mulheres descalças
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- filho amado!
Ensaio 120B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
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os dois cumpadre correu o risco qui na bendita verdade num foi ameaça pra eles, mais muntu aperto e vergão de perigo pras duas muié de barriga e as duas menina nascente. tudo pelo costume de refestelá na villa qui a vida ali obedece as vontade dos hômi. e se tem mania qui as pessoa da villa preserva com as unha e os dente é os costume de creditá qui só os hômi pode mudá as natureza da vida
na villa, a natureza da vida é a natureza dos hômi. as pessoa credita assim. desde piquininina elas vive assim, o pescoço e as perna amarrada na mesma vida, só oiando pra frente, num podendo virá as cabeça e as ideia pru lado. a vontade qui elas vê na frente é os capricho qui pras pessoa da villa merece tê vida
os dois desacatô os cuidado com a vida, obrigô as muié e as muriquinha nascente corrê o risco de tê a vida perdida pra sempre. os cumpadre jogô no palito o jogo das fantasia e o contentamento de condecorá com o nome do fundadô dos parente tudo o muriquinhu qui eles acreditava tá vindo, o nome mais antigo e conhecido das família. a vida num é mais longa qui a história, mais as ideia qui espraia a magia das coisa simples ou o pesadelo da estupidez viaja pelas vida através da história
no plano dos dois cumpadre, primêro tinha qui nascê o muriquinhu varão pra recebê o nome das família, levá em frente os costume e as natureza da vida. devia nascê com um varão, mais num vêio. em veiz do varão nasceu a rachadura. os dois cumpadre chegô trocá ideia entre eles pra emprestá ou dá as muriquinha, mais foi só uma ideia mesquinha e sem magia qui num deu certo
a inácia diminuiu a penca dos muriquinhu qui ela amparô e cortô o umbigo, mais, pra ela, isso é só um amontoado das conta com número qui num tem serventia, a única conta qui ela dava importância anunciava qui a tatuzêra continuava sem tê perdido uma criança qui ajudô desembuchá
a siá reginalda anacleta da margem crespa num conseguiu parí o muriquinhu pra seguí os costume de lembrá o nome do fundadô da família margem crespa. o nome mais entranhado qui a família margem crespa carrega é do mais antigo dos parente conhecido: joão margem crespa! qui foi pai do antônio joão, qui no seu tempo foi pai do josé antônio joão, qui mais tarde foi pai do inácio josé antônio joão da margem crespa
qui no seu tempo num teve parido o manoel inácio josé antônio joão, mais teve parida a muriquinha joana
inácio já tava com tudo acertado e o nome do piá pronto pra saí da garganta, Manoel Inácio José Antônio João da Margem Crespa!
num foi assim, agora o siô inácio passava dia e noite se puruguntando como e onde fraquejô, Quando perdi o foco para ter nascido essa menina: Joana da Margem Crespa, num entendia tanto castigo, passô bebê mais qui comê, inclusive a siá anacleta saiu do seu cardápio, depois passô num voltá um, dois, e as veiz, trêis dia. perdeu interesse na siá reginalda, num queria arriscá repetí tê otra muriquinha pra criá e um vagabundo qualqué comê. mais num perdeu interesse nas muié. ninguém sabia do paradêro do siô inácio nas veiz qui sumia nem o siô filipi
na mesma noite do nascimento da muriquinha joaninha, tumbém veio a furo a muriquinha georgina pança e rego. a tradição tava quebrada nas duas família, mais na villa do fim do mundo tão fim do mundo, os costume já de tempo acostumado num é coisa pra se jogá fora nem virá as costa, tudo qui é feito precisa sê feito do mesmo jeito qui sempre foi feito
eles num sabia imaginá pruqui tudo deu tão errado. os dois só tinha munta suspeita, mais num sabia como prová. fazia muntu calô. o siô inácio tava com sua adaga na mão. os dois continuava em silêncio, depois falava e falava inté cansá, ficá parado e mudo. um fiapo vermelhento vazava da mão do siô inácio qui apertava o fio da adaga. o siô filipi se limitava assistí. inté qui o siô inácio descobriu uqui deu errado, Já sei o que deu errado, Filipi! Essa negra enfeitiçou o nascimento!
Vosmecê tem certeza?
Claro, Filipi. Essa negra é uma feiticeira. Ela é enviada do demônio... e vosmecê me diga se ela bebeu cachaça...
Sim.
Fumou um charuto?
Sim.
E rezou baixinho para ninguém saber o que estava pedindo?
Sim.
Tudo preparação do feitiço para fazer o malefício do nascimento dessas duas meninas. Um veneno de criola.
Será, Inácio?
Venho pensando muito nesta merda toda, está é a possibilidade que me ocorre. E se pode fazer para o bem pode fazer para o mal.
Vosmecê acredita nisso?
Claro! Ela fez o feitiço para o mal. Tudo pode ser enfeitiçado por essas criolas malditas, ali tava os dois armado de corda e foguêra e a sensação de tá com os sonho suspenso num lugá qui num existi, esperando feito galinha degolada escorrê todo sangue pra sê assada, secô o suó da testa antes de seguí com as palavra, eu nunca guardei sonhos, apenas a vontade de ter um filho. Essa ambição não é minha, mas de toda natureza e não vou permitir que a liberdade pela Villa se torne prisioneira dessa criolada. A maldade dessas criolas precisa ser contida e controlada. De todos os animais o negro é o único cruel.
o siô filipi esperô um pôco pra dá resposta, queria medí o tamanho das palavra. ele num suava na testa como o siô inácio, mais na sombra do sovaco. tava parado, parecia querendo adivinhá uqui se passava dentro da cabeça de deus com seu cabelo lambuzado de gordura, penteado liso, o bigodinho abaixo do nariz carnudo e esborrachado, Então, se foi assim... só nos resta o tempo da justiça de Deus.
Não mesmo! Isso não vai se perder no tempo nem virar enredo para invencionice do populário.
ele sabia vê qui na villa do fim do mundo a tradição tava quebrada, num nasceu o varão, os costume qui já tá acostumado de sê costumado num é coisa pra se jogá fora nem virá as costa, Assim seja, repetem os hômi do bem, na máquina de fazê tradição tudo qui é feito precisa sê feito do mesmo jeito qui sempre foi feito
os dois bom amigo continuô amigo, mais a crendice dum notro tava corrompida, sem sabê explicá a fundura dos pensamento eles perdeu a intimidade; lá, no maciço das ideia mais enterrada eles culpava o otro pelo desastre acontecido: o nascimento de duas guria
num ia tê jeito nem de juntá as duas casa com o casório e fuxico no futuro. as conversa entre os dois passô sê respeitosa e civilizada, uqui num impediu as duas menina crescê junto com a eufrásia qui o siô inácio diz qui comprô recém-nascida. e as história qui cadum dos hômi de bem repetiu, repetiu e repetiu de tê escutado num parava de mudá sem nehuma resistência. a acomodação dos privilegiado de creditá distraído e se deixá convencê sem hesitação qui num passa pela cabeça de ninguém de bem mentí. as pessoa de bem num menti, mais se menti é pelo bem de todos. na villa é costume acreditá qui entre os hômi de bem num tem cretino de quexada erguida qui muda de acordo com o gosto e com os fato qui vai sendo contado
gegê ficô sendo o apelido da mais amiga das amiga da siá joana. as duas nasceu na villa, no mesmo ano e dia, só num foi na mesma hora pruqui a tatuzêra num pode tá em dois lugá diferente no mesmo tempo. os búzio qui a tatuzêra jogô indicô as meió hora pras duas muié de barriga, mais tem quem jura qui a preta escoiêu acudí na frente dona nalda pruqui o siô inácio ofereceu meió paga prus serviço feito
a verdade é qui o nascimento da siá georgina precisô esperá a chegada da dona jojô, quase qui gegê se perdeu da vida já na sua chegada. jojô ficô a mais véia das duas em meio à noite. aqui, na valorosa villa sorriso, as muié num tem muntu qui reclamá ou pedí, só precisa obedecê, sê ajuizada, pura e da família. os costume manda qui a mais véia tem destaque sobre a mais nova, tem preferência inté pra marcá os rebuliço com bolo e vela e palma
a preta tatuzêra foi vincada e taxada de fazê feitiçaria no nascimento das criança nas família de bem, pelo prazê da doce vingança do siô inácio e o conchavo do siô filipi. os dois queria acertá as conta com a inácia. assim, eles foi no juiz pedí a desforra da punição
a prática dos costume é a herança dos pai e das mãinha prus fiu. é preciso passá prus fiu dos fiu o mesmo treino dos costume; assim os mais véio precisa sê escutado inté o dia qui passá mijá nas calça
a natureza da villa foi respeitada: os mais véio primêro; assim, as alegria e alvoroço pela vida nascida na siá georgina sempre precisô esperá pelos festejo da jojô. uma queria a otra nos próprio festejo, mais nehuma sabe explicá quando esses festejo perdeu importância e uma parô de convidá a otra pra recordá o próprio nascimento
é inevitável, chegô pra elas o tempo de sabê qui na tê felicidade na villa é uma obrigação qui só acontece pras competente. no tempo de casá, jojô tava na frente, a primêra da fila entre as duas. então, quando o sargento-mor joão manoel de barros foi mandado pra serví de guarda-vida das pessoa de bem da villa, o siô inácio josé antônio joão da margem crespa viu a oportunidade de tê o manoel qui os costume de cama com siá reginalda anacleta num lhe deu, tentô e num conseguiu. a chegada daquele pulícia era um aviso do destino, o último e o primêro nome junto: joão manoel
antes mesmo da siá joana sabê do moço, o siô inácio começô os preparativo do casório ou ele num se chamava inácio josé antônio joão da margem crespa. já tava com a decisão tomada, era só uma questão de tempo, O gajo tem aparência, trabalho definido e de importância, moradia para abrigar a família. Só serão precisos alguns ajustes, os pensamentos do siô inácio era de satisfação e certeza, assim começô os preparativos, os ajustamento e as combinação
e a siá joana, primêra da fila de duas gêmea de nascimento, casô com o sargento-mor joão manoel de barros, na época, no posto de alferes. um partidão inté mesmo depois de sê puxado pra sê menos qui já era. as causa do acontecido nunca foi explicada com clareza, mais num tinha como escondê a vontade e o gosto como o sargento-mor castigava os pretu qui acusava de preguiça e vadiação
existe quem jure qui gegê tumbém tava de interesse no alferes joão manoel, mais elas vive num tempo em qui antiguidade é posto. ela precisô deixá pra lá as vontade sobre o rapaz tão bem ajustado na villa. jojô chegô antes
gegê num foi no casório
alegô pra mãe, siá felicidade perpétua, qui tava nos dia ruim: doia a cabeça e sangrava muntu, precisava ficá no resguardo. mostrô as vestimenta de baixo, tudo manchada de sangue. num tinha como saí pru casório
depois qui siô filipi e a siá felicidade saiu junto pru casório, gegê foi inté a cozinha, Joaquina...
Sim, siá Georgina.
Quero uma canja de galinha. Pode usar essa mesma que deixei pendurada escorrendo sangue.
Sim, siá...
ela nunca casô e joana num teve comentário nem puruguntô pela falta da aparição da gêmea de nascimento no seu casório
então, jojô virô a siá joanna de barros, esposa do rebaixado alferes pra sargento-mor das arma e milícia pública, joão manoel de barros
e na villa das pessoa de bem tudo e todos se acostuma com os costume do tempo e do vento
Jojô, vosmecê entende de galinha como ninguém.
É amor, Georgina, as duas continuava de conversa no pátio das galinha, o tempo no galinhêro da jojô num parecia mudá tanto, É preciso ter amor e cuidado. Elas comem bem, bebem água limpa, andam para lá e cá, se locomovem à vontade pelo quintal, baixô a voz na continuação, melhor que os negros tão preguiçosos. É um amor vê-las ciscando durante todo o dia. E nos brindam com ovos fresquinhos, baixô outra veiz a voz, cumprem com o seu dever melhor que os negros, tão desanimados e malandros.
É verdade.
a perpétua cacarejô e saltô assustada dos braço da mãe, Viu isso?
Mãe!
Aqui, filho adorado! Ela pressentiu o menino.
É incrível...
o piá entrô com a quêxada erguida no pátio e se parô pra anunciá a surpresa pra mãe
Mãe, olha o que eu achei!
as muié se oiô sem creditá. as duas ficô com as vista fixa e a boca aberta, elas num podia tá tendo alucinação junta, mais tava confusa
O que é isso, filho amado?
Meu Deus, exclamô a visita gêmea
o piá levantô mais a quêxada antes de respondê, aprendeu com o pai qui a postura é muntu importante na hora de negociá, algumas pessoa é descuidada, otras é cismada, mais num é o caso dele, o pai já tinha se apercebido, Não é que seja ruindade. Mas o piá não parece se importar com quem quer que seja. A educação vem do berço, sinto orgulho, o painho pulícia num tá longe de sabê a resposta acertada, só precisa confirmá qui o fiu é da ruindade como ele, Meu filho, Sim meu pai, Vosmecê só precisa sentir e ver que é melhor que as outras pessoas na Villa, mas tem vez que é preciso fazer que todos vejam quem você é: o melhor, o pai pulícia ensinô qui mais arrumação e acerto pra vivê é meió quando ele agarrá com as mão um sofrente pra controlá e se mostrá
Achei perdido nas ruas... é meu!
a dona jojô conseguiu recuperá o fôlego pra puruguntá, Como assim? E o dono desse negro...
o piá afrôxo a sissal e apontô com o chicote, Esse não tem dono, não. Só mais um vagabundo perambulando perdido nas ruas. Solto dá medo, mas pendurado no laço da sissal não é nada.
E vosmecê, meu filho amado, trás esse... esse... negro africano - sabe-se lá a procedência e as doenças que carrega com ele - para dentro da nossa casa?
Ele tem cheiro de cocô, Joanna... desculpe, amiga...
Meu filho amado, que horror!
o piá levantô e baixô a quêxada dos ombro, Ele cagou nas calça com medo da surra.
Meu Deus! Por favor, meu filho...
E por que a surra, menino?
oiô pra visita e reconheceu a tia gegê, num lembrava se eufrásia disse qui a visita era sua tia, mais isso num tinha importância nem alterava o resultado da conversa, depois do cumprimento de bem-vinda - era assim qui ele foi educado procedê: respeitá os mais véio - respondeu pra tia gegê, E precisa ter motivo, tia Georgina? O negro não quis colocar a sissal no pescoço. Ameaçou gritar que era negro forro. Mentira! Esses criolos são mentirosos. Precisei usar o laço do jeito que papai ensinou.
Meu filho amado, não existe negro sem dono.
Eu achei e achado não é roubado!
pru piazito num existe maió beleza qui usá as palavra e os ensinamento qui vem do pai, oiando com atenção, vontade e determinação pra caça
Como assim... achou...
Eu sei que eles assustam.
a sua tia georgina num controlô os resmungo e deixô escapá sua inconformidade, É nojento... ele é fedido...
o pretu assistia tudo aquilo curvado pela sissal atada no pescoço e as mão amarrada nas costa. num podia ficá escondido entre os arbusto com o grito da dô e da raiva pronto saí, Num adianta, Jaquín Benguela, o pretu virô os óio mais pra baixo e viu o muriquinhu num nascido, Abicu, preciso conversá, Aqui, Jaquín, O muriquinhu tá vendo? Dá nisso ficá véio, Calma. Espera. Logo, o muriquinhu tira esse trapo de corda e o pretu benguela desaparece, Falta pôco pra repousá no buraco da terra, Calma, Jaquín. A distância pra terra lhe comer ainda é grande. O pretu vai comer muito mondongo apimentado, Só se fô o caldo, chegô o tempo dos último dente caí.
Mãe, as pessoas acham que os criolos são um perigo. Olhe para esse aqui, não tem porque se apavorar.
as duas muié acalmô a visão, depois o nariz e a barriga, respirô fundo pra oiá uqui tinha pra vê: o pretu com magreza pra dá dó, muntu véio, marcado da vida escravizada antiga e das nova chicotada do piá do sargento-mor joão manoel e da siá georgina, gente de bem da villa, pru pretu nem em pé parecia qui dava pra ficá, Aguente, Jaquín, Num sei se posso, abicu, Pode sim, A sissal sufoca, Aguente, logo acaba, Amarrado num molecote, Acontece, Só acontece com véio cansado, Aguente, Tô aos pedaço das tira, Aproveita o perfume das moça, ele obedeceu e fungô fundo, É bão... refresca...
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