XXI (2ª) - No se puede hacer la revolución sin las mujeres
filho doente é uma tristeza que não para de preocupar
filho doente é uma tristeza que não para de preocupar
baitasar
Dom Juan foi até a sua camioneta e retornou com a sua filha Aryani no
colo, enquanto dona Lara carregava o menino Chiado nos braços e o pequenino leporino
pesava em meu colo. Pela primeira vez sofria o sofrimento de mãe — Um filho
doente é uma tristeza que não para de preocupar.
A Angélyca e o Crespo caminhavam apoiados um no outro, já tinham idade e
peso para andar sobre as próprias pernas. As caras não eram nada boas. Entramos
na botica e ficamos em pé, não havia cadeiras, ali não era um consultório de
doutor. Um balcão e prateleiras repletas de ervas, plantas e chás.
Dom Juan olhou às prateleiras e não pode desviar-se de resmungar — Em
alguma delas está à cura para os meus filhos — o farmacêutico de chás e ervas
enfiou os dentes na boca, eles ficavam guardados em um aquário com água verde,
atrás do balcão, como enfeites para aqueles peixinhos dourados, nervosos e
incansáveis. Ficou enfiando e tirando até que se ajeitaram — O diabo era achar
a cura certa. — continuou pensando pela garganta, quando estava nervoso lhe era impossível pensar quieto, consigo mesmo — O segredo é saber escolher a
ajuda na proteção contra o olho do mal... — o patrão levou um susto com a
entrada da mulher do seu Floratil — Não diga esse nome aqui dentro. — Desculpe,
dona Flora. — Não peça perdão para mim, mas pra ela. — e apontou a imagem da
Mãe de todas as mães. Dom Juan se virou para a Santa imagem e ofereceu o olhar
mais suplicante e sincero da sua vida — Peço perdão, minha Mãe, a Senhora por
certo já ouvia falar da minha boca suja, mas as crianças não têm culpa do pai
que têm, a Senhora bem sabe que o pai não se escolhe nem se enfrenta... — Dom
Juan, dom Juan... — O que foi Lara? — Ela já te conhece e sabe que não foi por
mal, vamos deixar o seu Floratil examinar as crianças — as mães são práticas
quando os filhos adoecem ou sentem fome, os homens se perdem em culpas e
lamúrias. Eles crescem para algumas coisas da vida e as elas para outros
acontecimentos.
O boticário enfiou o termômetro na boca dos maiores e no sovaco dos
menores, marcava no relógio que carregava pendurado num dos bolsos da calça o tempo de medir a temperatura nos seus jovens
adoentados. Continuou com prudência olhando daqui e dali. Não viu nenhum
inchaço no pescoço ou embaixo dos braços. Não sabia o que tinha pela frente,
além de ver as crianças abatidas e curvadas até o chão como flor murcha
(Com febre todas estão, mas parece que não ta aumentando. Seria bom
desenrolar as crianças das mantas.) (Qual o seu melhor palpite?) — o velho
boticário ajeitou os dentes na boca, não queria ser mal compreendido
(Quebrante.) (Não me diga.) (Não têm bubão ou dores, se tivesse que
apostar diria que um quebrante foi espalhado pelos filhos.) (Olho grande nas
crianças... o senhor acha mesmo...) (Minha filha, é o que parece.) (E o que se
faz?) (Levá-los para casa, controlar a febre com banhos e compressas de vinagre
na sola dos pés, água fria na testa... várias vezes.) (Só isso?) (Amanhã, bem
cedinho, trazer as crianças que a Flora faz a benzedura.) — o patrão olhou
para a mulher do boticário e lhe reconheceu no ofício de aposentada da mãe
— Cuidado com as crianças... pior que a enfermidade é a parte do olho
grande — as palavras da velha não saiam dos meus pensamentos silenciosos.
Quando chegamos os doentes foram para os seus quartos. Depois da
acomodação das crianças, dona Lara foi para a cozinha preparar um caldo de
galinha. Dom Juan mediu a febre e os gemidos de um por uma. Quem gemia mais era
mais reconfortado. Calçado e Anadyr também tombaram, mas não se lamentavam. O
guri com dor de barriga e a guria com cólicas. Foram esquecidos no sono.
Dom Juan mediu e anotou as medidas, junto com os horários. Usava as
manias da leiteria para não perder o controle de cada vaca: la cantidad de agua de tomar, la medida de
los piensos que comían y la cantidad de leche producida. Tudo foi para a
caderneta. Amanhecia e os dois estavam exaustos. Ficaram se revezando nos
cuidados e nas medidas durante toda à noite. Pareceu que o clarear do dia
trouxe mais alento e disposição às crianças.
Cuidei de dormir com o menino Leopoldino no quarto de la Vieja
(O que la Vieja acha que acontece?) (Amanhã, todos vão estar com manchinhas
pelo corpo.)
Dom Juan e dona Lara acordaram do sono que não fechou os olhos, tinham
cabelos do corpo desalinhados, olhos inchados, as mãos se moviam mais lentas e
desatinadas com a negação do sono, mas a manhã despertou com boas notícias —
Parece que o sono que nos falta sobrou neles. — Estão melhores, acho que o
susto do pior já passou. — pareceu que o clarear do dia trouxe mais alento e
disposição às crianças.
Era acalmar um e outra resmungava do acordamento
(Mãe, eu não to com fome!) (Mãe, eu quero ir no banheiro!) (Dona Lara,
deixa que eu levo a Aryani.) (Obrigada, Preta.) — levei um susto com aquele
tratamento de agradecimento, pensei: una
noche de sueño perdido con oración y sanación me puede ayudar
(E os outros, dona Lara?) (Ficam na cama.) — todos respiravam mais
aliviados e acomodados com as boas notícias
(Querida, prepara um café.)
Depois do café, Dom Juan foi mundo afora, direto para a sala das vacas.
No caminho chegou a desconfiar que dona Lara estava certa em não querer que ele
saísse de casa. Bem, já era tarde para mudanças de planos, julgou consigo
mesmo. E foi em frente.
Percebeu, mas não deu importância ao descuido — O pior já passou.
E tratou de cuidar das vacas leiteiras e dar ordens aos cholos. Como nos tempos de antes, tudo
estava no seu controle. O trabalho e o tempo se encarregaram de fazer Dom Juan
esquecer que tinha filhos adoentados pelo quebrante. A barriga vazia lhe fez
lembrar que tinha uma casa, uma família e uma mulher, sentiu falta da sua
comida pronta e quentinha — Hora do descanso!
Encontrou os filhos arriados até os pés e as preocupações retornaram — As
crianças estão com febre alta e umas bolhinhas de água pelo corpo. — Vamos
levar no doutor Lázaro! — enrolaram o menor. Mostrando um era como mostrar
todos. Os demais ficaram recomendados de não sair da cama — Levantar só pra ir
ao banheiro, entenderam?
Eu e la Vieja ficamos no cuidado dos sobreviventes — O que la Vieja
acha que acontece? — Amanhã, todos vão estar com bolhinhas pelo corpo — E o que
vamos fazer? — Esperar... e acalmar a febre — foi o que fizemos até que os três
voltaram ao campo de guerra.
O diagnóstico do doutor Lázaro: varicela
(Não coçar as feridas que vão aparecer.) (O doutor explicou que vem por
aí umas bolhinhas cheias de aguinha, depois aparece uma casquinha nas bolhas e
vocês vão ter muita coceira...) (E não pode coçar, senão o remendo fica pior
que o soneto.)
La Vieja me chamou para aplicar rezas de proteção — Não precisa
adoecer por estar ajudando — o espírito de la
Vieja ficou se derramando em mim,
bastava ter olhos para ver.
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