quarta-feira, 21 de junho de 2017

A Carolina

Machado de Assis

- por Paulo Autran




Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.











Carolina


Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.



Machado de Assis, 1906





1906 – Dedica à mulher já falecida seu mais famoso soneto, "A Carolina".



Uma pequena amostra da grandiosidade de Machado de Assis... chegamos a sentir falta da crase em "A Carolina", mas a ausência de crase no título pode indicar distanciamento, pois se houvesse o artigo ‘A’, daria a possibilidade de leitura de proximidade ao que era impossível, uma vez que Carolina estava morta. Um imenso escritor que viaja além do seu tempo, viaja nos tempos com sua pena e a literatura dos pensamentos.


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