Contos e Lendas de Amor - Argentina
Pitá e Moroti amavam-se muito; e se ele era o mais esforçado dos
guerreiros da tribo, ela era a mais gentil e formosa das donzelas. Porém Nhandé
Iara não queria que eles fossem felizes; por isso, encheu a cabeça da jovem de
maus pensamentos e instigou a sua vaidade.
Uma tarde, na hora do pôr-do-sol, quando vários guerreiros e
donzelas passeavam pelas margens do rio Paraná, Moroti disse:
— Querem ver o que este
guerreiro é capaz de fazer por mim? Olhem só!
E, dizendo isso, tirou um de seus braceletes e atirou-o na água.
Depois, voltando-se para Pitá, que como bom guerreiro guarani era um excelente
nadador, pediu-lhe que mergulhasse para buscar o bracelete. E assim foi.
Em vão esperaram que Pitá retornasse à superfície. Moroti e seus
acompanhantes, alarmados, puseram-se a gritar... Mas era inútil, o guerreiro
não aparecia.
A desolação logo tomou conta de toda tribo. As mulheres choravam e
se lamentavam, enquanto os anciãos faziam preces para que o guerreiro voltasse.
Só Moroti, muda de dor e de arrependimento, como que alheia a tudo, não
chorava.
O pajé da tribo, Pegcoé, explicou então o que ocorria. Disse ele,
com certeza de quem já tivesse visto tudo:
— Agora Pitá é
prisioneiro de I Cunhã Pajé. No fundo das águas, Pitá foi preso pela própria
feiticeira e conduzido ao seu palácio. Lá Pitá esqueceu-se de toda a sua vida
anterior, esqueceu-se de Moroti e aceitou o amor da feiticeira; por isso não
volta. É preciso ir buscá-lo. Encontra-se agora no mais rico dos quartos do
palácio de I Cunhã Pajé. E se o palácio é todo de ouro, o quarto onde Pitá se
encontra agora, nos braços da feiticeira, é todo feito de diamantes. E dos
lábios da formosa I Cunhã Pajé, que tantos belos guerreiros nos tem roubado,
ele sorve esquecimento. É por isso que Pitá não volta. É preciso ir buscá-lo.
— Eu vou! — exclamou
Moroti. — Eu vou buscar Pitá!
— Você deve ir, sim. —
disse Pegcoé — Só você pode resgatá-lo do amor da feiticeira. Você é a única,
se de fato o ama, capaz de vencer, com esse amor humano, o amor maléfico da
feiticeira. Vá, Moroti, e traga Pitá de volta!
Moroti amarrou uma pedra aos seus pés e atirou-se no rio.
Durante toda noite, a tribo esperou que os jovens aparecessem — as
mulheres chorando, os guerreiros cantando e os anciãos esconjurando o mal.
Com os primeiros raios da aurora, viram flutuar sobre as águas as
folhas de uma planta desconhecida: era o uapé. E viram aparecer uma flor muito
linda e diferente, tão grande, bela e perfumada como jamais se vira outra na
região. As pétalas do meio eram brancas e as de fora vermelhas. Brancas como o
nome do guerreiro: Pitá. A bela flor exalou um suspiro e submergiu nas águas.
Então Pegcoé explicou aos seus desolados companheiros o que
ocorria:
— Alegria, meu povo! Pitá
foi resgatado por Moroti! Eles se amam de verdade! A malévola feiticeira, que
tantos homens já roubou de nós para satisfazer o seu amor, foi vencida pelo
amor humano de Moroti. Nessa flor que acaba de aparecer sobre as águas, eu vi
Moroti nas pétalas brancas que eram abraçadas e beijadas, como num rapto de
amor, pelas pétalas vermelhas. Estas representam Pitá.
E são descendentes de Pitá e Moroti estes belos uapés que enfeitam
as águas dos grandes rios. No instante do amor, as belas flores brancas e
vermelhas do uapé aparecem sobre as águas, beijam-se e voltam a submergir. Elas
surgem para lembrar aos homens que, se para satisfazer um capricho da mulher
amada um homem se sacrificou, essa mulher soube recuperá-lo, sacrificando-se
também por seu amor. E se a flor do uapé é tão bela e perfumada, isso se deve
ao fato de ter nascido do amor e do arrependimento.
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Contos e Lendas
de Amor
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