quarta-feira, 17 de julho de 2013

Pura História


As mortes depois da morte de Jango


por Juremir Machado






A história da morte de João Goulart é um romance policial e de espionagem. Há muitos elementos que amparam a suspeita de que ele foi assassinado, a começar pelas denúncias de Mario Neira Barreiro – em liberdade condicional atualmente no Brasil depois de vários anos de prisão por crimes comuns – que se apresenta como ex-agente secreto uruguaio, tenente Tamuz, tendo sido encarregado de espionar Jango durante anos e de gravar suas conversas. Neira afirma que participou da “Operação Escorpião”, montada pelo delegado torturador Fleury a pedido de Geisel – Orlando ou Ernesto – em conluio com o governo uruguaio para matar Jango. Isso teria acontecido através de uma troca de medicamentos para o coração.

Tamuz garante ter guardado 40 horas de gravação com Jango. As fitas desapareceram, foram recuperadas, perdidas novamente e, segundo ele, as que sobraram ainda dependem do conserto de um gravador da época capaz de fazer leitura “em reverso”. Neira escreveu um livro, “Entrevista com um réu confesso”, jamais publicado, em parceria com o seu colega de prisão Volnei Correia. Li esse original umas dez vezes. Escabroso. Outros livros de Neira, também nunca publicados, entre os quais “Sobrevivente”, “Diálogos de um Presidente Exilado”, “Morte Premeditada” e “Operação Escorpião”, desapareceram. As pessoas que os tocaram, guardaram ou conheceram foram assassinadas. Foch Diaz, o primeiro a suspeitar do assassinato de Jango, teve, segundo ele mesmo escreveu, os exemplares de depósito do seu livro “O crime perfeito” eliminados da biblioteca de Montevidéu.

A morte misteriosa de Jango atrairia outras mortes. O jornalista uruguaio Roger Rodrigues publicou uma lista montada por Foch Diaz: 18 pessoas que sabiam detalhes sobre o fim de Jango morreram do coração, do seu cozinheiro e mordomo Tito a cinco dos seus pilotos de avião, entre eles Ruben Rivero, que faleceu dentro de um barco, indo da Argentina ao Uruguai para depor no mesmo dia na justiça sobre a morte do ex-presidente brasileiro. A maleta de documentos que carregava desapareceu. Até o médico, Rafael Ferrari, que examinou o corpo Jango, em Mercedes, e assinou o atestado de óbito, marcando “infarto do miocárdio, morreu de um ataque cardíaco.

Outro uruguaio, Ricardo Mendieta, que seria o ex-agente secreto de codinome Cataldo, também preso por crimes comuns em Charqueadas, chegou a escrever ao diretor do jornal uruguaio “La Republica” pedindo ajuda: “Meu temor é que também estes originais (manuscritos) desapareçam; por esses motivos, lhe peço enviar uma pessoa de sua confiança, pois nós não podemos fazer chegar aí nem xerox, e isso que, segundo a polícia, estamos ricos de tantos assaltos! Não somente não temos dinheiro para xerox (que é irrisório) senão tampouco para envio pelo correio ou sedex; esse livro é um material explosivo”. Morreu em condições totalmente misteriosas.

Lanço hoje à noite, a partir das 19 horas, na Livraria Saraiva do Shopping Moinhos, em Porto Alegre, “Jango, a vida e a morte no exílio” (L&PM).

Pretendo que todas as respostas para tantos e inquietantes enigmas estão em meu livro.

Pura História.

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