terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

O ex-estranho

Paulo Leminski


INVERNÁCULO
(3)

   Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
  Quando o sentido caminha,
a palavra permanece.
  Quem sabe mal digo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
  Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
  Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
  uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
  O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
  eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.


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A expressão ex-estranho aparece dentro do poema "Ópera Fantasma" no La vie en close.

  Nada tenho. 
Nada me pode ser tirado.
Eu sou o ex-estranho,
o que veio sem ser chamado
e, gato, se foi sem fazer nenhum ruído.

"Ex-estranho" é o título de outro poema, também publicado no La vie en close.

O Ex-estranho

   passageiro solitário
o coração como alvo
   sempre o mesmo, ora vário,
aponta a seta, sagitário
   para o centro da galáxia.


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