sexta-feira, 13 de abril de 2018

histórias de avoinha: - inácia! ele chegou... vai nascer

mulheres descalças


- inácia! ele chegou... vai nascer
Ensaio 119B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar




quando o siô filipi retrucô inácia pensô, mais num respondeu. mesmo ela qui tava em posição de retrucá, achô meió num dizê dos pensamento mais qui a necessidade exigia. num era tempo de lambança. esperô ele saí do quarto do nascimento, já qui prus nascimento o siô filipi num tinha mais serventia de importância, nada mais além de rezá, esperá e num atrapaiá

ela se virô pra moça de barriga chamando, E ocê... moça.

Sim, Inácia.

é curioso vê qui as coisa da siá e as coisa das muié escravizada num pode se misturada no dia-a-dia das casa, mais é só aquela qui escraviza sentí a água batê na bunda, já corre atráis das coisa qui pode lhe salvá do embaraço de tê o rabito moiado; as injúria pela cô da pele ganha uma trégua pelo tempo qui durá a aflição da raiventa escravista. é um jogo qui uma provoca pra meió escravizá e a otra jogá pra meió sobrevivê

as duas se oiô com firmeza, elas sabia da hora qui chegô. desse ponto pra frente obedece quem precisa e manda quem sabe o caminho qui precisa sê feito, Trate de prestá atenção, moça siá. O choro da sua criança já tá viajando pelo mundo, ele num demora inté chegá pra fazê alarido aqui.

Quanto falta, Inácia?

a mais véia desabotoô um sorriso de proteção e doçura, brotava daquela delicadeza o entendimento raro qui num nega ajuda prus aperto dolorido e sofrido no terrêro da vida, Ela tá vindo... já tô escutando...

com a boca desabotoada, encorpada pelo sorriso da confiança, a mais véia oiô pra mãinha de umbigo do siô filipi. assim, as duas confirmô uma pra otra: nehuma das duas tinha otro lugá pra tá, chegô a hora qui vai sê de muntu uso e conforto entre as muié, Faço o que Inácia mandar...

Puragora, basta o conforto de segurá a mão da sua fia.

a dona siá mais véia num esperô as palavra saí toda da inácia, abriu a boca e soltô sua resposta no quarto morno, no meio da penumbra dos lampião, Ela não é minha filha. Eu sou a mãe do sinhô Filipi.

existi nas pessoa uma energia mágica, só pode sê assim... inté pode tê otro feitio meió pra explicá, mais a inácia é dessas muié cativante quando é toda silêncio ou quando fala no silêncio, E tem diferença, puruguntô ela pra siá mais véia

as duas se oiô com as manha e a viveza do tempo vivido, Inácia tem razão, não tem diferença.

Agora é agora... e vosmecê é a mãinha qui a moça precisa já.

a moça de barriga ligava uma muié notra e misturava as duas dum jeito qui tudo parecia sê feito com as mão duma muié só

Faço o que Inácia pedir.

num precisava sê a mais véia nem tê conversa com os espritu pra sabê qui naquele quarto as muié tava buscando desatá o umbigo da criança das entranha da mãe, todos movimento de cuidado e conversa era feito pra dá os meió conforto, mesmo esbarrando na dô. num era tempo pra tagarelice nem desacordo, ela sabia. inácia abrandô a voz, antes de soltá as palavra pra dona siá mais véia, Num faça assim... num faça só pruqui eu peço. Escute o seu curação de muié e mãinha.

siá perpétua segurava e soltava os grito da dô qui chega junto com o nascimento, otras veiz, soltava pra logo segurá na frente, Acho que o meu filho está nascendo... Ai, Meu Deus! Ai, Minha Nossa Senhora Virgem Mãe do Menino Jesus!

a tatuzêra mais véia levantô o lençol da moça de barriga qui tava metade desdobrada, metade dobrada, meio sentada com as perna separada, examinô com as vista e com os dedo, Ainda num tá bem pronto, mais falta quase nada.

depois de acalmá siá perpétua, inácia pediu pra partêra mais nova a água de banho e os pano. a tatuzêra mais nova já tava preparada pra atendê os pedido da mais véia, Aqui, mãinha... água de chêro com perfume da arruda e hortelã.

inácia pegô a bacia com as duas mão e colocô do lado da siá perpétua, depois sussurrô no ouvido da moça. ela balançô a cabeça pra frente, as duas tava concordada qui tava na hora de começá. a mais véia destapô a moça de barriga pra começá o banho, passava a toáia moiada em tudo qui é parte da moça, menos a cabeça. essa parte tem dono. lavava e torcia na bacia sem água qui as mão da mais nova segurava, junto recitava curimba do caboclo arruda

depois de lavá bem os pé da moça, tê terminado os chamamento dos espritu encantado e feito pedido pra eles aparecê com ajuda, voltô os óio e as palavra pra moça, Mifia, é preciso tê calma e deixá os instinto saí. Vosmecê vai escoiê o meió jeito pra ficá, se fô em pé ou acocorada a escôia é da moça. Então, qui a moça faça sua escôia. Essa é a sua hora mais misturada de sê muié e mãe. Nem os hômi nem os espritu consegue entendê esse mistério da vida qui é fazê vida. Vai tê minha ajuda, vai tê ajuda das muié da casa e dos espritu da confiança, proteção, sabedoria e coragem, mais vai tê qui rezá um pôco, pedí pra sê mais forte qui a vontade da dô. Pruqui a dô vem com o nascimento. Reza junto com as muié da casa.

a siá perpétua colocô a dô na cara e no gemido

E a dô como tá vindo, puruguntô a tatuzêra mais véia

antes de dizê, a moça de barriga respirô fundo uma duas trêis veiz, Mais forte e mais perto uma dor depois da outra...

inácia começô cantoria de reza pra bento santo

Sinhô São Bartolomeu se vestiu e se calçou, seu caminho abençoou, Por onde vai sinhô São Bento, Vou em busca de Vós, meu Sinhô, Tu comigo não vai. Tu na casa dessa moça vais ficar. Na casa em que tu ficas não morre mulher de parto nem criança de abafo, nem fogo vai se levantar. Paz, sabedoria e misericórdia.

Ai... ai... a dor está vindo mais forte!

E a moça como tá?

Sinto que vai nascer...

E a moça... como qué ajudá o nascimento?

Não entendi, Inácia.

A moça qué ficá como pru nascimento?

Posso ficar deitada?

Isso pode, como pode a moça querê ficá em pé ou arrumada de cócoras...

a fumacêra mais o faro dos lampião tava fazendo do quarto uma chaminé com defumação. a partêra mais nova abriu as duas janela do lado da casa e mais duas ventana qui abria prus fundo do pátio. bem lá, no fundo do pátio, o siô filipi andava e parava... disparava e andava

O quê Inácia me aconselha?

inácia oiô firme pra moça de barriga, pode vê qui ela tava confusa e com medo, sabia qui tava acercando dela a hora de soltá a vida pra vida. depois, ia sê otra siá felicidade perpétua pra todo sempre

O jeito é seu, a escôia é sua. Tô aqui pra acudí com qualqué jeito.

a siá de barriga oiô firme pra tatuzêra, algumas coisa assanha a firmeza das decisão enquanto otras derrete as vontade e num aclara os pensamento

Quero ficar deitada. Tenho medo que o meu bebê caia no chão.

Isso de caí nunca vai contecê...

Deitada.

a mais véia juntô as mão e avisô, A vontade tá dita e a escôia obedecida, a tatuzêra tava no serviço de ajuda com jeito de vê e fazê muntu diferente do comércio de ajudá, Assim qué a siá moça, então assim vai sê. Agora, a moça precisa pensá confiante, fazê força e sê mais forte qui a dô. A moça de barriga precisa confiá nas mão da preta e creditá na paz do nascimento. Essas mão vai ajudá com conforto e sossego.

passava a mão na barriga da moça, cantarolava e assobiava, tudo bem piquininino e sem pressa, trazendo e convencendo, chamando a criança pra saí da gruta de proteção qui atingiu o fim de tudo qui podia atingí. a criança andava e parava. a mão preta num cansava de alisá e convidá pra saí da caverna pra luz do sol e oiá da vida as vida na estrada, o ponto de partida inté chegá no fim da própria viagem

Ai... ai... Inácia! Ele chegou... Eu sinto... vai nascer! Ai... ai...

Morde esse pano, mifia. Já tá pronta pra fazê força?

Acho que sim... acho que sim... estou com medo...

Num precisa tê medo. A moça só precisa fazê força, a criança tá pronta pra saí.

no fundo do pátio, o siô filipi ia e voltava dum canto e otro, arrependido e com embaraço de num tê ficado pra ajudá no atendimento, O nascimento não é lugar de homem. Então, agora só posso esperar e esperar. E vez que outra, olhar para cima e escutar qualquer aparecimento de choro, o siô filipi já tinha inté os dois nome achado: george ou lucas, ou os dois junto

caminhava lá, caminhava cá, assoprava um nome e otro, testava o nome qui parecia tê mais autoridade e mais força pra brigá, discutí e replicá

Compadre!

o siô filipi num reconheceu a voz qui chamava por ele, o assombramento com voz chegava lá do cercado, na frente da casa. caminhô sestroso e desconfiado inté o cercado. era o seu cumpadre inácio, O amigo chegou em hora de muito cuidado e preocupação!

Vim dar um abraço e dizer que vosmecê precisa ter calma.

Eu sei, eu sei.

Nessa hora, não tem jeito. É preciso esperar.

o siô filipi num tinha mais nos apontamento da memória o nascimento já ocorrido na casa do siô inácio

É visita rápida, preciso voltar para continuar os cuidados com a sinhá Felicidade e a criança.

foi quando as lembrança do otro nascimento lhe chegô de volta, estendeu a mão pru amigo, Perdão, meu amigo. Esqueci por completo a sua infelicidade, mas a sinhá Felicidade Perpétua é jovem, por certo, vai lhe dar um menino. É só não desistir e continuar tentando.

Não se preocupe, meu amigo. Vim dar um abraço e dizer que estou torcendo. Quanto a mim, não tenho muito o que fazer. Agora é hora de lamber as feridas e esperar que o tempo repare os estragos na sinhá Felicidade.

Obrigado, compadre.

o choro se soltô alto e forte pelo casarão, invadiu o pátio. o siô filipi num pode escondê o primêro alívio, Pronto... chegou o choro.

Isso já é um alívio, compadre.

Eu sei... o que precisava acontecer já aconteceu.

agora, ele tava com a preocupação das primêra notícia. caminhô com o cumpadre inté o fundo do pátio e voltô inté a porta, mais num entrô. faltô coragem e atrevimento. esperava as notícia com as perna mole e desentesada. o siô inácio tava dois passo pra tráis do amigo, Calma, Filipi.

Por que essa demora, Inácio?

a porta dos fundo foi aberta pela mãinha do siô filipi. ela desceu dois degrau enquanto um degrau pra cima ficô a partêra mais nova. as duas tinha nas vista o cansaço das caminhada no quarto do nascimento

Então, mãe?

Uma menina linda...

o siô filipi levô as duas mão na cara, A culpa foi minha!

virô as costa pra mãe e deu trêis passo pra longe, num sentia o chão nem tinha alegria. respirô fundo e assoprô o farelo das má notícia acinzentada. oiô pru amigo e pensô nas tristeza qui se juntô nos dois, A nossa vontade e os cuidados não combinaram com o acontecido.

o siô inácio colocô a mão no ombro do seu cumpadre, Sinto muito... as tramas do nascimento percorreram o próprio caminho. Foi muita imaginação e conjetura da nossa parte.

Culpa do quê, meu filho?

quando virô pra mãe os óio tava moiado da surpresa e tristeza

Não esperei por Inácia. Chamei outra parteira sem a mesma mão de acerto. Tinha que ter esperado. É castigo de Deus...

Deixem de bobagens. Tratem de ficarem felizes com suas filhas... e a paga da Inácia?

Uma galinha com farofa... e um pouco de feijão?

Não achas pouco?

Acrescente um pedaço de fumo de corda... talvez, um charuto e cachaça. Sei lá, a sinhá minha mãe sabe melhor o que essa negrada gosta de comer. Não estou com cabeça...




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