domingo, 23 de setembro de 2018

histórias de avoinha: praça pública é lugar de vagabundo!

mulheres descalças

praça pública é lugar de vagabundo! 
Ensaio 128 – 2ª edição 1ª reimpressão

baitasar




o barão sentia o desconforto de tá sendo espiado, gente de bem como ele num gosta e num vê necessidade de sê averiguado, muntu menos, pelas gente da praça pública, Isso aqui é um lugar para reunião dos vagabundos, resmungava no meio daquela ventania, olhe a sua volta, sinta o perfume de sovaco. Não nasce uma flor nessa loucura! Tudo pisoteado!

ganhava tempo, num sabia se atendia ou num atendia as vontade da baronesa, tava aprisionado nele mesmo, Sou uma pessoa decente e sensata, não posso ser julgado aqui, uma praça de vagabundos imundos, bêbados e malcheirosos!

era e num era mandado pela baronesa, mais no vê dele, isso num era pra sê visto fora das parede da sua casa, na frente das pessoa o mandante precisava sê ele, ali num era lugá pra se explica. pruqui conforme as palavra dita podia parecê qui é bajuladô das vontade dela: uma muié... e preta, Não é lugar para ser vitrine. Os olhos, ouvidos e língua da praça já têm muito riso, conversa e chiste.

ninguém tem atrevimento pra brincá com ele, mais a baronesa parece desacatá e mandá

a vergonha de sê motivo da caçoada da praça toda lhe faz subí a raiva, junto com a vontade vigiada de surrá a muié qui lhe parece mais qui atrevida, mesmo qui ela tenha a razão do seu lado, mesmo qui ele tenha munta vontade dura de hôme pra ela, no jeito de vê do barão, qui aprendeu no jeito de sê do pai, Não é o caso de ter ou não ter razão, ter ou não ter amor, ele e ela num é igual na cô, riqueza, gosto, nem na sorte, eu sou homem e ela é só uma mulher.

ayomide oiava o barão com a mistura da alegria e da tristeza, sabia onde tava metida esse tempo todo, os pé continuava descalço dentro das botina fina e bunita, os dedo encrespado fincado no solado do casco de couro

ela tá certa de tê razão

ferve nela a vontade de enfiá, na descida da goela, daquela turba estragada pela raiva, a vivência da injustiça qui lhe atormenta

ensaia a sua refrega

o chão da terra lhe avisava da conta qui mais dia, ou dia pra menos, havia de chegá: a cama saborosa do barão precisava sentí folga dos bão serviço da preta maria clara, qui faz tudo com zelo, fidelidade, E pelo amor de Deus, como pedia o barão

as frescura da vida num acalma o rumô dos grito e o soluçá das dô qui as injustiça só faz aumentá, mais elas dá tempero pra continuá, embora as tristeza, as mágoa, o ódio, a força dos punho cerrado e os dente arreganhado



tem veiz, qui os riso fica esquisito na cama fria e silenciosa, é quando um ocupante da cama perde pra irritação e desembesta qui já pode – e precisa – passá sem o otro, A mocinha Ayomide não vem deitar, Já vou, já vou, dentro em pouco, Esperarei acordado, Está bem, Estou aqui sofrendo de saudade.



mais é na praça qui a irritação desembesta

a voz do moringue e as batida do piano se misturava com a afinação dos grito de um e otro, tudo junto na praça pública: desprezo descarado amparando as parede da injustiça

ninguém se espanta com o aparecimento do ódio quando ele se torna um hábito, Não conheço nenhum negro santo, Enforca logo, Moringue!

os grito da praça só fazia aumentá, Todo negro é igual, Forca, forca, forca, Filho-da-puta fujão que ataca as mulheres brancas e mata!



Pelo menos, ele mata depois do ataque. Assim, não se fica com a desonra viva!

a villa risonha e alegre continuava na beirada do rio contemplando a descida avermeiada do dia plácido com as presa arreganhada, o ódio já acostumado de surrá os pretu escravizado gritava desavergonhado, É preciso arrancar o mal pela cabeça!

Criolo bom é criolo morto!

Moringue, lave com sangue o chão da Villa!

Eu estou com medo, Moringue! Segura bem este criolo! Não solta, não!

Olhem as garras da besta!

era muntu pouco pretu pra tanto ódio, o desdém e o descaso com as vida é uqui sustenta e alimenta o desenho e a natureza do ódio, mais todo ódio pronto e arrebatado precisa do assentamento do desprezo sem vergonha, frio e mesquinho, inté soltá o acesso da fúria, pronta pra matá em nome da boa vida e do bão ódio

então, quando os grito da fúria ecoa dum pru otro – e faz aumentá as veia do pescoço – a villa se ri com desprezo da justiça enquanto solta junto o hálito de enxofre frio, podre e abafado da sua gente boa e insuspeita: o bigodudo na companhia do cabelo escovinha; o narigudo azulado com o careca; o véio militá da milícia com o chefe dos puliciamento; o dono da bodega dos seco e moiado com o desdentado; o casal recém formado e a véia carola das missa; o marido bêbado e a muié à toa; o acoguêro do rosto desfeito de tanto retaiá carne e o sapatêro; o pintô das parede descolorida e o alfaiate; o tira-dente e o farmacêutico; nem o escritô jornalístico fez silêncio, os grito saia da boca e as narina tremia

nunca se cuspiu tanto no vento e no chão da praça, o tocadô de sanfona enfiado na bombacha – e a bombacha enfiada nas bota deselegante – tocava sentado no estojo da sanfona, num parava nem minguava o jeito alucinante de tocá as música

teve inté dança num dos canto da praça, Mais um pouco e tudo volta ao normal, Isso mesmo... como era antes, era a frase qui mais se ouvia dum pru otro

Vamos dar uma tunda no criolo!

a barulhêra num parava na praça, os grito continuava xingando e estraçaiando pra longe, tomava conta da villa, os grito esfriava os curação e jogava no vento mais cuspe, num se escutava mais a sanfona e o piano, cadum tocava a música qui sabia: malquerença

Mas o que fez esse rapaz, Moringue?

a voz do barão qui fez a purugunta da surpresa ficô isolada da traparice dos grito na praça, uma nota desafinada, saiu com tanta força qui subiu mais pra cima qui aquela vozearia mal contente e amargurada, tumulto sem aborrecimento ou tristeza pelo sofrimento do acorrentado, esse á a herança qui eles recebeu dos pai e mãe, e vai passá prus fiu em troca da continuação do ódio movido pelo testamento dos morto, é tudo pela riqueza de tê mais qui precisa tê

a baronesa parô e se virô pru barão, tudo mais se virô, a praça se virô do avesso




continua...

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