domingo, 31 de dezembro de 2017

Não sei o que é o tempo

Fernando Pessoa

Não sei o que é o tempo por JOAQUIM LOPES




"Não sei o que é o tempo. Não sei qual a verdadeira medida que ele tem, se tem alguma. A do relógio sei que é falsa: divide o tempo espacialmente, por fora. A das emoções sei também que é falsa: divide, não o tempo, mas a sensação dele. A dos sonhos é errada; neles roçamos o tempo, uma vez prolongadamente, outra vez depressa, e o que vivemos é apressado ou lento conforme qualquer coisa do decorrer cuja natureza ignoro.

Julgo, às vezes, que tudo é falso, e que o tempo não é mais do que uma moldura para enquadrar o que lhe é estranho. Na recordação, que tenho da minha vida passada, os tempos estão dispostos em níveis e planos absurdos, sendo eu mais jovem em certo episódio dos quinze anos solenes que em outro da infância sentada entre brinquedos.

Emaranha-se-me a consciência se penso nestas coisas. Pressinto um erro em tudo isto; não sei, porém, de que lado está. É como se assistisse a uma sorte de prestidigitação, onde, por ser tal, me soubesse enganado, porém não concebesse qual a técnica, ou a mecânica, do engano.

Chegam-me, então, pensamentos absurdos, que não consigo todavia repelir como absurdos de todo. Penso se um homem que medita devagar dentro de um carro que segue depressa está indo depressa ou devagar. Penso se serão iguais as velocidades idênticas com que caem no mar o suicida e o que se desequilibrou na esplanada. Penso se são realmente sincrônicos os movimentos, que ocupam o mesmo tempo, em os quais fumo um cigarro, escrevo este trecho e penso obscuramente.

De duas rodas no mesmo eixo podemos pensar que há sempre uma que estará mais adiante, ainda que seja fracções de milímetro. Um microscópio exageraria este deslocamento até o tornar quase inacreditável, impossível se não fosse real. E por que não há o microscópio de ter razão contra a má vista? São considerações inúteis? Bem o sei. São ilusões da consideração? Concedo. Que coisa, porém, é esta que nos mede sem medida e nos mata sem ser? E é nestes momentos, em que nem sei se o tempo existe, que o sinto como uma pessoa, e tenho vontade de dormir."



Bernardo Soares / Fernando Pessoa, em "Livro do Desassossego"







TEORIA DA RELATIVIDADE 

- O TEMPO









Alzir Fraga


"A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente A gente lê isso, acha bonito e segue adiante sem maiores cogitações. Já pensaram realmente o que isso quer dizer? Pensaram nas consequências para a física, a filosofia, a religião, a própria vida em si? Isso é de deixar qualquer um tonto e inteiramente desarvorado

Lembrem-se que essa teoria foi formulada antes que fossem constatados os efeitos da Mecânica Quântica. Einstein era determinista, ou seja, se um objeto está em movimento, ele só vai parar ou modificar seu movimento se alguma força externa atuar sobre ele. Por isso Einstein disse "Deus não joga dados". Se um fenômeno for verdadeiro, sempre que ele for repetido var causar o mesmo resultado. Isso é verdade no macrocosmo, mas não no microcosmo. Na mecânica quântica, não existe um resultado sempre determinado pelos componentes físicos. O que existe é apenas uma incerteza. O resultado vai dar uma percentagem de um resultado e outras percentagens de outros resultados diferentes. Admiro muito Einstein e nada de sua teoria da relatividade foi desmentido até hoje, mas eu prefiro olhar para os dois lados quando vou atravessar uma rua. Se o futuro fosse imutável, não poderia ser modificado por minha decisão de esperar um pouco ou atravessar logo a rua, independente de vir um carro ou não."






Viagem no Tempo









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