segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Clementina, O Canto dos Escravos

 Clementina De Jesus

 

- Clementina, E o Canto dos Escravos 



Canto I

Yao ê,
Ererê ai ogum bê.

Com licença do Curiandamba,
Com licença do Curiacuca,
Com licença do Sinhô Moço,
Com licença do Dono de Terra.(x6)

Clementina de Jesus, Tia Doca e Geraldo Filme interpretam esse belíssimo Canto I, do Álbum O Canto dos Escravos, LP prensado em 1982, contendo cantos ancestrais dos negros benguelas, de São João da Chapada, Diamantina, Minas Gerais, cujas letras e partituras estão contidas na obra de Aires da Mata Machado Filho, O Negro e o Garimpo em Minas Gerais.


Canto II

Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino,
Parente de quiçamba na cacunda.

Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai,
Ô parente, pro quilombo do dumbá. (x2)

Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino,
Parente de quiçamba na cacunda.

Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai,
Ô parente, pro quilombo do dumbá. (x2)

Ê, chora, chora gongo,ê dévera, chora gongo chora,
Ê, chora, chora gongo, ê cambada, chora gongo chora.

Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino,
Parente de quiçamba na cacunda.

Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai,
Ô parente, pro quilombo do dumbá. (x2)

Ê, chora, chora gongo,ê dévera, chora gongo chora,
Ê, chora, chora gongo, ê cambada, chora gongo chora.

Clementina de Jesus interpreta o belíssimo Canto II, do Álbum O Canto dos Escravos.


Canto III

Oenda auê, a, a!
Ucumbi oenda, auê, a...
Oenda auê.a a!
Ucumbi oenda, auê, no calunga.

Coro 1º:

Ucumbi oenda, ondoró onjó
Ucumbi oenda, ondoró onjó (bis)

Coro 2º:

Iô vô oendá, pu curima auê
Iô vô oendá, pu curimá auê (bis)

Oenda auê, a, a!
Ucumbi oenda, auê, a...
Oenda auê.a a!
Ucumbi oenda, auê, no calunga.

Coro 1º:

Ucumbi oenda, ondoró onjó
Ucumbi oenda, ondoró onjó (bis)

Coro 2º:

Iô vô oendá, pu curima auê
Iô vô oendá, pu curimá auê (bis)

Oenda auê, a, a!
Ucumbi oenda, auê, a...
Oenda auê.a a!
Ucumbi oenda, auê, no calunga.

Coro 1º:

Ucumbi oenda, ondoró onjó
Ucumbi oenda, ondoró onjó (bis)

Coro 2º:

Iô vô oendá, pu curima auê
Iô vô oendá, pu curimá auê (bis)

Geraldo Filme interpreta esse belíssimo Canto III, do Álbum O Canto dos Escravos.


Canto IV

Ei ê, oia puru céu, oia puru céu,
Puru terra.

Riabo t'inganou, Muriquim,
Puru terra.

Riabo t'inganou, João Inácio!
Oia pru céu!

Puru terra. (x3)

Tia Doca interpreta o Canto IV, do Álbum O Canto dos Escravos. 


Canto V

Ei ê covicará

iô bambi

tuara vassange ô atundô mera

covicara tuca atunda

Dona Maria de Ouro Fino,

Crioula bonita num vai na venda

chora, chora, chora só

chora, chora, chora só.

Clementina de Jesus interpreta esse belíssimo Canto V, do Álbum O Canto dos Escravos.


Canto VI (Canto dos Escravos)

Mia cavalo anda em pé, iorô!
Mia cavalo come em pé.
O riabo leva o cavalo
mia cavalo anda em pé. (bis)

Ei! cavalo!
Purru, cavalo?!

Ei! cavalo qui puto ô nguenda,
Oiô, cavalo!

Purru, cavalo!

Geraldo Filme interpreta esse belíssimo Canto VI do Álbum O Canto dos Escravos.


Canto VII

Jambá cacumbi queremá,
turira auê,

jambá cacumbi queremá,
mapiá turi,
turira auê mapiá,

turira auê, mapiá,,
turira auê mongorombô. (x5)

Álbum: O Canto dos Escravos - Interpretação de Clementina de Jesus - Tia Doca - Geraldo Filme.


Canto VIII

Nda popere catá ô Tinguê,

nda popera ô catá (bis)

Tingui á uauê!
Nda popere catá,

Tingui á uauê, iá!

Interpretação de Clementina de Jesus


Canto IX

Ei ê lambá.
quero me acabá no sumidô
quero me acabá no sumidô

lambá de vinte dia
ei lambá
quero me acabar no sumidô

Ei ê lambá
quero me acabá no sumidô
quero me acabá no sumidô

lamba de vinte dia
ei lambá
quero me acabar no sumidô

Ei ererê.

Geraldo Filme interpreta o Canto IX.


Canto X

Ei, ei, que foi à fonte (bis)
sinhora me disse
que foi à fonte

sinhora me disse
que foi à fonte
com dois barris
que foi à fonte
com dois barris
que foi à fonte

sinhora me disse
com dois barris. (x4)

Tia Doca interpreta o Canto X na companhia de Clementina de Jesus e Geraldo Filme.


Canto XI

Otê!
Padre-Nosso cum Ave-Maria,
securo camera qui t'Angananzambê, aiô...

Aiô...T'Angananzambê, aiô!...

Calunga qui tom' ossemá,

Calunga qui tom'Anzambi, aiô...

O Canto XI interpretado por Clementina de Jesus, Tia Doca e Geraldo Filme.


Canto XII  

São João foi no céu, foi passear,
foi visitar noss'sinhô. (x2)

São João foi no céu.

São João foi no céu, é dévera,
São João foi no céu, é mentira,
omen, omenhá, rossequê,
omen, omenhá, rossequê,
omen, omenhá, rossequê, coroá.

São João foi no céu, foi passear,
foi visitar noss'sinhô. (x2)

São João foi no céu.
São João foi no céu, é dévera,

São João foi no céu, é mentira,
omen, omenhá, rossequê,
omen, omenhá, rossequê,
omen, omenhá, rossequê, coroá.

Clementina de Jesus, a inolvidável QUELÉ, interpreta o Canto XII.


Canto XIII

Galo já cantou, eh, eh,
Cristo nasceu,
dia amanheceu,

galo já cantou. (x2)

Eh, eh, toma galo,
dia amanheceu, toma galo,
Cristo levantou, toma galo.

cacariacô
Cristo no céu, toma galo,
dia amanheceu, toma galo.

Galo já cantou eh, eh,
Cristo nasceu,
dia amanheceu,
galo já cantou. (x2)

Eh, eh, toma galo,
dia amanheceu, toma galo,
Cristo levantou, toma galo.

cacariacô
Cristo no céu, toma galo,
dia amanheceu, toma galo.

Galo já cantou eh, eh,
Cristo nasceu,
dia amanheceu,
galo já cantou. (x2)

Eh, eh, toma galo,
dia amanheceu, toma galo,
Cristo levantou, toma galo.

cacariacô
Cristo no céu, toma galo,
dia amanheceu, toma galo.

Galo já cantou eh, eh,
Cristo nasceu,
dia amanheceu,
galo já cantou. (x2)

Tia Doca interpreta o Canto XIII 


Canto XIV

Uanga ô assomá,
qui popiá,

qui dendengá
uanga auê,,,

Uanga ô assomá,
qui popiá,

qui dendengá
uanga auê, ererê...

Geraldo Filme interpreta o Canto XIV







O CANTO DOS ESCRAVOS - Clementina de Jesus, Tia Doca, Geraldo Filme

Em 1928, indo em gozo de férias a S.João da Chapada, município de Diamantina, chamaram-me a atenção umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração. Fui ter com um dos conhecedores, o meu bom amigo João Tameirão, que, com solicitude, satisfez à minha curiosidade de aprender as cantigas.

Tomei notas apressadas, que vim depois a rejeitar. E, nas curtas estadas naquele aprazível e tranquilo arraial, nunca deixei de observar alguma coisa sobre os tais cantos de trabalho, cuja importância foi crescendo em meu conceito, à medida que fui adquirindo conhecimentos novos.

Entendi, posteriormente, de realizar, de vez, o velho plano de recolher os "vissungos", como lhes chamam, reunindo ainda o vocabulário e a gramática da "língua de banguela", certamente transformada em nosso meio.

Quase nada consegui na primeira investida. Lá ficava, porém, o meu colaborador, Araújo Sobrinho, com instruções minhas.

Voltando, mais tarde, encontrei novidades: um vocabulário de duzentas palavras, colhidas na boca de "seu" Tameirão, algumas cantigas e a notícia do falecimento do nosso prestimoso amigo.

Fiquei pelos cabelos, imaginando que tudo estava perdido. Mas não tardaram em aparecer outros conhecedores. E, depois de peripécias que não vêm ao caso, conseguimos, com um outro cantador, letra, música e tradução, ou antes "fundamento", como eles dizem.

Não sei se seremos felizes com as notas e reflexões. O certo, porém, é que só o material, que tivemos a sorte de desencavar em nossa mineração, bastaria para justificar o aparecimento de um livro.

À colheita do material seguiu-se o exame da bibliografia sobre o assunto. Compulsando livros de linguistas e etnógrafos, tivemos ensejo de estabelecer confrontos e reforçar hipóteses. Muitas vezes, vimos a autenticidade dos modestos achados e a plausibilidade das reflexões confirmadas pelas contribuições dos eminentes estudiosos que antes de nós lavraram o terreno. Com isso pudemos evitar, quanto possível, generalizações apressadas, cotejos fantasiosos e afirmações apriorísticas. Se o não conseguimos, não foi por falta de necessária diligência.


Aires da Mata Machado Filho - O texto acima foi publicado como introdução do livro "O Negro e o garimpo em Minas Gerais (Editora José Olímpio), de Aires da Mata Machado Filho, sendo aqui reproduzido com a permissão do autor, que igualmente autorizou o Estúdio Eldorado a realizar a gravação de quatorze das sessenta e cinco partituras registradas naquela obra.


Tia Doca - Jilçária Cruz Costa, conhecida como Tia Doca da Portela ou Tia Doca (Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 1932 — Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2009) foi uma pastora da velha-guarda da Escola de Samba Portela.



LADO A

1 — CANTO I — com Clementina de Jesus, Geraldo Filme e Doca
2 — CANTO II — com Clementina de Jesus
3 — CANTO III — com Geraldo Filme
4 — CANTO IV — com Doca
5 — CANTO V — com Clementina de Jesus
6 — CANTO VI — com Geraldo Filme
7 — CANTO VII — com Doca

LADO B

1 — CANTO VIII — com Clementina de Jesus
2 — CANTO IX — com Geraldo Filme
3 — CANTO X — com Doca
4 — CANTO XI — com Geraldo Filme
5 — CANTO XII — com Clementina de Jesus
6 — CANTO XIII — com Doca
7 — CANTO XIV — com Geraldo Filme

PERCUSSIONISTAS:

Djalma Correia: tronco, atabaques, xequerê, enxada e cabaça
Papete: atabaques, xequerê, agogô e ganzá
Don Bira: atabaques, caxixi, xequerê e afoxê
Projeto e Coordenação Artística: Aluízio Falcão
Direção Musical, Produção e Direção de Estúdio: Marcus Vinícius
Técnico de Gravação e Mixagem: Flávio Barreira
Direção de Arte e Capa: Ariel Severino
Clementina de Jesus, cedida gentilmente pela gravadora Emi Odeon.


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Fontes: 

http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/album-o-canto-dos-escravos
https://www.youtube.com/channel/UC_keoktqPE74X6HZEYhKyAA

Relações Étnicos-Raciais

youtube




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