhá e avançá sobre os pretu. tudo dito assim, tem um propósito, é pra num tê vergonha nem prejuízo na hora de comprá os pretu. é o jogo da oferta e da procura. o gozo maligno e mutilado de querê sê superiô ao mesmo tempo que atrai tumbém provoca repugnância, uma indecisão entre a vaidade e a covardia, o medo e a falta de culpa, Eu não disse, Joca? A criação se cumpre paciente como o andar da carreta dos bois, Deus no céu, nós na terra, não tem necessidade de apressar o que já está escrito: a negrada como símbolo da tristeza, a noite escura do próprio destino. E tenho dito que essa é uma sentença divina.

num parece qui vai tê dia seguinte dessa escravidão

os quatro se colocô a andá pru lado e oiá pra baixo, lá prus lado do rio o alvoroço num parecia tê fundura. a sepultura continuava sendo cavada, num tinha milagre chegando e se anunciava o fim do muriquinhu pretu, o fim do corpo. era só uma coisa de esperá pelo tempo passá

Concordo, a negada não tem alento na luta pelo próprio progresso, não conseguem desvestir a mortalha do desespero para todo sempre.

as palavra dum devora o coração dos otro quando num é só dita pra sê dita, mais jurada pra descê no meio da escuridão dos pensamento. a ceguêra qui reza num tem nada além dos monstro escondido e com sede pra virá mania. a contemplação com a tortura aleija, a chibata é a treva dos espritu desmanchado da harmonia

os abicu vê as larva do ódio deformando as mão, metade garra, metade sopapo, arruinando aqueles qui vai sendo educado pelos dono de tudo, é triste vê a invenção da maldade dominá tudo, fazê hôme e muié caducá antes de ficá véio e murchá, podre o espritu antes de morrê da carne. os abicu vê pruqui sabe vê, mais tumbém pruqui nóis qué vê, num vê quem num qué vê, E o que mais o recém-chegado viu por lá?

Posso lhes garantir que melhor que ir foi ter voltado, escapado com vida, os quatro fez silêncio, o forastêro pareceu tê levado os pensamento e as palavra pra longe, pareceu tê voltado na terra dumbigo do mundo, mais o abicu sabe qui ele num levô e num voltô, era o seu feitio de mostrá importância e gravidade nas palavra qui tava preparando pra soltá. num queria tê dúvida da resposta pra sê dada. andô dois passo pra frente, voltô dois passo, o rodomoinho das pessoa continuava, o teatro do forastêro tumbém

cerrô um dos punho e colocô o punho fechado na palma da otra mão. parecia sofrê com as palavra qui tava pra soltá da boca quase sem nenhum dente, uma boca vazia como as esmola qui os trêis comerciante soltava sem gosto

O que eu vi, meus amigos? Eu vi quadros tristes que se desdobram em paineis e se completam na tela brutal dos desenganos e desesperos da terra negra, berço da mais desgraçada de todas as raças!

tava com os dois ombro erguido, mais num tinha nada na sua figura descuidada, apenas a alucinação dos pensamento cego e das palavra fria acostumada com as duas bochecha desavergonhada. a voz malvada, sem piedade e sem vergonha, num se importava com as lembrança perdida na distância. num tinha boa fé. tinha fé no feitio malévolo e amargo qui os trêis villêro bebia pruqui eles queria bebê, eles queria creditá, Eu não disse? Eu disse!

O que foi Maneco?

o carretêro do charque e tudo qui pode carregá na carreta dos boi pra trazê das pelotas inté a villa e levá pra lá, num tava só afumentando conversação recostada nas poltrona da casa grande, nem a cuia carregava nas mão nem o oiá tava perdido pelo campo afora, mais ele num tinha dúvida nem precisava reavivá antiga suspeita, A negrada não é gente, meus amigos, mas feras traiçoeiras e terríveis!

num tem mais conforto qui escutá do cumpadi ou amigo ou fronteriço qui os pensamento da cabeça dum tumbém tá carregado no curação deles, mais quando um desconhecido chega dizendo as palavra certa pra enfeitá essas certezas com mais confiança, isso num tem preço, nada mais importa qui tá certo na questão dos pretu. num importa a história das cruz fincada na terra, tem mais importância os pensamento retorcido e mutilado pela força das corrente e da chibata: a miséria da vontade única. o vento, talvez só o vento, consiga lutá contra essa força desumana

usóio do caçadô triunfa solene atrás da máscara do ódio qui eles jura qui num é ódio. as palavra dita e repetida fica famosa, os interrogatório vira torcida, inté qui os corpo da torcida tumbém fica retorcido, mais num é ódio, como eles diz, ódio os dono de tudo sente pelo inimigo, pelos pretu é desprezo

mais o abicu num se engana, os dono de tudo vê os pretu como inimigo e despreza com ódio esse inimigo, qui eles num pode cantá em verso e prosa. os dono de tudo num pode sê herói nesta guerra do usofruto dos pretu qui eles obriga trabaiá pela vida, pela comida fria e fedida

Muitos são canibais de canibais espalhados pelo continente. Escondem-se no fundo de cavernas, nas selvas, nos sovacos mais escuros e medonhos.

os amigo villêro continuava embruxado pelas palavra do viajadô, sem dúvida, eles se acha menó qui ele pruqui eles tinha o embaraço de num sê viajado nem sabê tanta coisa do avesso do mundo. eles mais torcia qui conversava, dava eco pras palavra do viajadô, Uma raça infeliz que não passou da idade alvar de sua espécie.

num era só desprezo, num era só ódio nem só agiotagem com o corpo dos pretu, mais tumbém uma obrigação prus villêro mutilá os ossos, as carnes e as vontade dos pretu na villa, maltratá os pretu e os índio virô profissão. espaiá o medo virô emprego, desuní com a mentira virô ocupação de trabáio. e vai ficá pió pruqui essas lição depois de aprendida passa do pai pru fio, Imagino os perigos que o nobre senhor Domingos Jorge passou na sua visita de captura dos negros na terra negra. Precisamos contar essas histórias para nossas crianças!

Bem-dito, senhor Joca... aquela terra é um lugar triste e bárbaro...

usóio e o rito triunfa sobre a verdade, quem sabe meió manejá a contação das história vai moldá as lembrança, vai assegurá a bebida qui todos vai bebê. a verdade num tem intenção, ela é só isso, a verdade. a intenção tá com a contação das história e a habilidade com a boa e má fé

... quando avistamos de longe as terras escarpadas e nuas aproximamos cautelosamente a nau da orla marítima. Saltamos como crianças à terra com suas montanhas azuladas. O cair de uma folha ou o soprar da brisa arrepia até os cabelos, num tem como num pará pra escutá o recém-chegado, as história qui ele conta num tem como sabê se é ou num é como ele conta, os trêis villêro tava decidido qui creditava, oferece a impressão que aquele lugar é agressivo, bárbaro e inóspito. A nossa missão era penetrar terra adentro e tomar para as correntes o maior número de desafortunados.

os amigo comerciante num queria interrompê o desembaraço do viajante, o invasô das terra distante dumbigo era muntu bão com a contação das história

Ainda hoje, apesar dos nossos enormes esforços sanitários e colonizadores, a África não é um lugar hospitaleiro. O clima, a hostilidade da fauna, as doenças e as tribos são obstáculos à vida humana civilizada.

E quantas vezes o senhor já visitou a África para capturar escravos?

Doenças? O senhor poderia esclarecer melhor? Afinal, todos temos negros em nossas casas...

No meu ver, os negros da África estacionaram, depois retrocederam. A falência da raça negra é própria da natureza!

os trêis villêro num conseguia escondê a animação, eles tava comovido com as ideia do traficante dos pretu

A raça negra do vasto continente africano perdeu contato com o mundo, ficou sem novos alentos civilizatórios superiores. As suas relações ficaram restritas as populações aborígenes ou inferiores. Não tinham ainda atingido um grau de civilização necessário para viver isolada do mundo. A escravidão veio se transformar na porta por onde invadiram o mundo civilizado, tanto moral quanto físico.

E as doenças? As mulheres carregam muitas doenças escondidas?

Malária, o tsé-tsé, causador da doença do sono, o stegomya, que provoca a febre amarela. É um lugar repulsivo apesar dos esforços da nossa avalanche lusitana que penetrou o mundo para descobrir novos mundos e construir novas civilizações no inferno negro.

Imagino quantos dos nossos sucumbiram e não receberam nem uma cruz de saudade...

É verdade, meus amigos. Isepultos bordaram a terra negra de ossos brancos que tombaram nas mãos de negros vingativos e sedentos da carne de gente branca!

Coitados!

Rezemos...

lá, pelos lados do rio, chegavam os gritos qui avisava como um sino destrambelhado, véio e enferrujado, qui só serve pra alarmá as defesa da villa e avisá nascimento ou morte importante

Pegaram! Pegaram!

Colocaram as mãos no negro fujão!

A corda! Tragam a corda! Forca para ele!

Assassino!

uma poêra grossa misturada com cuspe num deixava eles vê o acontecido





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