sábado, 8 de novembro de 2014

PataTiva do Assaré (Brasil)

Los Poetas del Amor (15)




pATAtIVA dO aSSARÉ








Sou Cabra da Peste


Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas nunca esmorece, procura vencê,
Da terra adorada, que a bela cabôca 
De riso na bôca zomba no sofrê.

Não nego meu sangue, não nego meu nome,
Olho pra fome e pergunto: o que há?
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.

Tem munta beleza minha boa terra,
Derne o vale à serra, da serra ao sertão.
Por ela eu me acabo, dou a prope vida,
É terra querida do meu coração.

Meu berço adorado tem bravo vaquêro
E tem jangadêro que domina o má.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste fio do Ceará.

Ceará valente que foi muito franco
Ao guerrêro branco Soares Moreno,
Terra estremecida, terra predileta
Do grande poeta Juvená Galeno.

Sou dos verde mare da cô da esperança,
Qui as água balança pra lá e pra cá.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.

Ninguém me desmente, pois, é com certeza,
Quem qué vê beleza vem do Cariri,
Minha terra amada pissui mais ainda,
A muié mais linda que tem o Brasi.

Terra da jandaia, berço de Iracema,
Dona do poema de Zé de Alencá
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.





O Poeta da Roça


Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabaio na roça, de inverno e de estio,
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mio.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestrê, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu seio o meu nome assiná,
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo da roça,

Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,
Da liga pesada, das roça e dos eito
E às vêz, rescordando a feliz mocidade,
Canto uma sôdade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão,

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.









Abaixo acompanha a tradução (como bem disse meu amigo e colega Manoel: " Guimarães Rosa ninguém se atreveu traduzir, afinal o homem era um membro da ABL, ele fez um grande esforço para escrever do jeito que escreveu. Já o PataTiva... )


Era um modelo perfeito 
A mulher que mais amei, 
Linda e simpática de um jeito 
Que eu mesmo dizer não sei. 
Era bela, muito bela; 
Para comparar com ela, 
Outra coisa eu não arranjo 
E por isso tenho dito 
Que se anjo é mesmo bonito, 
Era o retrato dum anjo. 
Sei que alguém não me acredita, 
Mas eu digo com razão, 
Foi a mulher mais bonita 
De cima de nosso chão; 
Era mesmo de encomenda 
E do amor daquela prenda 
Eu fui o merecedor, 
Eu era mesmo sozinho 
Dono de todo carinho 
Daquele anjo encantador. 
Era bem firme a donzela, 
Só em mim vivia pensando. 
Quando eu olhava ela, 
Ela já estava me olhando. 
Para a gente conversar 
Quando eu não ia, ela vinha, 
Um do outro sempre bem perto 
Nosso amor dava tão certo 
Quem nem faca na bainha. 
E por sorte ou por capricho, 
Eu tinha prata, ouro e cobre. 
Dinheiro em mim era lixo 
Em casa de gente pobre. 
Nós nunca perdíamos ato 
De cinema e de teatro 
De drama e mais diversão, 
Não faltava coisa alguma, 
As notas eu tinha de ruma 
Para nós andar de avião. 
Meu grande contentamento, 
Não havia mais maior 
E nossos dois pensamentos 
Pensava uma coisa só. 
Para desfrutar a minha vida 
Perto de minha queria 
Eu não poupava dinheiro. 
Tanta sorte nós tivemos 
Que muitas viagens fizemos 
Nas terras do estrangeiro. 
E quando nós se trajava 
E saía a passear 
O povo todo arredava 
Para ver nos dois passar 
Cada qual mais prazenteiro 
Deste nosso mundo inteiro 
Nós dois éramos os mais feliz 
Vivíamos nas altas rodas 
E só trajava nas modas 
Dos modelos de Paris. 
Assim a vida corria 
E o prazer continuava 
Aonde um fosse o outro ia 
Onde um tivesse o outro estava; 
Para festa de posição 
Das mais alta ingorfação 
Nunca faltava convite 
Para dizer a verdade 
A nossa felicidade 
Já passava dos limites 
Era boa a nossa sorte 
E não mudava um segundo
Ninguém pensava na morte 
E o céu era aqui no mundo. 
Na refeição nós comia 
Das melhores iguarias 
Sem falar de carne e arroz 
E por isso muita gente 
Ficava rangendo os dentes 
Com ciúmes de nós dois. 
Foi uma coisa badeja 
A vida que eu desfrutei, 
Mas para quem tiver inveja 
Dessa vida que levei 
Com tanta felicidade, 
Eu vou dizer a verdade, 
Pois não engano ninguém. 
Aquele anjinho risonho 
Eu vi foi durante um sonho; 
Mulher nunca me quis bem! 
A história não foi verdade, 
Todo sonho é mentiroso 
Aquela felicidade 
De tanto luxo e de gozo 
Sem o menor sacrifício, 
Foi negócio fictício, 
Não foi coisa verdadeira. 
Eu fiquei dando o cavaco:
 “Este alimento fraco 
Só dá para sonhar besteira.” 
De noite eu tinha jantado 
Um mucunzá sem tempero 
E acordei alvoroçado 
Sem mulher e sem dinheiro; 
Ainda reparei bem 
Para vê se via alguém 
De junto de minha rede 
Mas, em vez de tudo aquilo 
Só ouvi cantando o grilo 
Nos buracos da parede. 
Quando acordei estava só 
Sem ter ninguém do meu lado, 
Era muito mais melhor 
Que eu não tivesse sonhado. 
Quem já vai no fim da estrada 
Levando a carga pesada 
De sofrimento sem fim, 
Doente, cansado e fraco 
Vem um sonho enchendo o saco 
Piorar quem já está ruim.”

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