sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 6


Ensaio 31B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




As gentarada do siô da Hora, qui existiu antes dele e ficô existindo nele, não veio junto com os carregamento de navio qui escoltô os avoengo da siá Casta. Os passagêro das estrada de terra leva mais andamento pra chegá no fim do mundo. Fica vagueando como estradêro, gosta de usá os caminho pra experimentá os lugá. As estrada das água têm otro costume com os vento. Otra ligereza. Os aventurêro da Hora demorô pra entendê qui o vento no fim do mundo descia assubiando e cantava subiando.

O fim do mundo é um só, mais dá de usá muitos caminho pra chegá aqui. Tudo tricotado pelo vento e abonançado pelo tempo entre um chimarrão e um causo na beirada do fogo de chão. Chegá, inté é uma coisa de alguma facilidade, basta se aconselhá com os grito das lufada do minuano. 
Quando a gentada da Hora acreditô qui sabia: chegô. Ficá é otra conversa. É otro costume qui precisa aprendê. E quando teve entendimento qui era preciso esquentá e esfriá, num mesmo dia, sem muito queixume: ficô. E foi assim, muito tempo depois dos desbravadô da casta os aventurêro da Hora chegô e ficô.

Eles tinha mais assanhamento qui vontade de conquistá com o suô da testa as terra liberta, um chão rude qui ainda não tinha sido domado. Léguas de terra qui sobrava sem tê uso e com precisão de sê tomada pelo usança. O siô da Hora cresceu sem o costume de derramá o suô da testa nas terra de plantação, trabaio de preto não era o seu trabaio. Não bastava tê as terra, tinha qui tê os escravo pra dá serventia pras terra. Saiu de casa pra procurá as terra já com os escravo. Não demorô pra conhecê a siá Casta, junto com as preta da terra

Essas terras serão minhas ou não me chamo Afonso da Hora, ele decidiu qui ia tê as terra, a moça siá, as preta, os preto, tudo nas mão dele

Coitada da moça...

Coitada? Por quê? Acaso, não lhe trato bem? Não lhe alterno o amargo e o doce? Ajusto os mesmos cuidados com as negras e as brancas. Os jeitos são quase os mesmos.

Não tenho queixume... nem o mifio. Mais o siô não qué a moça com a mesma vontade qui qué se adoná das posse dela, parô de falá. Não ia sê ela, a mucama, mãe do fio bastardo do siô da Hora, qui ia reclamá qualqué coisa qui fosse

Quero a sinhá e as terras que vêm junto com a moça, o pacote todo, mas não se entristeça, vou levar ocê junto com o menino.

Não carece...

Isso não tem discussão... se eu quero, vai acontecer. E se eu não quero, não vai existir nem vai nascer, parô a conversa, não queria levá o nervosismo pra cama, queria a mucama sem enervamento, arrematô aquela conversação com a voz mais doce qui pode inventá, ocê não sabe como é difícil não querer o que não se quer.

A mucama se enrolô antes de levantá, foi colocá as vista no fio soneando. Gostava de tê os óio de homê do siô da Hora, era quando podia mostrá o seu podê, o seu valô, ele resmungando, ela fingindo sê ouvidora. O menino soneando.

Voltô e deixô caí a vestimenta do improviso. Subiu na cama e deitô no seu siô, mais tava séria, inté pareceu tê zelo de rivalidade

Ela não vai sabê sê muié desavergonhada.

Como ocê?

Como essa preta, ela continuô lhe provocando com a língua

Ocê acertô... não quero só a moça, mas quero as terras e a fidalguia aos meus pés. Vou ter as três.

As quatro.

Tudo.

O casório funcionô. Em parte.

A fidalguia da Villa não lhe chamava quando tinha os encontro pra pensá as tramoia de tirá vantagem. Ele inté recebia chamado de comparecimento nas coisa decorativa, os aparecimento de bajulação. Mais os ajuntamento com azoeira de angu, os decisório sobre os comportamento dos vilêro, nos dia e nas noite, era coisa qui só os bambambã da finura fidalga recebia chamado, e apelo de encorajamento pra modo de comparecê.

A roda de conversa deles era silenciosa, um qui otro falava, os qui não falava tava ali pra concordá. Eles não tinha costume de batuque com dança, sapateado e palma. O siô da Hora não tinha apelo de tamanha camaradagem num mundo nem notro. Tava sozinho naquela guerra. Quem só qué fazê o qui qué termina desajudado. Não tinha onde confiá nem onde amarrá o seu burro, mais ele tinha tempo de esperá. Sabia qui mais tempo, menos tempo, a Villa ia lembrá de não esquecê sua generosidade. Não havia como sabê de do seu cafuá nem da catimba de dá e depois tirá.

Gostava de caminhá assubiando.

Parô os pé e os assubiu. Ele tava parado, oiando de frente pra Casa dos Molhado, propriedade do espanolito Gaspá Espanhol, um homem forte e atarracado, parecido com um destes castiço das banda do rio Uruguai. O Gaspá mantinha sua casa de comércio vendendo o gênero alimentício líquido. Não misturava as freguesia com os compradô das Casa de Seco e Molhado, tudo escolhido, uma gentarada qui vai numa casa não ia na otra, vêiz qui otra, inté ia, conforme as conveniência da necessidade. Não vendia xarope pra não tê confusão com os aviamento do Juca dos Remédio. Colocava à venda cana da pura e vinho, as mesmas mercadoria de interesse da Casa do Lagarto, propriedade do Fanho, mais cada um com as suas catimba de misturá o qui não é pra ficá sendo. Um feitiço dengoso de encumpridá os lucro e os barulho da cuíca

Buenas noite, sinhô Afonso da Hora, o siô da Hora firmô as vista na porta aberta. Colocado depois do balcão tava o espanolito, com a cara redonda, a vasta cabelêra cacheada e o robusto bigode, tudo isso iluminado pelo fusco fusco do cortejo fúnebre do dia e as pouca claridade da lamparina

Buenas noites, El Gaspar Espanhol!

O estalo da batida da mão do espanholito no balcão saiu porta afora

Entre, sinhô da Hora, o aceno das mãos lhe aumentava o entusiasmo pro convite

Gaspar, num outro dia, o siô da Hora desfez o convite, mais não o entusiasmo do bodeguêro

O sinhô é quem sabe, o Gaspá retrucô a resposta num feitio qui fez parecê qui o siô da Hora tava desperdiçando alguma bajulação qui só podia sê feita no interiô da bodega, a casa é simples, mas tem lugar para todos, sinhô da Hora. Entre!


O siô Afonso da Hora entrô. As vista quase não precisô acomodação, as iluminura dentro e fora da taberna já tava quase com o mesmo brilho opaco. No balcão, o fumo de corda todo enrolado num feitio de cobra braba, a palha seca ao lado

Quer que eu faça um para o amigo?

Um outro dia, Gaspar, o tabernêro continuô picando o fumo

A boa bebida, o fumo e mais a jogatina não podem faltar. O sinhô não concorda?

Nem as mulheres, Gaspar... nem as mulheres podem faltar, o rastro do fumo picado se misturava com o suô dos clientes evaporando da cana batizada qui o Gaspar servia. Os cheiro subia inté encontrá a fumaça da lamparina de querosene e a cobertura das telha de barro, depois caia na cabeça e nos ombro da freguesia. Tudo qui é gente, não importava se era das fidalguia ou povaréu, sabia dos galpão qui ficava nos fundo. A continuação escondida da Casa Grande dos Molhado não tinha lamba, as vêiz, tinha zunzum e zanga, qui a sabedoria e os mistério do Gaspá tratava de resolvê. Ele tinha tudo camuflado no fundo do balcão.

E pra entrá no galpão dos fundo só com o convite do espanolito. Ele vigiava com cuidado os ataque de nervo da honestidade

Aqui, não temos que fingir nenhuma falsidade de escrúpulos. Na Casa dos Molhado não é lugar de traição, o que acontece aqui fica aqui, se o convidado não aguenta que fique com as domingueiras, as conversas no casarão da administração, as tramoias políticas do conselho da municipalidade, e sempre se pode escolher ficar em casa... com o tricô da sinhá. O sinhô da Hora me permite?

Fique na sua vontade.

O tabernêro inclinô-se na lamparina do balcão e aproximô o paiêro da chama. Puxô o ar do cigarro enrolado inté uma brasa se acendê na otra ponta. Tirô o cigarro da boca e assoprô quase tudo qui puxô, mirô pra cima, na direção do telhado de barro.

Sê convidado pra jogatina no galpão do espanolito mostrava o respeito qui o convocado carregava na bolsa. Tinha convite qui era disputado palmo a palmo, o suô da agonia. Tinha vêiz qui a tentação da jogatina chegava no paroquiano e não descia mais do lombo do coitado. À noite se ia e o atrativo do galpão continuava montando nos agoniado. Aquela expiação era mais cobiçada qui os cuidado com a família. E, em vêiz da paz e libertação, recebia a cobrança do desaparecimento da própria riqueza. A vida podia ficá mais dolorosa depois da jogatina. O feitio pra não perdê o perdido na mesa das aposta era entregá a própria vida. O morto se paga. O único proveito qui tira é deixá a vida menos dolorosa; sem sede, sem fome, sem vergonha. Um sono imenso da espera qui não acaba; não tem rosto, não tem gosto, não tem nada, apenas um sono qui não acaba. Tem quem gosta de repetí qui fica do morto as história divertida: é dito nos preparativo pra colocá o morto na terra os papelão qui fez, um qui otro, e só, por causo qui não cabe dizê maldade nem blasfema muito sobre o morto. Os vivo se liga no morto pela cumplicidade com as dô qui sentiu e guardô no armário, as risada qui deu da vida qui podia tê tido. E o qui o morto tem? Nada. Nem a vontade de sê enjoativo e frio ou obstinado e sorridente. E a mesa da jogatina? Nenhum remorso. Cinzenta, dura e sem vômitos. Otra noite. Otro desgraçado. Nenhum rancô, apenas um sono qui não acaba e um morto qui não acorda. Os óio fixo, as órbita parada, sem o clarão da viveza.

O silêncio opaco qui não vê e não fala.

A montanha qui não levanta e não anda.

Mais os convite continuava disputado palmo a palmo.



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