segunda-feira, 29 de julho de 2013

Capitão Mouro

Saifudin


Bourdoukan, Georges Latif


A Incrível e Fascinante História do Capitão Mouro /
      Georges Latif Bourdoukan - 6ª ed.
      São Paulo: Casa Amarela, 2001














quinta-feira, 25 de julho de 2013

Sabê antes é melhó qui sabê depois

Ensaio 12B
baitasar
—        Gosto de tudo, minha preta! Mais gosto, ainda, de sê assim: os murmúrios do contentamento, as bobice do amô, as conversa do gosto derramando, e depois, ficá agarrado, um nó no outro, até dormecê enfiado nas vista, nos braço das folha, na pedra do amô.
—        Dormece, dormece... Josino.
Passô da boca da noite ao amanhecê lhe afugentando as dô do dia e contando da sua tristeza: a bisbilhotice de tê escutado assunto do siô com a siá. Ele reclamava do padre e do chefe da madeira
—        O viúvo e o fiscal só olham com os olhos da cara, esses dois tem as vistas com nenhuma imaginação.
Não era assunto da nêga Gabriela Milagre, mais não deixô as perna lhe levá, ficô com os pé fincado no chão, duas estaca enfiada nas carne da terra, as palavra nos entendimento das orelha, Meu preto, sabê antes é melhó qui sabê depois
—        Qual a razão para tanta reclamação do meu marido?
O marido lhe olhô com jeito de cansado, como se a razão da reclamação fosse mais uma trama enfadonha pra siá entendê
—        Tudo tem um valor de preço. O problema é quando os olhos dão um valor que não se acerta com o preço...
Gabriela Milagre podia sentí o esforço da siá Casta tentando entendê o qui não sabia nem apetecia confessá qui não sabia, nunca lhe tinham dito qui o preço podia não sê do valô. Parada como estivesse numa jaula. Ninguém lhe disse nada, aprendeu quieta, sem perguntá, obedecendo o siô nas sua vontade, se abrindo às ordem, aos jeito, levô muito tempo até tê coragem pra abrir as vista e vê o qui nunca viu. Queria lhe dizê qui era nojento lhe colocá aquela carne nas sua e derrama. Ninguém lhe disse qui podia falá, mais sabia qui se trancasse a jaula o leão ia escapá. Não podia gostá, mais ficava parada na jaula, devorada aos pouquinho
—        Não entendi, marido.
O siô olhô pra esposa qui não lhe tinha dado nenhum herdeiro, nem qui fosse uma menina, se incomodô com a chatice de contá de novo a história da cobiça do homem com vestido preto e o fiscal imperialista, Chega de imposto pro Império, não lhe adianta de nada uma esposa parada qui não lhe ajudava gozá... nem conversá
—        Deixa assim, isso é preocupação dos homens. A sinhá precisa encher o tempo do pensamento e da preocupação com as coisas da casa e da cama familiar.
O assunto da casa lhe dava vontade de subi o tom da conversa
—        O meu marido tem alguma preocupação com as coisas da casa?
Josino se revirô na rede de pedra, as folha se soltaram dos galho, desaninhô a cabeça do colo, quis olhá de frente, escutá com toda atenção as palavra do patrão, na voz da sua muié. A nêga Gabriela Milagre sabia qui lhe despertô a bisbilhotice, desviô as vista, não lhe olhava, fico quieta até qui acalmô o peito
—        As suas contas da lua não têm valor de confiança, nem a senhora nem a negra do Josino têm a serventia de me dar uma cria. O descaso do Josino tem como resolver, mas com a senhora não tenho solução.
As duas baixô as vista, tinha tristeza nas duas muié
—        A senhora não deve ser boa com as contas ou não entende a lua. Toda vez que a senhora apontou para a lua... cumpri o meu dever.
A nêga Gabriela Milagre sentiu pena da siá Casta, sabedora da fieira de fiô e fiá qui o siô desfila na estância, e ela, sem um pra mostrá
—        Vou lhe conseguir um filho merecedor do seu sucessório. Tenho fé que tudo se resolve.
O siô caminhô até o armário das aguardente. Serviu no copo a cachaça da cana pura
—        É seu dever patriótico me dar um filho! Esqueça do padre, isso é entre a sinhá e eu! Não me traga o padre pra cama... a senhora carece de acertar as suas contas, melhorar as conversas com a lua e me avisar.
O siô lhe falava com as costa, olhava a cópia do pai, na parede das visita, as mão com o copo e a garrafa. A siá continuava sentada na beirada da cadeira, as mão no colo, as vista no chão
—        Deixo esse assunto em suas mãos. Agora, vou me preocupar com o Josino, espero que o negro se resolva... — olhô na direção da nêga Gabriela Milagre, escondida na cozinha, ela sentiu o arrepio do medo — ... ou arrumo outro jeito. Não tem preço o custo de liberar o Josino da construção. É negro da confiança: braço forte, perna que não cansa, tem a boca fechada, trabalha sem gemido. O padre sabe que é negro de bom preço. E pode fazer boas crias. Vai cruzar com quem eu lhe mandar.
Tudo pode não sê do jeito qui se pensa qui é ou se qué pensá qui é, o jeito da verdade qui é verdade não existe, a verdade fica do lado qui conta melhó a sua história. A verdade é pura história do mais forte.
Sabê daquela conversa deixo Josino na maió tristeza, mais também lhe alertô. Os dois não queria fazê fiô escravo. Pra fazê fiô liberto era preciso fugí, era preciso levá sua muié de amô. Não credita mais nas promessa do siô patrão, ele tem querê pra forçá os seus capricho de branco, tem vontade e a força de fazê existí as coisa qui qué. Josino levo o dedo na boca da muié, lhe pediu pra ouví
—        O qui existi aqui?
Ela balançô os ombro
—        O tronco, chicote, corrente... as tristeza, as dô... ocê...
—        Esse lugá não precisa de nóis...
Com a manhã, ele voltô pra construção das torre
—        Não tenho dia marcado de voltá.
—        Não se atormente, o seu desavançá nas torre do padre é assunto de sê tratado com siá Casta. Vô ajudá com as conta da lua.
Ele mostrô a dentadura branca, num sorriso silencioso.
Josino partiu.
Ela segurô o medo e o choro, não era mais criança assombrada pelos fantasma dos branco, pediu proteção pro marido. Oiá, é o momento da fartura das chuva forte, é o tempo do desassombro, o tempo de escutá as palavra do segredo, Ela e Josino tinha qui fugí.

Fez assopro na direção da estrada, pediu qui Oiá levasse o aviso pro Josino.
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Ensaio 11B - Dois corpo e um nó

quarta-feira, 24 de julho de 2013

História do deus Sol e a Rainha das Águas

Contos e Lendas de Amor - Equador

História do deus Sol e a Rainha das Águas


Há muitos e muitos anos, quando deste lado do mundo não existiam outros deuses além dos astros, das forças e dos elementos naturais, o sol imperava sobre todos eles e era amo e senhor de toda a América índia.
Sua vontade era bastante para desencadear tormentas ou secar mares. Quando se lhe rendia culto, fecundava os campos e abençoava os lares. Mas ai do insensato que se atrevesse a desafiar sua ira! Nada podia esperar senão fome, frio, dor e morte.
Conta a história que o deus Sol costumava tomar a forma de um garboso chefe guerreiro para visitar suas ilhas prediletas no oceano Pacífico. E certa vez, enquanto caminhava sobre a branca espuma que as ondas estendiam sobre a areia, conseguiu divisar uma lindíssima donzela que emergia das mansas águas do mar sentada sobre a carapaça de uma tartaruga gigantesca. Ficou imediatamente seduzido por sua figura esbelta, seu talhe delicado, sua tez cobreada e fresca, seus cabelos mais negros do que a noite e a estranha doçura derramada por seus olhos cor de mel.
Cativado, pois, pela graça da jovem, o soberano dos deuses aproximou-se dela para falar-lhe. Mas, ao notar a presença estranha, a tartaruga submergiu nervosamente nas ondas verde-azuis, levando consigo a misteriosa donzela.
Ao vê-la desaparecer, o Sol ficou tão triste que chorou sem parar durante muitas horas, provocando uma descarga de sombras sobre as ilhas indefesas. Bastou uma leve insinuação do deus enfurecido, e o vento tornou-se mais intenso, rugindo horrivelmente; os furacões ameaçaram destruir toda vegetação, e as ondas, encrespadas, provocaram terríveis maremotos.



Pereceram, naquela ocasião, todos os seres humanos e a maioria dos animais que habitavam as ilhas.
As pouquíssimas espécies sobreviventes reuniram-se aterrorizadas:
—        Ai! De uma hora para outra vamos morrer! — lamentavam-se os pinguins, escondendo a cabeça entre as asas.
—        Se pelo menos pudéssemos fazer alguma coisa! — disse uma iguana.
—        É a fúria dos deuses! — chiaram as focas. — É hora de falar claro!
E o leão-marinho narrou-lhes a cena que presenciara durante essa manhã, quando, ao contemplar a saída do Sol, viu como este assumia a figura humana que desceu sobre as ilhas para, em seguida, chorar de amor pela linda donzela das águas.
—        Temos que procurar a tartaruga e pedir-lhe que volte com a jovem — disse um albatroz. — Só assim evitaremos a morte certa.
—        Hum!... — lembrou um bicudo balançando a cabeça com ar pessimista. — Tempos atrás expulsamos deste arquipélago todas as tartarugas. Elas devem guardar por nós um profundo rancor.
—        E por que não lhes pedimos perdão? — sugeriu um biguá. — E então lhes propomos compartilharem novamente as ilhas conosco.
—        E se elas não aceitarem? — perguntou um pelicano. — Puxa, que situação!
Depois de uma assembleia tensa, nomeou-se uma comissão de animais para falar com as tartarugas. Tal comissão seria presidida pelo delfim – reputado como um dos mais inteligentes mamíferos do lugar – e integrada pelos mais velhos lagartos, baleias, caranguejos e lagostas do arquipélago. Aceita a missão, partiram à procura da tartaruga gigante.
As águas estavam escuras e turbulentas, e só depois de várias horas de árdua caminhada pelo oceano agitado, encontraram uma imensa e belíssima mansão, rodeada de jardins de corais e caminhos cintilantes, cuja estrutura de madrepérolas a fazia brilhar mais do que a Lua Cheia num céu limpo. Atravessaram vários corredores atapetados com fosforescentes algas avermelhadas e chegaram a um jardim repleto de tartarugas-do-mar. Mais adiante, guardando uma porta cravejada de pérolas, estava a tartaruga gigante.
—        Que desejam aqui? — perguntou-lhes ela com desprezo.
—        Viemos falar com você — atreveu-se a dizer o delfim, entre humilde e temeroso.
—        Que estranhas me soam as suas palavras! — exclamou a tartaruga. — Acaso se esqueceu de que há muito tempo vocês nos expulsaram das ilhas, acusando-nos de pesadas e lentas?
—        Não, não me esqueci — balbuciou o delfim —, mas...
—        Mas o quê? — interrompeu a tartaruga.  — Não fosse a Rainha das Águas ter-nos acolhido em seus domínios, até hoje andaríamos errantes pelo arquipélago. Aqui temos vivido tranquilas até agora...
—        Por certo que têm vivido tranquilas — interveio um lagarto —, mas você poderia me garantir que têm vivido felizes?
—        Felizes?  Repetiu, pensativa, a tartaruga. — Bem, felizes não, certamente que não. Porque ficamos longe das ilhas onde nascemos. E é por isso que, de vez em quando, levadas pela saudade, subimos para contemplar a nossa antiga e querida pátria. Mas nos resignamos ao desterro!  - concluiu. — Agora deixem-nos em paz!
—        isso mesmo, vão embora! — disseram as tartarugas-do-mar, que se haviam amontoado em volta dos visitantes.
—        Esperem um momento — pediu a baleia. — Nós já reconhecemos que a nossa acusação era injusta. Todos nós somos, em maior ou menor grau, pesados e lentos... para certas coisas. Mas o que queremos mesmo dizer a vocês é que não soubemos dar valor às enormes virtudes que sempre tiveram as tartarugas.
—        Essa é boa! — disse a tartaruga gigante. — Agora até virtudes nós temos...
—        Claro que têm! — gritou o caranguejo. — A idade de vocês permitiu-lhes acumular a experiência e a sabedoria que falta a nós, mais jovens; transformou-as em vivazes sentinelas do arquipélago, em memória viva e símbolo de nossas ilhas.
—        E o andar lento de vocês — acrescentou a lagosta — sempre nos faz lembrar que a pressa é inimiga da perfeição.
—        Vocês nos fazem falta e queremos que voltem — disse o delfim. — Se aceitarem as nossas desculpas e regressarem, batizaremos as ilhas com o nome pelo qual vocês tartarugas-do-mar são conhecidas por lá: galápagos. E então, querem voltar as Ilhas Galápagos?
—        Hum... — sussurraram as tartarugas-do-mar, ainda indecisas e com os olhos fixos na tartaruga gigante. Esta permaneceu em silêncio, e, passado um momento, disse:
—        Nós não poderíamos abandonar a Rainha das Águas, que tão generosa foi conosco. Nãos seria certo.
Então a porta cravejada de pérolas se abriu e apareceu a Rainha, que ouvira tudo.
—        Escutem — propôs —, vocês não devem se preocupar comigo. Podem retornar à sua pátria e virem visitar-me sempre que quiserem. Assim eu não voltarei a ficar tão só quanto antes...
—        Oh, senhora — disse cerimonioso o delfim —, lá em cima, na superfície, está um jovem guerreiro que não é outro senão o deus Sol, chorando por seu amor. E, ao não poder vê-la, espalhou sombra e convulsão por toda parte, com o apoio dos seus irmãos, o deus Raio e a deusa Tempestade. Os seres humanos morreram e nós morreremos também se ele não puder encontrá-la. Ainda que seja uma só vez, suba para vê-lo, por favor!
—        Vou confessar-lhe uma coisa, meu talentoso amigo — disse a bela ninfa, corando: — eu também amo esse jovem que com frequência visita as ilhas e costuma caminhar garboso, pela praia, sobre o branco tapete de espumas. Conheço-o há bastante tempo, mas jamais permiti que ele me olhasse, até esta manhã, quando me surpreendeu observando-o... Não sabia que ele me amava e que estivesse agora sofrendo por mim. Já que vocês me pedem, irei vê-lo.
Cansado de chorar escuridões, o deus Sol adormecera com o rosto voltado para o horizonte. Mas um perfume tênue, espalhado pela brisa, inundou o ambiente com um penetrante frescor despertando-o. abriu os olhos e ela estava ali, sorrindo para ele, como na mais profunda poesia do sonho.
A história conta também que, a partir desse acontecimento, o céu que limita o arquipélago é sempre azul, limpo e luminoso; o mar é límpido e transparente; a fauna é excepcional; a paisagem é incrível e a vegetação deslumbrante.
Dizem que as tartarugas-do-mar, que retornaram às ilhas, foram agraciadas pelo deus Sol com o dom da suprema longevidade e que a tartaruga gigante ainda existe.
Segundo parece, o deus Sol casou-se com a Rainha das Águas, e os seus descendentes repovoaram as ilhas com a espécie humana, rodeando-a com encantos e maravilhas.
Afirma-se também que, desde então, a Rainha é muito feliz, porque, além de receber com frequência a visita das tartarugas-do-mar, o Sol vive com ela em seu palácio submarino. Levanta-se cedinho para iluminar a Terra e, após os últimos resplendores crepusculares, recolhe-se em seu lar, onde, entre tênues fosforescências de algas e fulgores de madrepérola, sua amada o espera eternamente.
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Contos e Lendas de Amor

Co-edição Latino-americana. Editora Ática. 1986. São Paulo




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O cacto e o junco (Colômbia)

O canto do cega-rega (Guatemala)

terça-feira, 23 de julho de 2013

O Poeta sempre acerta


Esperemos

Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.

( Pablo Neruda )

Eu sou o capitão da minha alma

Invictus













NKOSI SIKELEL'I AFRICA





domingo, 21 de julho de 2013

"The Logical Song"

Supertramp






Música Lógica 


Quando eu era jovem
Parecia que a vida era tão maravilhosa
Um milagre, oh ela era bonita, mágica
E todos os pássaros nas árvores
Bem, eles cantavam tão alegremente
Oh cheios de alegria, oh brincalhões me observando
Mas então eles me mandaram embora
Para me ensinar como ser sensato
Lógico, oh responsável, pratico
E eles me mostraram um mundo
Onde eu podia ser tão confiável
Oh clínico, oh intelectual, cínico

Tem vezes, quando todo o mundo dorme
As perguntas vão tão profundamente
Para um homem tão simples
Você não me diria, por favor, por favor, o que nós aprendemos?
Eu sei que parece absurdo
Mas por favor me diga quem sou eu

Agora cuidado com o que diz
Ou eles te chamarão de radical
Um liberal, oh fanático, criminoso
Oh você não vai assinar o seu nome?
Nós gostaríamos de sentir que você é
Aceitável, respeitável, oh apresentável, um vegetal

A noite quando todo o mundo dorme
As perguntas vão tão profundamente
Para um homem tão simples
Você não me diria, por favor, por favor, o que nós aprendemos?
Eu sei que parece absurdo
Mas por favor me diga quem sou eu, quem sou eu, quem sou eu, quem sou eu












My Kind Of Lady
Supertramp


Let me tell you what I want to say
You're the only one who can make me feel this way

My kind of lady
No better love could I embrace
No better heart, no other face
Can quite compare with you
You came along and then you mend my broken dreams
I was so down and then as foolish as it seems
You gave me your affection
Yeh baby you came through

We'll make it you'll see
In spite of those who say it's wrong
This time we feel that we belong
Now we can truly say
We'll be together and that's all we'll ever need
We'll love eachother, that's the way it's gonna be
And nothin' under the sun of moon
Can make us be apart

Oh my honey
You know I'll love you every day
When things go wrong we'll find a way
I'm so glad I met you
Much more than I can ever say
We're making plans and holding hands just like before
We'll try again, we'll make amends along the road
It's fellin' good, just like it should, this time we know
We'll share eachother's happiness for now and evermore

I've been wastin' my life away
I've got a message for you today
To tell you that you are

My kind of lady
I'm not the same since I met you
All of my dreams had fallen through
And then you came along
One magic night when things went right it was so fine
Looked in your eyes and realized that you were mine
And nothin' under the sun of moon
Can make us be apart

Oh my baby
You know I'll love you all the way
When times get hard we'll smile and say
I'm so glad I met you
I'll love you more and more each day
We're making plans and holding hands just like before
We'll try again, we'll make amends along the road
It's fellin' good, just like it should, this time we know
We'll share eachother's happiness for now and evermore


Composição: Rick Davies / Roger Hodgson


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Dois corpo e um nó

Ensaio 11B
baitasar
O negro Josino chegô da viagem no pé por pé. Uma caminhada solitária de dia e noite, lá da igreja até a estância do siô patrão. Pelo menos, não foi feito montaria pra algum amigo mais desanimado do siô patrão, caminhô só com o feitio do corpo nas perna. Mais nem bem chegô, largô os trapo no chão, e já tinha ordem de arrumação pra cumprí
—        Josino, ocê tem que descarregar essas tábuas. Precisa esvaziar o barco, fazer desaparecer a carga da beirada do rio. Chama mais dois negros da confiança... — isso sim, é chegá bem na hora errada — ... depois do serviço feito, vá pro mato com a negra Gabriela, a sinhá Casta disse que pelas contas da lua, é bem o tempo de fazer embaraço de barriga. Não me desaponta, negro.
Já fazia um tempo qui Josino escutava do siô qui tava mais qui na hora de deixá prenhe a escrava Gabriela, o patrão do Josino precisava aumentá as carne preta pra fazê dela tudo qui quisé fazê — Sê ocê não dá na conta, negro, arrumo outro com mais jeito.
Josino tinha as vista cheia da desconfiança, olhava dum jeito pro lado, com outro jeito o outro lado. Sentiu raiva e medo. A saudade tinha qui esperá. Olhô pro amontoado, o trabalho não lhe metia medo nem lhe fazia preguiça. Pegava as tábua de polegada, puxava pra cima dos ombro, se arrastava até o empilhamento. Era carregamento grande, achô qui não devia pedí nenhuma ajuda
—        Aqui, não! Largue tudo em lugar mais reservado. Não preciso dos olhos do padre Rosito, nem o nariz do seu Pereira no carregamento. — o padre Rosito era o santo padre qui tomava emprestado os preto pra sua obra de construção. O Pereira era o chefe do proveito da madeira. Gente importante, sujeitos da cobiça. Todos em linha direta com algum chefe salvadô
Nas costa escoava um suco avermelhado qui borbulhava misturado do sangue, do suô salgado e das . Os riscos na carne não era fundo, mais cada tábua qui subia no lombo esfregava os ferimento como farelo de vidro nas carne. Depois vinha o suó salgado, ele ficava todo ardido, misturado com a  da canseira, os golpe das tábua na alma e a tristeza daquela confusão de vida. Não tinha o qui fazê, não tinha o qui reclamá. Não havia branco, nem padre, doutô ou coroné, ninguém pra lhe ajudá.
No fim da tarde, o descarregamento tava feito. Cuspiu nas mão calejada e esfregô, depois fez um suspiro de careta, olhô o céu e reparô qui já tinha chegado na hora de voltá. O escravizado só tinha o pensamento de saí correndo, agarrá sua Gabriela com as força qui guardô só pra ela
—        Minha preta, to chegando. — assoprava o vento qui ia na frente, pedia pra Oiá avisá da sua chegada, despertá os galho, fazê balançá a muié do seu amô
Foi atacado no caminho, no meio do mato lhe aconteceu a aparição da nêga Milagre
—       Meu preto, vem se limpá desse rubô nas costa, lavá esse suó afogueado. — ele sentô na pedra do banho. Olhava a escuridão estrelada
—        Queria tá como a lua, não atendê mais ninguém, só o seu amô.
Gabriela Milagre e a lua, lágrimas da prata, lágrimas do suô, gotas do choro ressecado.
Josino não queria o seu amô chorando, esperando sabê da volta qui não voltava, não mandava notícia
—        Ocê vê?
—        Vejo ocê...
—        A lua muié... ta parecendo a nossa rede de amô, pendurada na escuridão, no meio das estrela, um risco redondo, crescendo, as ponta agarrada nas mão zelosa de Oxum.
O fogo da lua aqueceu a água até ficá abençoada. A muié esfregava as mão com amô, depois enfiava a bilha na água gelada escorrida do rio, retirava a água amornada. Lavô o Josino da cabeça aos pé
—        Ocê é um homem qui vê a lua. — sorria e, também, chorava.
Depois secô, uma por uma, as marca das tábua, passô unguento no seu amô, até qui chegô a vez do banho de cheiro. Perfumô a água do rio com as mistura qui não ensinava ninguém. Essência e aroma qui embalsamavam a 
—        Assopre a luz... venha deitá... — ele virô as vista pra sua preta, acomodada na rede branca, pendurada nas mão de Oxum, lhe olhando, nua, nada mais lhe parecia incomodá, fazê sofrê, a nêga Gabriela Milagre era a sua vontade de vivê
—        Venha se desatá.
Josino alevantô da pedra, não tirava as vista da rede. As carne da muié e do homem arrepiando, derramando amô
—        Assopre...
—        Prefiro lhe vê.
—        Então, venha olhá de mais perto...
—        Assim?
—        Mais...
—        Assim...
—        Mais um pouquinho...
—        Ocê me provoca... to lhe avisando...
—        Deixa eu lhe pegá... — empurrô o Josino pro outro lado da rede, arrumô as perna qui ficaram dobrada em cima da pedra, deitô a cabeça
—        E o escravo adormeceu nas mão cantando.
Gabriela Milagre ergueu o queixo, lhe olhô com jeito de enguiço
—        Se ocê dormí, juro qui lhe mordo.
—        Assim, ocê me arrepia... prometo não dormecê, nem deixá o formigamento dos pé subí na cabeça.
—        Acho bom, pois  lhe sová de olho aberto ou fechado, ocê escolhe.
Josino lhe olhava com um sorriso sarabanda, ela perdia o controle, ele agradeceu aos orixá qui lhe tinha permitido aquele amô arteiro, não aproveitá era uma desestima
—        Para de colocá palavra na boca, tem tanto uso melhó. — não foi nenhuma ordem, mais foi a provocação qui a nêga Gabriela Milagre esperava
—        Pois fique o meu amô sabendo qui não preciso desafio. Eu  a tentação. — a muié balançô a rede de pedra, deu balanço ao próprio corpo, até qui Josino não suportô, ficô estufado, o gemido qui tava trancado, agora, tava lhe escapando baixinho, dois corpo e um nó
—        Qui tanto ocê sussurra de ? Não vai se soltá como um vento no meio das árvore... — ela sabe qui a ventania tem a sua necessidade, ela trás mudança, mais não acaba com o qui passô. E é assim, desaparecido na sua Gabriela Milagre qui o Josino mais é sofredô
—        Reclamo o tanto do banzo sem lhe vê, exijo de volta o tempo perdido pra sempre... sem esse seu amô.
A rede não se balançava mais, a fúria da ventania se passô, deixô pra trás o bafo fresco da vida aquecendo o toutiço da muié, um perigo pras força do Josino, qui sem sabê assanhava a indecência da nêga Gabriela Milagre
—         feita uma árvore qui precisa do vento do amô, todo dia derrubando as folha velha, pra nascê as nova, aninhada em tu. — a muié sabe qui o sopro do amô é um dia com sol, mais também é amô o tempo de sentí falta, saudade, não  notícia; é amô a comprida espera qui não acabô com a tristeza; é amô a crença nas virtude do vento, o seu atrevimento de enverdecê.
Mais as coisa continua acontecendo distante um do outro, ela só tem a espera infinita. A solidão sem fim. Um sopro é só um sopro, se acaba tão logo começô
—        Ocê tá chorando?
—        Quero lhe colocá na boca... a minha boca.
A brincadeira do amô durô mais qui a vontade, queria esfolá, deixá cicatriz, não parava o vaivém na pedra do amô
—        Da onde vem tanta fome, minha preta?
—        É o jeito qui achei de saí de mim. To cansada de tanto sentí falta, parece qui vai  sempre assim, não podê acordá com tu do meu lado. Não quero qui hoje acabe, mais ocê não vai podê me salva do dia qui acaba.

O nó se apertô e folgô, outra vez, mais outra, até qui desfez.
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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Pura História


As mortes depois da morte de Jango


por Juremir Machado






A história da morte de João Goulart é um romance policial e de espionagem. Há muitos elementos que amparam a suspeita de que ele foi assassinado, a começar pelas denúncias de Mario Neira Barreiro – em liberdade condicional atualmente no Brasil depois de vários anos de prisão por crimes comuns – que se apresenta como ex-agente secreto uruguaio, tenente Tamuz, tendo sido encarregado de espionar Jango durante anos e de gravar suas conversas. Neira afirma que participou da “Operação Escorpião”, montada pelo delegado torturador Fleury a pedido de Geisel – Orlando ou Ernesto – em conluio com o governo uruguaio para matar Jango. Isso teria acontecido através de uma troca de medicamentos para o coração.

Tamuz garante ter guardado 40 horas de gravação com Jango. As fitas desapareceram, foram recuperadas, perdidas novamente e, segundo ele, as que sobraram ainda dependem do conserto de um gravador da época capaz de fazer leitura “em reverso”. Neira escreveu um livro, “Entrevista com um réu confesso”, jamais publicado, em parceria com o seu colega de prisão Volnei Correia. Li esse original umas dez vezes. Escabroso. Outros livros de Neira, também nunca publicados, entre os quais “Sobrevivente”, “Diálogos de um Presidente Exilado”, “Morte Premeditada” e “Operação Escorpião”, desapareceram. As pessoas que os tocaram, guardaram ou conheceram foram assassinadas. Foch Diaz, o primeiro a suspeitar do assassinato de Jango, teve, segundo ele mesmo escreveu, os exemplares de depósito do seu livro “O crime perfeito” eliminados da biblioteca de Montevidéu.

A morte misteriosa de Jango atrairia outras mortes. O jornalista uruguaio Roger Rodrigues publicou uma lista montada por Foch Diaz: 18 pessoas que sabiam detalhes sobre o fim de Jango morreram do coração, do seu cozinheiro e mordomo Tito a cinco dos seus pilotos de avião, entre eles Ruben Rivero, que faleceu dentro de um barco, indo da Argentina ao Uruguai para depor no mesmo dia na justiça sobre a morte do ex-presidente brasileiro. A maleta de documentos que carregava desapareceu. Até o médico, Rafael Ferrari, que examinou o corpo Jango, em Mercedes, e assinou o atestado de óbito, marcando “infarto do miocárdio, morreu de um ataque cardíaco.

Outro uruguaio, Ricardo Mendieta, que seria o ex-agente secreto de codinome Cataldo, também preso por crimes comuns em Charqueadas, chegou a escrever ao diretor do jornal uruguaio “La Republica” pedindo ajuda: “Meu temor é que também estes originais (manuscritos) desapareçam; por esses motivos, lhe peço enviar uma pessoa de sua confiança, pois nós não podemos fazer chegar aí nem xerox, e isso que, segundo a polícia, estamos ricos de tantos assaltos! Não somente não temos dinheiro para xerox (que é irrisório) senão tampouco para envio pelo correio ou sedex; esse livro é um material explosivo”. Morreu em condições totalmente misteriosas.

Lanço hoje à noite, a partir das 19 horas, na Livraria Saraiva do Shopping Moinhos, em Porto Alegre, “Jango, a vida e a morte no exílio” (L&PM).

Pretendo que todas as respostas para tantos e inquietantes enigmas estão em meu livro.

Pura História.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Tambô Gigante

Ensaio 10B
baitasar
Neinho, vô ficá qui no cantinho, vai chovê e não quero me molhá, lá fora, Não vai chover, avó, Como ocê sabe, E como a avó sabe que vai chover, Tenho muito jeito de sabê, mais dô confiança nas reclamação das perna, essa daqui avisa se o causo é chuvinha, a outra, avisa se o acontecido vai sê com chuvarada, O rádio não recomendou o uso do guarda-chuva, E ocê credita, não aprendeu desconfiá, neinho, é só olhá o lado da descida do dia, sentí o cheiro do vento. Não tem sentido ocê sabê cheirá, escutá, e não sabê entendê os arrepiu, os barulho, nem os temperamento da vida qui vive, essa gente enfiada na caixinha faladora tem o lado de inventá, fazê ocê creditá qui ocê não sabe, eles é qui sabe, A avó só sabe descobrir o lado da chuva, não sabe dizer porque chove, Quem precisá sabê qui vai aprendê.
Nem metade do caminho, o trânsito lento, e a avó cheia da vontade de conversar, A rua não anda, neinho, Avó fica quieta, preciso colocar atenção no troco, Vai chovê, Aposto que não vai, Vai chovê de alagá tudo, E o Josino, avó, queria desviar a atenção desse assunto, desviar a temática da prosa. Não gosto da chuva. Aprecio a água nas torneiras, na banheira do casarão, dentro dos rios. Tenho problema de desconfiança com as trovoadas, cismo com as faíscas das chuvaradas exageradas. Vento, chuvarada, trovões e relâmpagos... uma combinação que não me deixa ir às ruas. Quando tem temporal forte, muito clarão, tem vez que é um depois do outro e mais outro e outro, caminho pelo Canela Preta cobrindo os espelhos com pequenas cortinas. Essa fúria das ruas me desassossega. Prefiro outro assunto de conversa, maisquero é estar de conversa com a avó sobre outros afogados, os pretos com a corda do branco piedoso, a audição atenta, O Josino foi enforcado nas árvore da praça, onde, num dia qui ta pra chegá, vão colocá um tambô gigante, maió qui o magrão enfiado no alçapão, Tambor pra quê, Pra ninguém esquecê de lembrá as dô dos preto, Nenhum tambor é grande para fazer ouvir quem não quer escutar, Sê fô surdo também pode escutá, não vai escutá os qui nasci envenenado, os qui aprendi odiá... esquece essa gente, vamô mais mostrá da alegria qui nóis tem pra cantá e dançá, Até parece que a avó acredita que os preto só canta e dança, E ocê, o qui acha, foi ocê qui saiu da escola pra sê cobradô, Não quero ensinar, Desandô da escola, o qui ocê qué, Não quero viver nas costas dos tiuzin, Sê fô preciso, vai vivê do mesmo jeito qui os branco vive nas costa, até se achá, A avó lê o futuro, a pergunta foi mais uma tentativa para provocar a avó dali, espremida, de cócoras, embaixo do meu banco de cobradô, Qui razão tem essa pergunta, neinho, A avó está falando dum tambor que nem existe, No mundo qui não é coisa nenhuma, não tem futuração nem causo antigo, é preciso creditá qui dá pra fazê, escolhê um lado e lutá a boa luta. A avó sentou na roleta, levou uma das mãos na testa, como se estivesse olhando ao longe, depois apontou decepcionada para o grandão, Esse aí, vai esquecê e desaprendê do lado qui aprendeu a respeitá, vai mandá cortá as árvore dos enforcado. Olhei o homem enfiado no alçapão, olhei de novo, não sabia por que ele ia cortar tantas árvores, não imaginava motivo para tanto desprezo pela vida dos preto, dos índio e dos branco. Não acreditava na notícia da avó. Não achava motivo de tanta justiça inventada, A avó ta fumando o fumo de corda do Tigão, Até qui queria fumá, mais aqui não pode, queira podê não sabê da imbecilidade das pessoa, queria não tê tanta estupidez, mais aqui não pode fechá as vista, fingí qui gosta quando não gosta, fingí qui faz quando não faz, ocê sabe como qui é, Não sei, avó, Fingí... como essa gente afamada, elas disfarça qui gosta, mais só qué distância do faro de gente pobre, qué sê gostada e sonhada.. mais de longe, ocê tenha muito do cuidado com os qui prometi e não cumpri. Os bacana inventa o qui fô preciso pra enganá com falsidade.
A cabeça do grandão, lá fora. Eu, com a mão no pescoço, segurando a guia, pedindo com reza boa para o João Torto não raspar o teto do Rocinante. Bastava um fio pendurado no caminho, sem capricho, com folga. E lá se foi a cabeça do cortador das árvores, Neinho, a cabeça tem dono, ocê precisa respeitá a cabeça, Eu sei, avó, mas... as árvores, é um pecado cortar. A avó estava pendurada no corrimão aéreo, balançava agarrada numa das mãos, Isso ainda leva um tempinho, quem sabe, se assim, os preto pendurado descansa.
A avó desapareceu entre os passageiros.
O João, lá na frente, eu, aqui atrás. Ninguém descia. As pessoas empurravam para subir no Rocinante. Uma velhinha batia nos vidros da porta da frente
—        Abre, motorista... quero subir! — o João abriu a porta
—        Senhora... não pode...
—        Com licença, obrigada... com sua licença... — foi se enfiando na contramão até ficar atrás do motorista. Pelo que me consta, foi o início do caminho para subir na porta da frente, e não pagou a passagem. Estava aberta uma nova ordem, daquela viagem em diante, os velhinhos subiam na frente e não pagavam, não passavam na catraca, Tem causo qui precisa empurrá na goela abaixo dos fazedô das lei
—     Desculpe, seu motorista, o mau jeito, mas ta chovendo... — a velhinha nunca soube no que se tornou: um símbolo da resistência. O dia em que os velhinhos subiram na porta da frente e não pagaram a passagem. Quem sabe, num dia desses que estão por vir, também venha o direito de sentar em lugares reservados. Têm coisas que levam algum tempo a mais para acontecerem, a imbecilidade precisa ser convencida aos pouquinhos.
Aqui no fundo, continuava o empurra-empurra para fechar a porta. Em cada parada, mais passageiros, mais tarifa para o patrão da Anônima, mais aperto, mais conformação com a própria amargura, mais nada — Feeecha! — depois de cada anúncio, o João Torto fechava a porta, o ar escapando do balão, o Rocinante acelerava. A lata com as sardinhas arrancava da parada, um exército de obreiros retornando para suas casas, desconjuntados, sem tambores, sem clarins, o Rocinante escurecia sem o crepúsculo, a memória é cega, só assim conseguimos fazer tudo igual todos os dias
—        Espera! Espera! — alguém batia no Rocinante. Desviei o pescoço a tempo de ouvir o grito do animal, empinou como se fosse largar as duas patas sobre a vítima indefesa. Desci os olhos na direção da porta da frente, lá estava um homem, um cego, a sua bengala e a chuva, não me faltava mais nada, O Neinho ainda não viu nada, nem começô a chovê, O que a avó sabe, Não posso falá do qui não aconteceu, Então para, não assusta com essa conversa de assustar, Ta bem, E a história do tambor gigante na praça... a avó também especulou sobre o magrão comprido cortando as árvores, Isso é só um palpite, não sei se vai acontecê, A avó precisa sair daqui, a mesa do dinheiro não é lugar de sentar, O lugá é onde dá, Avó, preciso trabalhar
—        João! Segura o 69! Imobiliza o bicho! Tem um cego querendo subir.
—        Cego? — gritou do seu lugar protegido no Rocinante, depois fez pedido à senhora parada na porta da saída — Senhora... senhora... precisa liberar o espelho...
—        É... um cego! — intercedeu a velhinha com seus cabelos arrepiados
—        Lugar de cego é em casa... — o João Torto não tem noção do perigo, mas, mesmo contra a própria vontade, acionou os freios. Todos fomos empurrados para frente, lembrei da escola e do senhor Newton. A inércia. A avó não mexeu, nenhum pouquinho, nadica, Meu fioneto, queria continuá a história do Josino, Essa não é a melhor hora, Bobice, ninguém sai, só entra, ta fácil de controlá, Fácil para quem fica só olhando, Também não foi fácil o caso do Josino, ele ficava só olhando, acabô levando a culpa de tudo
—        Enforca!
—        Pendura o pretinho safado!
—        Lugar de carvão é no fogo!
Neinho, a caprichada esperança em outra vida, juramentada pela fé do padre, num tempo que ele se vestia de viúva, vestido preto bem cumprido, fez criá a vontade do domicílio da Nossa Senhora da Dô. Uma igreja pra harmonia e a boa vontade de limpá os erro, as culpa, as maldade. Quando o senhô do escravo precisava aliviá os desacordo com as lei de Deus, fazia doação das coisa de construção, outras vez cedia emprestado o trabalho braceiro dos preto escravizado. O senhô dos escavo tinha cobiça de aparecê com desapego e ajudá nos assunto da construção de Deus. Gostava de parecê desapegado das coisa. Os preto era tomado emprestado pelo santo padre e o senhô dos escravos garantia um lugá no céu, Mas avó, o que fez o Josino para merecer o enforcamento, Trabalhô na santa obra, foi doado por empréstimo, pelo seu senhô Domingos, pra fazê a subida das parede da capela adoratória. O preto trabalhô duro, carregô tábua, pedra, o sol castigando, sem reclamá, até na exaustão. Não podia desaprová, lamuriá, nem lastimá, só podia se ocupá com a belezura das torre, mais a igreja das Dô continuava do mesmo tamanho, Por quê, avó, Começô um rumô sem dono, não se sabe qui boca começô de dizê qui os preto trabalhava no prédio, mais não dava o andamento esperado da execução
—        Chuva! — virei o nariz para trás, lá estava a chuva, forte, graúda, Não disse, neinho, Disse, avó
—        O cego! O cego! — um rapaz cabeludo, os cabelos além dos ombros, o mesmo que levantou para a velhinha encrespada sentar, desceu e ajudou o cego. Subiram em silêncio. Ele enfiou a mão no bolso e retirou o dinheiro da passagem, setenta e cinco cruzados passaram de mão em mão. Não precisava troco. Girei a roleta
—        Esse é o que passa na praça dos pedalinhos?
—        Vai até a Boa Esperança. — respondeu o matador de árvores. Pequenas solidariedades, pequenas omissões, cachopas de lembranças graúdas, duradouros esquecimentos

—        Obrigado.

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Ensaio 09B - Neinho, o preto Josino foi enforquilhado

Ensaio 11B - Dois corpo e um nó