O espírito do Grande Baobá
(Zimbábue)
Há muito, muito tempo, existia um enorme baobá perto do rio Zambezi, que todo mundo chamava de o Grande Baobá. O baobá desse conto era o maior, o mais grosso e o mais alto de todos. Tinha vivido muitíssimos anos e aprendido várias coisas. Portanto, era uma árvore muito sábia. Todas as outras árvores e os animais que viviam por ali a tratavam com bastante respeito. Sua fama se espalhara por toda parte, e eram muitos os que se aproximavam para pedir conselhos.
Um dia chegou à beira do rio um espírito de árvore que procurava uma nova casa para morar. Os espíritos das árvores são muito especiais e sempre procuram a melhor árvore para se instalar. Então, ele se dirigiu ao Grande Baobá e perguntou se poderia se instalar e morar dentro do seu tronco. O Grande Baobá ficou muito contente com a proposta e aceitou na hora. Era uma honra ser a árvore escolhida por um espírito!
Durante um tempo, o Espírito da Árvore fez com que todos os habitantes daquele trecho da selva junto ao rio Zambezi vivessem felizes. Mas, um dia, uma praga estranha e desconhecida caiu sobre a selva e estragou as plantas e as árvores, apodreceu os frutos e fez adoecer os animais. Até os peixes da beira do rio nadaram pra bem longe dali para não morrerem envenenados. Milhares e milhares de gafanhotos saltavam por toda parte e devoravam tudo. Milhares e milhares de lagartas de todo tipo subiam pelos troncos das árvores para comer todas as folhas que encontravam. Na verdade, comiam tudo. Com a praga também vieram ventos bem fortes, que sopravam sem parar e destruíam tudo o que encontravam pelo caminho. A terra secou, e as cores se apagaram.
Com muita preocupação, o Grande Baobá pediu ao Espírito da Árvore que salvasse a selva, que fizesse alguma coisa para deter aquela praga misteriosa que podia destruir a todos.
— Já sei! — exclamou finalmente o Espírito da Árvore.
O Grande Baobá convocou as criaturas da selva para uma indaba. Todos se reuniram sob sua grande sombra. O Espírito da Árvore falou com sua voz que soava como o vento quando se move entre os galhos.
— É preciso que a gente faça vir a chuva, ela é a única que pode espantar essa praga que está destruindo nossa bonita terra e nos devolver a calma.
Então pediu aos habitantes da selva que fizessem muito barulho, todos ao mesmo tempo, como se fossem trovões, um atrás do outro. E todos bateram, guincharam, gritaram, bufaram, bateram as asas... O barulho parecia mesmo uma tempestade. As nuvens da chuva não demoraram a aparecer, tal como havia previsto o Espírito da Árvore, e uma cortina de água caiu em cima do trecho de selva do Grande Baobá. A praga fugiu na hora, e o vento descontrolado parou.
A vida da selva à beira do rio Zambezi voltou a ser a de sempre, e o Grande Baobá e o Espírito da Árvore continuaram morando juntos por muito tempo. E juntos superaram todos os problemas que apareceram.
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Soler-Pont, Anna
O príncipe medroso e outros contos
africanos / Anna Soler-Pont ; ilustrações de Pilar Millán ; tradução Luis Reys
Gil. – São Paulo ; Companhia das Letras, 2009
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