quarta-feira, 1 de julho de 2020

histórias de avoinha: O gato comeu a língua do Moringue?

mulheres descalças


O gato comeu a língua do Moringue?
Ensaio 128H – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




as vontade das munta gente certinha qui diz sê dumais bão e méio feitio de gente civilizada da villa rezadêra e caridosa, e tumbém, usqui num se diz nada, gente qui só vive a vida qui foi deixada eles vivê – tem vida quius dono de terra e do céu apenas suporta qui possa vivê – e num qué confusão cusqui manda nas terra nas gente no céu da villa, esses tudo tava naquele alvoroço de caroço e ruindade vestida de magistratura da retidão, malvadeza pra fazê o justiçamento do cuspe e ódio em nome do siô dono de tudo – se engana quem acha qui as lei e uspulícia num tem dono, Êêê lambá querem me acabá no sumidô.

pra essa gente das gritaria odienta, e usqui só oiava das janela aquela decoração da praça dos despejo, o despacho tava feito

era só esperá pra executá

carregá o fujão inté o largo dos enforcado e pendurá, Não é preciso sujar a corda, pendura com a corrente, Cachorro e criolo comedor de ovelha não presta, É isso mesmo! Muito bem lembrado, só matando, E com as argolas da corrente para não deixar dúvidas que sofreu antes do abate, Um bom exemplo é o melhor aviso, Isso mesmo, um bom aviso ensina melhor que muita conversa fiada!

É um absurdo perder mais tempo com o criolo, preciso abrir as portas da botica.

Moringue! Enforca logo o criolo safado! Vamos economizar tempo e moedas.

Acabem logo com isso! E que a vida volte ao normal!

Criolo vagabundo que não quer trabalhar tem que morrer de um jeito ou outro, pode ser na forca. É para isso que temos uma forca, não é?

O trabalho salva!

Vamos logo com isso, precisamos cuidar das nossas vidas, Criolo muda de cor depois de morto?

Acho que fica caramelo e depois vira cinza... Esse não faz mais despacho nas encruzilhadas da Villa, Gente boa, a caçada já terminou. É hora de dar um fim nisso... Isso nunca vai terminar, Termina quando não tivermos na Villa mais nenhum criolo metido à besta!

Criolo bom é criolo morto!

Cuidado com as garras do bicho! Cuidem-se!

Moringue, arranque o mal pela cabeça!

e amanhã, eles jura em nome dusiô dono de tudo, dusiô acima de tudo quié gente, qui nunca foi bem assim iqui num disse uqui disse, Verdade seja dita, não lembro de nada, o dia vai amanhecê e o galo vai cantá junto com a nobre moderação prudência decência e as preocupação dos assunto das taxa, imposto e preço das mercadoria


e tumbém vai tê desassossego mais ameno, eles gosto de discutí tudo inté cumuqui uspretu andava trajado nas rua e nas casa, Não pode ser traje desonesto, aparecendo nú, como seda ou outro tecido fino, E quanto as joias, brocados e adereços, A minha negrada eu gosto bem vestida, faz bem para o dono cuidar da negrada, Pelo bem público, é preciso proibir que as negras cativas e forras, bem como, os negros e mulatos também usarem sedas e outros tecidos finos, Por quê, O excesso e luxo com que os negros e negras se vestem na Villa faz nascerem os roubos e insultos.

Esses negros vêm de tudo que é lugar ruim. Acham que bater no tambor, dançar e tocar viola é trabalho, E juram que têm o corpo fechado, Bruxaria isso sim, e fechado para não terem inteligência e decência, Não vejo a hora do juízo final, só para admirar o lugar mequetrefe deles entre os elementos da arraia miúda.

Acho que na senzala está bem que usem apenas uma camisa longa, calções ou ceroulas para cobrir o corpo. As negras podem usar saias e blusas muito largas, sempre de tecidos rústicos feito com fios crus, Eu discordo. A quem trabalha nas casas e nas ruas da Villa pode ser permitido usar um guarda-roupa um pouco mais completo. Os negros em favor da decência podem vestir calça e camisa de trama grosseira, claro. As mucamas podem usar saias, blusas leves e soltas, panos e xales nas costas, turbantes ou lenços na cabeça.

Os tecidos podem ser coloridos?

Podem, mas não concordo que andem de chinelas, Para mim, o mais importante é que usem os cabelos curtos ou raspados, Gosto das tranças coloridas.

milagres num dizia nada, num tinha uqui dizê, num movia os lábio, Nucuração contra o veneno, a proteção é São Bento Pequeno, o trato é num matá, é só tê proteção da cavalaria, escolta contra o regimento do fardamento brabo e violento, Aonde Milagres vai, Já respondo a purugunta aonde vô, Ayomide. 

deu dois passo pra tráis e jogô usóio pra cima e fungô, moveu a boca e voltô os passô inté ayomide, Iôvô navegá na volta, levo junto o miúdo, iôvô vê o dia fechá usóio, desembaraçando a vida desacostumada de saí livre da noite, solta à deriva na brisa da escuridão, iôvô sorrí na proteção dusespritu mais antigo.

O que acontece agora, baronesa?

Nada, Barão...

usóio do barão num encarava mais o moringue, tava todo na preta ayomide, Que cantoria é essa, baronesa?

Não sei, não estou escutando nada. Devem ser os seus ouvidos muito curiosos, falava a boca e uspé balançava

Yao ê,
Ererê ai ogum bê
Cum licença du Curiandamba
Cum licença du Curiacuca
Cum licença dusiô moço
Cum licença dusdono de terra

usóio do barão qui num tava mais no moringue dujeitu qui já teve procurava aonde qui tava aquela cantoria dusescravo

Muriquinhu piquininu
Parente di quiçamba na cacunda
Purugunta aonde vai
Ô parente, pru quilombo du dumbá

mirava a cambada duspretu em pé dotro lado da praça, uspretu tudo com as lança na mão, tudo pintado, Óia pru céu, muriquinhu, diabu ti enganô muriquinhu.

eles cantava e andava empé

Ê, chora, chora gongo, ê dévera,
chora congo, chora
Ê, chora. chora gongo, ê cambada
chora gongo, chora

milagres balançava o corpo e num dizia nada, num tinha uqui dizê diante daquele abecedário tão lógico do nojo e desprezo qui recusa uspretu pruqui se diz meió e maió qui uspretu, tanto ódio parece qui chegô antes do começo e aparenta qui num termina depois qui acabá, Num é um sonho ruim da cabeça nem invencionice das braba, é verdade, tácontecendo, repetia milagres, é o momento dusvivo e dusespritu falá cum curação, dizê qui num é assim, tá errado, exigí pra tudo sê diferente, lutá, sê forte, logo a escuridão fecha usóio na terra, ubreu da noite num vai meiôrá usóio dudiabu arrepiado, a praça vai tremê se eles qué o miúdo sacrificado.

foi então qui chegô correndo o abicu vento, depois dele veio a tempestade dusventu qui parecia querê arrasá tudo na praça

se fosse o causo de chegá algum estranhado da villa, naquela limpeza da conjura de tanto rancô, num iacreditá qui todaquela gente sendo varrida da praça é um povaréu bão de visitá prum bão e delicioso amargo chimarrão e mais munta prosa jogada fora nas conversa fiada, é tudo bão de rezá e pedí pra sê desobrigado duspecado, um coro arrependido dusacramento nas dominguêra

os camaradinhu dusatabaqui tava adiando o juízo do fim, atiçava uventu sem medo, as injustiça faz isso, junta as força injustiçada pra lutá inté qui aqueles qui sustenta a villa cuseu trabáio num tem mais uqui perdê

bondade e ruindade tá nas gente ditudo qui é lugá, mais é da praça pública qui vem usqui resisti ao povaréu qui afunda e pisa tudo, num ia adiantá enfiá esperança na canga – inté pode, veiz qui otra, andá pra tráis pelo alento egoístico qui tumbém sobe as bota e sapato na praça, num tem vacina pra ignorância e desdém –, usatabaqui das muié preta resistindo vai atiçá a tempestade

no mundo com dono... siocê desobedecê apanha, mais é preciso num tê medo e desobedecê das maldade, num tê medo da luta, quanto mais apanhá mais é preciso desobedecê

a ventania chegô depois qui mandô um ventinho dizê qui vinha, arrancô villêro pru lado, atráis, nas frente e pru cima, pendurado ou espreitando das janela enquanto usatabaqui chamava pra resistí lutando, as gente gritando pra num sê escutada pruqui grito duódio num é dado pra sê escutado, mais precisa sê varrido

os navio negrêro engravidado duspretu nagô angola congo rebolo mina angico benguela aruanda, num queria pará dichegá, inté qui um barûio gigante caiu rodopiando, parecia o fim de tudo na praça, uma ventania mais maió qui tudo já visto, como se tivesse juntado tudo qui era atabaqui e berimbau, vindo ditudo quié canto, os pandêro dus camaradinhu gritava as batida das lufada e sopro dusespritu enquanto paria mais vida africana das madêra-de-lei

os tirano qui atiçava e atacava, agora tomava suadôro dumedo do jogo dusventu, Viva São Bento Grande!

as balança das justiça tava equilibrada, a cavalaria dusventu naquele tempo das memória quase esquecida voltô pra contá as história qui precisa sê contada

usventu gelado e moiado cumseu sopro gigante fez as besta desconjuntá usgritu odientu, elas corria assustada pra longe da praça, moringue caiu rolando nas parede do chão com as pedra solta, a poerama levantada cegava as vista e o nariz, o gosto na boca era o gosto da terra revoltada

nunca mais se viu vestígio da milagres e do miúdo nos quatro canto da villa, uquié dito foi qui a ventania arrancô eles do chão e fez subí inté sumí

a moça ayomide e o siô barão foi visto voltando pra morada do morro enquanto a ventania descontrolada arrastô tudo qui encontrô, a cavalaria de guerra de São Bento Grande retomô a praça

depois de muntus dia a ventania acalmô, as mão qui segurava as corrente ficô vazia, o moringue perdeu o escravizado, num tinha ferido nem morto pra levá pru julgamento da justiça deprimente, quando levantô e ficô levantado era parte duma estranheza de procissão qui choramingava, tremia sem chicote e espingarda, um cavalêro luminoso num belo cavalo prateado se chegô na praça, carregava uma capa rubra nas costa e uma lança na mão, soprando fogo, Uqui ocê tá fazendo aqui?

Esperando um amigo, foi uqui brotô na boca do moringue, E essa corrente nas mão?

Agarrei-me nela para ficar no mesmo lugar, Então, ocê provô das corrente useu gosto mais amargo, trovejô o cavalêro da língua do fogo, e agora qui já provô vai querê qui uspretu continue no mesmo lugá?

o moringue se calô, num sabia uqui dizê, uma troada saiu prucima e baixo, O gato comeu a língua do Moringue?

quanto mais arregalava usóio mais cego ficava, espichô as perna e correu, sujô as calça e as botina tanto qui correu, as pulícia qui é covarde só tráis tragédia pruspretu





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