segunda-feira, 10 de maio de 2021

mulheres descalças: felicidade não existe

 mulheres descalças



felicidade não existe
Ensaio 127Bzx – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar

no caso do suspiro tê algum jeito disê desvendado como as palavra parece apurá sem revelá os pensamento menos escondido e disfarçado, o respiradôro suspiroso dusiô augusto pareceu querê mostrá qui num tinha nenhum interesse naquela entrevista, Dona Rosinha não vai querer saber o que estou pensando. Acho melhor não me espiar por dentro, não vai querer saber mais do que não sabe. Limite-se as fofocas da praça, controlô o respiro e continuô calado, oiava sem vê a praça, parecia tão longe qui num podia sê notado, Olhe para mim, olhe para si mesma, vosmecê vê alguma felicidade? Vê alguma circunstância que cause fortuna ou sorte? É simples assim, dona Rosinha, a felicidade não existe. A janela é a sua distração purgativa da vida bendita aqui dentro. Estar aqui dentro, não estar lá fora, talvez seja a sorte de vosmecê. Lá fora é diferente, é sofrimento e necessidade. O desfecho não é o mesmo quando não se passa fome. Vê o negrinho? Vale a pena uma vida de mendicância, furtos e o uso vil e ignominioso que faz do próprio corpo? Uma vida de devassidão e desonra, vadiagem, defloramentos antes da estação própria... e mais orfandade, mais e mais violações de ordem moral, religiosa e civil, delitos e infrações ao seu dever de servir. Olhar a praça da janela não é a mesma coisa que estar na praça. Não se pode andar na praça sem escutar os queixumes das negras, escravas obrigadas a mandarem seus filhos sem pai para a Casa de Caridade. Lamentam-se da pobreza, mas não param de fazer negrinhos e negrinhas órfãs. Alaridos e lamúrias da fome, mas não querem deixar a negradinha para a caridade. Chega desses mulatinhos e mulatinhos feios na Villa. Alguns amarelados, outros barrigudos, cambando, regristas e cantadores, só fazem ajuntamentos, algazarras e alvoroço. É preferível, em vez de abandonar o recém-nascido em lugar de notoriedade pública, levar o dito cujo para lugar deserto e afastado, assim não se incomoda ninguém. Gente morre todo dia, não tem o que fazer. A diferença que esses morrem a míngua logo, não ficarão 10 ou 12 anos minguando e incomodando. É um jeito de economizar tempo, recursos e a polícia pública.

oiô sem atenção pra siá rosinha, a desatenção tinha virado costume, usiô augusto num queria prugunta virando usança no dia-a-dia da casa, assim conservava distância da falta de cuidado, seguia desapaixonado e frio

Nada, Mãezinha... não estava pensando em nada.

o par continuô em silêncio – a casa tava costumada sê vivida no silêncio do par –, inté qui a bengala se escorregô e caiu, só um gritinho de aviso quando chegô no chão, o costume dicaí num assustava mais na casa, cadum com seus mistério e mania

ali da janela – e com a vidraçaria fechada –, aquela gente toda na praça num parecia querê entendê a própria vida no trajeto da vida, gente desanimada de entendê as resposta das prugunta qui num sabia fazê – e tumbém num se atrevia querê aprendê –, ninguém na praça qui tava babando e gritando pela morte – nem usqui vigiava das janela se dizendo enojado – parecia querê desgarrá da manada amontoada no canto da desesperança vazia, sem disposição pra ficá alegre na alegria nem triste com a miséria e a tortura dusotro


____________________


é bão lê, tumbém... sequisé:

histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio
mulheres descalças: a pulícia pública
mulheres descalças: a vida num é simples
mulheres descalças: na solidão sozinha
mulheres descalças: usdois contra cadum
mulheres descalças: fofocando comigo mesma
mulheres descalças: felicidade não existe
mulheres descalças: um gosto diódio


Nenhum comentário:

Postar um comentário