sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Edgar Allan Poe - Contos: Metzengerstein

Edgar Allan Poe - Contos



Título original: Metzengerstein
Publicado em 1832


O horror e a fatalidade uniram-se sempre em todos os séculos. Para que serviria uma data na história que tenho para contar? Basta dizer que na época de que falo existia no centro da Hungria uma crença secreta, mas muito arreigada na metempsicose. Nada direi das doutrinas em si e da sua falsidade ou veracidade. Afirmo, no entanto, que uma boa parte da nossa credulidade vem, como disse La Bruyère — que atribui toda a nossa desgraça a esta causa única — de não se poder estar só. 


Mas havia alguns pontos na superstição húngara que tendiam fortemente para o absurdo. Os Húngaros diferiam muito essencialmente das autoridades do Oriente. Por exemplo, a alma, segundo creem — cito os termos de um subtil e inteligente parisiense — permanece apenas uma vez num corpo sensível. Assim, um cavalo, um cão, mesmo um homem, não passam, na aparência ilusória destes seres

As famílias Berlifitzing e Metzengerstein tinham vivido em discórdia durante séculos. Jamais se viram duas casas tão ilustres reciprocamente votadas a uma inimizade mortal. Este ódio podia ter a sua origem nas palavras de uma antiga profecia: — Um nome ilustre terá uma queda terrível quando, como o cavaleiro sobre o seu cavalo, a mortalidade de Metzengerstein triunfar da imortalidade de Berlifitzing

Na verdade, os termos tinham apenas pouco ou nenhum sentido. Mas as causas mais vulgares deram origem — e isso, sem ir muito longe — a consequências igualmente cheias de grandes acontecimentos. Além disso, as duas casas, que eram vizinhas, tinham por muito tempo exercido influência rival nos negócios de um governo tumultuoso. Mais ainda, os vizinhos próximos também eram raramente amigos, e do alto das suas muralhas maciças, os habitantes do castelo Berlifitzing podiam ver mesmo distintamente para dentro das janelas do palácio de Metzengerstein. Enfim, o alarde de uma magnificência mais que feudal não servia para acalmar os sentimentos irritáveis dos Berlifitzing, menos antigos e menos ricos. 

Haverá pois razão para nos admirarmos que os termos desta predição, se bem que perfeitamente ridículos, tenham criado e mantido a discórdia entre duas famílias já predispostas às zangas por todas as instigações de um ciúme hereditário? A profecia parecia implicar — se implicava qualquer coisa — um triunfo final do lado da casa mais poderosa, e naturalmente vivia na memória da mais fraca e da menos influente, e enchia-a de uma amarga animosidade. 

Wilhelm, conde Berlifitzing, se bem que fosse de uma nobre linhagem, era, na época desta história, apenas um velho enfermo disparatado, que não tinha nada de notável, senão uma antipatia inveterada e louca contra a família do seu rival e uma paixão tão viva pelos cavalos e pela caça, que nada — nem as suas enfermidades físicas, nem a sua idade avençada, nem o enfraquecimento do seu espírito — o podia impedir de tomar diariamente parte nos perigos deste exercício. Do outro lado, Frederico, barão Metzengerstein, não era ainda maior. Seu pai, o ministro G..., morrera ainda novo. E sua mãe, Maria, seguiu-o pouco depois. Frederico tinha nessa época dezoito anos. Numa cidade, dezoito anos não é um longo período de tempo; mas em solidão, mesmo numa magnífica solidão como esta velha propriedade, o pêndulo vibra com uma mais profunda e mais significativa solenidade. 

Devido a certas circunstâncias resultantes da administração de seu pai, o jovem barão, logo após a morte deste, entrou na posse dos seus vastos domínios. Raramente se via um nobre húngaro possuir um tal patrimônio. Os seus castelos eram inumeráveis. O mais esplêndido e o mais vasto era o palácio de Metzengerstein. A linha que delimitava os seus domínios não fora nitidamente definida; mas o seu parque principal abarcava uma circunferência de cinquenta milhas. O aparecimento de um proprietário tão jovem, e de um caráter tão bem conhecido, com uma fortuna tão incomparável deixava pouco lugar às conjeturas, relativamente à sua linha provável de conduta. E, em verdade, no espaço de três dias, a conduta do herdeiro fez empalidecer o renome de Herodes e ultrapassou em magnificência as esperanças dos seus mais entusiásticos admiradores. Medonhos deboches, flagrantes perfídias, atrocidades espantosas fizeram em breve compreender aos seus vassalos temerosos que nada — nem submissão servil da sua parte, nem escrúpulos de consciência — lhes garantiria para o futuro segurança contra as garras impiedosas deste pequeno Calígula. Na noite do quarto dia, registou-se um grande fogo nas cavalariças do castelo Berlifitzing, e a opinião unânime da vizinhança juntou o crime de incêndio à lista já horrível dos delitos e atrocidades do barão. 

Quanto ao jovem cavalheiro, durante o tumulto ocasionado por este acidente, mantinha-se aparentemente mergulhado numa meditação no alto do palácio da família dos Metzengerstein, num vasto apartamento solitário. A tapeçaria, rica, ainda que fanada, que pendia melancolicamente das paredes, representava as figuras fantásticas e majestosas de mil antepassados ilustres. Aqui, padres ricamente vestidos de arminho, dignitários pontifícios, sentavam-se familiarmente com o autocrata e o soberano, opunham o seu veto aos caprichos de um rei mundano ou continham com o fiat do todo-poderoso papa o cetro rebelde do grande inimigo, príncipe das trevas. Ali, as sombrias e grandes figuras dos príncipes Metzengerstein — os seus musculosos cavalos de guerra calcando os cadáveres dos inimigos caídos — abalavam os nervos dos mais firmes pela sua forte expressão. E além, por sua vez, voluptuosas e brancas como os cisnes, as imagens das damas de outros tempos flutuavam ao longe nos meandros de uma dança fantástica, ao som de uma melodia imaginária. 

Mas enquanto que o barão escutava ou fingia ouvir o estrondo sempre crescente das cavalariças de Berlifitzing — e talvez meditasse nalgum delito novo, algum rasgo decidido de audácia — os seus olhos viraram-se maquinalmente para a imagem do cavalo enorme, de uma cor extranatural e representada na tapeçaria como pertencendo a um antepassado da família do seu rival. O cavalo aparecia no primeiro plano do quadro, imóvel como uma estátua — ao passo que um pouco longe, atrás dele, o seu cavaleiro derrubado morria sob o punhal de um Metzengerstein. 

Nos lábios de Frederico surgia uma expressão diabólica quando se apercebeu da direção que o seu olhar tomara involuntariamente. No entanto, não desviou os olhos. Bem longe dali, não podia de nenhuma forma dar razão da ansiedade opressiva que parecia cair sobre os seus sentidos como uma mortalha. Conciliava dificilmente as suas sensações incoerentes como as dos sonhos com a certeza de ser despertado. Quanto mais contemplava, mais absorvido se tornava o seu olhar pela fascinação desta tapeçaria. Mas o tumulto do exterior, ao tornar-se repentinamente mais violento, fê-lo fazer enfim um esforço a contragosto e desviou a sua atenção para uma explosão de luz vermelha, projetada em cheio das cavalariças inflamadas sobre as janelas do aposento. 

A ação, no entanto, foi apenas momentânea; o seu olhar virou-se maquinalmente para a parede. Com grande espanto seu, a cabeça do gigantesco corcel — coisa horrível! — tinha entretanto mudado de posição. O pescoço do animal, primeiramente inclinado como por compaixão para o corpo tombado do seu senhor, estava agora estendido, rígido e a todo o comprimento, na direção do barão. Os olhos há pouco invisíveis, continham agora uma expressão enérgica e humana, e brilhavam com uma tonalidade vermelha, ardente e extraordinária; e os beiços distendidos desse cavalo de aspeto enraivecido deixavam aperceber plenamente os seus dentes sepulcrais e repugnantes. 

Estupefato pelo terror, o jovem senhor saiu cambaleando. Ao abrir a porta, um clarão de luz vermelha brilhou ao longo da sala, desenhando nitidamente o seu reflexo na tapeçaria trémula; e quando o barão hesitou um instante no patamar, estremeceu vendo que esse reflexo tomava a mesma posição e preenchia exatamente o contorno do implacável e triunfante assassino do Berlifitzing vencido. 

Para aliviar o seu espírito deprimido, o barão Frederico procurou precipitadamente o ar livre. A porta principal do palácio encontrou três escudeiros. Estes, com muita dificuldade e com perigo da sua vida, comprimiam os saltos convulsivos de um cavalo gigantesco, cor de fogo. 

— De quem é este cavalo? Onde o encontraram? — perguntou o jovem com voz imperiosa e rouca, reconhecendo imediatamente que o misterioso cavalo da tapeçaria era o próprio animal furioso que tinha diante dele. 

— É sua propriedade, senhor — respondeu um dos escudeiros — pelo menos nenhum proprietário o reclamou. Apanhamo-lo quando fugia, ardente e espumante de raiva, das cavalariças escaldantes do castelo Berlifitzing. Supondo que pertencesse à coudelaria estrangeira do velho conde, trouxemo-lo com os restantes. Mas os criados abdicaram dos direitos sobre o animal, o que é estranho, pois ele tem marcas evidentes do fogo, o que prova que escapou de boa. 

— As letras W. V. B. estão igualmente marcadas a ferro muito distintamente na testa — interrompeu um segundo escudeiro. — Suponho pois que se trata das iniciais de Wilhelm von Berlifitzing, mas toda a gente no castelo afirma positivamente não ter conhecimento do cavalo. 

— Extremamente singular! — disse o jovem barão, com ar sonhador, como se não tivesse nenhuma consciência do sentido das suas palavras. — É, como diz, um cavalo notável, um cavalo prodigioso! Se bem que ele seja, como reparou com justeza, de um caráter assustadiço e intratável, vamos lá! Pois será meu, não o duvido — disse ele depois de uma pausa. — Talvez só um cavaleiro como Frederico de Metzengerstein poderá domar o próprio diabo das cavalariças de Berlifitzing. 

— Engana-se, senhor. O cavalo, como lhe dissemos, creia, não pertence às cavalariças do conde. Se tal tivesse sido o caso, nós conhecíamos muito bem o nosso dever para o levar à presença de uma pessoa nobre da sua família. 

— É verdade! — observou o barão secamente. 

E nesse momento um jovem criado de quarto chegou do palácio, afogueado e com passos precipitados. Falou ao ouvido do patrão, da história do desaparecimento repentino de um pedaço de tapeçaria, num quarto que designou, entrando então em pormenores de um caráter minucioso e circunstanciado. Mas, como tudo isso foi comunicado em voz muito baixa, nem uma palavra transpirou que pudesse satisfazer a curiosidade excitada dos escudeiros. 

O jovem Frederico, durante a conversa, parecia agitado por emoções várias. Contudo, recobrou pouco depois a sua calma, e uma expressão de maldade desenhava-se já na sua fisionomia quando deu ordens peremptórias para que o aposento em questão fosse imediatamente fechado e a chave posta nas suas próprias mãos. 

— Teve conhecimento da morte deplorável de Berlifitzing, o velho caçador? — disse ao barão um dos seus vassalos, ao afastar-se o pajem, enquanto o enorme corcel, que o fidalgo tinha adotado como seu, pulava e saltava com uma fúria dobrada pela longa avenida que se estendia do palácio às cavalariças de Metzengerstein. 

— Não — disse o barão voltando-se bruscamente para o que falava. — Morto, dizes tu? 

— É a pura verdade, senhor, e presumo que para um senhor do seu nome não é uma informação demasiado desagradável. 

Um rápido sorriso surgiu na fisionomia do barão. 

— Como morreu? 

— Devido aos seus esforços imprudentes para salvar a parte preferida da sua coudelaria de caça, pereceu miseravelmente nas chamas. 

— Na... ver... da... de...! — exclamou o barão, como que impressionado, lenta e gradualmente, por qualquer evidência misteriosa. 

— Na verdade — repetiu o vassalo. 

— Horrível! — disse o jovem com muita calma. E entrou tranquilamente no palácio. 

A partir desta época uma alteração marcante registou-se na conduta exterior do jovem desenfreado. Verdadeiramente a sua conduta desapontava todas as esperanças e derrotava as intrigas de mais de uma mãe. Os seus hábitos e maneiras vincaram-se cada vez mais, não havendo relações de simpatia, e menos do que nunca, com qualquer pessoa da aristocracia da vizinhança. Nunca o viam para além dos limites do seu próprio domínio, e no vasto mundo social estava absolutamente só — a menos que aquele grande cavalo impetuoso e invulgar, cor de fogo, que montava continuamente a partir dessa época, não tivesse na verdade qualquer direito misterioso ao título de amigo. 

Contudo, chegavam periodicamente convites da parte dos vizinhos: — «O barão honrará a nossa festa com a sua presença?» — «O barão juntar-se-á connosco para uma caçada ao javali?» 

— «Metzengerstein não caça.» — «Metzengerstein não irá.» — Tais eram as suas altivas e lacônicas respostas. 

Estes insultos repetidos não podiam ser suportados por uma nobreza orgulhosa. Os convites tornaram-se menos cordiais — menos frequentes — e com o tempo até cessaram por completo. Ouviu-se a viúva do infortunado conde Berlifitzing exprimir o voto de «que o barão ficasse em casa quando desejasse não estar lá, visto que desdenhava da companhia dos seus iguais; e que saísse a cavalo quando também não quisesse, pois que preferia a companhia de um cavalo». Isto certamente não passava de explosão irada do ódio hereditário e provava que as palavras se tornam singularmente absurdas quando queremos dar-lhes uma forma extraordinariamente enérgica. 

As pessoas caridosas, todavia, atribuíam a mudança dos modos do jovem fidalgo ao desgosto natural de um filho privado prematuramente dos seus pais, esquecendo, contudo, a sua atroz e descuidada conduta durante os dias que se seguiram a esta perda. Houve alguns que viam simplesmente no caso uma ideia exagerada da sua importância e da sua dignidade. Outras, por sua vez (e entre aquelas pode ser citado o médico da família), falavam sem hesitar de uma melancolia mórbida e de um mal hereditário. No entanto, insinuações mais tenebrosas, de uma natureza equívoca, corriam por entre o povo. 

Na realidade, a dedicação perversa do barão pela sua montada de recente aquisição — dedicação que parecia tomar uma nova força em cada novo exemplo que o animal dava das suas ferozes e demoníacas inclinações — tornava-se com o decorrer do tempo, aos olhos de todas as pessoas, uma tendência horrível e contra a natureza. No deslumbramento do meio-dia, às horas profundas da noite — doente ou de boa saúde — o jovem Metzengerstein parecia pregado à sela do cavalo colossal cujas insuportáveis audácias se harmonizavam bem com o seu próprio caráter. 

Havia, para mais, circunstâncias que ligadas aos acontecimentos recentes, davam um caráter sobrenatural e monstruoso à mania do cavaleiro e à capacidade do animal. O espaço que ele transpunha de um só salto tinha sido cuidadosamente medido e ultrapassava com uma diferença espantosa as conjeturas mais largas e mais exageradas. O barão, além disso, não dera ainda ao animal qualquer nome particular, ainda que todos os cavalos da coudelaria fossem distinguidos pelos nomes característicos. Este cavalo tinha a sua cavalariça a uma certa distância das outras e, quanto ao tratamento e a todo o serviço necessário, ninguém, exceto o proprietário em pessoa, se teria arriscado a preencher estas funções, nem mesmo a entrar no recinto onde estava construída a sua cavalariça particular. Observou-se também que os três palafreneiros, que se tinham apoderado do corcel quando fugia ao incêndio de Berlifitzing, embora tivessem conseguido parar a sua corrida com a ajuda de uma cadeia de nó corredio, no entanto, nenhum dos três podia afirmar com a certeza de que, durante essa perigosa luta, tivessem pousado a mão no corpo do animal. Provas de inteligência particular na conduta de um nobre animal cheio de ardor não bastariam certamente para excitar uma atenção sem motivos. Mas havia certas circunstâncias que tinham alertado os espíritos mais céticos e mais fleumáticos, e dizia-se que por vezes o animal fizera recuar de horror a multidão curiosa frente ao profundo e chocante significado da sua marca — que por vezes o jovem Metzengerstein se tornara pálido e se furtara diante da expressão rápida do seu olhar sério e quase humano. 

Entre todos os criados do barão não se encontrava, contudo, ninguém que duvidasse do fervor extraordinário e afeição que excitavam no jovem fidalgo as qualidades brilhantes do seu cavalo. Ninguém, exceto pelo menos um insignificante pajenzinho, um pateta que exibia por toda a parte ofuscante fealdade e cujas opiniões não tinham a mínima importância possível. Tinha o desaforo de afirmar — se as suas ideias valessem a pena ser mencionadas — que o seu dono jamais subira para a sela sem um inexplicável e quase imperceptível arrepio, e que no regresso de cada um dos seus longos e habituais passeios, uma expressão de maldade desfigurava a sua face. 

Durante uma noite tempestuosa, Metzengerstein, ao acordar de um pesado sono, desceu como um maníaco do seu quarto e, montando o cavalo a toda a pressa, lançou-se a galope através do labirinto da floresta. 

Um acontecimento tão vulgar não podia chamar em particular a atenção. Porém, o seu regresso foi esperado com uma intensa ansiedade por todos os seus criados, quando, depois de algumas horas de ausência, as prodigiosas e magníficas construções do palácio de Metzengerstein se puseram a estalar e a tremer até às fundações, sob o efeito de um fogo imenso, uma massa espessa e lívida. 

Como as chamas, quando as avistaram pela primeira vez, já tinham lavrado terrivelmente e todos os esforços para salvar qualquer porção dos edifícios tivessem sido inúteis, toda a população da vizinhança se conservava silenciosamente em volta, numa estupefação silenciosa, até mesmo apática. 

Mas um objeto terrível e novo atraiu em breve a atenção de todos, e demonstrou quanto é mais intenso o interesse excitado pelos sentimentos de uma multidão pela contemplação de uma agonia humana do que a criada pelos mais espantosos espetáculos da matéria inanimada. 

Na longa avenida dos velhos castanheiros, que começava na floresta e terminava à entrada principal do palácio de Metzengerstein, um corcel, trazendo um cavaleiro de cabelo em desordem, vinha a saltar com uma impetuosidade que desafiava a fúria da própria tempestade. O cavaleiro não estava evidentemente senhor desta corrida desenfreada. A angústia da sua fisionomia os esforços convulsivos de todo o seu ser, testemunhavam bem uma luta sobre-humana, mas nenhum som, exceto um único grito, se escapou pelos lábios lacerados, que mordia, ora um ora outro, na intensidade do seu terror. Num instante, o choque dos cascos ecoou com um barulho agudo, atroador, mais alto que o rugir das chamas e o ulular do vento. Num instante apenas, transpondo de um salto a porta grande e o fosso, o corcel lançou-se pelas escadas oscilantes do palácio e desapareceu com o seu cavaleiro no turbilhão daquele fogo caótico. 

A fúria da tempestade apaziguou-se de repente e sobreveio a calma mais absoluta. Uma chama branca envolvia ainda o edifício como um sudário e brilhava ao longo da atmosfera tranquila, dardejando uma luz de um fulgor sobrenatural, enquanto uma nuvem de fumo descia pesadamente por cima das construções, sob a forma distinta de um gigantesco cavalo.



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Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, Massachusetts, Estados Unidos, 19 de Janeiro de 1809 — Baltimore, Maryland, Estados Unidos, 7 de Outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico estadunidense.[1][2] Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores americanos de contos e é geralmente considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica.[3] Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difíceis.

Ele nasceu como Edgar Poe, em Boston, Massachusetts; quando jovem, ficou órfão de mãe, que morreu pouco depois de seu pai abandonar a família. Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido John Allan, de Richmond, Virginia, mas nunca foi formalmente adotado. Ele frequentou a Universidade da Virgínia por um semestre, passando a maior parte do tempo entre bebidas e mulheres. Nesse período, teve uma séria discussão com seu pai adotivo e fugiu de casa para se alistar nas forças armadas, onde serviu durante dois anos antes de ser dispensado. Depois de falhar como cadete em West Point, deixou a sua família adotiva. Sua carreira começou humildemente com a publicação de uma coleção anônima de poemas, Tamerlane and Other Poems (1827).

Poe mudou seu foco para a prosa e passou os próximos anos trabalhando para revistas e jornais, tornando-se conhecido por seu próprio estilo de crítica literária. Seu trabalho o obrigou a se mudar para diversas cidades, incluindo Baltimore, Filadélfia e Nova Iorque. Em Baltimore, casou-se com Virginia Clemm, sua prima de 13 anos de idade. Em 1845, Poe publicou seu poema The Raven, foi um sucesso instantâneo. Sua esposa morreu de tuberculose dois anos após a publicação. Ele começou a planejar a criação de seu próprio jornal, The Penn (posteriormente renomeado para The Stylus), porém, em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, morreu antes que pudesse ser produzido. A causa de sua morte é desconhecida e foi por diversas vezes atribuída ao álcool, congestão cerebral, cólera, drogas, doenças cardiovasculares, raiva, suicídio, tuberculose entre outros agentes.

Poe e suas obras influenciaram a literatura nos Estados Unidos e ao redor do mundo, bem como em campos especializados, tais como a cosmologia e a criptografia. Poe e seu trabalho aparecem ao longo da cultura popular na literatura, música, filmes e televisão. Várias de suas casas são dedicadas como museus atualmente.


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Edgar Allan Poe

CONTOS

Originalmente publicados entre 1831 e 1849 2015



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Leia também:

Edgar Allan Poe - Contos: Silêncio






Metzengerstein (áudio-conto)



"Metzengerstein" foi o primeiro conto de Edgar Allan Poe a ser publicado em um revista e um dos mais esquecidos trabalhos do autor em compilações de sua obra. Na sua trama temos uma rixa antiga entre duas famílias da Hungria. Somos conduzidos entre pensamentos e atitudes obsessivas por parte dos Berlifitizing, bem como, dos Metzengerstein. Lá está o velho patriarca, que em meio a sua senilidade se agarra com todas as suas forças a paixão de sua vida: os cavalos. De outro, temos um jovem herdeiro cuja volúpia e egocentrismo o fazem ir além dos limites da sanidade. boa leitura, boa escutação.



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