domingo, 16 de setembro de 2018

Roda de Samba

Homenagem a Paulo César Pinheiro





Quando eu canto
É para aliviar meu pranto
E o pranto de quem já
Tanto sofreu
Quando eu canto
Estou sentindo a luz de um santo
Estou ajoelhando
Aos pés de Deus









1 - Poder da Criação - João Nogueira / Paulo César Pinheiro 
2 - Batendo a Porta - João Nogueira / Paulo César Pinheiro 
3 - Mineira - João Nogueira / Paulo César Pinheiro 
4 - Eu, hein, Rosa - João Nogueira / Paulo César Pinheiro 
5 - Minha Missão - João Nogueira / Paulo César Pinheiro 
6 - Portela na Avenida - Mauro Duarte / Paulo César Pinheiro 
7 - Espelho - João Nogueira / Paulo César Pinheiro











O Poder da Criação

Não, ninguém faz samba só porque prefere
Força nenhuma no mundo interfere
Sobre o poder da criação
Não, não precisa se estar nem feliz nem aflito
Nem se refugiar em lugar mais bonito
Em busca da inspiração

Não, ela é uma luz que chega de repente
Com a rapidez de uma estrela cadente
E acende a mente e o coração
É, faz pensar
Que existe uma força maior que nos guia
Que está no ar
Vem no meio da noite ou no claro do dia
Chega a nos angustiar
E o poeta se deixa levar por essa magia
E um verso vem vindo e vem vindo uma melodia
E o povo começa a cantar!




Batendo a Porta

Como é que vai?
Saúde boa?
Não foi à toa que você mudou daqui
Pra melhorar
Mas pode entrar
A casa é sua
E não repare a casa humilde
Que você trocou por um solar
Pode sentar
Fique à vontade
Te deu saudade de um amor
Que infelizmente já não há
Pode falar
Pode sofrer
Pode chorar
Porque agora você não me ganha
Eu conheço essa manha
E não vou me curvar, mas
Pode tentar
Pode me olhar
Pode odiar
Pode até sair batendo a porta
Que a Inês já é morta do lado de cá.




Mineira


Clara,
Abre o pano do passado,
Tira a preta do cerrado,
Põe rei congo no congá.
Anda, canta um samba verdadeiro,
Faz o que mandou o mineiro,
Oh! mineira.
Samba que samba no bole que bole,
Oi, morena do balaio mole,
Se embala do som dos tantãs.
Quebra no balacochê do cavaco
E rebola no balacubaco;
Se embola dos balagandãs.
Mexe no meio que eu sambo do lado.
Vem naquele bamboleado
Que eu também sou bam, bam, bam.
Vai, cai no samba cai
E o samba vai até de manhã.
Vai cai no samba cai
E o samba vai até de manhã.
Ô saravá mineira guerreira
Que é filha de Ogum com Iansã.



Eu, Hein, Rosa!


Eu, hein, Rosa!
Se manca
Segura essa banca
De escrupulosa
Eu, hein, Rosa!
O meu jogo é na retranca
Área muito perigosa
Você parecem que nem lembra mais
De tempos atrás
A tua figura era vergonhosa
Eu me reparti
Querendo reconstituir
A quem hoje me
Vira o rosto assim
Mas eu nem me abalo
Você vai cair do cavalo
Quando precisar de mim
Eu, hein, Rosa!
Vem mansa
Porque a contradança
É mais audaciosa
Eu, hein, Rosa!
Apelar pra ignorância
É uma coisa indecorosa
Acho que estou é forçando demais
As cordas vocais
Você não merece um dedo de prosa
E pra resumir
Faço questão de conferir
Se se quebra ou não
Um vaso ruim
Saia no pinote
Senão vai ser de camarote
Que eu vou assistir seu fim




Minha Missão


Quando eu canto
É para aliviar meu pranto
E o pranto de quem já
Tanto sofreu
Quando eu canto
Estou sentindo a luz de um santo
Estou ajoelhando
Aos pés de Deus
Canto para anunciar o dia
Canto para amenizar a noite
Canto pra denunciar o açoite
Canto também contra a tirania
Canto porque numa melodia
Acendo no coração do povo
A esperança de um mundo novo
E a luta para se viver em paz!
Do poder da criação
Sou continuação
E quero agradecer
Foi ouvida minha súplica
Mensageiro sou da música
O meu canto é uma missão
Tem força de oração
E eu cumpro o meu dever
Aos que vivem a chorar
Eu vivo pra cantar
E canto pra viver
Quando eu canto, a morte me percorre
E eu solto um canto da garganta
Que a cigarra quando canta morre
E a madeira quando morre, canta!



Portela Na Avenida


Portela
Eu nunca vi coisa mais bela
Quando ela pisa a passarela
E vai entrando na avenida
Parece
A maravilha de aquarela que surgiu
O manto azul da padroeira do Brasil
Nossa Senhora Aparecida
Que vai se arrastando
E o povo na rua cantando
É feito uma reza, um ritual
É a procissão do samba abençoando
A festa do divino carnaval
Portela
É a deusa do samba, o passado revela
E tem a velha guarda como sentinela
E é por isso que eu ouço essa voz que me chama
Portela
Sobre a tua bandeira, esse divino manto
Tua águia altaneira é o Espírito Santo
No templo do samba
As pastoras e os pastores
Vêm chegando da cidade, da favela
Para defender as tuas cores
Como fiéis na santa missa da capela
Salve o samba, salve a santa, salve ela
Salve o manto azul e branco da Portela
Desfilando triunfal sobre o altar do carnaval










 Espelho


Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz

Eh, vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai
Num dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que inda hoje faz
E eu me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai
E assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
E assim sem perceber eu era adulto já

Eh, vida voa
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar




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