domingo, 17 de março de 2013

Tigão, vamô joga awalé?


Ensaio 30
baitasar
Na noite de lua cheia, escrever três vezes num papel totalmente branco o nome da pessoa que se quer conquistar e desenhar do lado dos três nomes um único coração. Dobrar o papel e dizer a seguinte frase, três vezes olhando pra lua e pensando na pessoa: ‘Lua, lua, lua, me traga...’, como se chama essa sua paixão perdida?
—        Não precisa nada disso, Fumaça.
—        Diz logo o nome da moça.
—        Adelaide.
Tudo bem, vamos continuar: ‘Lua, lua, lua, traga pra mim a Adelaide’. Colocar o papel dobrado dentro da fronha do travesseiro e dormir. No dia seguinte, joga o papel dobrado em algum mato até o meio dia. Funciona, mas o escritista precisa botar vontade de acredita, senão o encanto se quebra
—        Fumaça, acho tudo isso bobagem. Amor conquistado com simpatia é fantasia da cabeça.
—        O escritista ta certo, amor é pura fantasia da vontade da cabeça e fogaréu da virilha.
—        Então, se acaba o feitiço... acaba o amor.
—        Rapaz, mostra pro Fumaça um amor que não acaba. — o escritista fez silêncio demasiado, não parecia com entusiasmo de continuação no assunto, foi quando o Tigão entrou correndo pelos pensamentos e se intrometeu na conversa de amor com o escritista
—        Mano, onde a avó se meteu?
A voz preocupada do Tigão me devolveu à memória aquela tarde de desaparecimento da avó. O escritista que fosse achar um jeito de resolver os seus feitiços de simpatia com a moça, essa tal Adelaide. Eu tinha os meus jeitos de resolver, ele que fizesse esforço de achar solução. A vida não é só cafuné na cabeça, tem vez, que é preciso mostra o caminho do lado certo, custe o que precisa custa
—        E se a avó ta escondida junto com a nêga Laetitia?
O Tigão me olhô com o branco dos olho enfezado, quase saindo do olho
—        E o guri sabe onde fica esse lugar?
Engraçado como tudo que se diz e se faz não tem só um jeito. O poço que foi esconderijo e depois prisão pra nêga Laetitia, hoje, pode que é a caverna da avó
—        Não... a avó nunca apontou o lado com precisão.
—        Vamo começa em algum luga...
Na verdade, se disse que o tal poço ficava na cozinha, também se disse que o poço podia ta escondido na senzala. Como se a nêga Laetitia nunca tivesse saído do alojamento escravista. O esconderijo da nêga Laetitia incomoda a memória que não é indiferente e precisa escolhe o que vai lembra, Neinho, o branco foi violento e cruel com o trabalhadô escravo. O açoite, a corrente, e o uso que fazia das mulhê, se juntô com as lei que protege a força, a tortura e o castigo, pra doma e abafa os preto. Meu neto, a puliça ta no serviço de todos, mas corre mais ligeiro atrás do preto, Mas avó, os tempo são outro, não tem mais trabalho de escravo, os preto e os branco se misturaram, O neinho tem a certeza pelo que diz ou só repete a bobage dos branco?
Fiquei em silêncio, ela tava com vontade de dizer do seu costume de enxerga a vida, e nada havia de impedi a avó de fala da sua vontade, Ajeita o ouvido de escuta pra mais perto, cheguei bem pertinho, os olho da avó ficaram do tamanho da lua cheia, a boca da avó tinha o cheiro do fumo de corda, toda vez que a lembrança da avó embranquece, pego um pedaço do fumo de corda e lixo feito escova nos pelo do bigode, Isso, assim, bem pertinho, presta atenção, pro puliça os preto não é dono de si mesmo, não é livre, por isso, é mais fácil de corre atrás. Muitos se deixa morre de tristeza, outros se acostuma com a carapinha branca
—        Avó! Avó!
—        Não grita, Tigão.
—        E como vamo encontra a avó?
—        Procurando...
Descemos até o porão do casarão
—        Tigão, a avó não há de se esconde aqui... eu tava aqui, tinha visto.
—        Dormindo com a mão toda melada e os dente se mostrando da satisfação com a alucinação. Do meu modo de vê, ocê não via nada que acontecia na sua volta. — senti um arrepio de espírito pra espírito, Será que a avó viu a professora da geografia fazendo seus serviços de carinho, ensinando que a mão que segura o lápis é mais forte que devia pras carícia, é preciso faze uso da outra, mais boba, menos valente, menos de uso com a força, merda, merda, merda... se viu, não vai faze de conta que não viu, mas isso é outro causo pra se resolvido na hora correta
—        Tigão!
—        O que foi? — a revista na senzala deu em nada, a avó tava em esconderijo que ficava em outro lugar
—        Lembra do jogo que a avó ensino?
—        Que jogo que ocê ta falando?
—        Daquele de fazê colheita e semea as simenti...
—        Lembro um pouco, outro pouco to no esquecimento.
—        Vamo jogá?
—        E a avó?
—        Se ela ta escondida teve vontade de fica ocultada, quieta da intromissão de alguém.
—        Não sei, não...
—        Confia no jogo, é preciso o tempo da semeadura — antes, fizemo reza pra velha senta na volta do jogo, convidando os espírito antigo, velho e moço jogando awalé pra alivia das dificuldade, festejando a semeadura da vida, enquanto o assunto do corpo queima na fogueira, aumentando a latência da poeira dos espírito. A avó diz que o awalé e a poesia flutuam no espaço do não enxergado, tão entre as coisas, pra junta os pedaços da vida que precisa sê contado e colhido. Fiz um risco no chão e dividi os dois território, o meu e o do Tigão, com seis buraco cada um. O sul fico comigo, o norte fico com o Tigão. Cada uma das trinta e seis cova recebeu quatro simenti, assim, cada jogador plantou vinte e quatro simenti
—        Que jogo é esse, Fumaça?
—        Pelo visto, o escritista não consegue ficar mudo e ouvir a história por completo, sem fazer perguntas.
—        Só quero saber o nome do jogo.
—        Awalé.
—        Nunca ouvi falar.
—        Não sei por que, mas... não é nenhuma surpresa. Posso continuar?
—        Você pode explicar melhor?
—        Rapaz... acende outro e eu vou explicando o jogo.
—        O fósforo...
—        Ta sentado em cima.
Ficô combinado que o Tigão inicia o jogo. Ele escolhe uma das cova do seu território e retira tudo que foi simenti e redistribui. A direção do jogo é sempre pela direita
—        Não entendi.

Depois que o Tigão esvaziou a cova escolhida por ele, teve que coloca cada uma das quatro simenti em cada uma das cova seguinte. Os quatro buraco na direita do vazio receberam cada uma sua simenti.
O próximo na vez do jogo sou eu. Da mesma forma escolho uma cova do meu território, retiro dela todas as simenti e redistribuo respeitando os sentido – sempre pra direita – não posso pula nenhuma cova. Assim, as simenti se desconjuntam entre as cavidade do meu território, mas também do teu, Tigão. E cada cova vai acumulando as nova, que se soma nas simenti do começo. Asveis, as cova fica com pouca simenti
—        E o que acontece? — o Tigão se tinha posto em vigília de interesse.
As cova com 1, 2 ou 3 simenti corre risco. Se o simenteiro calcular bem, de forma que a última simenti espalhada caia na cova do outro sementeiro que tenha 1, 2 ou 3 simenti, ele tem o direito de esvazia a cova, recolhendo as simenti pra si e tirando do jogo. Mas isso, vale apenas pras cova com 3 simenti ou menos
—        ...
Assim, as cova do outro simenteiro com pouca simenti se torna alvo. Quando um dos simenteiro consegue colhe todas as simenti de alguma cova, do jeito que eu disse, todas as cova de antes com 1, 2 ou 3 simenti poderão sê esvaziada. É um jeito de consegui, numa só jogada, uma grande quantidade de simenti em seqenciamento
—        Já entendi, vamos jogar.
Calma escritista. Agora, o mais importante, neste jogo, não se tem o direito de deixar o outro sementeiro faminto. Se ele não tem mais nenhuma semente no seu campo, o outro sementeiro deve entregar pra ele uma semente, retirada de uma das suas covas, para o jogo continuar. De uma semente pode se volta com muita
—        Não entendi... como se ganha esse jogo das sementes?
O jogo termina quando o número de sementes é tão pequeno que nenhum sementeiro consegue colher a semente do outro. Ganha quem colheu mais sementes
—        Ah, então, o sementeiro planta e colhe. Precisa calcular pela quantidade de sementes nas covas, de onde parte, onde vai cair e o quanto poderá colher do outro sementeiro. E também, precisa calcular para as covas do seu território não ficarem com poucas sementes
—        Venci, venci... ganhei do Tigão!
—        Joguinho de fresco...
—        Os menino fazendo tanto deboche... por causo do quê?
—        Avó!

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Leia também: 

Ensaio 31 - E o quê a avó acendia com os pensamento?

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