sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 8


Ensaio 33B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar


Uso como navalha, a frase dita pelo Gaspá ficô balançando com as risada solta na boca dos dois, inté parecia duas criança fazendo diabrura. O tabernêro com o dedo do meio espichado, todo aprumado como tivesse se exibindo depois da cerimônia feita com a espada, aplico um pequeno corte na textura fininha da entrada e espero pela linha de sangue, parô o relato heroico e puxô a última brasa viva do paiêro. Ameaçô jogá as cinza do peito na penumbra da taberna, mais engasgô com os escombro cinzento. Ficô desengonçado, armava e desarmava a limpeza da goela. Nada saia ou entrava. A rouquidão presa no peito. A vontade de se livrá do engasgo não tirava o engasgo. Não bastava tê a vontade. Ele se parecia com um cachorro perdido nas ruas que ninguém dá atenção. Não bastava querê saí das rua, precisava tê um lugá pra ficá e acomodá as mania.

Quando o tabernêro ficô com a cô azulada a freguesia levantô, mais não deu passo atrás nem pra frente, queria oiá meió... só isso. O siô da Hora colocô as duas mão no balcão sem tê qualqué serventia. O oiá de diabrura agora parecia de nojo. Nessa altura dos acontecimento o Gaspá já tava roxo e babando. As vista estarrecida não parecia acreditá qui ele se terminava assim: engasgado, na frente da freguesia; desalinhado, desaprumado, deselegante, babando, sem despedida. Acaso, desse no jeito de se explicá, tinha certeza qui ia partí sem pecado. E se Deus fosse justo mesmo sem a extrema-unção do siô padre. Não parecia tê mais jeito de salvação desse lado do balcão.

Uma das freguesia do tabernêro era o covêro do cemitério branco. O homê da enterração continuava sentado. Foi o único qui não levantô, parecia sabê onde aquela confusão ia terminá. Oiava e esperava. Uma das mão metida no bolso acariciava a fita de fazê as medida; na otra, o copo com a destilada misturada na água. Não mostrava tá sorrindo nem parecia tê preocupação.

Na porta da rua, o povaréu se ajuntô. A curiosidade da coisa ruim nos otro atrai inté em começo de escuridão. Uns queria vê a cara da morte, otros apostava que ela não ia aparecê. O empurra daqui e puxa dali não ajudava o desengasgue do moribundo babão. O Juca da Botica dos aviamento corria pela rua da praia, preocupado qui não havia de corrê mais rápido com medo da estrada escurecendo, foi avisado do pedido de ajuda urgente: socorro de vida. Pelo retrato falado, achava qui não tinha socorro de serventia, mais, na dúvida, foi resolvê o chamado nem qui fosse só pra ficá oiando e anunciá o fim do balconista. Quando chegô foi logo avisando qui precisava passá

Com licença, obrigado... por favor, preciso passar, foi quando apareceu uma pretinha, vindo de qualqué lugá. Ela pegô a cabeça do Gaspá com as duas mão e colocô a boca preta na boca roxa do tabernêro. Assoprô e puxô o qui assoprô, cuspiu as cinza com sangue no chão. O tabernêro deu um grito de pavô qui parecia tê amaldiçoado toda a Villa. Babava verméio na boca e escorria a mesma cô do nariz, mais ele tinha voltado do lugá da escuridão e respirava desengasgado do desespero de ficá lá

O que foi isso, Gaspar?

Nervosismo, sinhô da Hora.

Ninguém tirava os pé nem as vista, todos qui podia ficava com a visão no lugá onde tava o tabernêro; lá fora, um dos preto qui ninguém viu quem foi, mais qui só podia sê coisa de preto, anunciô qui o tabernêro não aceitô o convite da muié da foice e voltô do compromisso com a morte depois de recebê o tranco do encosto. Pronto, foi o qui bastô pra corrê na Villa qui o tabernêro foi salvo da escuridão pela graça e vontade dum encosto. Quando o Juca afastô os curioso, um a um, e colocô as vista no tabernêro, o susto do pió acontecê já tinha passado. E as pessoas já procurava acomodá nas história o qui cada um contava do jeito qui viu

O que aconteceu, Gaspar?

Nervosismo, Juca.

O covêro da Villa branca largô a fita das medida, tirô a mão do bolso e pediu otra dose da pinga. O tabernêro ergueu a destilada aguada e anunciô

Essa é na conta da casa!

Vida longa, Gaspar!

A freguesia levantô pra modo de sê servida no balcão. Um e um, com o seu copo pra recebê a destilada misturada na água, a fila foi nascendo e crescendo inté no balcão. As coisa na taberna já tava se livrando das vista com curiosidade. A vida começava se acomodá nas festa da bebida, das conversa mole e dos atrevimento

Gaspar, ocê precisa conversar aqui com o Juca. E pedir um aviamento para essa tosse vermelha.

Estou na sua disposição, meu amigo, é só passar lá na botica, o Juca não tinha a distinção dos doutô, mais na prática do dia-a-dia e nas coisa de febre pouca ou sangramento pequeno ele inté arriscava os seus palpite e aconselhamento

Não carece... foi só nervosismo, o tabernêro ergueu a destilada pura, qui deixava escondida atrás do balcão, sem as mistura da água pra desencorpá o gosto e aumentá os lucro, serviu um, dois, três dedo, nos dois copo. Ofereceu um copo pro Juca e o otro ficô na mão do siô da Hora

Não bebo em serviço, Gaspar. e preciso voltar que o escurecimento já tá brabo.

A vontade é sua, Juca.

O socorrista fez as despedida do costume, precisava voltá pra botica

Até mais ver, sinhô Afonso da Hora. E ocê, Juca, aparece na botica.

Inté mais ver, Juca.

Depois qui o Juca saiu, a taberna já tava parecendo como antes do nervosismo do Gaspá, um belo ofício de serví as pessoa sem pressa. Um lugá onde as obrigação ficava vagando, escondida pelos canto. O apuro de tosse trancada do Gaspá já tava disfarçado. O tabernêro subiu um brinde pras menina da cô negra. Nos últimos tempo, o tabernêro parecia tê grudado nas ideia as pretinha

Salve a dobradura fininha qui as negrinhas carregam e que dá tanto gosto rompê! Salvem as negrinhas!

Foi tudo num só gole.

Então, ela respondeu o chamado. Apareceu na porta, nas costa do tabernêro: a pretinha do socorro. Vinha descoberta da cintura pra cima. Carregava nos óio a transparência das tristeza qui ninguém se importava vê. A carapinha tava rala, recém crescendo do corte com navalha. O rosto tinha três sulco na testa, parecia linha feita pra continuação do nariz. Nas feição de lado do vulto mais três marca, parecia estreitá a distância da linha grossa dos lábio com a volta da nuca. Era as marca qui contava do seu lugá de antes, feita pelas mão segurando ferro-velho afiado. Umas tinha as marca do lugá angola, otras do congo, benguela, cabinda. As preta mina e muitas otras. As marca dela fazia anunciação do lugá qui veio e provocava as memória, negava o rechaço das lembrança escondida. As marca anunciava qui o lugá dela não era aqui, foi roubada do seu lugá de vivê as alegria, as tristeza, as cantoria, as dança, as reza, quase tudo ficô lá. O qui não ficô, ela trouxe nas lembrança, nas marca e no choro qui fez virá cantoria.

A pretinha passô pela cortina de pano cinza e caminhô inté o Gaspá. Não parecia tê muito tamanho. Ela parô no lado do tabernêro. Ele pareceu não tê gostado daquela aparição, mais desviô as vista da freguesia e oiô a menina. Ela continuava oiando a transparência, ele oiava a gula qui não sabia controlá. Os dois continuava em silêncio. A aparição lhe fez siná de aproximação. O Gaspá dobrô a cabeça e virô as vista de lado, pra modo de escutá meió. Esperô o cochicheio da pretinha qui não se demorô, mais parecia não tê muita força, quase não podia rompê o silêncio da morte

Agora, não.

Ela esbugaiô as vista. O tabernêro sabia desconjuntá as boa intenção e as ruindade, também. Era grosseiro, desatencioso e gritadô. Gostava de ganhá no grito. Anunciava as mentira do mesmo jeito qui as suas pouca verdade. Não dava importância pras menina nem pros poeta

Volte, lá para dentro, a pretinha de pouco tamanho saiu na disparada, parecia tá virando fumaça. Ela não sabia o qui tinha dado errado

O que foi isso, Gaspar?

A pergunta do siô da Hora lhe fez pensá as banalidade da resposta

Essa mulherada, meu amigo, apontô com os óio a pretinha qui desaparecia na cortina cinza.

O siô da Hora esticô as vista da cobiça e da curiosidade. Oiô com argúcia, depois com ironia, por cima do balcão, voltô as vista no homê nada requintado, mais perturbado na confiança. Parecia qui ardia em febre. Não viu nenhum feitio de muié. Caminhô sua atenção lá e cá, inté qui firmô as vista no tabernêro. Sentiu um estremecimento qui mais se pareceu um arrepio. Não pensô qui viu, mais teve o pressentimento qui o Gaspá deixô de sê o mesmo qui sempre foi

Como ocê está, homem de Deus?

O otro não parecia tê escutado a pergunta de afligimento do siô da Hora, continuava sua falação estranha

Essa mulherada, tanto faz serem as negras ou brancas, estão sempre querendo se mostrá com as suas maneiras de cozinhar. Uma querendo ser melhor que a outra.

Quem, Gaspar?

O tabernêro balanceô a cabeça num lado e otro, parecia na procura de alguém. Um pequeno fio verméio tinha escapado pelo canto da boca e ficô pendurado. Seco. Anunciando qui a aparência da saúde boa não era mais boa

O sinhô não viu? A pretinha veio me chamar para jantar, como se eu pudesse fechar a taberna e me sentar para apreciar sua comida.

Não vi ninguém, Gaspar.

O tabernêro serviu todo o copo e tomô num gole só. Precisô dobrá o corpo pra não mostrá a máscara da dô. As mão apoiada nos ombro da pretinha não deixô ele dobrá inté o chão.

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