Ensaio 31
baitasar
você
não vem e vai me deixando aqui, criando as raízes da impaciência. a privação da
alegria cotidiana me enche de desânimo, fazer junto as pequenas coisas não é
romantismo, é biológico. a vida pra você pode ser sonolenta, mas sou muito
agitada. não gosto de silêncios. quando você me aprender vai saber que eu
escolho os gritos, pois eles reclamam a dor da outra pessoa como válida,
mostram que vês o que a outra pessoa quer muito mostrar
— Perdão, meu amor. Tenho muitos medos
dentro de mim. O silêncio para mim é biológico. Não consigo curar minhas
tristezas.
sei
que incomodo e atrapalho, é que cada coisa que eu faço queria fazer junto...
romantismos ultrapassados, mas isso me imobiliza, quando estou triste queria
tanto teu colo, melhor não dizer nada
— Adelaide. Adelaide... também tenho
saudades...
então,
larga tudo e o silêncio, estou cheirosa e de banho tomado vem fazer amor
gostoso e dormir ao meu lado, casa comigo
O
guri tava ali, deitado nas tábua assoalho, os cabelo longo embrulhados no chão,
a cabeça colada nas tábua ouvindo sua Adelaide dos sonho, uma mulher diferente,
ele acendia os pensamento resmungando com as tábua do assoalho. Eu... do meu
jeito, historiando pro assoalho das tábua, tanta era a vontade de fazer
continuação
— Sèzar. Sèzar. O amigo escritista ta
escutando?
— Alto e bem claro, mas se o rabanete
preto não se importa, vou ficar deitado. — um dos ouvido colado nas tábua do
assoalho, precisava escuta a voz da sua Adelaide, não entendo por que ele não
cuida melhor daquela mulher que lhe sonha e sussurra do amor, cheia dos desejo
— Não senhor, chega! Vamos sentar, se o
escritista não senta, eu não continuo a historiação com a avó... e chamo o
serviço da vizinhança pra jogar na rua esse lixo sujo.
— Não enche o meu saco, rabanete de merda!
— Então, o que vai ser?
Ficamos
sentados, frente a frente, olhando através daquela mancha com falta de luz,
tudo na volta em silêncio, as tábuas falando da avó
— Estava escutando os dois moleque caçando
a avó... depois o silêncio abençoado, pensei comigo, enquanto olhava a fumaça
que me subia da boca, esses dois acharam sentido de se espairecê sem
necessidade da avó, inda bem, e não é que tava certa, os dois neinhos jogando e
não se prestam de convida essa velha que sabe pra ensina, dois moleque desagradecido.
— E a avó por onde se tinha enfiado? — o
Tigão colocava esforço de sossego e compostura na voz — ... cansamo de procura
a avó.
Revirô
os olho como se estivesse ensaiando um desmaio, miramo o baseado nos dedo da
avó, bem pequeno, quase no bagaço, a vermelhidão nos olhos denunciava o uso,
pareceu que as perna deram uma pequena estremecida
— Dois moleque preocupado com a avó que
tava apenas dormindo num pedaço das lembrança, ocês parem com esse antecipatório
de desgraça.
— E o quê a avó acendia com os pensamento?
— A saudade... gostava de cantar no
encerramento da missa, era misseira. Cheguei a tocar cavaquinho, até que
apanhei na rua da puliça. Era proibido nêga na rua com instrumento de música,
ou qualquer instrumento de felicidade, não podia tirar meu sapato furado da
pequena África... neinhos, muiê negâ precisa carregá o espírito da guerreira.
A
avó depois de agitada destravava o pensamento e a língua ficava desgovernada, o
que lhe vinha pra cabeça saia pela boca. Não cogitava papas na língua. Tinha
vez, num relance de alguma brecha do tempo, percebia alguma linha de beleza da
avó, como um risco de trovão no céu mostrava a fúria do seu embelezamento. O
avô dizia que se passou com ele algum encantamento quando viu a avó, tinha
acabado de acha um trevo de quatro folhas, foi o anúncio que a sorte tava com
os seus serviço a favor do avô. Viu lampejos na claridade do dia. Teve a
certeza de mantê a avó ardendo. Nunca precisô fazê simpatia pra não esquece a
avó, sabia que ia lembra pra todo o seu sempre
— Gostava de fazê feijoada na minha moda,
pezinho de porco, tripa, toucinho, linguiça, cebola, duas folha de louro... o
avô de ocêis era analfabeto de escrevê, mas gostava de lê, repetia que as mão
tinha costume com a enxada, não se acertava com o lápis, mas os olho se
encantava com as letra feita. Gostava de dizê verso pra folia de reis, cantava
a história do Menino Deus, de porta em porta.
O
estudo vem, o estudo vai, uns amigo vem, uns amigo vai, no jogo da vida dá pra
cabê a ilusão, mas é preciso toma uns cuidado de vigilância. O Tigão não
parecia sossegado com as história da avó
— Avó... onde tu tava?
— Quando?
— Depois do almoço a avó sumiu.
— Tava deitada na sombra, fumando meu
cigarrinho.
Não
quis vê o Tigão, mas senti o olho dele no meu encalço, não adiantava fecha o
ouvido com um pouco de cera, ele tinha perdido confiança em mim, não fui
prudente com as minha preferência
— Neinhos, gostei da qualidade do fumo, a
Laetitia também aprovô. E ocêis dois moleque... vem até a avó.
A
avó tava de bem com a felicidade, mas misturava as história dentro da cabeça.
Ela não mudou, mas tava atrapalhada. Pegou o rosário das rezas, na mão direita,
levou até a testa, fechou os olho e iniciou reza. Na mão esquerda segurava um
galinho de arruda que agitava calmamente no Tigão, depois em mim, repetia a
mesma reza, Ó mangas, ó changas, ó tangas, ó mirabelas, ó caga verrumas, ó
mijafivelas, ó caralhos, ó bugalhos, ó peidos meus e da Maria e do Matheus; por
que bananas não comeste tu? Por que enfiaste o dedo no cu? Por que não me
disseste que quebrantes tinhas, que eu te curava com três alhos, com três
caralhos, com três bugalhos, com três fios, com três pavios, com três puta que
os pariu
— Por que a avó não vende a saúde?
— Não recebo o que não me é devido, a cura
é por amor ao próximo, não é por mimo nem por gratidão, se não é desse jeito as
reza perde a resultância.
— Pois eu acho que a avó ta rasgando
gratidão.
— Esquece... neinho, vamô toma café com bolinho
frito.
O
Tigão saiu pela porta resmungando que tava atrasado pro compromisso
— Então, come na volta..
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Leia também:
Ensaio 30 - Tigão, vamô joga awalé?
Ensaio 32 - A morte tava viva na avó
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