XX (2ª) - No se puede hacer la revolución sin las mujeres
e com a mão fazia o sinal da cruz
baitasar
e com a mão fazia o sinal da cruz
baitasar
Anadyr, segundo dona Lara, era a única que parecia com vocação para tetas
e esterco. A mãe saia de qualquer calmaria quando o assunto eram as filhas
entre as vacas. Não tinha discurseira que lhe deixava mais triste e sem valor
de mãe. Encerrava a palestra com uma sonora ordem para todos calarem a boca.
Pronto, tudo se resolvia no silêncio
(Anadyr vem cá, vamos pintar as unhas) (Mãe!) (Vamos colocar um esmalte
bem vermelho...) (Mãe!) — a guria já pegara até o jeito do pai em apertar e
espremer, nada muito animador para os planos maternos. Não apreciava o perigo
para os usos das mãos, isso quando a menina tinha apenas 13 anos
(Mãe, com essas unhas vermelhas as vacas vão negar o leite) (Pois que se
neguem, teu pai há de achar um jeito) — uma luta e nenhuma chance, as mães não
desistem esse é o sentido da sua vida: nunca
rendirse
(Querida, olhe a boneca linda que a mamãe comprou!) (Bonita...) — pegava
o brinquedo de enfeite pelos braços, como se espremesse tetas, era pequena e
bem feita, até para a mãe não havia muito mais a fazer
(Umas com tanto e outras com nada...) (O que foi... mamãe?) (Espelho,
minha filha.) (O que tem o espelho de tão importante?) (As tuas irmãs não saem
da frente do espelho e essa filha...) (O que tem eu?) (... parece que tem medo
de se olhar.) (Não preciso de espelhos para apertar e espremer.) (Vai precisar
para casar.) (Os homens não usam espelhos.) (Mas casam com a opinião do
espelho.) — saia resmungando que aquela sua filha precisava tratamento por não
se olhar no espelho, se culpava porque a menina não queria melhoras aqui ou ali,
não era a sua imagem nem em semelhança.
Todas acordavam dos devaneios del
sueño después de comer, menos os meninos, esses já estavam longe dos
xingamentos e ordens de implicância da patroa — Anadyr pode começar a lavar a
louça! — Mãe, isso é serviço pra Preta — La
chola já está com o teu irmão... quer
trocar? — ¡Mierda!
As batidas do coração daquela casa se pareciam com um terremoto e
precisavam do sacrifício daquelas mulheres — Mãe! A Angélyca não quer secar a
louça — Meninas! — A Aryani não faz nada — Vai chegar o tempo dela, o teu já
chegou — Vamos Angélyca, seca essa louça de uma vez só — Droga! — a patroa
podia aturar os palavrões do patrão, afinal, era um homem, e eles não vivem sem
palavrões e putas — Cuidado com a boca, minha filha — mas as suas filhas seriam
finas e educadas mulheres — E as panelas? — Coloca um pouco de água na chaleira
e dá um fervura — Saco! — Anadyr, você está ficando desbocada — Odeio ficar na
cozinha — Querida... — Isso é serviço de mulherzinha.
O pequeno leporino me salvava da confusão depois do almoço, tinha a mania de fome com minha teta
pequena. As duas queriam ficar inertes. Precisava de um grande esforço para não fechar os olhos, não bocejar,
não deitar a cabeça nas penas do travesseiro. O tempo se arrastava em voltas
naquele quarto, até que o guri dormia: eu fechava os olhos. Os dois ficavam
inertes.
Dona Lara estava feliz naquele início de tarde, Dom Juan prometeu que
iriam passear até a Ribanceira. Uma casa de descanso construída pelo avô do
marido, num barranco de frente para as areias e a imensidão das águas. O ar
salgado ou a distância das leiteiras parecia revigorar na esposa os desejos de
concubina depravada, desajustada com as boas maneiras e comportamentos das
mulheres da sua procedência — Preta, não é que eu faça fingimentos aqui ou lá,
o problema é a imaginação, não tem regras por lá — eu continuava em silêncio,
sabia o meu lugar e não arredava o pé do meu papel de escutadora calada.
Depois que o patrão e os dois filhos, Anadyr e Calçado, voltavam para os estábulos
se iniciavam os preparativos para o descanso na casa da Ribanceira. A casa da
família nas margens do mar foi presente dos marinheiros ao velho Caracão, por
serviços prestados durante rebelião dos fardados inconformados com alguma
coisa.
O velho não quis medalha nem distinção de honraria, se encantou com
aquele pedaço de terra que iniciava no encontro das águas nas areias, se ia até
a parte mais alta do barranco, cerca de 200 metros para cima e 50 para os lados
— Vou construir um sítio de refúgio dos apertos da cidade e das leiteiras — foi
a frase que restou daquele homem. Dona Lara não conheceu o velho Caracão, mas
repetia que o homem foi um atinado.
Na primeira vez, fiquei com a boca aberta — Não acredito que possa
existir lugar mais bonito — a cor da luz do dia adormecendo mergulhava sob as
águas salgadas daquela enseada, me fazia lembrar do Paraíso, olhando tanta
beleza, quase duvidei que pudesse existir La
Montaña com tanto sofrimento e fome
injusta. A natureza tinha o elixir da imortalidade. Aquela harmonia e beleza,
por certo, reinventava a fertilidade da dignidade e do amor. A fusão do mundo
num único lugar, o Paraíso dos padres.
As águas tranquilas chegavam nas areias brancas e não cobiçavam incomodar,
se desenrolavam salgadas até ficarem estendidas, depois recuavam silenciosas
para dentro do mar. Afastado das areias, mar adentro, se avistava um rochedo
imponente que dizem apareceu sem mais nem menos, coisas que só os moradores afundados
sentiram de perto, um estremecimento nas águas. Não demorou e os nativos
escolheram o apelido: La Piedra del
Caracão.
Um ponto nas águas que parecia existir para os olhos preenchendo o espaço
entre a vida nas salgadas e nos céus, como uma divinação cósmica para acessar e
voar para outros mundos.
La Vieja acreditava que naquelas pedras estava a porta para o outro
mundo possível. Um lugar onde a natureza do céu e do homem se tornava um só
espírito, um só caminho — Niña Preta,
quando o meu espírito voar de mim leva as minhas sementes até aquelas pedras —
Eu prometo, Vieja.
Para dona Lara viajar até a Ribanceira era como desmanchar a rotina: despertarse limpiar cocinar amamantar, descansar después del mediodía y se parar
na janela, vendo o ir e vir das pessoas. O patrão saiu para os estábulos depois
das estripulias del sueño y después de
comer dona Lara, confirmou que saiam no final do dia até a Ribanceira. A
aventura estava prestes a começar — Mãe, a minha garganta ta doendo. — O que
foi, meu filho? — o menino se queixava de dor e frio — Deixa a sua mãe dar uma
olhada... abre a boca. — ela reclamou que estava muito vermelha. Aproximou os
lábios da testa do menino e sentiu um pequeno rubor de calor
(Querido, acho que tu tens febre.) (É?) — a fêmea estava alertada pela
percussão do afeto materno, o sentido de preservar a cria.
O tambor do alarme tocava no ritmo das batidas do coração, são batidas
diferentes — Preta, chama la Vieja!— Ah, mãe... — Tu e teus irmãos
não se cuidam, eu não posso fazer nada. — E o passeio na Ribanceira? —
Resolvemos depois, vamos esperar pela benzedura de la Vieja. — Merda! —
Menino! — Sempre eu...
Saiu do quarto do garoto. Foi procurar algum chá, sempre teve algo para
as emergências. Sabia que la Vieja não gostava de fazer benzeduras na
gente de casa e fazia um tempo que não fazia nos de fora, mas, por certo, este
não seria um empecilho para a sogra — Havia chegado o tempo dessa velha mostrar
alguma utilidade.
Muitas das mais antigas rezas usadas por la Vieja eram de um tempo
em que a Lua e o Sol eram abundantes e as orações encantavam as pessoas para
proteger dos espíritos perigosos — Mãe! — O que foi, Angélyca? — Eu vou
vomitar... — Calma, menina... a mamãe já vai te ajudar — aproximou os lábios da
menina. Não tinha febre.
Usava todas as armas disponíveis às mães para o achego das crias.
Primeiro procurava dissipar o medo invocando a proteção da Mãe de todos, a Mãe
do menino Jesus. Depois, um exame geral pelo aspecto dos filhos, procurando
pelos sinais mais comuns às doenças de crianças, algumas perguntas decoradas —
Dói aonde, filhinha — e outras e depois outras que ouviu de outras mães na
fileira da hóstia. Até localizar o desconforto. Coisas mais simples ela mesma
cuidava — Querida, você não está com febre. — É? — É só a barriga que está
doendo? — É.
La Vieja chegou e repetiu o que a dona Lara já sabia — Não é bom fazer
benzedura em gente da família.
Seus filhos precisavam deste encantamento sobrenatural, disto, ela tinha
certeza — Vamos procurar a benzedura da velha Flora — esposa do seu Floratil. Quando
desconfiava que a urgência precisava das rezas e de remédio de doutor, não
pensava mais que uma vez — Vamos procurar o doutor Lázaro — reforço para as
rezas. Chamou pelo Crespo — Vai chamar teu pai, meu filho... diz que temos
doentes em casa. — Ta certo, mãe. — Um pé lá e outro cá.
O garoto subiu na garupa do Aveia, sumiu em velocidade de urgência e
voltou num assopro de vento sobre as próprias pegadas — O pai já vem, ta
terminando o reparte da ração das leiteiras. — quanto tempo se passou não se
teve como saber, quando o espremedor chegou não encontrou dois, mas quatro de
cama e as pegadas do sol se enfiando no subchão.
Primeiro o Chiado, depois a Angélyca, logo em seguida tombaram Anadyr e
Crespo. La Vieja rezava oração pra quebrante, se resolveu por agir pelo tempo
que era perdido se esperando uma solução
(Ó mangas, ó changas, ó tangas, ó mirabelas, ó caga verrumas, ó
mija-fivelas, ó caralhos, ó bugalhos, ó peidos meus e da Maria e do Matheus,
por que banana não comeste tu, por que não enfiaste o dedo no cu? Por que não
me disseste que quebrante tinhas, que eu te curava com três alhos, com três
caralhos, com três bugalhos, com três fios, com três pavios, com três
puta-que-os-pariu.) — e com a mão fazia o sinal da cruz.
(O que está a ocorrer?) (Não sei, Dom Juan, as crianças não vão bem.)
(Vamos levar na botica do seu Floratil.) (Ele cerra as portas junto com o sol.)
(Vamos e pedimos ajuda, a criatura não vai se negar.)
Enrolaram um cobertor em cada uma das crianças — Anadyr e Calçado tomem
conta da casa. — Tudo bem, mãe. — Cuidado com o meu neném. — Acho que o miúdo
precisa que se atente de cuidado, dona Lara. — Ele, também? — saíram carregando
o reparte dos filhos. Eu seguia com o leporino no colo.
Quando chegamos na botica as luzes do lampião elétrico estavam acessas,
mas as portas fechadas. Dom Juan desceu da camioneta e bateu palmas — Seu
Floratil! — esperou alguns segundos e tornou a acionar a cigarra da sua
garganta — Seu Floratil! — Já estou indo, um bocadinho de calma.
O homem dos remédios tinha um andar arrastado pelo tempo que não parava
de lhe comer a dignidade. Numa primeira olhadela não reconheceu o leiteiro —
Quem é? — Os Caraca, seu Floratil. — Na madrugada todo gato é pardo. — e ele
não gostava da escuridão nem de gatos. Avançou mais um passo — Desculpem os
cuidados, mas as sombras estão atrevidas e a bandidagem ta brotando a esmo. —
mesmo aquela bondade de cuidar os doentes não lhe trazia nenhuma garantia.
Esqueceu os óculos, voltou até o balcão — Seu Floratil... — Já vou, já estou
indo. — a paciência é uma virtude para quem precisa de ajuda e algum favor —
Sou eu, Dom Juan. — O que lhe acontece, meu filho? — As crianças estão com
alguma coisa... — Já levou no doutor? — O homem já saiu pra suas pescarias. — o
doutor Lázaro só abria mão destas pescarias se estivesse desconfiando de algum
nascimento da sua responsabilidade. O seu Floratil que não é doutor, mas o dono
da botica de medicamentos em tinturas e glóbulos concordou em dar uma olhadinha
nas crianças. Ele aprendeu a manipular os remédios com o pai, mas depois que
chegaram as injeções, comprimidos, analgésicos e remédios fabricados em série,
as pessoas doentes foram diminuindo a cada ano na botica — Ta certo... me traga
as crianças... — sai doutor, entra doutor, e o seu Floratil ficava: no cuesta nada soportar el capricho de los
viejos.
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