sábado, 2 de abril de 2016

XXVII – Mitologia dos Orixás: Odudua [245] [247]

Odudua


Reginaldo Prandi




Odudua briga com Obatalá e o céu e a Terra se separam


No princípio de tudo, quando não havia separação entre o Céu e a Terra, Obatalá e Odudua viviam juntos dentro de uma cabaça. Viviam extremamente apertados um contra o outro, Odudua embaixo e Obatalá em cima. Eles tinham sete anéis que pertenciam aos dois.

À noite eles colocavam seus anéis.

Aquele que dormia por cima sempre colocava quatro anéis e o que ficava por baixo colocava os três restantes. Um dia Odudua, deusa da Terra, quis dormir por cima para poder usar nos dedos quatro anéis. Obatalá, o deus do Céu, não aceitou.

Tal foi a luta que travaram os dois lá dentro que a cabaça acabou por se romper em duas metades. A parte inferior da cabaça, com Odudua, permaneceu embaixo, enquanto a parte superior, com Obatalá, ficou em cima, separando-se assim o Céu da Terra.

No início de tudo, Obatalá, deus do Céu, e Odudua, deusa da Terra, viviam juntos. A briga pelos anéis os separou e separou o Céu da Terra.

[245]





Odudua é encarregado de dotar os homens de cabeça


Quando Olodumare quis fazer o mundo, desceu com Obatalá para realizar a sua obra. No entusiasmo da Criação, Olofim fez coisas maravilhosas, como as árvores, as nuvens, o arco-íris e os pássaros, mas também teve fracassos e deixou coisas pela metade.

Os homens, por exemplo, foram feitos sem cabeça e a obra pareceu a Olofim imperfeita, inconclusa.

Incomodado com o desacerto, Olofim encarregou Odudua de fazer cabeças para os homens. Odudua fez as cabeças, mas as deixou com apenas um olho. Também não gostou do resultado Olodumare e encarregou Obatalá de colocar dois olhos onde estão agora. Foi ele que também deu aos homens uma boca, além de ter-lhe dado a voz e as palavras que saem dela. Os homens, então, passaram a ser como os conhecemos e tudo parecia bem.

Hoje, no entanto, toda a Criação de Olofim está ameaçada de destruição pela ação dos homens, pois alguma coisa neles não funciona bem. Não se sabe se foi por erro de Olofim, ou se foi por algum descuido de Odudua.

[247]


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Leia também:

XXVI – Mitologia dos Orixás: Ajê Xalugá [243] [244]

XXVIII – Mitologia dos Orixás: Oraniã [249] [250]


Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.



Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.




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