quinta-feira, 25 de julho de 2013

Sabê antes é melhó qui sabê depois

Ensaio 12B
baitasar
—        Gosto de tudo, minha preta! Mais gosto, ainda, de sê assim: os murmúrios do contentamento, as bobice do amô, as conversa do gosto derramando, e depois, ficá agarrado, um nó no outro, até dormecê enfiado nas vista, nos braço das folha, na pedra do amô.
—        Dormece, dormece... Josino.
Passô da boca da noite ao amanhecê lhe afugentando as dô do dia e contando da sua tristeza: a bisbilhotice de tê escutado assunto do siô com a siá. Ele reclamava do padre e do chefe da madeira
—        O viúvo e o fiscal só olham com os olhos da cara, esses dois tem as vistas com nenhuma imaginação.
Não era assunto da nêga Gabriela Milagre, mais não deixô as perna lhe levá, ficô com os pé fincado no chão, duas estaca enfiada nas carne da terra, as palavra nos entendimento das orelha, Meu preto, sabê antes é melhó qui sabê depois
—        Qual a razão para tanta reclamação do meu marido?
O marido lhe olhô com jeito de cansado, como se a razão da reclamação fosse mais uma trama enfadonha pra siá entendê
—        Tudo tem um valor de preço. O problema é quando os olhos dão um valor que não se acerta com o preço...
Gabriela Milagre podia sentí o esforço da siá Casta tentando entendê o qui não sabia nem apetecia confessá qui não sabia, nunca lhe tinham dito qui o preço podia não sê do valô. Parada como estivesse numa jaula. Ninguém lhe disse nada, aprendeu quieta, sem perguntá, obedecendo o siô nas sua vontade, se abrindo às ordem, aos jeito, levô muito tempo até tê coragem pra abrir as vista e vê o qui nunca viu. Queria lhe dizê qui era nojento lhe colocá aquela carne nas sua e derrama. Ninguém lhe disse qui podia falá, mais sabia qui se trancasse a jaula o leão ia escapá. Não podia gostá, mais ficava parada na jaula, devorada aos pouquinho
—        Não entendi, marido.
O siô olhô pra esposa qui não lhe tinha dado nenhum herdeiro, nem qui fosse uma menina, se incomodô com a chatice de contá de novo a história da cobiça do homem com vestido preto e o fiscal imperialista, Chega de imposto pro Império, não lhe adianta de nada uma esposa parada qui não lhe ajudava gozá... nem conversá
—        Deixa assim, isso é preocupação dos homens. A sinhá precisa encher o tempo do pensamento e da preocupação com as coisas da casa e da cama familiar.
O assunto da casa lhe dava vontade de subi o tom da conversa
—        O meu marido tem alguma preocupação com as coisas da casa?
Josino se revirô na rede de pedra, as folha se soltaram dos galho, desaninhô a cabeça do colo, quis olhá de frente, escutá com toda atenção as palavra do patrão, na voz da sua muié. A nêga Gabriela Milagre sabia qui lhe despertô a bisbilhotice, desviô as vista, não lhe olhava, fico quieta até qui acalmô o peito
—        As suas contas da lua não têm valor de confiança, nem a senhora nem a negra do Josino têm a serventia de me dar uma cria. O descaso do Josino tem como resolver, mas com a senhora não tenho solução.
As duas baixô as vista, tinha tristeza nas duas muié
—        A senhora não deve ser boa com as contas ou não entende a lua. Toda vez que a senhora apontou para a lua... cumpri o meu dever.
A nêga Gabriela Milagre sentiu pena da siá Casta, sabedora da fieira de fiô e fiá qui o siô desfila na estância, e ela, sem um pra mostrá
—        Vou lhe conseguir um filho merecedor do seu sucessório. Tenho fé que tudo se resolve.
O siô caminhô até o armário das aguardente. Serviu no copo a cachaça da cana pura
—        É seu dever patriótico me dar um filho! Esqueça do padre, isso é entre a sinhá e eu! Não me traga o padre pra cama... a senhora carece de acertar as suas contas, melhorar as conversas com a lua e me avisar.
O siô lhe falava com as costa, olhava a cópia do pai, na parede das visita, as mão com o copo e a garrafa. A siá continuava sentada na beirada da cadeira, as mão no colo, as vista no chão
—        Deixo esse assunto em suas mãos. Agora, vou me preocupar com o Josino, espero que o negro se resolva... — olhô na direção da nêga Gabriela Milagre, escondida na cozinha, ela sentiu o arrepio do medo — ... ou arrumo outro jeito. Não tem preço o custo de liberar o Josino da construção. É negro da confiança: braço forte, perna que não cansa, tem a boca fechada, trabalha sem gemido. O padre sabe que é negro de bom preço. E pode fazer boas crias. Vai cruzar com quem eu lhe mandar.
Tudo pode não sê do jeito qui se pensa qui é ou se qué pensá qui é, o jeito da verdade qui é verdade não existe, a verdade fica do lado qui conta melhó a sua história. A verdade é pura história do mais forte.
Sabê daquela conversa deixo Josino na maió tristeza, mais também lhe alertô. Os dois não queria fazê fiô escravo. Pra fazê fiô liberto era preciso fugí, era preciso levá sua muié de amô. Não credita mais nas promessa do siô patrão, ele tem querê pra forçá os seus capricho de branco, tem vontade e a força de fazê existí as coisa qui qué. Josino levo o dedo na boca da muié, lhe pediu pra ouví
—        O qui existi aqui?
Ela balançô os ombro
—        O tronco, chicote, corrente... as tristeza, as dô... ocê...
—        Esse lugá não precisa de nóis...
Com a manhã, ele voltô pra construção das torre
—        Não tenho dia marcado de voltá.
—        Não se atormente, o seu desavançá nas torre do padre é assunto de sê tratado com siá Casta. Vô ajudá com as conta da lua.
Ele mostrô a dentadura branca, num sorriso silencioso.
Josino partiu.
Ela segurô o medo e o choro, não era mais criança assombrada pelos fantasma dos branco, pediu proteção pro marido. Oiá, é o momento da fartura das chuva forte, é o tempo do desassombro, o tempo de escutá as palavra do segredo, Ela e Josino tinha qui fugí.

Fez assopro na direção da estrada, pediu qui Oiá levasse o aviso pro Josino.
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